Naquele instante, Miguel juntou-se a nós, com o sorriso de sempre. Aliás, seu bom humor jamais deixou de contagiar a todos ao seu redor.
— Vejo que já conheceu o irmão Augusto — disse-me ele.
— Ah, sim. O irmão está me passando instruções básicas sobre os pródomos da formação perispiritual para que o Espírito possa reencarnar.
— E nosso aluno, como está se saindo, professor? — Miguel indagou, dirigindo-se a Augusto.
— Professor? Eu? — respondeu Augusto, em tom de gracejo, afastando o rótulo que lhe fora atribuído — O nosso amigo aqui está repleto de algo que falta a muitos: vontade de ajudar e de aprender. Seria um bom tarefeiro em nossos trabalhos, aqui no hospital.
— Eu poderia? — perguntei com empolgação.
Mas Miguel foi enfático:
— Por enquanto, não, César. Entendo sua vontade e, devo dizer que compartilho da mesma opinião de Augusto. Entretanto, não podemos abraçar toda e qualquer tarefa, sem antes concluirmos os compromissos anteriormente assumidos. Não se esqueça de que você tem estudos a realizar antes de se candidatar para trabalhos complexos, como os de auxílio aos irmãos sofredores ou nas tarefas de reposição energética a encarnados e tantas outras atividades exercidas aqui neste posto de socorro espiritual.
Contudo, insisti:
— Mas eu ainda não fui aceito no grupo de estudos da Colônia. Sendo assim, suponho dispor de algum tempo livre.
— Lembra-se do que Inácio lhe falou sobre “prestar prova de aptidão”, quando no surgimento de vagas? — o amigo Miguel replicou.
— Sim, recordo-me.
— Pois bem, estava a sua procura para lhe dar a boa notícia de que três vagas surgirão no grupo de estudo, porque dois alunos irão desenvolver tarefas mais avançadas, além de mais um que irá reencarnar. Desse modo, você deverá, desde já, começar seus preparativos.
— Que notícia maravilhosa, Miguel! — comemorou Augusto, que em seguida voltou-se para mim dizendo: — Não acha César?
— Sim, claro. — falei um pouco pesaroso.
— Que houve amigo? — perscrutou-me Augusto.
— Não sei, sinto-me triste. Sei que a novidade é muito boa, mas... É como se eu perdesse algo, ou alguém... Não sei ao certo.
— Não lamente, meu amado amigo — falou-me Miguel. — Iremos manter contatos.
Compreendendo suas palavras, deduzi:
— É você que irá reencarnar, não é mesmo?
Miguel, com um branco sorriso, confirmou.
Augusto, então, quebrou o gelo:
— Bem, meus queridos amigos. Creio que desejam ficar a sós para conversarem. César, meu irmão, não se entristeça, mas ao contrário, sinta-se alegre e jubiloso, pois nosso estimado irmão recebe a permissão divina para retornar ao âmbito físico e colocar em prática tudo o que aqui aprendeu. E nós temos a certeza de que Deus nos dará todos os meios de auxiliá-lo em sua nova trajetória. Não presuma ser possuidor deste amigo que tanto lhe quer bem. Se você não compreender que essa nova experiência compreende um grande passo em seu longo caminho, estará sendo egoísta e não o ajudará em nada. Hoje você teve uma grande oportunidade, ajudando a Ícaro. Não desfaça isso tomando para si uma decisão que não lhe cabe, César.
Ouvi atentamente as palavras de Augusto ao mesmo tempo em que as lágrimas gravitavam o meu rosto. Então, Miguel olhou para mim e disse:
— Amigo, amo-te, tal qual o Senhor, nosso Deus, também nos ama. Vejo essas lágrimas, que ora fogem perdidas de teus olhos, e me sinto penalizado.
Porém, sei que logo essas gotas serão somente a expressão da gratidão que tu tens a Deus, por conceder-me tamanha honra. E então, meu amado irmão, cada lágrima brotada de teus olhos que venha a desenhar em ti um sorriso bobo será em mim um pingo de amor fraterno.
Abraçamo-nos demoradamente. Augusto ainda estava conosco e também compartilhou dessa manifestação de irmandade. Logo após, ele despediu-se, desejando a Miguel e a mim todo o sucesso nesta nova fase de nossas existências.
Dali, Miguel e eu seguimos para a praça central, onde permanecemos a conversar por mais um longo tempo.
— Pensei que você já não precisasse mais encarnar — eu disse a Miguel, demonstrando ainda certo pesar em minha fala.
— Por que não precisaria César? Eu sou tão ou mais imperfeito que qualquer outro irmão que ainda, de algum modo, está ligado ao planeta Terra.
— Mas você me parece ser tão correto, amigo. Não percebo em você qualquer sinal de imperfeição que justifique mais um imperioso estágio na vida terrena.
— Engano seu, meu amigo. Tenho muitos defeitos, carências que não demonstro aqui, pois num lugar como este não temos oportunidades de exteriorizá-las. Aqui na Colônia, tudo é muito positivo e, em ambiente assim, fácil é para nós, mesmo tão imperfeitos, seguirmos toda essa quase perfeição. Porém, em um lugar como na Terra, onde nem tudo é tão harmonioso e onde homens bons dividem o mesmo espaço com outros tantos nem tão empenhados no bem, onde pessoas a todo o tempo nos ofertam situações amargas, que nos servem de testes, as quais, quase sempre, nos fazem recuar e abdicar dos bons ensinos aqui adquiridos, extravasando nossa ira contra aqueles que nos ferem pelo orgulho. Sabe, César, eu não sou menos imperfeito do que você, e se por hora tenho o prazer de lhe servir de orientador, é pelo simples fato de que aqui cheguei primeiro.
— Se não for um incomodo a você, Miguel, gostaria de saber como foi seu retorno ao plano espiritual.
PRIMEIRA PARTE (Médium Wilton Oliver) Capítulo 1 - Visitas à casa do irmão Hélio
Cap. 5 - Na câmara de miniaturização
Cap. 6 - Preparação para o porvir
Cap. 8 - Oportunidade para recomeço
Cap. 12 - Nos campos da Colônia
Cap. 14 - Influências nefastas
Cap. 15 - Exposição esclarecedora
SEGUNDA PARTE (Médium Rodrigo Felix da Cruz) - Cap. 1 - Notícia feliz
Cap. 4 - Estágio no Hospital Irmã Margarida
Cap. 7 - Laboratório da Memória
Cap. 9 - Primeiras atividades socorristas
Cap. 10 - Visita a François Dupont
Cap. 12 - Grupo de planejamento
Cap. 13 - Implantação do projeto
Cap. 14 - Trabalho em conjunto
Cap. 15 - Comprometimento, esperança e perdão
TERCEIRA PARTE (médiuns Alessandra Aparecida Silva e Rodrigo Felix da Cruz) Cap. 1 - Balanço
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