colaboração:
Adair Ribeiro - Adriano Calsone - Carlos Luiz - Carlos Seth Bastos - Jorge Hessen - Wanderlei dos Santos
O caráter independente e imparcial deste trabalho nos permite agregar opiniões diversas sobre o caso, respeitando as individualidades enquanto compartilhamos ideias, sempre comprometidos com os princípios da Doutrina Espírita.
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A Gênese é o quinto e derradeiro livro de Allan Kardec a compor o conjunto das obras básicas do Espiritismo, sendo este livro considerado por certos estudiosos como a obra-chave para a compreensão da Revelação Espírita.
Ocorre que a partir da 5ª edição o conteúdo desse livro foi substancialmente modificado; por ter sido publicada posteriormente à desencarnação do autor, gerou-se uma polêmica histórica sobre a autenticidade dessas alterações (se elas foram mesmo feitas por Kardec) e, com isso, a legalidade desta edição atualizada.
Em nossa pesquisa, divida por tópicos numerados, vamos apresentar todos os dados e eventos possíveis relativos a essa questão, no sentido de que possamos ter o melhor direcionamento sobre qual a versão definitiva e verdadeira do livro A Gênese.
Seguiremos a ordem de desenvolvimento da pesquisa histórica, e não exatamente a cronologia dos fatos, que, por sua vez, será oportunamente inserida neste trabalho.
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Confira também as nossas fontes de pesquisas. e o Glossário relativo à nossa pesquisa.
A obra em questão foi lançada em 6 de janeiro de 1868, com o título original (em francês) La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme (ebook em francês), cuja tradução para o nosso português é A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo.
Kardec fez o primeiro anúncio desta obra na Revista Espírita de setembro de 1867, na qual inseriu um artigo ("Caracteres da Revelação Espírita") que viria a ser o primeiro capítulo do novo livro. Na primeira nota de rodapé desse artigo, ele informa que a obra já estava no prelo (para impressão) e seria lançada antes do final daquele ano (embora o lançamento oficial ficaria para o primeiro mês do ano seguinte: 1868).
Na edição do mês de novembro seguinte, da mesma revista (em "Notas bibliográficas"), foi feita outra publicidade da obra, também prometida para o próximo dezembro.
CURIOSIDADE: na Revista daquele dezembro (1867), Kardec faz alusão ao livro A Gênese no artigo "Algumas palavras à Revista Espírita", enquanto tratava da questão dos "milagres", dizendo: "(...) Aliás, a questão dos milagres é tratada de maneira completa, e com todos os desenvolvimentos que comporta, na segunda parte da nova obra que publicamos...". Será então que já naquele dezembro de 1867 a obra estava à venda? (Note-se bem que kardec diz "que publicamos" e não "que publicaremos"). Isso pode não ser muito relevante, mas pode servir de parâmetro para não nos apegarmos demasiadamente às letras.
Ver Revista Espírita - coleção 1867 (ebook em português) (ebook em francês)
De qualquer forma, o lançamento oficial é conhecido como 6 de janeiro de 1868, conforme a sessão "Bibliografia" da Revista Espírita do referido mês.
Ver Revista Espírita - coleção 1868 (ebook em português)
Fonte: Google Books
Folha de rosto da 1ª edição de A Gênese de Allan Kardec, publicada em Paris pela Librarie Internacionale - A. Lacroix, Verboeckhoven et Co. Editeurs, 1868; impressa pela tipografia Rouge Frères, Dunon et Fresné.
Diz-se ser uma "obra-chave" para a compreensão da Doutrina Espírita porque ela contém o desenvolvimento de muitos conceitos que ficaram em aberto nas obras precedentes de Kardec, além de tocar em temas novos, especialmente no tocante ao âmbito científico do Espiritismo.
O Espírito São Luís fez uma apreciação da obra numa comunicação recebida pelo médium Desliens (atenção para esse personagem) em 18 de dezembro de 1867, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), sendo essa mensagem publicada na Revista Espírita de fevereiro de 1868, sessão "Instruções dos Espíritos". Diz o Espírito (mentor da SPEE): "Esta obra vem na hora certa, na medida em que a doutrina está hoje bem estabelecida do ponto de vista moral e religioso. Seja qual for a direção que tome de agora em diante, tem precedentes muito arraigados no coração dos adeptos, para que ninguém possa temer que ela se desvie de seu caminho. (...) Por esse livro, como vos disse, o Espiritismo entra numa nova fase e esta preparará as vias da fase que mais tarde se abrirá, porque cada coisa deve vir a seu tempo. Antecipar o momento propício é tão prejudicial quanto deixá-lo escapar."
Vê-se, pois, que a espiritualidade depositava grande expectativas no sucesso desse livro.
Mais sobre A Gênese na Enciclopédia Espírita Online
Um mês depois do lançamento oficial, o autor anuncia a segunda edição: "Estando quase esgotada a primeira edição de A Gênese, neste momento procede-se à tiragem da segunda edição, na qual não foi feita nenhuma alteração", conforme lemos na Revista Espírita de fevereiro de 1868, sessão "Bibliografia". Além disso, naquela mesma edição da Revista, informa do lançamento à parte do primeiro capítulo ("Caracteres da Revelação Espírita") em forma de brochura: Caractères de la Révélation Spirite.
Ebook da 2ª edição, em francês.
Eis que no mês seguinte (março, 1868), lá estava o autor da obra informando: "A segunda edição de A Gênese está quase esgotada. Neste momento tira-se a terceira, de maneira a não haver interrupção." (Ver: Revista Espírita de março, 1868: "Notas bibliográficas" - ebook) E assim foi lançada a 3ª edição, também sem qualquer alteração.
Ebook da 3ª edição, em francês.
Uma 4ª edição, cujo conteúdo é igualmente às precedentes, veio à lume também naquele 1868, conforme consta na folha de rosto (capa interna).
Ebook da 4ª edição, em francês.
Curiosidade: Não temos certeza do mês em que esta quarta edição foi publicada, inclusive, é curioso que Kardec não a tenha anunciado em nenhuma edição da Revista Espírita.
Ratificando: desde a obra original até esta 4ª edição, o conteúdo do livro é rigorosamente o mesmo.
É de se pensar que uma "edição" implique, naturalmente, em uma obra nova ou modificada, posto que "editar" signifique "alterar"; por isso dizemos que cada nova publicação de um jornal ou revista é uma edição.
Se um livro não sofre nenhuma modificação e dele apenas se faz novas cópias, o mais correto poderia ser chamarmos esse novo montante de exemplares de "reimpressão".
Percebemos então que os quatro primeiros montantes de A Gênese não passam mesmo de reimpressões, posto que até as matrizes para impressão são as mesmas, exceção feita à numeração da edição (1ª, 2ª, 3ª e 4ª edição).
Ainda assim, a disposição burocrática vigente na França nos tempos de Kardec utilizava para cada reimpressão solicitada uma nova numeração e, com isso, cada novo montante poderia ser tratado como se fosse uma edição.
Ou seja, A Gênese de Allan Kardec foi lançada em 1868 e teve três reimpressões, que, no caso, receberam o registro como sendo edições (2ª, 3ª e 4ª edição), todas elas — não nos custa salientar — com o mesmo conteúdo.
A propósito, é interessante conhecermos as formalidades da época em relação ao controle literário feito pelo governo francês. Veja a seguir.
Kardec desenvolveu a Doutrina Espírita nos tempos do imperador Napoleão III, chamado de "O pequeno", ironia em relação ao seu tio Napoleão Bonaparte, dito "O Grande" (Ver biografia de Napoleão III ). Seu governo autoritário fez valer o Decreto Imperial - (original em francês) (ver tradução) - de 5 de fevereiro de 1810 (da autoria do seu tio, então imperador da França) que regulamentava a impressão e a publicação de obras literárias, a pretexto de garantir a autenticidade das obras e os direitos financeiros e intelectuais dos autores e herdeiros, mas que, na prática, não passava de uma “lei de censura”, que visava controlar a imprensa. O artigo 10, por exemplo, considerava delito “imprimir qualquer coisa que pudesse afetar os deveres do sujeito com relação ao soberano”. Importa considerar, além, que o código napoleônico para lei de imprensa foi sendo reajustado ao longo do tempo.
Napoleão III
Quem quisesse publicar uma obra literário na França nos tempos da codificação espírita precisaria pedir autorização formal ao Governo, por intermédio de uma das livrarias “juramentadas e licenciadas”. O pedido de registro era feito ao prefeito regional contendo os dados bibliográficos (título, autor, edição, editora etc.) ordenados pela data do pedido (art. 11 da do Decreto Imperial citado no tópico anterior). O pré-requisito mais importante era o art. 33: “apego à pátria e ao soberano”.
Cada impressor deveria depositar na prefeitura da polícia cinco cópias de cada obra, a saber: duas para a biblioteca imperial, uma para o Ministro do Interior, uma para a biblioteca de nosso Conselho de Estado, uma para a diretor administrativo das obras de impressão (art. 48).
Uma vez examinado o pedido de registro da obra, se esta não fosse considerada “imprópria”, a autorização seria assinada pelo ministro de polícia geral e então liberada para impressão e publicação.
A lei estabelecia confisco e multa se o livro saísse sem o nome do autor e da gráfica, se o autor ou o impressor não tivesse efetuado o registro e a declaração do artigo 11, se a obra fosse pedida para exame e a impressão não tivesse sido suspensa enquanto se faz, se a obra fosse publicada sem a autorização do ministro da polícia geral, se fosse uma falsificação ou se fosse impressa sem o consentimento e em detrimento do direito do autor ou do editor.
O artigo 39 assegura o direito de propriedade ao autor e à sua viúva, e aos filhos por vinte anos.
Conforme a regra, portanto, tendo a obra sido aprovada pelas autoridades, a livraria (ou editora) responsável, em nome do autor, tinha que registrar uma Déclaration d'Imprimer (DI), quer dizer, Declaração de Impressão, informando a tiragem desejada (número de exemplares a serem impressos), depois, tendo sido a obra impressa, precisava efetuar o Dépôt Légal (DL), ou seja, o Depósito Legal do livro: entregar cópias do livro para os arquivos governamentais. Se o livro sofresse qualquer alteração no seu conteúdo, um novo DL da obra editada seria exigido; caso contrário, a nova tiragem só precisava de uma nova DI para reimpressões. Mesmo assim, ainda que tenha sido devidamente autorizada, a obra permanecia sob o controle de censura e, a qualquer momento, estava sujeita a ser penalizada, caso sua publicação gerasse qualquer desconforto ao Governo.
Mais detalhes em Espiritismo Comentado
Sobre as atualizações na lei de imprensa e livraria na França, ver a obra Code de lois de la Presse interprétées par la jurisprudence et la doctrine de Rolland de Villargues.
Importante: Apesar do rigor da letra, convém considerar que, na prática, o controle de impressão não era executado com tanta precisão, inclusive com um progressivo afrouxamento, principalmente em se tratando de obras literárias de grande porte, cujo público era muito restrito. Em seu Political Censorship of Arts and the Press in Nineteenth-Century Europe, o especialista em ciências políticas Robert Justin Goldstein, professor da Universidade de Oakland, EUA, observa que a preocupação maior dos censores se aplicava às artes mais populares, como música e teatro; no caso de material impresso, os cuidados maiores se concentravam em jornais e panfletos.
Uma lei baseada na liberdade de imprensa, que garante a livre circulação dos jornais, sem regulamentação governamental foi aprovada em 1881 e está em vigor até hoje.
Destaque: Allan Kardec utilizou os serviços de editoras diferentes para publicar suas obras. Como podemos observar nos registros das DIs e DLs de suas obras, encontrados até o momento, as editoras procuraram agir sempre “dentro da lei” e seguir o protocolo exigido pela regulamentação imposta. No entanto, há situações anômalas em algumas publicações de sua autoria, conforme apontado em CSI do Espiritismo, cabendo-se averiguar a origem da falha — seria mesmo da editora??? Dos funcionários dos Arquivos Nacionais???
É útil termos em mente igualmente que o próprio Kardec, em certo momento, fez questão de explicar que não se ocupava com a comercialização de sua produção bibliográfica, conforme lemos no seu artigo "Assim se escreve a História! - Os milhões do Sr. Allan Kardec":
[...] Na impossibilidade em que me encontrei, não tendo ainda os milhões em questão, para assumir pessoalmente os gastos de todas as minhas publicações e, sobretudo, de me ocupar com a sua comercialização, cedi por algum tempo o direito de publicação, mediante um direito do autor, calculado a tantos centavos por exemplar vendido; assim, desconheço inteiramente os detalhes da venda e das transações que os intermediários possam fazer com as remessas feitas pelos editores aos seus correspondentes, transações de cuja responsabilidade eu declino, estando obrigado, no que me concerne, a prestar contas aos editores, mediante um valor estipulado, de todos os livros retirados, vendidos ou considerados perdidos.
Allan Kardec
Revista Espírita, Allan Kardec - junho de 1862
Com isso, se ele não cuidava daqueles negócios comerciais, é de se supor que também não se ocupava das tratativas burocráticas de suas publicações — o que o isentaria de possíveis complicações legais junto aos órgãos competentes para o controle literário.
