Adormeci, não sei dizer por quanto tempo. Fui despertado mais tarde por Miguel, que estava acompanhado de mais alguém. Lembrei-me imediatamente deste, pois, mais cedo, o havia visto no corredor a conversar com a irmã Madalena, quando educadamente me acenou.
— Pronto para os trabalhos da noite? — falou-me Miguel — Este é Afonso. Ele vai nos ajudar nas tarefas de transporte dos amigos que virão para cá.
— Prazer, meu nome é César! — cumprimentei o novo amigo — Nos vimos hoje cedo no corredor da incubadora, certo?
— Isso mesmo — concordou meu interlocutor.
Afonso é um jovem, magro, alto, de ar sereno e meio sisudo. Confesso que ao primeiro contato com ele, tive a impressão de que ele carregava um aspecto um tanto triste, mas na medida em que o fui conhecendo, conclui que isso não era mais do que timidez.
— As irmãs Madalena e Clarice estão nos esperando — alertou-nos Miguel.
— Vamos! Não podemos nos atrasar de forma alguma — corroborou Afonso.
Saímos então do quarto onde eu repousava e nos dirigimos à praça central da colônia. Lá estavam as referidas irmãs: Madalena e minha querida mãezinha, a quem todos aqui chamam por Clarice.
Quando nos juntamos ao grupo, logo tratei de abraçá-la demoradamente aquela que fora minha progenitora e depois tomei o cuidado de assim proceder com os demais presentes.
A equipe que ali estava, em número de dez, era composta pelos amigos: Madalena, Clarice, Celma, Rute, Miguel, Afonso, Aristides, Gabriel e Estevão, além de mim.
O grupo, agora completo, avançou para o local de encontro onde se desenvolveriam os trabalhos.
Estávamos agora na casa de Rafaela, namorada de Diogo. Ela, estudante de medicina, morava em companhia de outras duas colegas de curso, que naquela ocasião estavam ausentes. Conforme a irmã Madalena nos adiantou, também essas colegas recebiam auxílio, desde algum tempo, a fim de que reinasse a harmonia entre todas elas, porquanto se temia muito pela reação dos pais de Rafaela, quando soubessem da notícia de sua gravidez. Nesse contexto será justamente no círculo de amizade que Rafaela encontrará apoio para levar à frente essa gestação.
Os pais de Rafaela também estavam recebendo todo o auxílio que nos era possível fornecer, porém, somente sua mãe parecia aderir às boas emanações, segundo as observações da irmã Madalena, que nos alertou o fato de que a dureza do coração de seu pai favorecia a permanência de ideias perniciosas sugeridas por aqueles que, por motivos mil, ainda se compraziam no mal.
Juntamente com nossa equipe havia dois outros grupos, cada qual composto de dez voluntários. Quando todos estavam reunidos, a irmã Madalena pediu que nos apresentássemos.
Assim procedemos.
Todo o ambiente ali era amigável e harmonioso. Após as saudações, a benfeitora tomou a palavra e proferiu uma linda prece, rogando a Deus que todos nós ali presentes fôssemos ferramentas divinas. Solicitou ainda que todo e qualquer irmão que lá estivesse com outras intenções que não as do bem, recebesse de nós a ajuda carecida para sua corrigenda, bem como recebesse do Mestre Jesus a salutar oportunidade de se iniciar no labor de sua seara. Desta forma, deu-se por aberto o tratamento.
Rafaela ainda se encontrava em aula na faculdade, a exemplo de Diogo. Amigos de outras tarefas já os envolviam com fluidos balsâmicos.
Os dois outros grupos de trabalhadores que ajudam nas tarefas daquele dia eram das colônias Casa de Maria e Cidade Lírios.
Eu tive grande surpresa, pois aquela que fora minha mãezinha dirigia as tarefas do grupo da Casa de Maria. O dirigente do outro grupo era o irmão Maurício.
Após a irmã Madalena passar as ordens para o grupo, dirigimo-nos todos para nossos afazeres. Alguns verificavam as condições ambientes a fim de localizar possíveis desarranjos nos fluidos colocados mais cedo, antes de nossa chegada.
