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Capítulos:



Cap. 3 - O papel dos mentores


A noite chegava, o irmão Miguel juntamente com irmã Madalena me convidaram para uma palestra em um núcleo de assistência espiritual.

— A palestra será sobre o trabalho desenvolvido pelos Espíritos que, costumeiramente, são chamados mentores — esclareceu-me Miguel.

— Estou ansioso para ouvir.

— Eu também estou César. Este é um assunto interessante e você vai poder tirar algumas dúvidas que, bem sei, você guarda em sua cabeça incansável!

— Ou então, acumularei outras tantas... — repliquei.

Rimos enquanto pensávamos sobre o assunto que em breve seria discutido no Centro de Convenções do teatro central de nossa comunidade, o qual correspondia no plano físico ao Centro Espírita que eu, pouquíssimas vezes, havia frequentado quando na Terra.

— Quem será o palestrante? — perguntei.

— Inácio — disse-me Miguel.

— Não o conheço!

— Não faltará oportunidade, afinal, o irmão Inácio faz um trabalho maravilhoso de socorro nas regiões inferiores. Aliás, ele era um dos dirigentes da equipe espiritual que lhe prestou auxílio, César.

— E por que não o conheço?

— Talvez você somente não saiba o nome dele, mas com certeza, quando avistá-lo, logo o identificará.

— Cadê a irmã Madalena?
— Nós a encontraremos no teatro!

Na entrada do teatro era possível avistar um mastro enorme que sustentava uma bandeira com o nome da colônia que abrigava toda aquela gleba de Espíritos em processo de evolução. A arquitetura física confundia-se com a espiritual. Os presentes também eram um emaranhado de seres encarnados e desencarnados que circulavam naquele local, onde, naquele dia, iríamos receber instruções valiosíssimas para uma maior compreensão do mundo espiritual.

Começado o evento, lá estava o irmão Inácio. Miguel tinha razão: lembrei-me de seu rosto imediatamente. Um senhor de longas barbas brancas, tom de pele escura e quase sem cabelos. Ao seu lado encontrava-se a irmã Madalena, que proferiu, no inicio dos trabalhos, uma prece emocionante, envolvendo e abraçando os corações de todos ali presentes.

— Boa noite, meus amados irmãos! — saudou o irmão Inácio — Que o nosso querido Mestre Jesus possa envolver cada um de vocês, fazendo com que possam desfrutar de todo aprendizado que teremos no dia de hoje.

Desta forma, começou o seu monólogo.

— Hoje falaremos de um assunto que a muitos interessa, enquanto que outros não lhe dão a menor importância. Alguns o desdenham porque simplesmente consideram assunto resolvido e que tudo acerca dele já foi esclarecido, ou por ignorá-lo, simplesmente. Venho esta noite falar-lhes sobre o trabalho e o papel dos chamados mentores espirituais. Mas antes de nos aprofundarmos, é bom que saibamos: mentor e anjo da guarda não são nomes diferentes para a mesma coisa, porque mentores são Espíritos ainda errantes. No entanto, estes se encontram num grau de elevação moral e intelectual acima do nosso o que lhes dá total aptidão para conduzir um ou mais Espíritos, transmitindo-lhes todo o aprendizado que já tenham adquirido. Pois bem, mentor é um Espírito ainda na erraticidade que não alcançou ainda a angelitude. Sendo assim, não pode ser chamado de Anjo Guardião.

Desta forma, aquele irmão ia dissertando sobre o assunto com sabedoria e benevolência, sem fazer com que suas palavras chegassem a nós com a pretensão de verdades absolutas.

O irmão Inácio, nos deixava a todo instante gozar do direito de ouvir suas palavras e refletir.