Como "tudo concorre para o bem", apesar das aparências do "mal", é graças àquele rigoroso controle (tópico 7) que hoje é possível recuperarmos parte da História literária da fase da codificação espírita; aqueles livros depositados (DL) atualmente estão sob a posse da Biblioteca Nacional da França (BnF), que disponibiliza livre acesso ao seu acervo, pessoalmente, ou virtualmente, através do seu portal Gallica, para o caso dos documentos já digitalizados. Os registros de DI e DL estão à disposição para consulta pública (presencialmente) no departamento Archives Nationales de France (Arquivos Nacionais da França).
Assim é que se pode consultar quando uma edição ou reimpressão foi registrada, seu título, autor, editora e até a sua tiragem. E isso vai ser importante para a nossa pesquisa, como veremos adiante.
Além disso, a Biblioteca da França lançava periodicamente um catálogo das obras recebidas em seu acervo (Journal Général de L'Imprimiere et de la Librarie) — outra boa fonte de pesquisa. Na edição de 1 de fevereiro de 1868 (57° ano, 2ª série, n° 5), por exemplo, encontramos na primeira página o registro do nosso livro em questão, catalogado pelo número 758. Veja abaixo a imagem da nota do jornal da Biblioteca:
Fonte: Google Books
Estaria Kardec já pensando numa 5ª edição de A Gênese? E se sim, viria esta edição com alguma modificação? Bem, até então, o público ignorava, pois ele não havia informado nada sobre isso, inclusive porque estava bastante ocupado com outros projetos urgentes.
Posteriormente, vamos ter informações de que sim — o codificador estava debruçado numa revisão da obra em questão — e essas informações serão alvo de controvérsias, como constataremos à frente. Mas, por hora, vamos ignorar esse ponto.
Dentre aqueles "projetos urgentes" estava a inauguração da Livraria Espírita (não apenas uma loja de livros, mas a sua própria editora), que funcionaria em conjunto com o escritório da Revista Espírita; o local era Rua de Lille, 7, centro de Paris, para onde também iria a sede da SPEE e da Comissão Central, instituição que Kardec planejara estabelecer para sucedê-lo na administração do movimento espírita (e até da herança pessoal que ele e a esposa destinariam em favor do Espiritismo), enquanto para ele, livre das obrigações burocráticas, pleiteava dedicar-se somente ao trabalho intelectual em sua nova morada, na Vila de Ségur (Ver em Obras Póstumas, 2ª parte: "Constituição do Espiritismo" - ebook).
Entretanto, não houve tempo para Kardec assistir, enquanto encarnado, à fundação daquela comitê.
Allan Kardec
Túmulo de Kardec no cemitério do Père-Lachaise, Paris
A inauguração da Livraria Espírita foi marcada para 1 de abril de 1869. Um dia antes, vencia o contrato de aluguel do prédio — já demasiado pequeno para tantos fins — localizado na Rua Saint'Anne n° 59, onde funcionava ao mesmo tempo o escritório de todas as atividades espíritas do codificador (incluíndo a sede da SPEE) e a morada do casal Kardec.
E justamente naquele 31 de março, em meio à mudança, a vestimenta carnal de Allan Kardec se esgota e seu Espírito retorna à pátria espiritual.
Amélie-Gabrielle Boudet, agora viúva Kardec, é a legítima herdeira dos direitos autorais da bibliografia kardequiana, e não é desprovida de interesse em tocar a obra doutrinária do esposo.
Com a partida do Mestre (assim se referiam a Kardec), o Movimento Espírita iria sofrer grandes reveses, especialmente pelo fato de que seus "continuadores" não viriam a ser tão competentes em as suas prerrogativas nem tão fiéis à causa doutrinária. Detalhes desse processo podem ser conferidos no filme-documentário Espiritismo à Francesa: a derrocada do movimento espírita francês pós-Kardec.
Outras obras de referência para o tema:
No epicentro da ruína do movimento espírita francês se coloca Pierre-Gaëtan Leymarie, que, a partir de julho de 1871, começou a tomar conta da administração de todas as atividades, notadamente desvirtuando a direção doutrinária do Espiritismo para dar abertura aos estranhos sistemas do roustainguismo e da teosofia, como logo iria ser verificado.
É com muito pesar que abordamos os ocorridos históricos envolvendo Leymarie e os transviamentos do movimento espírita francês pós-Kardec, e só o evidenciamos aqui por necessariamente fazer parte do contexto histórico do caso de A Gênese, ainda que, particularmente sobre este caso, Leymarie tenha pouca ou nenhuma responsabilidade direta, não escapando, porém, do quadro geral que abarca os processos desencadeados a partir da polêmica de que tratamos.
Não nos interessaria denegrir a imagem de quem quer que seja, tão pouco a de uma pessoa que foi confrade e amigo do mestre Allan Kardec. Entretanto, é preciso que sejam historiados os fatos relevantes para compreendermos o desenvolvimento do projeto espírita original, que culminou com uma derrocada completa, ainda que, no bojo dos relatos históricos, personagens devam ser colocados nos seus devidos papéis. E, definitivamente, as evidências são fortes o suficiente para responsabilizarmos o personagem Leymarie como um dos vilões da História do Espiritismo.
Como um Espírito imperfeito, em seu curso evolutivo, Leymarie teve suas fraquezas, bem como seus êxitos; e se com pesar nos referimos aos seus desvios, com a tranquilidade concedida pelos ensinamentos espíritas guardamos a certeza de que o Espírito que animou aquele personagem há de estar em processo de regeneração, muito provavelmente já bem empenhado em trabalhar pela Doutrina Espírita — esteja ele no plano invisível, esteja reencarnado entre nós.
Se a História, por sua própria dinâmica, naturalmente evoca os feitos — positivos ou negativos — do passado, não é para que idolatremos ou anatematizemos ninguém, mas para traçar os rastros de nossa caminhada rumo ao aperfeiçoamento espiritual servindo-nos das lições pretéritas em face de nossas prerrogativas atuais e futuras. Desta feita, se a História faz pesar sobre Leymarie sombrias recordações (das quais talvez nós não escaparíamos, se estivéssemos em seu lugar), ao mesmo tempo nos convida a uma prece caridosa por ele, que já é só mais um personagem da História, enquanto seu Espírito prossegue, em paulatinos recondicionamentos, com suas aquisições intelectuais e morais.
Pierre-Gaëtan Leymarie
Saiba mais em Espiritismo em Movimento.
Já com o selo da Livraria Espírita, a Sociedade Anônima (detentora dos direitos autorais das obras de Kardec) publica a 5ª edição de A Gênese, desta vez, editada mesma, e com bastante modificações, explicitadas na folha de rosto pela linha "Revue, corrigée et augmentée", quer dizer, "Revisada, corrigida e aumentada" — da qual seriam copiadas as reimpressões subsequentes e as traduções autorizadas (inclusive a que se consagrou no Brasil).
Portanto, sem maiores rumores, essa edição atualizada foi recebida e aceita pelo público em geral.
Ebook da 5ª edição, "revisada, corrigida e aumentada", em francês.
Detalhe: hoje nós sabemos que essa obra é de 1872, mas a impressão do ano foi omitida na folha de rosto, ao contrário das edições anteriores. Esse "pormenor" terá implicâncias importantes logo mais.
É bem verdade que Madame Kardec decidiu "gerir tudo" deixado pelo esposo, inclusive cuidando pessoalmente das reimpressões das obras kardequianas (ver: Revista Espírita - maio de 1869, "Caixa Geral do Espiritismo"). Ocorreu, no entanto, que os administradores da Sociedade Anônima foram pouco a pouco deixando-a de fora das suas decisões. A partir da gestão Leymarie, Amélie foi praticamente descartada das atividades da sociedade. Ela detinha plenos poderes para intervir legalmente sobre a instituição, da qual era sócia majoritária e administradora superior; contudo, absteve-se de efetuar qualquer intervenção, na intenção de evitar escândalos.
Com o passamento de Allan Kardec para o mundo espiritual, os direitos materiais da Livraria Espírita e os direitos autorais seus livros, brochuras e da influente Revista Espírita foram todos herdados pela sua esposa, Amélie Boudet — agora Viúva Kardec. No entanto, atendendo aos anseios do pioneiro espírita, ela decidiu criar uma associação específica para administrar esses bens, bem como, de certa forma, conduzir o movimento espírita — o que ela não poderia fazer sozinha.
É sabido que já havia uma entidade espírita formalizada por Kardec — a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas —, mas a finalidade para a qual esta havia sido criada não lhe permitia empreender negócios com fins comerciais. Então foi que a Viúva Kardec instituiu a A Sociedade Anônima da Caixa Geral e Central do Espiritismo.
Em uma reunião na residência da Sra. Kardec, em 3 de julho de 1869, foram acertados os detalhes da nova instituição, sendo a ata de fundação assinada pelos seus sócios fundadores: Jean Marie Tailleur, Armand Deslien, Raimon Auguste Monvoisin, Gustave Achille Guilbert, Edouard Mathieu Bittard, Hubert Joly e, claro, a anfitriã, Madame Kardec.
O capital inicial da Sociedade Anônima foi de 40 mil francos: Amélie entrou com 25 mil, Monvoisin com 5 e cada um dos demais com 2 mil, totalizando 40 mil francos, funcionando em regime de ações. Nestas condições, a Sra. Kardec era a sócia majoritária — o que lhe garantia plenos poderes administrativos de todas as ações da sociedade.
A instituição foi apresentada aos espíritas e oficializada em assembleia geral dos espíritas, realizada em 29 daquele mesmo julho de 1869, que também elegeu seus administradores Tailleur, Deslien e Bittard, figurando no conselho superior Amélie e Guilbert.
Era, de fato, uma sociedade comercial, porque assim se exigia legalmente para a administração de bens materiais em nome do Espiritismo; todavia, a fundadora e sócia majoritária fazia questão que ficasse claro que o objetivo menor seria os lucros e a intenção principal promover a Doutrina Espírita, inclusive, com uma meta imediata: criar condições que permitissem baratear o preço dos livros doutrinários.
Foi aí que algumas vozes se levantaram contra Leymarie e, para fazer lhe frente, fundaram uma nova instituição: União Espírita Francesa (UEF), que também lançou o seu jornal oficial: Le Spiritisme (O Espiritismo) (saiba mais aqui). Os principais fundadores de UEF foram: Berthe Fropo, Gabriel Delanne e Léon Denis, com a anuência da viúva Kardec.
Léon Denis, Berthe Fropo e Gabriel Delanne
Indignada com os ultrajes sofridos por Madame Kardec, diante da Sociedade Anônima, agora nas mãos de Leymarie, Berthe Fropo vai preparar um livro para levar ao conhecimento dos demais confrades o que estava acontecendo na cúpula da movimento espírita. Acontece então de Amélie desencarnar (21 de janeiro de 1883); no ano seguinte, Fropo publica a explosiva brochura Beaucoup de Lumière (mais tarde traduzida para o nosso português como Muita Luz), denunciando os desmandos administrativos de Leymarie e os desvios doutrinários da Sociedade Anônima - saiba mais.
Importante: convém dizer que os fartos documentos que ora dispomos (como o livro de Fropo) a respeito dos desvios doutrinários daquele movimento espírita pós-Kardec ficariam por longo tempo (todo o século XX) ocultos da historiografia espírita clássica, de modo que Pierre-Gaëtan Leymarie permaneceria figurado como um "grande continuador da obra de Allan Kardec" e "mártir do Espiritismo" (ver: Processo dos Espíritas). A revista Reformador de abril de 2001 (FEB Editora) comemorou o centenário de nascimento de Leymarie com uma matéria especial atestando-o como "fiel obreiro da seara espírita, digno continuador da obra de Allan Kardec". No livro Personagens do Espiritismo, de Antonio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy (Edições FEESP), diz-se dele: "Foi um homem desinteressado, sensível e profundamente honesto, foi grande em sua singeleza".
Mais adiante, o jornal da UEF ganharia um importante articulista: Henri Sausse. Pois então, num artigo intitulado "Uma infâmia" e publicado no Le Spiritisme, 1ª quinzena de dezembro de 1884 [ebook], Sausse denuncia que Leymarie havia adulterado o livro A Gênese; ele inclusive fez um estudo comparativo da 1ª edição (1868) para a versão atualizada publicada por Leymarie, a 5ª edição, e apontou onde os textos haviam sido modificados, os parágrafos excluídos e a aparição de itens estranhos ao contéudo original da obra.
Henri Sausse
"Descobri, comparando os textos da primeira e da quinta edição, que 126 trechos tinham sido modificados, acrescentados ou suprimidos. Desse número, onze (11) forma objetos de uma revisão parcial. Cinquenta (50) foram acrescidos e sessenta e cinco (65) foram suprimidos, e não conto os números dos parágrafos trocados de lugar nem os títulos que foram adicionados.
