— Que ótimo ouvir a sua história, César! — exclamou Maria Aparecida.
— Curioso. Somente agora me dei conta de que, desde o momento que aqui cheguei, esta é a primeira vez que conto minha história.
Falei espontaneamente, sem pensar muito nas palavras. Entretanto, logo percebi que, na verdade, nunca o fizera, porque, de algum modo, todos com quem eu tinha tido contato até aquele momento, ou sempre souberam do que havia ocorrido comigo ou simplesmente não tivéramos oportunidade de discorrer sobre o assunto.
— Chegamos — disse Aristeu — e, ao que parece, a irmã Maria Madalena já nos espera — concluiu.
A irmã Maria Madalena veio nos receber. Trajava roupa característica de camponesa; calçava botas e usava um chapéu fixado na cabeça por um lenço amarrado até o queixo. Para esclarecimento do leitor, amiga que acabava de conhecer não é a mesma Madalena que me acompanhava no Hospital da Irmã Margarida. Então, Maria Madalena aproximou-se e nos cumprimentou:
— Sejam bem-vindos, meus amigos!
Maria Aparecida, em um salto só, lançou-se nos braços da outra, externando toda a alegria em vê-la. Aristeu também a abraçou com júbilo e, em seguida, a senhora, dirigindo-se a mim, falou:
— Venha, filho! Venha cá e me dê um abraço!
Abracei-a, timidamente, ao que ela logo reagiu, dizendo:
— O que é isso, garoto? Dê-me um abraço de verdade! Assim… — e me apertou contra seu corpo, com extremo entusiasmo e eu logo me senti acolhido.
Ela continuou:
— Prazer! Meu nome é Maria Madalena Araújo Feitosa.
Falou seu nome inteiro como quem acenava todo o orgulho e felicidade de ser quem era.
— Prazer, irmã. Meu nome é César Hanzi.
— César, o quê? — indagou ela, demonstrando estranheza ao ouvir meu sobrenome.
— Hanzi — repeti.
— Nossa! Que nome mais difícil — exclamou ela.
Achei toda aquela espontaneidade algo sublime, pois tudo o que aquela senhora falava parecia vir direto do coração, sem passar pela censura da razão, a exemplo das crianças, que dizem tudo de forma tão espontânea e honesta, sem nunca deixarem de ser delicadas, o que somente evidencia a sua inocência.
Nem precisava dizer que, de pronto, apaixonei-me por aquele ser indiscutivelmente amável. Ela pegou em meu braço e me puxou, levando-me para um passeio a fim de me dar a conhecer os campos nos quais trabalhava. Em pouco tempo, mostrou-me tudo que ali se fazia: mostrou-me as plantas que serviam para os estudos no Centro de Biologia, para desenvolvimento de novas técnicas agrícolas ou mesmo de novas espécies vegetais e que servirão de alimento num futuro próximo; mostrou-me também os próprios vegetais utilizados nas refeições aqui da colônia; exibiu-me o cultivo das flores, que além de enfeitarem toda a colônia, ainda são aproveitadas para harmonização nos trabalhos de doutrinação e em muitos outros.
Ao fim do rápido tour, em meio às plantações, a irmã perguntou-me em que esfera espiritual eu residia.
— Moro aqui mesmo — respondi.
E a doce senhora, em adorável espontaneidade, respondeu:
— Não me lembro de tê-lo avistado em lugar nenhum por aqui antes.
Disse-me isso como que não acreditando na possibilidade de eu ali residir sem que ela disso tivesse conhecimento.
E continuou seu discurso:
— Sabe, eu sou muito conhecida nessas bandas. Você já até deve ter ouvido falar de mim. Eu sou a mãe desta menina aqui ¬— exclamou isso enquanto abraçava Maria Aparecida. — E só Deus mesmo pra ajudar a gente na lida do dia a dia, do sol a sol, porque só quem sofre na pele as dores do desvario, sabe a importância do castigo. Sabe, filho, eu posso dizer a você que, hoje sou feliz porque o tanto que penei na Terra me fez mais forte e consciente de que o futuro é sempre bom, quando a gente aceita as coisas como sendo tudo da parte de Deus.
A irmã Maria Madalena tinha todas as características de uma mulher que sempre trabalhou para conseguir o seu sustento e de sua família. Quando começou a dirigir-se a mim, como que me aconselhando, parecia também realizar uma autoanálise, na qual reconhecia a importância de entender quem ela era e a importância que sua existência na Terra teve na composição do ser imortal.
