— Não pai, não precisa...
— Agora você vai pagar a dívida de teus irmãos!
— Ei, senhor, eu não sei do que você está falando.
— Sabe o que é honra garoto? Se não souber, isso também pouco importa! A você basta saber que a tua curta vida será a paga pela honra que teus irmãos não têm!
Quando acordei, estavam ao pé de minha cama, irmã Madalena e Miguel, acompanhados de outra senhora, que eu ainda não conhecia, mas que não me parecia estranha. Tinha a nítida impressão de conhecê-la. Senti a mesma sensação de quando conheci aquela que passei a chamar de minha mentora, mesmo sabendo que ela não adota tal epíteto.
Levantei-me meio tonto e sentindo fortíssimas dores de cabeça. Fiquei um pouco sentado no leito e interroguei:
— O que aconteceu comigo? Eu tive um sonho terrível! Eu não consegui entender muito bem...
— Quer nos relatar esse sonho César? — perguntou a senhora que acompanhava Madalena e Miguel.
— Gostaria, mas não sei se conseguirei, pois não só não pude ter total entendimento do sonho como também não me lembro de muita coisa.
— Fale apenas do que se lembrar e do que conseguir assimilar — disse a irmã Madalena, incentivando-me a relatar meu sonho.
— Eu me lembro de uma criança, de uns doze anos, que foi morta por alguns homens que diziam que ele é que iria honrar a dívida adquirida por seus irmãos.
— O que você sentiu ao ver a criança? — perguntou-me Miguel.
— Compaixão e desejo de vingança, pois para mim, foi como se aqueles homens houvessem feito mal a alguém que me fosse muito querido, como um filho, talvez.
— Como você me enxerga César? Quero dizer, como você me considera em sua rede de relacionamento?
— Acho que, mesmo lhe conhecendo somente aqui, no plano espiritual, Miguel, o tenho como um irmão.
— O que você sentiria se alguém fizesse mal a Miguel? Comparado ao que fizeram à criança de seu sonho? — perguntou-me a senhora.
— Não entendo o objetivo desse interrogatório, irmã.
— Apenas responda! — advertiu-me Madalena.
— Posso dizer que o mesmo que senti em meu sonho.
— E disso, o que você pode concluir César? — continuou a senhora.
Parei um instante e meditei sobre tudo aquilo que estávamos conversando e tentei ajuntar tudo com o sonho que havia tido.
— Não foi um sonho, não é mesmo?
— Não, César. Foi uma lembrança.
— Aquela criança era Ícaro! — conclui.
— Sim, meu filho.
Naquele momento, em que a senhora me disse aquelas palavras, eu percebi nitidamente de quem se tratava e, imediatamente, meus olhos encheram-se de lágrimas à medida que a senhora agora tomava forma daquela que fora minha mãe no plano terrestre.
Não podia conter a emoção. Abraçado à minha mãezinha, agradeci a Deus por aquela oportunidade.
— Como esperei por você, César!
— Mãe, que bom reencontrá-la. Sinto em meu peito o coração bater como se eu ainda dispusesse de tal.
— Também estou feliz, César. E mais ainda por saber que está se esforçando em aprender as lições que nossos amigos aqui estão lhe ofertando.
— Por que não a encontrei antes, mãe?
— Para tudo há seu tempo, filho! E além do mais, não permaneço neste retiro espiritual. Apenas vim aqui porque fui requisitada. E devo dizer que para mim foi uma grande surpresa, já que não havia ainda sido informada de seu socorro, pois há muito que rogava a Deus por você, meu filho.
— E a senhora aqui, onde vive, então?
— Em outra colônia próxima.
— Poderei ir viver com a senhora?
— Creio que não, César, pois estamos nos preparando para novos momentos de nossa existência.
— Nós, quem?
— Tanto você quanto eu, César.
— Não compreendo!
— Logo você entenderá. Tenha paciência!
Os amigos se retiraram do quarto e haviam me deixado a sós com minha mãezinha. Passamos o dia conversando coisas de nossa vida no plano físico. Devo dizer que é bem interessante a forma como que essas lembranças tocam o íntimo de cada um de nós, fazendo-nos refletir cada instante recordado.
Ao fim da tarde, chegava o momento de me despedir de minha mãezinha. Mas eu sabia que, em breve, estaríamos juntos novamente.
— César pedirei a ti que, em nome do nosso Mestre Amado, ajude-nos com nosso querido Ícaro.
— A senhora também está sabendo dele? — perguntei surpreso.
— Sim. Como não haveria de saber? Participo dos preparativos para o retorno dele ao mundo físico.
— Quer dizer que ele vai reencarnar?
— Em breve! E temo que esta medida seja feita de modo compulsório, pois Ícaro é um ser que ainda não quis aceitar a imensa ajuda que sempre lhe é ofertada.
— E ele já tem uma família destinada?
— Por quê? Você gostaria de sugerir alguma?
— Na verdade, não é isso, mas é que pensei imediatamente na família de Hélio.
— Você está a tão pouco tempo estudando e vejo que já assimilou bem o aprendizado que lhe está sendo dispensado. Lembre-me de parabenizar o irmão Miguel por este grande feito.
— Eu supus certo?
— Absolutamente.
— Que bom. Assim, eles terão a oportunidade de refazerem suas histórias.
Naquele instante, meu coração enchia-se de felicidade e confesso que interroguei a Deus: quando eu também teria a chance de redimir-me com Ícaro?
— Não se aflija com isso — disse-me minha mãezinha.
— Deus, nosso Pai, sabe o momento certo de todas as coisas. E quando o momento chegar, prometo eu mesma, ajudá-lo em sua programação.
— Conto com isso!
— Devo ir, meu filho — disse-me, dando-me um forte abraço, como costumava fazer em nossos dias na Terra —. Tenho tantos outros afazeres esperando o meu retorno. Fique com Deus e lembre-se que eu sempre estarei por perto.
— Vá com Deus, mãe e até breve!
Isso foi tudo o que eu consegui dizer. Desta forma, nos despedimos temporariamente, sem tristeza que afligisse o coração; sem sentir-me constrangido a acompanhá-la, somente a sublime certeza de dever cumprido e que aquele encontro nos foi dado como presente de Deus.
PRIMEIRA PARTE (Médium Wilton Oliver) Capítulo 1 - Visitas à casa do irmão Hélio
Cap. 5 - Na câmara de miniaturização
Cap. 6 - Preparação para o porvir
Cap. 8 - Oportunidade para recomeço
Cap. 12 - Nos campos da Colônia
Cap. 14 - Influências nefastas
Cap. 15 - Exposição esclarecedora
SEGUNDA PARTE (Médium Rodrigo Felix da Cruz) - Cap. 1 - Notícia feliz
Cap. 4 - Estágio no Hospital Irmã Margarida
Cap. 7 - Laboratório da Memória
Cap. 9 - Primeiras atividades socorristas
Cap. 10 - Visita a François Dupont
Cap. 12 - Grupo de planejamento
Cap. 13 - Implantação do projeto
Cap. 14 - Trabalho em conjunto
Cap. 15 - Comprometimento, esperança e perdão
TERCEIRA PARTE (médiuns Alessandra Aparecida Silva e Rodrigo Felix da Cruz) Cap. 1 - Balanço
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