"Todas as partes desse livro sofreram mutilações mais ou menos graves, mas o capítulo XVIII: Os tempos são chegados, é o que foi mais maltratado; as modificações feitas nele o tornam quase irreconhecível.
"Agora, digam-me, quem são os culpados?
"Qual o motivo dessas manobras?"
Henri Sausse
Tende a bondade de me perdoar, Irmãos e Irmãs em crença, se, a contragosto, deixo-me levar pela indignação que minha alma transborda.
Deveria expulsar do meu coração todo pensamento de cólera e ódio. Há, contudo, circunstâncias em que não se pode conter uma indignação muito justa.
Todos nós sabíamos que havia uma sociedade espírita, fundada para a continuação das obras de Allan Kardec, e a ela confiávamos que cuidasse da integridade da herança moral que nos foi legada pelo mestre. O que ignorávamos é que ao lado dela, talvez até na sua sombra, se organizasse outra para a corrupção das obras fundamentais da nossa doutrina, e esta última, não apenas existe, mas continua com sua triste tarefa.
Não estou certo se todas as obras de Allan Kardec foram maculadas por mãos sacrílegas, mas me dei conta de que havia pelo menos uma, A Gênese, que havia sofrido importantes mutilações.
Chocado com estas três palavras: Revisada, Corrigida e Aumentada, colocadas abaixo da quinta edição, tive a paciência de confrontar, página por página, linha por linha, esta quinta edição com aquela publicada em 1868, que eu comprara logo após seu lançamento. Aqui está o resultado do meu trabalho.
Descobri, comparando os textos da primeira com os da quinta edição, que 126 trechos tinham sido modificados, acrescentados ou suprimidos. Desse número, onze (11) foram objetos de uma revisão parcial. Cinquenta (50) foram acrescidos e sessenta e cinco (65) foram suprimidos, e não conto os números dos parágrafos trocados de lugar nem os títulos que foram adicionados.
Todas as partes desse livro sofreram mutilações mais ou menos graves, mas o capítulo XVIII: 'Os tempos são chegados', é o que foi mais maltratado; as modificações feitas nele o tornam quase irreconhecível.
Agora, digam-me, quem são os culpados?
Qual o motivo dessas manobras?
Ressaltarei, na primeira edição de A Gênese, apenas uma das passagens que foram excluídas e basta apontá-la para que vocês mesmos possam julgar quem deveria lucrar com essa infâmia.
A Gênese, edição de 1868, capitulo XV. Os Milagres do Evangelho, páginas 379 e 380:
"N° 67. O que ocorreu com o corpo carnal? É um problema cuja solução só pode ser deduzida, até nova ordem, que, senão por hipóteses, faltam elementos suficientes para estabelecer uma convicção. Esta solução, além disso, é de uma importância secundária e não acrescentará nada aos méritos do Cristo, nem aos fatos que comprovam, de uma maneira bem mais peremptória, sua superioridade e sua missão divina.
"Portanto, só pode haver opiniões pessoais sobre o modo como esse desaparecimento ocorreu, que só teriam valor a menos que fossem sancionados por uma lógica rigorosa e pelo controle universal dos Espíritos, e, até o presente, nenhuma das que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo controle.
"Se os Espíritos ainda não decidiram a questão pela unanimidade de seus ensinamentos, é que sem dúvidas o momento de resolvê-la ainda não veio, ou que nos faltam os conhecimentos pelos quais poderíamos resolvê-la nós mesmos. Entretanto, se descartarmos a suposição de um sequestro clandestino, poderíamos encontrar, por analogia, uma explicação provável na teoria do duplo fenômeno de transportes e invisibilidade."
A supressão dessa passagem deixa evidente a quem Allan Kardec tem sido vendido, de modo que não é necessário insistir nesse ponto. Todos os espíritas sabem a quem se aplica o segundo parágrafo que eu mesmo enfatizei.
P. S. — Para aqueles que gostariam de estar cientes das modificações sofridas por A Gênese, aqui estão os números das páginas onde poderão ser encontradas.
- Passagens modificadas da edição de 1868:
Páginas: 68, 79, 85, 105, 148, 155, 181, 203, 205, 215, 429 (onze).
- Passagens adicionadas na 5ª edição:
Páginas: 10, 16, 17, 48, 52, 73, (75-76), 84, 104, 127, 133, 138, 142, 159, 174, 176, 178, (188-189), 194, 196, (201-202-203-204), 212, (220-221), 223, 234, (240-241), 245, 251, 257, 274, (276-277-278), 284, 286, 301, 310, 311, 312, 313, (314-315-316), 320, (367-368), 376, 394, 399, 424, 433, 436, (448-449-450-451-452-453-454), 455 (cinquenta).
- Passagens suprimidas da edição de 1868:
Páginas: 12, 23, 47, 48, 50, 54, 58, (59- 60), (61- 62), 65, 69, 73, 74, 78, 82, 83, 85, 86, (87-88), 93, 95, 97, 118, (145-146-147), 165, (173-174), 177, 181, 189, 190, 192, 195, 203, 204, 205, 229, 232, 243, (244-245), 247*, 251, 263, (267-268*), 270, 279, (303-304-305), (379-380), (385-386), 389, 392, 393, 403, 411, 412, 433, (435-436), (439-440), (441-442), (444-445-446), (447-448), (451-452-453) (sessenta e cinco).
As supressões das páginas marcadas por um * é característica.
Henri Sausse
Le Spiritisme, 1ª quinzena, dez-1884
O articulista baseia sua denúncia no fato de a edição revisada ser post mortem — portanto, sem a garantia de que as atualizações tenham sido feitas pelo legítimo autor — e na suposição que as alterações beneficiasse (Sausse não cita literalmente, mas deixa implícito) aos roustainguistas, por causa da questão da natureza do corpo de Jesus.
Leymarie apresentou a defesa da obra revisada através da Revista Espírita, edição daquele mesmo dezembro de 1884, com o artigo "Continuação de 'Ficções e insinuações'" ("Continuação..." porque aqui Leymarie ajunta no mesmo bojo a acusação de Henri Sausse com as de Berthe Fropo, sobre os supostos desvios de Leymarie, que este respondeu através da brochura Ficções e Insinuações - Resposta à brochura Muita Luz (Beaucoup de Lumière), assinada pela Sociedade Científica do Espiritismo (renomeação da Sociedade Anônima), presidida por Leymarie; por esta brochura, alegou ele tudo não passar exatamente do que chamou de "ficções e insinuações".
Primeiramente, diz que o autor de 'Uma infâmia' bem poderia ter dissipado suas dúvidas quando a legitimidade da obra revisada se tivesse feito um pedido de informação. E para assegurar a todos que ele, Leymarie, prontamente poderia satisfazer a quem duvidasse, então vai oferecer suas justificativas.
Em suma, ele declarou que a revisão foi feita por Allan Kardec em 1868 e ajuntou à sua defesa depoimentos de duas pessoas diretamente ligadas à produção do livro: Joseph Rousset e o Sr. Rouge.
O Sr. Rousset, profissional que confeccionava placas de impressão, confirmou ter trabalhado para a gráfica Rouge nas placas de A Gênese no ano de 1868 e testemunhou que essas matrizes não passaram pelas mãos de Leymarie.
O Sr. Rouge, um dos irmãos Frères, donos da tipografia que havia impresso as primeiras edições da obra (atenção: nessa ocasião Leymarie contou seis edições; isto vai ser importante na nossa pesquisa). Diz o Sr. Rouge que fez a primeira tiragem em 1867 da qual foram impressas as três primeiras edições iguais; depois, de uma segunda tiragem, em agosto de 1868, a tipografia Rouge Frères teria impresso três edições já com a revisão de Kardec, correspondentes à 4ª, 5ª e 6ª edição, todas no ano 1868.
Por fim, Leymarie evoca o conselho da sua Sociedade a intimidar a UEF por ordem judicial a fim de que a refutação oferecida fosse aceita pelo jornal Le Spiritisme.
Há dois anos nos sucede que viajantes caluniadores semeiam em seu caminho toda espécie de invenções, [1] e que algumas pessoas de boa-fé se têm deixado surpreender pelo aprumo dessa pobre gente. Deixávamos que fizessem isso, por sabermos bem que o que é contrário à verdade cai por si mesmo diante do mais simples exame.
À imitação desses mensageiros do mal, o Sr. Henri Sausse, de Lyon, entregou-se a pacientes investigações, 'EXPULSANDO DE SEU CORAÇÃO TODO PENSAMENTO DE CÓLERA E DE ÓDIO', para provar que a Sociedade Científica do Espiritismo, constituída para salvaguardar as obras de Allan Kardec, as havia, ao contrário, FALSIFICADO.
Um pedido de informações, a quem de direito, teria dissipado suas dúvidas sobre o tema da GÊNESE SEGUNDO O ESPIRITISMO, revisada, corrigida e aumentada por Allan Kardec em 1868.
Pouco escrupuloso e de comum acordo com a autora de Beaucoup de lumière [2], o Sr. H. Sausse preferiu servir-se de meios inqualificáveis; fez um artigo que lhe cai sobre a cabeça como a pedra do urso [3], já que Allan Kardec tinha todo o direito de corrigir a si mesmo devido à sua dupla qualidade de autor e de proprietário do volume da Gênese, sem cometer UMA INFÂMIA, e é com esse título estranho que o periódico Le Spiritisme, órgão da UNIÃO Espírita Francesa??... inseriu esse artigo, ajudando, assim, a continuar a série de insinuações enganosas.
Caluniar é, no entanto, uma obra antiespírita.
Tivemos que enviar, por ordem judicial, a seguinte retificação:
Paris, 5 de novembro de 1884. [4]
Ao Sr. Gabriel Delanne, gerente e redator-chefe do periódico Le Spiritisme, rua Dalayrac, 38, Paris.
Senhor. Lemos, no número do periódico Le Spiritisme de 1 de dezembro de 1884, o artigo do Sr. H. Sausse, intitulado: UMA INFÂMIA.
Dirigimo-nos ao Sr. Rouge, tipógrafo das seis primeiras edições da Gênese segundo o Espiritismo, que reside atualmente em Bourg-la-Reine (Sena), na Fontenay, 9, e ao Sr. Rousset, rua Visconti, 13, Paris (estereotipia e galvanoplastia), para perguntar-lhes em que datas e em que condições foram feitas suas seis primeiras edições.
Estas são as respostas deles:
Paris, 4 de dezembro de 1884.
Senhores: 'Tenho a satisfação de transmitir-vos as informações seguintes' sobre as Matrizes da Gênese.[5]
Fizemos as matrizes da Gênese, 1 a 468; - (1 página para o índice, - 2 páginas para o título, - 4 páginas para a introdução), da gráfica Rouge, Denon et Fresnaye, no ano 1868. Cobramos essas matrizes do Sr. Rivail (Allan Kardec), no final de 1868, folha 246 de nosso livro de faturas.
'Essas matrizes ficaram em nossos locais até abril de 183. No entanto, fundimos alguns capítulos em 1877, da página 289 a 360; em 1878, da página 186 a 189 e da página 285 a 288 [Nota da Revista Espírita: Tiragem em brochura dos capítulos: Les Fluides e Esquisses géologiques]. O resto foi fundido em abril de 1883.
Os clichês foram retirados do estabelecimento pelo motorista do Sr, Aureau, tipógrafo em Lagny (Sena e Maene), em 4 de abril de 1883, e o Sr. Leymarie sequer viu esses clichês.
'Posso proporcionar-vos todas as provas como evidência, por ter conservado os recibos.
'Tende a amabilidade de aceitar meu solícito respeito.
'Assinado: JOSEPH ROUSSET.'
Bourg-la-Reine (Sena), 4 de dezembro de 1884.
Senhores: 'Dirijo-vos, conforme vosso pedido, o extrato de conta do Sr. Allan Kardec, por seu livro: A Gênese segundo o espiritismo'.
'A primeira tiragem foi de 3300/3000, da qual fizemos três edições, em dezembro de 1867. - A segunda tiragem foi feita igualmente do mês de agosto de 1868 a março de 1869, de 3300/3000, da qual fizemos a 4ª, 5ª e 6ª edições.
'Essas duas tiragens foram feitas em tipos móveis e não sobre clichês, já que o Sr. Allan Kardec queria fazer as matrizes somente depois de ter realizado correções nas três primeiras edições.
'O Sr. Rousset fez as matrizes sobre nossas formas, como se procede habitualmente quando se quer fazer clichês.
'Se outras informações podem ser-vos úteis, eu me apressarei em comunicá-las.
'Tende a amabilidade de aceitar, caros senhores, minhas saudações muito cordiais.
'Assinado: ROUGE.
*
As 7ª e 8ª edições, tiradas das matrizes das 4ª, 5ª e 6ª edições, revisadas, corrigidas e aumentadas por Allan Kardec, são semelhantes em todos os pontos. Assim, pois, a acusação DE INFÂMIA, formulada pelo Sr. H. Sausse com tanta indignação, e acolhida em suas colunas com tanta ligeireza, passa por cima da cabeça de nossa sociedade para cair sobre o mestre Allan Kardec, que, no entanto, tinha todo o direito de revisar e corrigir ele mesmo sua obra.