Nós, que iríamos tratar da acolhida aos irmãos que seriam socorridos, cuidamos de preparar nossos equipamentos — entre outras coisas, maca e kit de proteção, que consiste em loções tais que, quando lançadas sobre o irmão em dor e sofrimento, promove-lhe um estado de sublimação, deixando-os inalcançáveis às suas próprias más inclinações. Claro que esse efeito é passageiro, porém nos fornece tempo suficiente para levar o irmão em segurança para o hospital.
Agora parecia que tudo estava pronto, ao que disse irmã Madalena.
— Bom trabalho a todos nós! Que o Mestre Jesus nos capacite a doar a todos o mesmo amor que Deus nos dispensa todos os dias!
Ao fim daquela fala da irmã Madalena, já nos era possível observar o número incontável de entidades que ali estavam como que parasitas rastejando no ambiente. Logo, tratamos de socorrer aqueles que se encontravam em uma espécie de sono para que os outros que, ainda conscientes, porém sonolentos e débeis, não os alcançassem e não desfizessem os efeitos calmantes dos fluidos.
Naquele dia, tive o prazer de conhecer os amigos Aristeu e Maria Aparecida, que com grande presteza me forneciam experiência naquela atividade.
A irmã Madalena tomou o cuidado de formar as equipes de trabalho unindo os irmãos das distintas colônias a fim de nos proporcionar a oportunidade de somar experiências diversas e de expandir nossa rede de relacionamentos.
O relógio na parede da sala marcava treze e trinta quando Rafaela adentrou o apartamento. Neste momento, os ânimos daqueles que pretendiam mal influenciá-la pareceram ser catalisados, mas ela era envolvida por uma espécie de manto magnético que impedia que os fluidos desarranjados pudessem alcançá-la.
Rafaela entrou no apartamento cantarolando, jogou a bolsa e alguns livros no sofá e se dirigiu ao telefone. O irmão Aristeu, percebendo a minha distração — pois eu prestava atenção a Rafaela —, tratou de alertar-me:
— Amigo César, preciso de ajuda com este nosso irmão. Poderia me dar uma pequena força aqui?
— Desculpe-me, irmão — respondi — me distraí!
— Não se preocupe — disse Maria Aparecida, docemente. — Esta é sua primeira vez?
— Sim.
Ela continuou com a mesma presteza:
— Isso é normal, e, na verdade, é até salutar, pois toda e qualquer observação feita é ferramenta de aprendizado. Só temos de cuidar para não nos desviarmos dos objetivos de nossa estadia aqui.
— Sim, sei... E obrigado por me chamar atenção a isso. Ficarei mais atento — prometi.
— Não se preocupe — interveio Aristeu —, somos todos aprendizes.
Deste momento em diante, não mais prestei atenção ao ambiente físico, nem vi o momento quando Diogo chegou ao apartamento.
Somente interrompemos as nossas atividades ali quando a irmã Madalena nos ordenou:
— Pronto, meus amados irmãos. Nosso trabalho aqui está encerrado. Agora vamos deixar que a equipe responsável pela ligação somática faça sua tarefa.
Dirigindo-se a mim, ela acrescentou:
— César, acompanhe os irmãos Aristeu e Maria Aparecida até o hospital de nossa Colônia. A irmã Margarida vos espera para que auxiliem nas tarefas de triagem.
Agora, irmã Madalena volta-se para Miguel:
— Miguel, por favor, acompanhe os irmãos Alberto e Sônia à Cidade Lírios.
E assim ela procedeu, direcionando cada subgrupo de três em três para as respectivas atividades a serem desenvolvidas, agora na acolhedora segurança das colônias. Somente Afonso não fora enviado para os trabalhos em uma das colônias, pois a irmã Madalena lhe solicitou que ficasse ali à espera da equipe de ligação, e que, caso houvesse qualquer ameaça de desordem no ambiente, ele a convocasse imediatamente.
Desta maneira, todos seguiram para as respectivas tarefas.
