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Capítulos:



Cap. 12 - Nos campos da Colônia


— Que ótimo ouvir a sua história, César! — exclamou Maria Aparecida.

— Curioso. Somente agora me dei conta de que, desde o momento que aqui cheguei, esta é a primeira vez que conto minha história.

Falei espontaneamente, sem pensar muito nas palavras. Entretanto, logo percebi que, na verdade, nunca o fizera, porque, de algum modo, todos com quem eu tinha tido contato até aquele momento, ou sempre souberam do que havia ocorrido comigo ou simplesmente não tivéramos oportunidade de discorrer sobre o assunto.

— Chegamos — disse Aristeu — e, ao que parece, a irmã Maria Madalena já nos espera — concluiu.

A irmã Maria Madalena veio nos receber. Trajava roupa característica de camponesa; calçava botas e usava um chapéu fixado na cabeça por um lenço amarrado até o queixo. Para esclarecimento do leitor, amiga que acabava de conhecer não é a mesma Madalena que me acompanhava no Hospital da Irmã Margarida. Então, Maria Madalena aproximou-se e nos cumprimentou:

— Sejam bem-vindos, meus amigos!


Maria Aparecida, em um salto só, lançou-se nos braços da outra, externando toda a alegria em vê-la. Aristeu também a abraçou com júbilo e, em seguida, a senhora, dirigindo-se a mim, falou:

— Venha, filho! Venha cá e me dê um abraço!

Abracei-a, timidamente, ao que ela logo reagiu, dizendo:

— O que é isso, garoto? Dê-me um abraço de verdade! Assim… — e me apertou contra seu corpo, com extremo entusiasmo e eu logo me senti acolhido.

Ela continuou:

— Prazer! Meu nome é Maria Madalena Araújo Feitosa.

Falou seu nome inteiro como quem acenava todo o orgulho e felicidade de ser quem era.

— Prazer, irmã. Meu nome é César Hanzi.

— César, o quê? — indagou ela, demonstrando estranheza ao ouvir meu sobrenome.

— Hanzi — repeti.

— Nossa! Que nome mais difícil — exclamou ela.

Achei toda aquela espontaneidade algo sublime, pois tudo o que aquela senhora falava parecia vir direto do coração, sem passar pela censura da razão, a exemplo das crianças, que dizem tudo de forma tão espontânea e honesta, sem nunca deixarem de ser delicadas, o que somente evidencia a sua inocência.

Nem precisava dizer que, de pronto, apaixonei-me por aquele ser indiscutivelmente amável. Ela pegou em meu braço e me puxou, levando-me para um passeio a fim de me dar a conhecer os campos nos quais trabalhava. Em pouco tempo, mostrou-me tudo que ali se fazia: mostrou-me as plantas que serviam para os estudos no Centro de Biologia, para desenvolvimento de novas técnicas agrícolas ou mesmo de novas espécies vegetais e que servirão de alimento num futuro próximo; mostrou-me também os próprios vegetais utilizados nas refeições aqui da colônia; exibiu-me o cultivo das flores, que além de enfeitarem toda a colônia, ainda são aproveitadas para harmonização nos trabalhos de doutrinação e em muitos outros.

Ao fim do rápido tour, em meio às plantações, a irmã perguntou-me em que esfera espiritual eu residia.

— Moro aqui mesmo — respondi.

E a doce senhora, em adorável espontaneidade, respondeu:

— Não me lembro de tê-lo avistado em lugar nenhum por aqui antes.

Disse-me isso como que não acreditando na possibilidade de eu ali residir sem que ela disso tivesse conhecimento.

E continuou seu discurso:

— Sabe, eu sou muito conhecida nessas bandas. Você já até deve ter ouvido falar de mim. Eu sou a mãe desta menina aqui ¬— exclamou isso enquanto abraçava Maria Aparecida. — E só Deus mesmo pra ajudar a gente na lida do dia a dia, do sol a sol, porque só quem sofre na pele as dores do desvario, sabe a importância do castigo. Sabe, filho, eu posso dizer a você que, hoje sou feliz porque o tanto que penei na Terra me fez mais forte e consciente de que o futuro é sempre bom, quando a gente aceita as coisas como sendo tudo da parte de Deus.

A irmã Maria Madalena tinha todas as características de uma mulher que sempre trabalhou para conseguir o seu sustento e de sua família. Quando começou a dirigir-se a mim, como que me aconselhando, parecia também realizar uma autoanálise, na qual reconhecia a importância de entender quem ela era e a importância que sua existência na Terra teve na composição do ser imortal.

Achei tudo aquilo muito lindo e guardo esse momento com muito carinho em minha memória.

— Mãe, não creio que o amigo César esteja interessado em ouvir essas coisas — interrompeu Maria Aparecida, mostrando-se um tanto encabulada.
— Que é isso, irmã? Estou adorando ouvi-la — falei, fraternalmente, desejando que a outra continuasse a doar-me mais de seus amáveis conselhos, pois aquilo, de algum modo, lembrava-me meus avós.