A primeira tiragem das três primeiras edições, depositadas por Allan Kardec em um editor, foram totalmente perdidas devido a que esse editor quebrou em 1868; essa foi a causa de uma segunda tiragem, das 4ª, 5ª e 6ª edições, entregues na rua de Lille, 7, em 1869, aos primeiros administradores da nossa Sociedade, dos quais não fazia parte o Sr. Leymarie, e junto a eles o senhor poderia ter-se informado, para não colaborar em uma má ação.
Não acrescentamos sequer mais uma palavra. Isso seria debilitar a força dessa refutação pelo fato.
Não hesitamos em fazer-lhe notificar, por meio de um oficia de justiça, a presente resposta, a fim de evitar todo o atraso que pudesse provir de uma recusa de inserção; o senhor não considerará este procedimento mais ofensivo do que o de acolher, em um periódico, uma acusação de infâmia, sem verificação prévia.
Temos a honra de saudá-lo.
Os membros do conselho superior da Sociedade Científica do Espiritismo.
P. PUVIS, I. de WAROQUIER, A. VAUTIER.
Pela Sociedade Científica de Espiritismo:
O administrador: P.-G. LEYMARIE,
Visto e aprovado: A. CARON, membro da Sociedade".
Notas desta pesquisa:
[1] Menção implícita a Alexandre Delanne (pai de Gabriel Delanne), que, devido a sua atividade profissional de comerciante, valia-se da condição de viajante para também fazer propaganda espírita, e possivelmente criticar o trabalho da Sociedade de Leymarie.
[2] Berthe Fropo.
[3] Alusão a uma expressão ("le pavé de l'ours") derivada de uma fábula de La Fontaine que representa uma atitude inábil cometida com a intenção de ajudar, embora acabe produzindo um efeito oposto.
[4] Certamente houve um equívoco na informação do mês, que deveria ser dezembro, já que este artigo respondia ao de Henri Sausse, publicado em 1 de daquele dezembro de 1884.
[5] Uma matriz de artes gráficas é uma placa de metal (clichê) sobre a qual são gravados as imagens e os textos a serem impressos.
A acusação de Henri Sausse é desacompanhada de uma prova cabal da tese de adulteração, como ele sugere; porém, ela levanta, com propriedade, a dúvida da autenticidade da "edição revisada", em razão de a obra ter sido publicada depois da estadia física de Allan Kardec, dúvida que pode ser alimentada pelo confronto de conteúdo, dado o aparecimento de algumas ideias esquisitas na 5ª edição — conforme a interpretação de alguns estudiosos. Mas, efetivamente, faltou a prova do crime.
Até que, posteriormente ao artigo-resposta de Leymarie, Sausse tentou melhor justificar sua denúncia: na edição da 1ª quinzena de fevereiro de 1885, o jornal da UEF publicou uma Correspondência de seu articulista de Lyon, pela qual ele explica que soube da "adulteração" por intermédio de um conterrâneo lionês, um amigo de Leymarie e também "fervoroso adepto do roustainguismo", que lhe advertia sobre a obra de Kardec não ser tão perfeita quanto se pensava, visto que seu amigo (Leymarie) teria precisado introduzir "correções" no livro A Gênese; isso foi o que motivou Sausse a se debruçar nas comparações entre os dois conteúdos em questão.
Leia na íntegra a correspondência de Henri Sausse publicada no Le Spiritisme.
Por outro lado, a autodefesa de Pierre-Gaëtan Leymarie também é oca; embora o ônus da prova seja de quem acusa (neste caso, Henri Sausse), uma vez que o diretor da Sociedade propôs-se explicar tudo, deveria tê-lo feito com exatidão — ainda mais porque era ele quem detinha os documentos esclarecedores do caso; mas, ao invés disso, fez uma confusão de ideias (por exemplo, a inexatidão da relação das edições e suas datas), também não bem explicadas pelas suas "testemunhas". E essas confusões acabariam por suscitar ainda mais questionamentos.
Na tentativa de encerrar o caso, Leymarie evoca o depoimento do homem que havia assumido a condução das obras de Kardec imediatamente à desencarnação do Mestre: Armand Desliens. Vejamos a seguir.
Armand Théodore Desliens era o secretário-geral de Allan Kardec e o homem forte no processo de sucessão do Mestre; foi ele quem assumiu a redação da Revista Espírita a partir da edição de maio de 1869 (Kardec falecera no mês de março, mas já tinha deixado a edição de abril prontinha); foi membro fundador da Sociedade Anônima e continuou sendo um dos sete integrantes da diretoria da SPEE. Desliens permaneceu em suas prerrogativas por mais dois anos; em 27 de junho de 1871, devido problema de saúde, ele apresentou sua renúncia de todas as suas funções institucionais e recluiu-se do movimento espírita. Foi em seu lugar que Leymarie adentrou na cúpula do Espiritismo francês.
Convocado pelo seu substituto, quatorze anos depois, Desliens redige o seu testemunho, que foi transcrita para a edição de março de 1885 da Revista Espírita no item — de título emblemático — "A Gênese de Allan Kardec". O sumo desse depoimento é que Desliens exclui Leymarie de qualquer intervenção no processo de redação do periódico e demais obras publicadas pela Livraria Espírita antes de 1871; detalhou os procedimentos para impressão (montagem das matrizes e clichês) e a implausibilidade de alteração alheia já que Kardec havia comprado as placas de impressão da segunda tiragem, feitas ainda em 1868, depois de concluída a edição final do livro; com isso, ele garantiu que todas as atualizações foram feitas por Kardec e, por determinação dele, elas haviam sido introduzidas naquela segunda tiragem (montadas em 1868), da qual seriam impressas (em 1869) as 4ª, 5ª e 6ª edições, bem como as subsequentes.
Paris, 1 de março de 1885. Senhores membros do conselho superior da Sociedade Científica do Espiritismo,
Como fui o secretário de Allan Kardec até sua morte, vários espíritas têm invocado minha recordações para confirmar se o Sr. Allan Kardec havia introduzido modificações na primeira edição da Gênese segundo o espiritismo; rogo-vos que tenhais a amabilidade de inserir esta resposta às perguntas que me têm sido feitas, pois ela é a expressão da verdade.
Antes de mais nada, devo admitir que, embora minhas convicções tenham permanecido íntegras e eu me tenha atido ao Credo do mestre, não tenho tomado parte alguma na vida espírita militante há aproximadamente quatorze anos. Esclarecido isso, eis, em algumas palavras, o que posso afirmar:
A primeira tiragem da Gênese, dividida em três edições, como de costume, foi editada pela livraria A. Lacroix, Verboeckhoven et Cie, boulevar Montmartre n° 15, e apareceu em 1 de janeiro de 1868. Durante o transcurso do ano 1868, os editores quebraram e, naturalmente, Allan Kardec perdeu o que restava da primeira tiragem. Então, de comum acordo com o Sr. Bittard, nessa época funcionário da livraria Lacroix, o mestre lançou as primeiras bases da fundação de uma livraria específica para a publicação e venda das obras sobre o espiritismo. Esse projeto acabou de ser colocado em execução quando a morte o surpreendeu no mesmo dia da inauguração da livraria espírita, na rua de Lille n° 7.
Embora a primeira tiragem da Gênese não se tivesse esgotado, Allan Kardec dispôs que se fizesse uma nova tiragem em 1868, das 4ª, 5ª e 6º edições, o que os tipógrafos Rouge, Dusnon e Fraisné podem confirmar; é essa tiragem que tem sido objeto das edições publicadas de 1869 a 1870 e seguintes.
Allan Kardec introduziu modificações nessa nova edição, e são elas, evidentemente, as que são objetos da polêmica instaurada sobre esse tema.
O que posso afirmar da maneira mais formal é que, até o mês de junho de 1871, dado que a Sociedade Anônima do Espiritismo era administrada pelos Srs. Bittard, Tailleur e por mim, o Sr. Leymarie foi totalmente alheio à redação da Revista e à reimpressão de qualquer obra. Posso afirmar igualmente que, nesse período, de 1 de abril de 1869 a 1 de junho de 1871, nenhuma modificação foi introduzida na redação da Gênese, e que a última edição, de 1883, é exatamente similar àquela da tiragem de 1868, feita pelo mestre.
Todo mundo sabe que a impressão de uma obra é feita com tipos móveis, reunidos em formas que constituem as páginas. Se é o caso de uma obra sem futuro e destinada a uma única edição, a composição é desfeita imediatamente depois da impressão, e os tipos são utilizados para outras obras.
Se é o caso de um livro importante e do qual o autor espera tirar um certo número de edições, as formas são conservadas durante um certo tempo a fim de permitir introduzir no texto da primeira tiragem, todas as modificações ou reestruturações consideradas necessárias para fazer uma edição definitiva.
Terminado definitivamente o texto revisado e corrigido, são obtidas as matrizes (e é o que fez Allan Kardec para a Gênese); depois são destruídos os tipos móveis. Mas o que não se sabe, em geral, é a diferença entre o que existe uma matriz e um clichê. A matriz, de fato, não pode servir para imprimir; é somente um molde que conserva oca a forma dos tipos, e estes últimos somente podem ser reproduzidos pela fonte dos clichês nas matrizes.
Isso explica como os clichês somente puderam ser fundidos em 1883, tendo sido obtidas as matrizes em 1868. Se fontes parciais foram feitas no intervalo, eram, sem dúvida, para a publicação à parte de brochuras específicas extraídas de certos capítulos da obra.
Ora, dado que as matrizes foram feitas em 1868, durante a vida de Allan Kardec, é indubitável que unicamente o mestre introduziu as modificações que existem nas edições feitas posteriormente com os clichês fundidos sobre essas matrizes; além disso, o mestre pagou por essas matrizes a seus tipógrafos.
Que essa curta explicação possa ser suficiente para eliminar da família espírita uma causa de desunião.
Recordemos esses preceitos de nossos mestres: Amai-vos uns aos outros. Fora da caridade não há salvação.
A. Desliens
Naqueles anos 1880 a reputação de Leymarie estava completamente comprometida dentro do movimento espírita, mas nada pesava contra Desliens, que foi aquele que segurou o batente nos primeiros dois anos de luto do Mestre, sendo homem de confiança — por isso secretário-geral — de Kardec. Havia uma inconsistência patente em seu depoimento, bem como no das demais testemunhas: todos contavam que o conteúdo atualizado de A Gênese fora introduzido desde a 4ª edição, enquanto, na verdade, encontrava-se esta 4ª edição, datada de 1868, não sendo mais do que uma reimpressão das anteriores. Além disso, todos contabilizaram que a obra revisada receberam três reimpressões, correspondentes às 4ª, 5ª e 6ª edições, mas onde estariam essas outras reimpressões 4ª e 6ª, posto ue a que estava em voga era a 5ª edição?
Contudo, pelo que tudo indica, essas inconsistências passaram batidas, ninguém as levantou perante Leymarie.
Havia outro ponto crucial ali: o silêncio da Viúva Kardec. Se ela não se levantou contra tal "infâmia", quem o poderia fazer? — diria Leymaria. Henri Sausse o fez, mas passados quase dois anos da desencarnação da esposa de Kardec.
Não convencido das explicações dadas por Leymarie e suas testemunhas, Henri Sausse voltou a questionar a legitimidade da revisão introduzida em A Gênese, desde a 5º edição, levantando uma questão interessante, conforme se lê no Le Spiritisme de fevereiro de 1885: "Se [Allan Kardec] tivesse ele mesmo feito essas modificações tão consideráveis que constituem quase uma nova obra, ele nos teria dado a conhecer. Para essas edições, revistas, corrigidas e aumentadas, ele teria escrito um novo prefácio, como o fez para O Livro dos Espíritos."
Pois é! Inclusive, quando a obra revisada (5ª edição) foi lançada, nenhum anúncio foi feito na A Gênese.
Leymarie, por sua vez, sacou um trunfo: ele detinha em suas mãos os arquivos pessoais de Kardec, dentre os quais muitos manuscritos inéditos; esses documentos, aliás, começaram a ser publicados por Desliens na Revista Espírita, numa sessão chamada "Obras Póstumas" já na edição de junho de 1869. Pois bem, eis que Leymarie vai buscar dois deles, para seu auxílio na presente questão, tornando-os públicos no jornal de março de 1887 [ebook ], precedidos pelo artigo "Previsões e revelações" informando:
"(...) com data de 22 de fevereiro de 1868 e de 4 de julho de 1868, encontramos as páginas seguintes, escritas textualmente à mão por Allan Kardec, tanto como o são todas as notas, observações e dissertações do manuscrito: a Sociedade julga conveniente reproduzi-las textualmente, pois elas respondem amplamente, ao mesmo tempo, às suposições de pessoas mal-intencionadas e às críticas dos espíritas desinformados."