Quando chegamos à Colônia, fomos prontamente recebidos pela irmã Margarida. Lá já se encontravam outros amigos que haviam participado dos trabalhos na casa de Rafaela, que, do mesmo modo que Aristeu, Maria Aparecida e eu, ficamos encarregados de auxiliar na triagem.
Disse a irmã Margarida:
— Esses são todos os irmãos que ficarão por aqui, na Colônia. Porém, há muitos outros que não permanecerão entre nós, mas que já devemos lhes dispensar auxílio. Precisamos que vocês tratem de despertá-los, lentamente, a fim de sondar informações sobre eles. Procurem saber seus nomes, pois isso facilita o processo. Depois, mantenham um diálogo com eles com o propósito de saber se eles reconhecem seu estado de desencarnado; se sabem onde estavam e se sabem onde estão agora. Entenderem? Alguma dúvida?
Ao fim daquelas orientações, levantei a mão prontamente:
— Pois não, amigo César?... — concedeu-me a vez.
— Como é que vamos saber quem é que ficará nesta Colônia e quem será encaminhado para a outra?
Ela não tardou em nos elucidar:
— Vocês não saberão. O seu trabalho será o de despertar os amigos e mantê-los, na medida do possível, conscientes.
— Certo! — falei.
— Então, mãos à obra! — exprimiu o irmão Aristeu.
Ali labutamos por longo tempo, às vezes fazendo o despertamento, outras vezes conversando com os irmãos, verificando-lhes o nível de consciência. Foi-nos possível observar algumas vezes que alguns deles, quando despertos, pareciam, de certo modo, reconhecer o lugar onde se encontravam. Alguns perguntavam se ali era o Lar das Flores, outros indagavam se aquele recinto era um hospital no plano espiritual.
Esses fatos me causaram certa curiosidade e tive a preocupação de não me esquecer deles para posteriormente interrogar a irmã Margarida.
Ao término daqueles afazeres, a irmã Maria Aparecida e o irmão Aristeu foram ter com a irmã Margarida e eu os acompanhei.
— Irmã — começou falando Maria Aparecida —, há algo mais ao que possamos ser úteis?
A resposta veio de imediato:
— Creio que não. Obrigado pela colaboração prestada aos irmãos. A ajuda de vocês nos foi de grande valia, como sempre. Vocês sabem que fico muito contente cada vez que os recebemos em nosso Recanto.
— Nós é que agradecemos a oportunidade que a senhora nos proporcionou — replicou Maria Aparecida, de igual candura às palavras da interlocutora. — Assim sendo, pedimos licença.
A irmã Margarida lançou-se à frente, agraciando Maria Aparecida com um caloroso abraço e o mesmo fez a Aristeu e a mim.
Deste modo, deixamos o hospital.
Quando alcançamos a escada da frente do prédio, Aristeu virou-se para mim e disse:
— Amigo César, estamos indo às regiões dos campos da Colônia visitar uma velha amiga. Gostaria de nos acompanhar?
Respondi entusiasmado:
— Sim, claro! Não conheço essa parte da Colônia...
— Estamos certos de que vai gostar. Vamos lá?
PRIMEIRA PARTE (Médium Wilton Oliver) Capítulo 1 - Visitas à casa do irmão Hélio
Cap. 5 - Na câmara de miniaturização
Cap. 6 - Preparação para o porvir
Cap. 8 - Oportunidade para recomeço
Cap. 12 - Nos campos da Colônia
Cap. 14 - Influências nefastas
Cap. 15 - Exposição esclarecedora
SEGUNDA PARTE (Médium Rodrigo Felix da Cruz) - Cap. 1 - Notícia feliz
Cap. 4 - Estágio no Hospital Irmã Margarida
Cap. 7 - Laboratório da Memória
Cap. 9 - Primeiras atividades socorristas
Cap. 10 - Visita a François Dupont
Cap. 12 - Grupo de planejamento
Cap. 13 - Implantação do projeto
Cap. 14 - Trabalho em conjunto
Cap. 15 - Comprometimento, esperança e perdão
TERCEIRA PARTE (médiuns Alessandra Aparecida Silva e Rodrigo Felix da Cruz) Cap. 1 - Balanço
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