Um ponto de sua palestra que me chamou muito a atenção foi o da teoria de que os Anjos Guardiões são seres que, pelo fato mesmo de terem alcançado tal estágio na escala evolutiva, são colaboradores diretos de Deus na criação de novos mundos, ajudando no trabalho ininterrupto do Pai — o que nos leva a crer que em outros bilhões de mundos, muitos deles podem neste momento, estar reencarnando como cristos, e outros, em tantos mundos diversos, como propagadores de ideias de elevação moral e da lei de amor que regem todo nosso Universo.

Muitas vezes, durante o discurso do Irmão Inácio, pude perceber que muitos outros irmãos iam se chegando naquele local, que se transformava num grande teatro de cores, luzes e formas, onde muitos aprendiam sobre o assunto abordado e recebiam ajuda no âmbito espiritual.

Deparei-me também com o fato de que no plano físico o senhor que fazia a palestra daquela noite repetia o discurso proferido pelo irmão Inácio. Não com as mesmas palavras, é claro, mas era precisamente a mesma ideia. Deste modo, conclui que Inácio não só palestrava a nós desencarnados, mas sim a todos os presentes de ambos os planos.

Findado o estudo da noite, Miguel me conduziu até a Irmã Margarida, que nos aguardava à frente do teatro juntamente com Inácio.

— É um prazer enorme conhecê-lo, irmão Inácio. Adorei a palestra e devo dizer que fico bastante feliz em saber que mitos estão sendo derrogados, pois ainda temos em nós uma necessidade de santificarmos tudo o que nos é desconhecido.

— Vejo que você é bem observador. Devo dizer que isso você aprendeu bem com aquela que fora sua mãe.

— O senhor a conheceu?

— Digamos que por muito tempo estamos trilhando juntos os caminhos do nosso Mestre Jesus.

— Gostaria de uma oportunidade para estagiar com o senhor. Eu adoraria aprender um pouco mais.

— Oportunidade não vai faltar, meu querido amigo, pode deixar que te manterei informado quando surgir a vaga, para que você possa prestar a prova de aptidão.

— Prova? — indaguei surpreso.

— É, prova! Pois para um estágio na área educacional, temos que mostrar não só conhecimento, como traquejo no trato com os outros irmãos.

— Certo, ficarei feliz em fazer parte do grupo de estudos.

— Nós ficaremos muito contentes se Nosso Senhor assim o permitir.

— Irmão, posso fazer uma pergunta sobre a palestra?

— Claro, Cesar, e se a resposta estiver ao alcance de meu entendimento...

— Tenho certeza que sim.

— Diga.

— Há alguma forma de exemplificar de modo palpável o papel dos Espíritos que convencionamos chamar de mentores, e qual é exatamente a diferença entre os que poderiam efetivamente ser chamados Anjos Guardiães?

— Teremos muito a ganhar com sua curiosidade em nosso grupo de estudos— disse-me o irmão Inácio, em um tom de gracejo.

Todos riram, com o que ele disse. E confesso que no momento me senti um tanto encabulado. Mas acompanhei os demais em seus risos.

— Desculpe-me irmão, não quero parecer intrometido nem bisbilhoteiro — tentei redimir-me.

— Não Cesar, não precisa se preocupar. Mas respondo a sua pergunta: pense em um animal que os homens na terra costumam ter como bichinho de estimação, um cão, por exemplo, ou um felino, pois bem; os sentidos morais e intelectuais das mascotes distam uma imensidão dos sentidos morais e intelectuais do seu tutor. Neste caso podemos dizer que somos como anjos em relação àqueles. Agora se fizermos a comparação entre os humanos, encaixamo-nos perfeitamente no papel de mentor, quando atuamos como Pais. E saiba Cesar, que quando os homens na terra souberem da divina responsabilidade que é a paternidade e a maternidade, estes perceberão suas sublimes condições de mentores.

Nunca havia pensado tanto neste assunto, quanto agora. Meus novos pensamentos faziam-me deslizar por mares infindáveis de outras questões.

— Tenha calma, Cesar! — disse-me a irmã Madalena — Teus questionamentos são bem coerentes, mas tenha a paciência para saber o momento certo para fazê-los.