Vamos ao primeiro texto oferecido por Leymarie:
22 de fevereiro de 1868. A GÊNESE. (Comunicação particular). "Em seguida a uma comunicação do Dr. Demeure, na qual ele me deu conselhos muito sábios sobre as modificações a serem feitas no livro da Gênese, para cuja reimpressão ele me exortava a ocupar-me sem demora, eu lhe digo: a venda, tão rápida até agora, esfriará, sem dúvida; é o efeito do primeiro momento. Acredito, portanto, que as 4ª e 5ª edições levarão mais tempo para esgotar-se. No entanto, como é necessário algum tempo para a revisão e a reimpressão, é importante não ser pego desprevenido. Poderíeis dizer-me aproximadamente quanto tempo eu tenho para agir a respeito disso?"
Resposta. Médium Sr. D... É um trabalho sério o desta revisão, e exorto-vos a que não espere demais para empreendê-lo; vale mais que estejais pronto antes da hora que se tivesse que esperar depois de vós. Sobretudo não vos apresseis. Apesar da aparente contradição de minhas palavras, não tenho dúvida de que me compreendeis: começai imediatamente o trabalho, mas não vos mantenhais nele sem interrupção por excessivo tempo. Ao tomardes vosso tempo, as ideias serão mais nítidas, vosso corpo ganhará com isso por fatigar-se menos.
Deveis contar com um sucesso filosófico e material.
A título de informação, o Dr. Demeure é o Espírito do médico recém-desencarnado, que, em outras passagens, cuidou diretamente da saúde de Allan Kardec. O médium autor dessa psicografia não é revelado pela revista (é identificado como "Sr. D..."), mas já podemos revelar: é o nosso conhecido Desliens Veja adiante mais implicações sobre essa comunicação.
Vamos para a segunda mensagem publicada por Leymarie:
4 de julho de 1868. Médium Sr. D... Vossos trabalhos pessoais estão indo bem; continuai com a reimpressão de vossa última obra.
Quando vos aconselhamos recentemente que não esperásseis demais para ocupar-vos da revisão da Gênese, dizíamo-vos que haveria de fazer acréscimos em diferentes partes, preencher algumas lacunas e noutras partes condensar o assunto a fim de não dar mais extensão ao volume; nossas observações não foram em vão, e ficaremos felizes em colaborar na remodelação dessa obra, bem como em ter contribuído para sua execução.
Eu vos exortarei hoje a que reveja com cuidado sobretudo os primeiros capítulos, nos quais todas as ideias são excelentes, que não contém nada que não seja verdadeiro, mas certas expressões ali poderiam prestar-se a uma interpretação errônea. Com exceção dessas retificações, que vos aconselho não negligenciar, porque as pessoas voltam-se contra as palavras quando não podem atacar as ideias, não tenho nada mais para vos indicar sobre esse tema. Aconselho, por exemplo, que não percais tempo; é preferível que os volumes esperem pelo público do que estejam em falta. Nada deprecia mais uma obra do que a interrupção de sua venda. O editor, impaciente por não poder satisfazer os pedidos que lhe são feitos e que perde a oportunidade de vender, desanima com as obras de um autor imprevidente; o público cansa-se de esperar, e a impressão produzida custa a se apagar.
O próximo ano chegará em breve; é necessário, portanto, no final deste, liquidar inteiramente o passado da doutrina; dai a última demão na primeira parte da obra espírita, a fim de ter o campo livre para terminar a tarefa que concerne ao futuro.
Didier
Didier havia sido o dileto editor das obras de Kardec e por ele convencido das luzes do Espiritismo. Desencarnado em 1865, viria agora, na condição espiritual, dar conselhos técnicos ao amigo a respeito do livro em atualização, a fim de que seu lançamento se desse o mais rapidamente possível.
Com essas duas mensagens, Leymarie oferecia suas explicações sobre porque o mestre trabalhava célere e discretamente na elaboração do que viria a ser a 5º edição, "revisada, corrigida e aumentada" de A Gênese.
Alguns dos tais manuscritos do Mestre, em posse da Sociedade Anônima, foram reunidos em formato de livro, editado por Leymarie e publicado em 1890 sob o título Œuvres Posthumes (ebook) — posteriormente seria vertido para o Brasil como Obras Póstumas (ebook) —, ostentando o nome de Allan Kardec como seu verídico autor. E seu subtítulo merece ser citado: "Il faut propager la Morale et la Vérité.", cuja uma boa tradução é "É preciso propagar a Moral e a Verdade". Na primeira parte, dissertações sobre os mais variados temas; na segunda, anotações pessoais de Kardec que detalham os bastidores do trabalho do Mestre na codificação da Doutrina Espírita. É de fato um diário. O editor (Leymarie) anotou que são "extratos, in extenso", ou seja: cópia literal, de um livro das "Previsões concernentes ao Espiritismo", cujos textos são colocados em ordem cronológica. E não é que aquelas duas comunicações particulares sobre a atualização de A Gênese entraram nessa copilação?
Sim, só que tem um detalhe importante: elas sofreram modificações em relação ao que havia sido publicado na Revista Espírita, ao passo que nas duas ocasiões é dito que os textos estavam sendo transcritos fielmente dos originais "escritos textualmente à mão por Allan Kardec". Ora, isso significa que pelo menos uma das cópias não era uma transcrição fiel ao manuscrito do autor. Pode-se alegar que o "contexto" foi preservado; OK! Todavia, isso deixa claro que a reprodução in extenso é falha, abrindo um precedente sobre a confiabilidade dos editores da Sociedade Anônima quanto às transcrições dos manuscritos de Kardec.
Mais tarde veremos que nenhuma dessas transcrições foram exatamente fiéis ao que Kardec escreveu. Mas, por hora, verifiquemos o que encontramos em Obras Póstumas:
22 de fevereiro de 1868
(Comunicação particular. Médium Sr. D.)
A Gênese
Em seguida a uma comunicação do Dr. Demeure, na qual ele me deu conselhos muito sábios sobre as modificações a serem feitas no livro da Gênese, para cuja reimpressão ele me exortava a ocupar-me sem demora, eu lhe digo.
A venda, tão rápida até agora, esfriará, sem dúvida; é o efeito do primeiro momento. Acredito, portanto, que as 4ª e 5ª edição levarão mais tempo para esgotar-se. No entanto, como é necessário algum tempo para a revisão e a reimpressão, é importante não ser pego desprevenido. Poderíeis dizer-me aproximadamente quanto tempo eu tenho para agir a respeito disso?
Resposta. Médium Sr. D... É um trabalho sério o desta revisão, e exorto-vos a que não espere demais para empreendê-lo; vale mais que estejais pronto antes da hora que se tivesse que esperar depois de vós. Sobretudo não vos apresseis. Apesar da aparente contradição de minhas palavras, não tenho dúvida de que me compreendeis. Começai imediatamente o trabalho, mas não vos mantenhais nele sem interrupção por excessivo tempo. Tomai vosso tempo: as ideias serão mais nítidas, e com isso vosso corpo ganhará por fatigar-se menos.
Vós deveis, entretanto, esperar um fluxo rápido. Quando lhe dissemos que este livro seria um sucesso dentre vossos sucessos, queríamos dizer-vos tanto um sucesso filosófico quanto material. Como podeis ver, nossas previsões estavam corretas. Esteja sempre pronto, será mais rápido do que supondes.
Continuando, temos aquela comunicação de 4 de julho destaca em Obras Póstumas, sob o título "Meus trabalhos pessoais. Conselhos diversos" — aqui, porém, bem aumentada e sem assinatura do Espírito comunicante (Didier). Vejamos:
Meus trabalhos pessoais. Conselhos diversos
Paris, 4 de julho de 1868 - Médium Sr. D.
Vossos trabalhos pessoais estão indo bem; continuai com a reimpressão de vossa última obra; fazei vosso sumário para o fim do ano, é uma utilidade, e deixai o restante por nossa conta.
A impulsão produzida pela Gênese é só o começo, e muitos elementos abalados por sua aparição se colocarão em breve sob sua bandeira; outras obras sérias ainda virão para acabar de esclarecer o pensamento humano sobre a nova doutrina.
Aplaudi igualmente a publicação das cartas de Lavater: é uma coisa mínima destinada a produzir grandes efeitos. Em suma, o ano será frutífero para todos os amigos do progresso racional e liberal.
Estou também inteiramente de acordo que publiqueis o resumo que vós propondes a fazer na forma de catecismo ou manual, mas também acho que deves esmiuçá-lo com cuidado. Quando estiverdes a publicá-lo, não vos esqueçais de me consultar sobre o título, terei talvez uma boa sugestão a dar e cujos termos dependerão dos acontecimentos ocorridos.
Quando vos aconselhamos recentemente que não esperásseis demais para ocupar-vos da revisão da Gênese, dizíamo-vos que haveria de fazer acréscimos em diferentes partes, preencher algumas lacunas e noutras partes condensar o assunto a fim de não dar mais extensão ao volume.
Nossas observações não foram em vão, e ficaremos felizes em colaborar na remodelação dessa obra, bem como em ter contribuído para sua execução.
Eu vos exortarei hoje a que reveja com cuidado sobretudo os primeiros capítulos, nos quais todas as ideias são excelentes, que não contém nada que não seja verdadeiro, mas certas expressões ali poderiam prestar-se a uma interpretação errônea. Com exceção dessas retificações, que vos aconselho não negligenciar, porque as pessoas voltam-se contra as palavras quando não podem atacar as ideias, não tenho nada mais para vos indicar sobre esse tema. Aconselho, por exemplo, que não percais tempo; é preferível que os volumes esperem pelo público do que estejam em falta. Nada deprecia mais uma obra do que a interrupção de sua venda. O editor, impaciente por não poder satisfazer os pedidos que lhe são feitos e que perde a oportunidade de vender, desanima com as obras de um autor imprevidente; o público cansa-se de esperar, e a impressão produzida custa a apagar-se.
Por outro lado, não é mau que vós tenhais certa liberdade de espírito para tratar das eventualidades que possam surgir em torno de vós, e dirigir vossos cuidados aos estudos particulares que, conforme os eventos, podem ser suscitados de momento ou relegados aos tempos mais propícios.
Estai, pois, pronto para tudo; ficai livre de todo entrave, seja por vos entregardes a uma tarefa especial, se a tranquilidade geral o permite, seja por estar preparado a todo acontecimento se complicações imprevisíveis venham necessitar de vossa parte uma súbita determinação. O próximo ano chegará em breve; é necessário, portanto, que no final deste, deis a última demão na primeira parte da obra espírita, a fim de ter o campo livre para terminar a tarefa que concerne ao futuro.
Confira melhor as diferenças nos textos pelo PDF - Comparação de transcrições de manuscritos de Allan Kardec.
Bem, para todos os efeitos, o primeiro round dessa polêmica terminou sem maiores consequências: Leymarie não convenceu muita gente, mas Henri Sausse e a União Espírita Francesa também não conseguiram as provas concretas para a acusação de adulteração do livro A Gênese. Não ocorreu a pacificação entre os confrades nem uma revolução — o que talvez ilustre bem o que ocorreu com o Movimento Espírita original na virada do século XIX para o XX: uma apatia geral.
Enquanto os direitos autorais das obras de Allan Kardec estiveram sob domínio da Sociedade Anônima, todas as reimpressões e traduções autorizadas para La Genèse, les miracles et les prédictions selon le Spiritisme tinham como base a 5º edição. Com isso, a versão consagrada desse livro mundo à fora foi aquela revisada, corrigida e aumentada. A única exceção que conhecemos é a tradução espanhola La Génese, los milagros y las predicciones según el Espiritismo empreendida por José Maria Fernández Colavida em 1871, com base na 2ª edição (1868) - ebook.
No Brasil, a obra foi traduzida pela primeira vez em 1882, tendo com base a 8ª edição francesa, "sob os auspícios" da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, sediada no Rio de Janeiro, com o sugestivo nome A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo (respeitando a atualização ortográfica). Logo mais viria aquela que se consagraria como a mais popular tradução brasileira no século XX: a de Guillon Ribeiro, então presidente da FEB, tradução essa baseada na edição atualizada pela Sociedade Anônima.
Outra tradução brasileira muito difundida, também ouriunda da edição revisada, foi a de João Teixeira de Paula, publicada pela LAKE Editora, contendo introdução, nota e supervisão do respeitado filósofo espírita José Herculano Pires.
E é mesmo de se admirar que até mesmo Herculano, esse profícuo e sagaz estudioso espírita, tenha ignorado a questão de que aqui tratamos. Portanto, reflexo evidente que a Historiografia espírita estava carente de investigadores mais atentos às suas origens, e também que o caso havia sido muito bem abafado. Por um século, ficou ignorado que o quinto livro básico do Espiritismo tinha duas versões — e que talvez a segunda delas fosse uma adulteração.
Com efeito, só mesmo "um golpe de sorte" poderia reacender a chama daquela discussão; mas, esse golpe efetivou-se!