Achei tudo aquilo muito lindo e guardo esse momento com muito carinho em minha memória.
— Mãe, não creio que o amigo César esteja interessado em ouvir essas coisas — interrompeu Maria Aparecida, mostrando-se um tanto encabulada.
— Que é isso, irmã? Estou adorando ouvi-la — falei, fraternalmente, desejando que a outra continuasse a doar-me mais de seus amáveis conselhos, pois aquilo, de algum modo, lembrava-me meus avós.
Passamos o resto do dia a conversar. A irmã Maria Madalena nos serviu chá de ervas que ela havia colhido naqueles instantes. À sombra de uma frondosa árvore florida, encerramos aquele dia.
Maria Aparecida e Aristeu puderam alijar a saudade que eu sentia da irmã Madalena e eu fiz uma bela e nova amizade. Além disso, tive a oportunidade de conhecer outra parte da colônia, que começava a tomar proporções maiores para mim, ou seja, do que aquelas a que eu estivera circunscrito.
Em nossa despedida, a irmã Maria Madalena entregou a cada um de nós um punhado de flores a fim de que nos lembrássemos daqueles bons momentos que passamos juntos.
Dirigimo-nos, assim, à estação de transporte. Lá chegando, Maria Aparecida e Aristeu entraram no coletivo, que fazia viagens extracolônia e eu embarquei no que me levaria de volta ao centro do Recanto.
Na viagem de volta, vim pensando em como era grande aquela morada semimaterial e que era realmente uma cidade, na qual o Centro de Estudos, a Biblioteca, o Hospital e o Centro de Convenções constituíam o seu núcleo. E, além dali, existiam as outras regiões adjacentes como a que eu acabara de visitar. Então, pensei que muitas outras regiões ainda eu poderia conhecer.
Não demorou muito e adormeci, por me sentir um tanto cansado. Somente acordei quando o transporte pousou na estação próxima ao Hospital da Colônia. Meio sonolento, eu guardava ainda as impressões das imagens que me foram reveladas no breve cochilo durante a viagem.
À porta do posto socorrista, encontrei-me com Afonso, que parecia, naquele momento, também estar de chegada.
— Olá, amigo, César — cumprimentou-me, sorridente.
— Olá, Afonso. O irmão está chegando agora?
— Sim. Acabo de vir da casa de Rafaela. Saí assim que a equipe responsável por fazer a ligação chegou naquele local, conforme as instruções da irmã Madalena.
Então, indaguei, enquanto caminhávamos adentrando o hospital:
— Isso quer dizer que a essa hora Ícaro está ligado à Rafaela?
— Ainda não, meu amigo. A equipe de ligação, neste momento, está cuidando das condições perispirituais de Rafaela, até que haja a nidação. A partir daí é que se fará a união propriamente dita. E isso pode levar mais ou menos tempo, pois respeita as condições orgânicas de cada mulher. Por essas horas, Ícaro somente está abotoado mentalmente àquela que será sua mãe — esclareceu-me o amigo.
— Entendo — falei como que solicitando maiores esclarecimentos.
E Afonso assim o faria.
PRIMEIRA PARTE (Médium Wilton Oliver) Capítulo 1 - Visitas à casa do irmão Hélio
Cap. 5 - Na câmara de miniaturização
Cap. 6 - Preparação para o porvir
Cap. 8 - Oportunidade para recomeço
Cap. 12 - Nos campos da Colônia
Cap. 14 - Influências nefastas
Cap. 15 - Exposição esclarecedora
SEGUNDA PARTE (Médium Rodrigo Felix da Cruz) - Cap. 1 - Notícia feliz
Cap. 4 - Estágio no Hospital Irmã Margarida
Cap. 7 - Laboratório da Memória
Cap. 9 - Primeiras atividades socorristas
Cap. 10 - Visita a François Dupont
Cap. 12 - Grupo de planejamento
Cap. 13 - Implantação do projeto
Cap. 14 - Trabalho em conjunto
Cap. 15 - Comprometimento, esperança e perdão
TERCEIRA PARTE (médiuns Alessandra Aparecida Silva e Rodrigo Felix da Cruz) Cap. 1 - Balanço
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