— Novamente peço desculpas se estou sendo inoportuno...

— Não é isso, Cesar. É que muitas vezes estamos aptos a questionamentos, mas isso não implica dizer que estejamos prontos para o conhecimento que eles nos levariam. Posso lhe adiantar que este mar de questões que lhe assaltam a mente é pouco perto da infinidade de que, tanto você como nós desconhecemos. E você irá se acostumar com isso, e quando menos perceber, estará obtendo as respostas que deseja.

— Então devo concluir que ao questionar eu não estou sendo prudente?...

— Conclusão errada, meu querido irmão — disse-me Inácio — O que irmã Madalena quis dizer é que nem sempre obteremos respostas para todas as questões que fizemos, por mais que estas questões demonstrem que aquele que as formule já esteja avançado no âmbito intelectual e que, conforme a aplicação dos conhecimentos que já possui, é que ele vai adquirindo a posição necessária para obter as respostas que deseja. E assim, como tudo no Universo, tal aptidão não se dá de imediato. Ademais, nosso Pai Criador não é imediatista, em razão disso, Ele age sempre por meio de suas leis e de forma amável e cautelosa.

Confesso que diante de tanto ensinamento devo dizer que me senti constrangido e envergonhado, porque era como se a roupa que eu vestia estivesse suja, ou deixando-me nu diante de uma imensidão de orgulho, de vaidade e de arrogância.

Foi assim que me senti naquele momento, mas também me sentia estranhamente feliz, pois era valorosa aquela oportunidade que me estava sendo ofertada. Naquele momento, o que eu podia pensar era como Deus estava sendo maravilhoso comigo.


Capítulos:


Introdução

PRIMEIRA PARTE (Médium Wilton Oliver) Capítulo 1 - Visitas à casa do irmão Hélio

Cap. 2 - Encontro doce

Cap. 3 - O papel dos mentores

Cap. 4 - O resgate de Ícaro

Cap. 5 - Na câmara de miniaturização

Cap. 6 - Preparação para o porvir

Cap. 7 - A gestação

Cap. 8 - Oportunidade para recomeço

Cap. 9 - Confissões

Cap. 10 - Equipe socorrista

Cap. 11 - Depoimento de Hanzi

Cap. 12 - Nos campos da Colônia

Cap. 13 - Reminiscências

Cap. 14 - Influências nefastas

Cap. 15 - Exposição esclarecedora

SEGUNDA PARTE (Médium Rodrigo Felix da Cruz) - Cap. 1 - Notícia feliz

Cap. 2 - O retorno de Marisa

Cap. 3 - Estudos na Colônia

Cap. 4 - Estágio no Hospital Irmã Margarida

Cap. 5 - Reencontro com Ícaro

Cap. 6 - As dimensões do Além

Cap. 7 - Laboratório da Memória

Cap. 8 - Na equipe socorrista

Cap. 9 - Primeiras atividades socorristas

Cap. 10 - Visita a François Dupont

Cap. 11 - Importante projeto

Cap. 12 - Grupo de planejamento

Cap. 13 - Implantação do projeto

Cap. 14 - Trabalho em conjunto

Cap. 15 - Comprometimento, esperança e perdão

TERCEIRA PARTE (médiuns Alessandra Aparecida Silva e Rodrigo Felix da Cruz) Cap. 1 - Balanço

Cap. 2 - Novos trabalhos

Cap. 3 - Reunião na casa de Ricardo Felício

Cap. 4 - Laerte

Cap. 5 - Irmã Margarida

Cap. 6 - Irmã Maria Madalena

Cap; 7 - Irmã Lia

Cap; 8 - Inácio

Cap. 9 - Thales

Cap. 10 - Augusto

Cap. 11 - José de Matusalém

Cap. 12 - Estevão, guerreiro

Cap. 13 - Clara

Cap. 14 - O resgate de Rômulo

Cap. 15 - Mensagem de Laerte



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