Carlos de Brito Imbassahy
Em 1998, o estudioso espírita Carlos de Brito Imbassahy (filho do renomado advogado, jornalista e escritor espírita Carlos Imbassahy) participava de um bate-papo online sobre filosofia espírita. Estando os participantes convidados a acompanhar a leitura de um trecho de A Gênese, tendo ele em mãos um exemplar em francês da 3ª edição que herdara do pai, percebeu a diferença dos textos; inicialmente supôs ter sido erro de tradução contidos nos livros de seus interlocutores (que usavam exemplares traduzidos da edição revisada); depois, supôs se tratar mesmo de uma adulteração premeditada pela FEB. Disposto a recuperar e compartilhar com seus companheiros o que considerava o "conteúdo original", ele fez uma tradução livre a partir do seu exemplar e a disponibilizou publicamente pela internet, valendo-se do fato que a obra de Kardec já havia caído em domínio público (ver aqui).
João Vendrani Donha
Logo mais, Imbassahy seria informado desta histórica polêmica pelo estudioso espírita paraense João Vendrani Donha (saiba mais) que tinha uma vaga lembrança do caso e, das duas versões diferentes da tratada obra, por ter lido a respeito numa biografia de Henri Sausse. Donha, agora motivado a saber mais sobre o caso, a partir da equivocada denúncia de Imbassahy, empreende uma minuciosa pesquisa sobre A Gênese e mais adiante será um dos primeiros a publicamente fazer frente a uma nova campanha em favor da ideia de adulteração da obra kardequiana, como veremos no próximo tópico e seguintes.
Certa vez, Gustavo Martinez, presidente da Confederação Espírita Argentina - CEA e tradutor da obra literária de Allan Kardec, recebeu por e-mail um questionamento sobre as controvérsias históricas sobre o conteúdo final do livro A Gênese, o que despertou nele o interesse em estudar o caso melhor; o interesse foi compartilhado com Simoni Privato Goidanich e daí deu-se o início de um memorável trabalho, como veremos a seguir, e que podemos dizer que é um grande legado desta pesquisadora para a História do Espiritismo.
Natural da cidade de São Paulo e radicada em Montevidéu - Uruguai, Simoni é uma estudiosa espírita de longa data e reconhecidos serviços prestados à divulgação da Doutrina Espírita em países da América Latina, bem conciliados com seu trabalho de diplomata brasileira (ver entrevista a Ismael Gobbo). Motivada pelo confrade, ela foi a Paris em 2017 para uma série de pesquisas junto aos documentos do Arquivos Nacionais da França e da Biblioteca Nacional da França. Suas descobertas não apenas reabriram o debate do caso A Gênese como trouxeram novas e valiosíssimas contribuições para a discussão. Naquele mesmo ano, seu livro El Legado de Allan Kardec (em espanhol) seria lançado pela CEA, em 3 de outubro, 213° aniversário do nascimento Mestre.
Simoni Privato Goidanich
El Legado de Allan Kardec, Simoni Privato Goidanich
Entre as contribuições de sua pesquisa, destacamos:
Veja aqui o vídeo da palestra de lançamento do livro El Legado de Allan Kardec de Simoni Privato Goidanich, a 3 de outubro de 2017, na sede da Confederação Espiritista Argentina, em Buenos Aires:
A tese de Simoni Privato ecoa retumbante no Brasil, oportunamente evocada por simpatizantes, em janeiro de 2018, por conta das comemorações do 150° aniversário de lançamento da obra, em sintonia com um movimento crescente de estudos e pesquisas históricas acerca da sucessão de Kardec na condução das atividades espíritas, para cujo movimento veio contribuir o lançamento, naquele mesmo mês jubilar, do filme-documentário Espiritismo à Francesa: a derrocada do Movimento Espírita francês pós-Kardec; com o cenário — fartamente documentado — desfavorável à reputação de Leymarie na administração do Movimento Espírita no final do século XIX, a ideia de adulteração ganhou bastante plausibilidade entre os pesquisadores espíritas.
Começa-se as tratativas para a tradução em português do livro da diplomata espírita e um seminário para seu lançamento com a presença da autora. As primeiras entidades mais importantes a apoiar a tese de Simnoi foram a União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP), o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM) e a Fundação Espírita André Luiz (FEAL) (à qual pertencem os importantes veículos de comunicação espírita Rádio Boa Nova e TV Mundo Maior).
Todavia, como era de se esperar, não houve unanimidade.
Cosme Massi nega adulteração da Gênese
A primeira personalidade do meio espírita a se contrapor explicitamente à tese da Simoni Privato foi Cosme Massi, conhecido diretor do site Kardecpedia. Numa entrevista em vídeo, ele apresentou a sua refutação para os principais argumentos oferecidos em El Legado de Allan Kardec e assumiu a posição de legitimidade da edição atualizada e que, portanto, não houve adulteração no livro A Gênese. Por outro lado, viu na polêmica reacendida a oportunidade de todos estudarem mais a obra kardequiana, inclusive as duas versões do livro em questão.
Apesar de ser bem lógico no que se propôs a enfrentar, Massi não abordou o que parecia ser o argumento mais forte de Simoni para desqualificar aquela 5º edição de 1872: o especto jurídico, considerando que, passados três anos do falecimento do autor, o conteúdo do livro não poderia ser modificado sem as devidas garantias de que fora encomendadas por aquele.
Independentemente da questão legal, havia sim um cenário propício à desconfiança de que realmente Allan Kardec tivesse feito as modificações tais como aquelas contidas na edição atualizada, que o entrevistado procurou vencer pelo silência da Viúva Kardec; para Cosme Massi, o fato de Amélie Boudet (a herdeira direta) não ter questionado o conteúdo "revisado, corrigido e aumentado" era forte o bastante para garantir a atualização.
Em 29 de janeiro de 2018, diante da polêmica vigente, o Conselho Diretor da Federação Espírita Brasileira lançou uma nota oficial para declarar que, segundo a FEB, a "edição definitiva" do livro A Gênese era a versão atualizada, a partir da 5ª edição "revisada, corrigida e aumentada" de 1872, tomando como princípio segurador a inexistência de uma "prova cabal" de adulteração, também sustentando a anuência de Madame Kardec — que "sobreviveu mais de dez anos à publicação da 5ª edição francesa da obra" - Ver nota da FEB.
Em referência aos possíveis "conflitos doutrinários" presentes na edição revisada, suscitados pela tese de adulteração, a nota também recobra os estudos comparativos realizados nos anos 1960 pelo notável pesquisador espírita Zêus Wantuil (1924-2011); confrontando "palavra por palavra, frase por frase, linha por linha, a 3ª e a 5ª edições francesas", Wantuil havia "chegado à conclusão de que modificações havidas só poderiam ter sido realizadas pelo próprio Allan Kardec".
Por outro lado, a nota traz o anúncio de que a FEB providenciaria a confecção de uma edição especial, no ensejo das festividades do sesquicentenário de lançamento de A Gênese com conteúdo bilíngue (original em francês e tradução em português) das duas versões — o que, de fato, verificaríamos em setembro daquele ano, sendo o seu tradutor o respeitado estudioso espírita Evandro Noleto. Com efeito, impressa essa edição especial, o público em geral teria mais uma opção de estudar a edição original da obra, independentemente da polêmica.
São Paulo, 4 de março de 2018, Simoni Privato Goidanich participa do seminário "A Gênese, 150 anos - o resgate histórico" e do lançamento da tradução do seu livro-tese da adulteração da obra kardequiana: O Legado de Allan Kardec - saiba mais.
O Legado de Allan Kardec
Simoni Privato Goidanich
Diversas entidades espíritas do Brasil e do exterior anunciam adesão àquela tese com o compromisso formal de substituírem a segunda versão da obra em questão pelo conteúdo original. A FEAL anuncia providências para lançar uma edição especial com base na tradução feita por Carlos Imbassahy.
Em seminário, com a presença de Simoni Privato, a FEAL lança sua edição especial de A Gênese de Allan Kardec, com base na tradução de Carlos Imbassahy, a partir da primeira versão da obra, que a FEAL adotou como "a autêntica", ao mesmo passo em que define como "apócrifa", "adulterada" e "clandestina" a segunda versão, expressa desde a 5ª edição francesa lançada pela Sociedade Anônima - Saiba mais.
Na ocasião, a FEAL também anunciou o lançamento de um grandioso projeto, na mesma esteira dos ideais da tese da recuperação histórica do legado de Kardec hasteada por Simoni Privato: o projeto Cartas de Kardec, tendo como principal matéria-prima o célebre acervo espírita do Dr. Canuto Abreu — uma coleção de livros e documentos de interesse espírita, incluindo cartas e manuscritos escritos pelo codificador espírita, que Canuto conseguiu reunir em viagem à França e outros países, no começo do século XX. A expectativa era a de que se encontrasse nesse acervo mais evidências dos desvios doutrinários pós-Kardec que ajudassem nesse resgate histórico. A coordenadoria desse projeto foi confiada ao pesquisar espírita Paulo Henrique de Figueiredo.
O Projeto Cartas de Kardec começa cedo a dar frutos significativos: em fevereiro de 2018, é divulgada a descoberta do manuscrito de Kardec referente à mensagem do Dr. Demeure aconselhando o autor de A Gênese a apressar a revisão desta obra — mensagem essa que Leymarie havia reproduzido na Revista Espírita e, com pequenas modificações, em Obras Póstumas [tópico 19]. De posse da peça original, constatou-se então que as reproduções feitas por Leymarie não foram fidedignas, ao que Paulo Henrique de Figueiredo classificou de "fraude", premeditada para distorcer dados referentes à alegada adulteração da obra em debate - saiba mais.
Diante das evidências apresentadas àquela época, o Portal Luz Espírita tomou o posicionamento de que a versão 'revisada, corrigida e aumentada" de A Gênese não tinha legitimidade, no sentido de que não havia garantias de que fossem alterações feitas realmente por Allan Kardec, além de a 5ª edição de 1872 carregar o peso das suspeitas, aparentemente justas, que se tinha sobre aquele que a publicou: Leymarie. Então, até que novos indícios contrários surgissem (pois sempre nos mantemos abertos às evidências), havíamos decidido considerar o conteúdo autêntico do referido livro exatamente aquele da 1ª edição, tomando a 5ª como uma adulteração — não como uma decisão absoluta, mas — como dissemos — sempre reconsiderável, de acordo com as pistas apresentadas.
Diante disso, substituímos de nossa Sala de Leitura o ebook da obra que dispúnhamos com a tradução referente à 5ª edição por um novo, traduzido por nosso colaborador Louis Neilmoris, com base na 1ª edição francesa, conforme informamos publicamente.
Ver também o verbete "A Gênese" na Enciclopédia Espírita Online.
As evidências que nos levaram a crer na tese de adulteração, até o presente tópico:
Foi assim que desclassificamos a edição publicada por Leymarie. Mas um fato novo viria nos fazer revermos a nossa posição...
Março de 2020: o pesquisador espírita Carlos Seth Bastos, diretor da página CSI do Espiritismo anuncia a descoberta de uma cópia de A Gênese, 5º edição, datada de 1869; o exemplar foi encontrado na biblioteca da Universidade de Neuchâtel, Suíça, cujo registro bibliográfico informa explicitamente: 5º edição, "revisada e corrigida", publicada pela "Livraria Espírita e de Ciências Psicológicas", em 1869, com 471 páginas. Novas especulações surgem e dão ares de reviravolta no caso - Saiba mais.
O site da biblioteca suíça disponibilizava os dados bibliográficos de suas obras, mas não os conteúdos em si (ebooks), de modo que não ignorávamos se aquela edição era idêntica à 5ª de 1872 publicada por Leymarie. Entretanto, Carlos Seth havia conseguido junto aos bibliotecários suíços fotografias de algumas páginas, o que permitiu uma dedução de que o conteúdo de uma era cópia da outra publicação - Saiba mais.
Mais tarde, ficaria confirmada aquela dedução: comparada linha a linha, palavra por palavra, ver-se-ia que o mesmo conteúdo da edição de 1872 se encontrava no exemplar suíço, datada de 1869 — mesmo ano da desencarnação de Kardec. Então esse achado suíço trazia novas implicações para o debate:
Nosso posicionamento, de bastante favorável à tese de adulteração, doravante passou a ser de total incerteza, à espera de novas evidências e respostas para as perguntas que sobraram.
Tão logo após o anúncio da descoberta da cópia suíça, deu-se repercussões diversas. Encabeçando o projeto Cartas de Kardec, Paulo Henrique de Figueiredo apresentou seus esclarecimentos a respeito com uma nota cujo título resume seu entendimento: "Sobre a 5ª edição clandestina da Gênese de 1869".
A nota foi considerada simplista por certos estudiosos e contestada por outros, como em CSI do Espiritismo e Espiritismo Comentado.
Na edição de 9 de março de 2020 do programa Livre Pensamento (Rádio Boa Nova e TV Mundo Maior), Paulo Henrique de Figueiredo voltou a defender a ilegalidade da publicação póstuma de A Gênese, veja adiante:
Em seguida, finalmente veríamos expostos os manuscritos de Allan Kardec sobre as sugestões de correções em A Gênese, como citado nos tópicos [28] e [19].