Passamos o resto do dia a conversar. A irmã Maria Madalena nos serviu chá de ervas que ela havia colhido naqueles instantes. À sombra de uma frondosa árvore florida, encerramos aquele dia.

Maria Aparecida e Aristeu puderam alijar a saudade que eu sentia da irmã Madalena e eu fiz uma bela e nova amizade. Além disso, tive a oportunidade de conhecer outra parte da colônia, que começava a tomar proporções maiores para mim, ou seja, do que aquelas a que eu estivera circunscrito.

Em nossa despedida, a irmã Maria Madalena entregou a cada um de nós um punhado de flores a fim de que nos lembrássemos daqueles bons momentos que passamos juntos.

Dirigimo-nos, assim, à estação de transporte. Lá chegando, Maria Aparecida e Aristeu entraram no coletivo, que fazia viagens extracolônia e eu embarquei no que me levaria de volta ao centro do Recanto.

Na viagem de volta, vim pensando em como era grande aquela morada semimaterial e que era realmente uma cidade, na qual o Centro de Estudos, a Biblioteca, o Hospital e o Centro de Convenções constituíam o seu núcleo. E, além dali, existiam as outras regiões adjacentes como a que eu acabara de visitar. Então, pensei que muitas outras regiões ainda eu poderia conhecer.
Não demorou muito e adormeci, por me sentir um tanto cansado. Somente acordei quando o transporte pousou na estação próxima ao Hospital da Colônia. Meio sonolento, eu guardava ainda as impressões das imagens que me foram reveladas no breve cochilo durante a viagem.

À porta do posto socorrista, encontrei-me com Afonso, que parecia, naquele momento, também estar de chegada.

— Olá, amigo, César — cumprimentou-me, sorridente.

— Olá, Afonso. O irmão está chegando agora?

— Sim. Acabo de vir da casa de Rafaela. Saí assim que a equipe responsável por fazer a ligação chegou naquele local, conforme as instruções da irmã Madalena.

Então, indaguei, enquanto caminhávamos adentrando o hospital:

— Isso quer dizer que a essa hora Ícaro está ligado à Rafaela?

— Ainda não, meu amigo. A equipe de ligação, neste momento, está cuidando das condições perispirituais de Rafaela, até que haja a nidação. A partir daí é que se fará a união propriamente dita. E isso pode levar mais ou menos tempo, pois respeita as condições orgânicas de cada mulher. Por essas horas, Ícaro somente está abotoado mentalmente àquela que será sua mãe — esclareceu-me o amigo.

— Entendo — falei como que solicitando maiores esclarecimentos.

E Afonso assim o faria.


Capítulos:


Introdução

PRIMEIRA PARTE (Médium Wilton Oliver) Capítulo 1 - Visitas à casa do irmão Hélio

Cap. 2 - Encontro doce

Cap. 3 - O papel dos mentores

Cap. 4 - O resgate de Ícaro

Cap. 5 - Na câmara de miniaturização

Cap. 6 - Preparação para o porvir

Cap. 7 - A gestação

Cap. 8 - Oportunidade para recomeço

Cap. 9 - Confissões

Cap. 10 - Equipe socorrista

Cap. 11 - Depoimento de Hanzi

Cap. 12 - Nos campos da Colônia

Cap. 13 - Reminiscências

Cap. 14 - Influências nefastas

Cap. 15 - Exposição esclarecedora

SEGUNDA PARTE (Médium Rodrigo Felix da Cruz) - Cap. 1 - Notícia feliz

Cap. 2 - O retorno de Marisa

Cap. 3 - Estudos na Colônia

Cap. 4 - Estágio no Hospital Irmã Margarida

Cap. 5 - Reencontro com Ícaro

Cap. 6 - As dimensões do Além

Cap. 7 - Laboratório da Memória

Cap. 8 - Na equipe socorrista

Cap. 9 - Primeiras atividades socorristas

Cap. 10 - Visita a François Dupont

Cap. 11 - Importante projeto

Cap. 12 - Grupo de planejamento

Cap. 13 - Implantação do projeto

Cap. 14 - Trabalho em conjunto

Cap. 15 - Comprometimento, esperança e perdão

TERCEIRA PARTE (médiuns Alessandra Aparecida Silva e Rodrigo Felix da Cruz) Cap. 1 - Balanço

Cap. 2 - Novos trabalhos

Cap. 3 - Reunião na casa de Ricardo Felício

Cap. 4 - Laerte

Cap. 5 - Irmã Margarida

Cap. 6 - Irmã Maria Madalena

Cap; 7 - Irmã Lia

Cap; 8 - Inácio

Cap. 9 - Thales

Cap. 10 - Augusto

Cap. 11 - José de Matusalém

Cap. 12 - Estevão, guerreiro

Cap. 13 - Clara

Cap. 14 - O resgate de Rômulo

Cap. 15 - Mensagem de Laerte



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