Eles confirmam que realmente Leymarie não foi nada preciso — na melhor das hipóteses — quando os reproduziu, a pretexto de se defender das acusações de adulteração. Ficou claro também que as recomendações do Dr. Demeure eram mesmo para "retoques linguísticos", não uma "revisão de conceitos" doutrinários em relação à primeira versão da obra - Saiba mais.
Não tardou e veio a publicação do conteúdo do exemplar suíço e a confirmação do que já era esperado: A Gênese daquela 5ª edição de 1869 é correspondente à versão "revisada, corrigida e aumentada", semelhante à que foi publicada em 1872 - ebook.
Portanto, além das questões técnicas envolvendo essa nova edição (os registros de DI e DL), sobrou a dúvida se realmente foi Allan Kardec quem fez todas aquelas modificações oferecidas a partir da 5ª edição.
E enquanto não surgem novas pistas, resta-nos fazer um estudo comparativo das alterações — o que, aliás, está ao alcance de todo bom estudioso espírita.
O caso A Gênese acabou de fomentar vários grupos comparativos das duas versões da citada obra, estudos esses individualizados e em grupos. A USE-Campinas e a USE-SP, por exemplo, lançaram o programa do seu Grupo Virtual de Estudos, aberto a todos os estudiosos interessados - contato para informações e inscrições: use.r.campinas@usesp.org.br.
Se você estiver participando de algum grupo de estudos comparando as versões de A Gênese, deixe seu comentário e links dos materiais de apoio desse estudo.
O site Obras de Kardec, inaugurado em 31 de março de 2020 (aniversário da desencarnação de Kardec) está reunindo estudiosos e pesquisadores voluntários em nais um interessante projeto: fazer comparações das obras espíritas do codificador do Espiritismo, e dentro desse intento, essa equipe está trabalhando na edição de quatro volumes referentes à questão que aqui tratamos.
Na coleção As Edições de A Gênese, a iniciativa é distribuída da seguinte forma:
Os quatro volumes estão sendo editados em PDF e distribuídos gratuitamente pelo Obras de Kardec.
Uma grata surpresa para a comunidade de estudiosos espíritas deste 2020 foi o lançamento do site Allan Kardec Online, idealizado por um grupo de pesquisadores e tendo como diretor o nosso confrade Adair Ribeiro, que, como curador do museu on-line, tem livremente disponibilizado as pesquisas na área da Historiografia Espírita e, como subsídio dessas mesmas pesquisas, um grande acervo de obras originais, dentre as quais, uma boa coleção de manuscritos de Allan Kardec, compondo assim um extraordinário Museu Virtual do Espiritismo que, no tocante à matéria de que aqui cuidamos, figura-se como um grande reforço para o esclarecimento do caso - Saiba mais aqui. A propósito, é digno de nota que foi o AKOL quem providenciou e compartilhou a digitalização do revelador exemplar suíço ([tópico 31]). Aliás, essa é a característica mais marcante que destacamos deste trabalho: a pronta e livre disponibilização de seu acervo virtual.
Novas análises de documentos demonstram que Allan Kardec estava mesmo trabalhando na revisão do seu último livro, a partir de sugestões espirituais, e que, efetivamente, essas "melhorias" viriam a fazer parte da edição atualizada (5ª edição, 1869); são manuscritos — portanto, textos compostos de próprio punho pelo Mestre — que garantem a autenticidade das modificações, corroboradas pela incidência de prévia publicação na Revista Espírita, enquanto editada pelo mesmo escritor.
Saiba mais sobre esses documentos clicando aqui.
Diante dessas evidências, é absoluto, enfim, que vários trechos adicionados ou modificados na 5° edição de A Gênese sairam veridicamente da pena do seu legítimo autor; a questão crucial é se todas as alterações — dentre as quais, muitas supressões de textos — foram mesmo idealizadas e executadas por Kardec.
Além disso, com a descoberta e publicação — felizmente — do manuscrito kardequiano da mensagem mediúnica datada de 22 de fevereiro de 1868, intitulada "Conselhos sobre A Gênese", podemos então fazer as devidas comparações com as transcrições que foram oferecidas por Leymarie em dois momentos - [tópico 19] e [20]. Com isso, temos mais um parâmetro para medir a precisão — ou imprecisão — dessas transcrições feitas por terceiros. Veja a seguir o PDF com o enquadramento do manuscrito e as transcrições mencionadas:
Comparação dos manuscritos de Kardec com as suas transcrições em PDF
Continuemos na descoberta de novos manuscritos e novas análises...
Realizou-se em 1 de setembro de 2020 o lançamento oficial do Projeto Allan Kardec ministrado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sob a responsabilidade do seu núcleo de pesquisas sobre Espiritualidade (NUPES), cuja finalidade elementar é reunir e disponibilizar livremente ao público, através de um site (www.projetokardec.ufjf.br), acervos históricos relacionados ao personagem que dá nome à iniciativa, acervos esses verificados criteriosamente por acadêmicos especialistas em diversas áreas, a fim de garantir a autenticidade dos documentos, fotocopiados, transcritos e traduzidos para o nosso português.
Esta iniciativa é, enfim, a realização do que havia sido pensado para o projeto Cartas de Kardec da FEAL, de quem a UFJF recebeu 50 documentos já para a inauguração, contando ainda com a progressiva cessão do restante dos manuscritos do acervo histórico do Dr. Canuto Abreu.
Além dos manuscritos em posse da FEAL, o projeto da universidade mineira trabalha para receber e então disponibilizar o acervo do Museu Virtual do Espiritismo do portal Allan Kardec Online e de outros mais, inclusive de particulares, que queiram compartilhar documentos afins com o projeto - Saiba mais.
Para o nosso caso em questão, reavivou a expectativa de que os manuscritos ora em possa da FEAL, além de outros documentos que viessem a ser encontrados, pudessem conter algo para ajudar na elucidação das dúvidas então em voga. Não foi o caso dos cinquentas manuscritos inicialmente publicados, para a inauguração, mas prossegue a busca.
Havia tempo, Kardec planejava lançar uma lista com as obras mais relevantes que servisse de subsídio para os estudiosos espíritas, inclusive, dentre elas, obras que contestavam a Doutrina Espírita. Na Revista Espírita de fevereiro de 1861, em um artigo denominado 'Escassez de Médiuns', ele escreveu: “Daremos um dia um catálogo racional das obras que, direta ou indiretamente, tratam da ciência espírita, na Antiguidade e nos tempos modernos, na França ou no estrangeiro, entre os autores sacros e os profanos, quando nos tiver sido possível reunir os elementos necessários.” Depois, na edição de dezembro de 1868, em 'Aviso', Kardec informa que “Também publicaremos brevemente um catálogo de todas as obras que possam interessar à Doutrina: as que foram publicadas em vista do Espiritismo e as que, fora dele e em diferentes épocas, tenham afinidade de princípios com as crenças novas. Será um guia para a formação das bibliotecas espíritas. Quando sair, a indicação das obras será seguida de uma curta apreciação, para dar a conhecer o seu espírito, e um aviso será feito no número da Revista em que tiver de ser publicado.”
Pois bem, aconteceu que finalmente o projeto se concretizou: em 1 de abril de 1869, foi distribuído aos assinantes da Revista Espírita o suplemento denominado Catalogue raisonné des ouvrages pouvant servir à fonder une bibliothèque spirite, ou, em bom português: Catálogo Racional das obras para se fundar uma Biblioteca Espírita. Vejamos bem: Kardec havia falecido no dia anterior ao desta publicação, mas é certo que tanto este catálogo quanto aquela edição da revista já estava pronta e, portanto, foram redigidas por Allan Kardec.
À vista disso, destacamos o achado de um exemplar daquela 1ª edição do Catálogo Racional e, a partir daí, a extração de importantes pistas para o caso que estudamos.
Clique aqui para baixar o PDF com a fotocópia do original em francês da 1ª edição do Catálogo Racional.
A primeira pista é que este catálogo cita a obra La clef de la vie (A chave da vida), de Michel de Figagnères, e sobre esta obra Kardec faz um comentário (considerando estranha a teoria de cosmogonia e teogonia proposta por Figagnères) e em seguida ele sugere aos leitores examinar na sua obra A Gênese no capítulo VIII os itens 4 a 7. Acontece que este item 7 ('Alma da Terra') é exclusivo da edição revisada (na primeira edição, este capítulo termina no item 6). Ou seja, Kardec já estava fazendo referência à edição revisada, que estaria para ser publicada, o que comprova que o trecho deste item 7 já existia — e certamente era de sua autoria, visto que ele recomendava sua leitura.
A segunda pista tem a ver com outro livro recomendado por Kardec no referido catálogo. Enquanto não se tinha nenhuma cópia desta 1ª edição do Catálogo Racional, dizia-se que a inclusão do livro Os quatro evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing havia sido feita pelos "adulteradores"; mas o achado desta edição original do catálogo — elaborada por Kardec — de fato contém a sugestão deste título. Quer dizer: Kardec realmente incluiu a obra roustainguista na lista de livros para o estudo do Espiritismo.
Conclusão, este achado da 1ª edição do Catálogo Racional aponta para a autenticidade da edição revisada de A Gênese e enfraquece as suspeitas de um complô de adulteradores.
Saiba mais sobre o Catálogo Racional.
No bojo da tese de adulteração de A Gênese, a editora da FEAL anuncia a pré-venda de um livro assinado pela coautoria de Lucas Sampaio e Paulo Henrique de Figueiredo cuja tese central é a de que o livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec também teria sofrido modificações externas e indevidas a partir da sua 4ª edição, lançada pela Livraria Espírita em 1 de junho de 1869.
Com o título Nem céu nem inferno - as leis da alma segundo o espiritismo, os autores prometem provar as adulterações e contextualizar a sua motivação, que seria impregnar a Doutrina Espírita de ideias "heterônomas", próprias das religiões tradicionais, em oposição à "autonomia", que seria o cerne da moral espírita.
À espera pela argumentação prometida, ficamos na expectativa de que o livro ofereça elementos concretos que possam servir para elucidar este caso.
Clique aqui para saber mais.
Manuscrito inédito, pertencente ao acervo da FEAL, é revelado e se torna peça-chave para montar o quebra-cabeça do caso: rascunho de Kardec, datado de 25 de setembro de 1868, para responder a uma carta de um correspondente alemão, noticia que a 5ª edição revisada, corrigida e aumentada de A Gênese já estava sendo impressa, bem como estava em andamento a revisão de O Céu e o Inferno em sua 4ª edição.
Entenda-se bem: o manuscrito achado é um rascunho de Kardec - cuja grafia é bem caracterizada e identifica sua autoria - certamente encaminhado ao seu secretário, então encarregado de passar a limpo a mensagem e escrever a carta-resposta ao correspondente alemão, em nome do codificador espirita, uma vez que este achava-se com a saúde debilitada.
Paris, 25 de setembro de 1868
Senhor,
Como o Sr. Allan Kardec não se encontra em Paris neste momento, tive que lhe enviar vossa carta, o que impediu que fosse respondida tanto quanto o desejasse. Como ele está, aliás, muito enfermo, não pode vos responder por ele mesmo, pelo que me instrui a substituí-lo.
Estando O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns sendo traduzidos pelo Sr. Delhez, a obra mais importante a ser traduzida, e aquela que teria, no momento, o maior sucesso na Alemanha, é A Gênese. Esta é, portanto, aquela pela qual ele deseja que se comece, e para este objetivo ele dá de bom grado autorização ao Sr. Bidder, sob a condição da remessa de 50 exemplares.
Esta obra está atualmente sendo reimpressa com importantes correções e adições. É desta nova edição que ele deseja que a tradução seja feita. Consequentemente, ele enviar-lhes-á as folhas à medida que elas sejam impressas; já há cerca de metade delas.
O Céu e o Inferno igualmente será reimpresso com correções.
Portanto, só teríamos inteiramente pronto O Evangelho; mas repito, é útil, no interesse da coisa, começar pela Gênese, da qual posso vos enviar as primeiras folhas em poucos dias.
Embora o Sr. A. K. não tenha a graça de conhecer o Sr. Bidden, ele está contente por poder ser-lhe útil nesta circunstância, uma vez que ele se apresenta sob vossa recomendação e a do Sr. Conde Poninski, com quem ele está em correspondência.
Um ponto importante é a exatidão da tradução; ele pensa que vós e o Sr. Poninsky não teríeis proposto o Sr. Bidder se não tivésseis certeza de que o trabalho seria feito convenientemente pela fidelidade da reprodução dos pensamentos, e a correção do texto em alemão.
Tão logo o Sr. Allan Kardec o possa fazer, ele mesmo terá a honra de vos escrever; enquanto isso, vós podeis tomar como certo a autorização que ele me instrui a vos transmitir.
Aceitai, peço-vos, senhor, a expressão das minhas mais distintas saudações.
Com isso, fica ainda menos convincente supor que houve qualquer adulteração nos dois livros presentemente questionados, quais sejam: A Gênese, objeto de histórica polêmica, e O Céu e o Inferno, recentemente colocada em questão - [tópico 38]
Saiba mais clicando aqui.
Alguns estudiosos que acompanham este caso questionavam a escassez de referências à 5ª edição de A Gênese de 1869, pelo fato de o achado suíço - [ver o tópico 30] - ser até então exemplar único daquela tiragem. Daí então veio a lume um documento altamente importante para esta questão: o Inventário geral da Sociedade Anônima para o ano 1873.
Mais detalhes aqui.
Vejamos: como sabemos, a Sociedade Anônima foi a entidade criada pela Viúva Kardec para gerenciar os bens e as obras espíritas de seu falecido esposo, bem como lançar novos empreendimentos - comerciais, mas com foco especial na disseminação do Espiritismo. Esta Sociedade tinha um corpo administrativo, do qual Madame Kardec fazia parte com o cargo equivalente a "auditora de fiscalização", além de ser a sócia majoritária e, portanto, deter legalmente o poder de decisão sobre todas as atividades da Sociedade. Como parte da organização, prevista no seu estatuto, anualmente era apresentado à diretoria um relatório com os ativos da entidade. O que temos de novidade no rumo das nossas pesquisas historiográficas é exatamente os originais do relatório do ano civil de 1873, e esta peça recém-descoberta vem nos trazer dados valiosos para nossos estudos. Ei-los:
Desta feita, inferimos:
Este nosso parecer, no entanto, não é absoluto; continuamos com as pesquisas e permanecemos francamente abertos a analisar novos desdobramentos inerentes a este caso e preparados para refazer nossas conclusões, seguindo a lógica e a razão das coisas.
Uma síntese do caso A Gênese foi oferecida em formato de artigo, assinado por Adair Ribeiro, Carlos Seth Bastos e Luciana Farias publicamente disponível no Jornal de Estudos Espíritas (JEE).
Clique aqui para baixar o PDF do artigo
A apresentação do artigo foi feita por Alexandre Fontes da Fonseca, um dos coordenadores do site JEE, nos seguintes termos:
"O artigo de Ribeiro Jr., Bastos e Farias apresenta um histórico da questão em torno da obra A Gênese, o surgimento das dúvidas em torno da validade da sua 5ª edição, apresenta a descoberta de uma 5ª edição datada de 1869 (contra a de 1872 que era a única conhecida), e apresenta e analisa as questões legais (as leis) em torno do trabalho de edição e publicação de livros válidos à época de Kardec, incluindo a questão de como fica a "herança" dos compromissos assumidos com editoras na publicação de livros e obras. O artigo ainda propõe 3 hipóteses para a questão da legitimidade da 5ª edição de A Gênese, e propõe uma delas como a mais provável (o Leitor é convidado a ler o artigo para conhecer as hipóteses e a que os Autores escolheram). Um detalhe relevante, é que este artigo é o primeiro de vários que eles irão desenvolver sob outros aspectos."
De fato, de acordo com o que conferimos, é um excelente apanhado histórico sobre a polêmica, sem a pretensão de absolutismo, conforme acrescenta a referida apresentação:
"Embora saibamos que muitos irmãos espíritas tem opinião formada sobre o assunto, cabe dizer que a fé raciocinada pede critério de estudo e análise. O presente artigo se apresenta, portanto, como um verdadeiro exemplo de como trabalhar assuntos delicados e controversos, mas com a devida seriedade e caráter científico (não apenas seriedade) que sabemos que Kardec sempre apreciou. Cumpre esclarecer que não é esse artigo ou algum livro que ditará a verdade final sobre esse e muitos outros assuntos e descobertas importantes no meio espírita, mas sim a leitura, avaliação e citação desses trabalhos pela comunidade espírita."
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Fatos, documentos e bastidores da pesquisa historiográfica a respeito do caso em questão comentados por personagens diretamente envolvidos nesse trabalho em uma live especial sobre "Historiografia do Espiritismo": Adair Ribeiro (AKOL e Museu Online do Espiritismo), Carlos Seth Bastos (o Sr. CSI do Espiritismo), Charles Kempf (presidente da Federal Espírita Francesa), João Vendrani Donha e Luís Lira Neta, sob a apresentação e intermediação de Eric Pacheco (Rio de Janeiro) e João Gonçalves (Portugal):
É de se pensar que Henri Sausse — aquele que inaugurou a polêmica a respeito da autenticidade da edição revisada de A Gênese — enquanto acreditasse na ideia de adulteração, não fosse se servir jamais de tal peça, certo? Pois bem, o fato é que documentos recém-descobertos mostram-no pegando citações de trechos da dita cuja, 5ª edição "revisada, corrigida e aumentada" que outrora ele colocara sob suspeita.
Isto aconteceu, por exemplo, no estudo "A Doutrina Espírita – Os ensinamentos de Allan Kardec (La Doctrine Spirite – Les Enseignements d’Allan Kardec)", assinado por Henri Sausse, publicado na Revista Espírita de 1914 dividido em seis partes, estando a 1ª parte na edição de março (p. 164-166) e a conclusão na edição correspondente a agosto/setembro (p. 466-471).
O que podemos deduzir daí é que Sausse, ao longo do tempo, convenceu-se do hipotético engano cometido em sua acusação e então adotou a edição nova - Saiba mais.
Na sequência das pesquisas, descobriu-se que Henri Sausse não apenas passou a referenciar a edição revisada de A Gênese mas também — e finalmente — admitiu publicamente a autenticidade desta nova versão, reformulando assim seu posicionamento. Essa afirmação consta no relatório do Congresso Espírita Internacional de 1925, realizado em Paris, França, congresso esse do qual Sausse era um dos comissionados.
Discorrendo sobre sua pesquisa Em busca das origens da alma humana, Henri Sausse vai dizer:
"Mas vamos continuar nossas pesquisas e abrir a Gênese, a última obra publicada, revista e corrigida por Allan Kardec; ela deve nos dar o último pensamento do mestre sobre o assunto da alma humana..."
Fica patente, portanto, que Sausse, o iniciador das teorias de adulteração da obra A Gênese, desfez-se da própria denúncia.
Se as evidências já eram abundantes, agora, felizmente, pensamos que a solução da questão esteja suficientemente demonstrada - Saiba mais.
Numa reviravolta impressionante, encontramos a situação em que um determinado grupo se apresenta como "resgatadores" da Doutrina Espírita a atacar os confrades que vinham publicando ou admitindo a edição revisada de A Gênese sob a alegação que esta era uma obra indevida e ilegal, sendo que, uma vez evidenciada a insustentabilidade da tese de adulteração, encontramos a realidade em que aqueles acusadores é quem, de fato, estão agindo indevidamente.
Esta foi a interpretação expressa por Carlos Seth em sua palestra "Metodologia CSI de pesquisa espírita" de 13 de fevereiro de 2022, embasado na lei 9610/1998 dos direitos autorais nacionais (que segue o modelo básico dos dispositivos internacionais) que assegura as prerrogativas do autor (escritor, músico compositor etc.) e os dos que lhes são conexos (aqueles que tenham relação com esses mesmos direitos, por exemplos: herdeiros) — uma obra que foi revisada (como é o caso do livro aqui em questão) a versão a ser publicada ou reeditada pelos sucessores deverá ser a versão definitiva produzida pelo autor, não podendo a reprodução das versões anteriores se passar pela versão definitiva (ver especialmente os artigos 1°, 5°, 24°, 35° e 41° da referida lei). Em sua exposição, Carlos Seth colocou uma ressalva quanto às publicações de versões anteriores da obra, destacando a possibilidade de se fazer uma publicação especial, por exemplo, comemorativa, como fez a Federação Espírita Brasileira, no ano de 2018, por ocasião do sesquicentenário de lançamento da primeira edição de A Gênese (publicada em 6 de janeiro de 1868), com tradução de Evandro Noleto (veja aqui), neste caso especificando expressamente se tratar de uma edição especial — e não a versão definitiva, cujo conteúdo legal é o da 5ª edição, dita "revisada, corrigida e aumentada", publicada em 1869, postumamente (ainda no primeiro trimestre após o falecimento de Kardec) com a anuência da sua herdeira, a viúva Kardec.
Sim, temos o seguinte quadro: a obra A Gênese foi originalmente publicada em 6 de janeiro de 1868, reimpressa mais três vezes (edições 2, 3 e 4, todas no mesmo ano de lançamento) e em seguida foi atualizada por Allan Kardec; às vésperas de seu relançamento, com o novo conteúdo (neste caso a versão definitiva), o autor desencarnou (31 de março de 1869), mas a edição nova foi legitimamente publicada por quem de direito o poderia fazer, Madame Kardec. Então, para as reedições seguintes, qual é o legítimo conteúdo deste livro? — A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, edição "revisada, corrigida e aumentada", com base na 5ª edição, 1869.
Certo! Mas o que tem havido em nossos dias? Desconsiderando as evidências das pesquisas mais recentes, das quais se destacam as de nosso confrade Carlos Seth, ainda há quem alimente dentro do movimento espírita a ideia de adulteração e dê sustentação a outras tantas teorias conspiratórias, inclusive elegendo "vilões". Ora, a FEAL - Fundação Espírita André Luiz publicou naquele ano jubilar de 2018, em comemoração aos 15 anos de lançamento de A Gênese, uma edição dela com base na primeira versão do livro, ignorando a versão definitiva. E não apenas isso: o conteúdo kardequiano é precedido por mais de 20 páginas introdutórias cujo teor basicamente é para enaltecer o trabalho da FEAL no que se considerou ser "missão" o dever de "reestabelecer Kardec".
No interior do livro publicado pela FEAL, à página 9 encontramos no item Apreciação sobre a Gênese da Apresentação a definição deste lançamento: "único texto autenticamente publicado pelo autor e restabelecendo suas palavras 150 anos depois." A seguir vem o item "O derradeiro e conclusivo livro de Allan Kardec", assinado por Paulo Henrique de Figueiredo. Adiante: "Os fatos e as provas irrefutáveis", autoria de Simoni Privato Goidanich. Na sequência, Júlio Nogueira (advogado) discorre sobre "O direito moral e a garantia da integridade da obra". Logo mais lemos o item "A obra original, atual e contemporânea" por Marcelo Henrique.
Não acabou: tem ainda um "Prefácio a esta edição", novamente aparecendo a assinatura de Paulo Henrique de Figueiredo, que tranquiliza o leitor quanto às ideias citadas por Kardec que o prefaciador então cuidará de "esclarecer" e "contextualizar".
Mas a "missão" da FEAL não para por aí: uma visita ainda hoje na página da sua editora oficial (Mundo Maior Editora) nos levou à propaganda para a venda não só desta edição indevida de A Gênese, por ser oferecida como a "obra definitiva", como também de outros títulos que exploram esse "reestabelecimento" da obra kardequiana, como Autonomia, a história jamais contada do Espiritismo, Nem céu nem inferno e — por incrível que pareça — mais uma edição indevida: O Céu e o Inferno de Allan Kardec, com base numa versão anterior à revisão feita pelo codificador do Espiritismo e que, portanto, é a edição definitiva, a qual cumpre o dever moral observamos como o conteúdo a ser divulgado, estudado e aclamado para o referido título.
Temos então, infelizmente, o fato concreto de que a obra verdadeira de Kardec está sendo manipulada (e — que ironia! — por quem se apresentava como os arautos do resgate do movimento espírita contra os "adulteradores") através de publicações indevidas e uma maciça campanha promovida por uma rede de comunicação espírita — a FEAL - Fundação Espírita André Luiz, que, por conseguinte, e no bojo dessa mesma teoria conspiratória, tem servido de pálio para a difusão de uma estranha ideia oferecida ao meio espírita que consagra um conceito de "moral autônoma", conforme certa interpretação do que teria pensado Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão que inspirou o movimento Iluminismo. No entanto, esta interpretação (que consagra a liberdade incondicional dos Espíritos) em determinado momento extrapola a filosofia de Kant e fere os princípios fundamentais do Espiritismo, que se estabelece como peremptoriamente subordinada a Deus, a quem somente pertence a liberdade absoluta (veja mais aqui). Essa tese de autonomia espiritual é toda uma nova teoria pretendendo reinventar a Doutrina Espírita apresentando-se como o seu resgate.
Muito importante: As versões anteriores dos livros de Kardec podem ser — e é muito bom que sejam — estudadas em paralelo com o conteúdo final pelo propósito de se comparar as atualizações feitas pelo mestre espírita, observando assim a evolução de seu pensamento entre uma edição inicial e a versão conclusiva; precisamente é isto que tem feito o projeto Obras de Kardec, que tem lançado os livros da codificação espírita colocando lado a lado esses conteúdos, facilitando assim o estudo e a pesquisa comparativa. E com um detalhe assaz relevante: tudo gratuitamente.
Atento à polêmica sobre a autenticidade da obra kardequiana, o Portal Luz Espírita publica e passa a adotar a novíssima tradução da obra A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo de Allan Kardec, editada por Ery Lopes, com base na versão "revisada, corrigida e aumentada", tendo como fonte de tradução a 5ª, de 1869, arquvio digitalizado e disponibilizado pelo Museu AKOL.
Veja aqui a postagem de lançamento da nova tradução.
O ebook da nova tradução está livremente disponível para leitura online ou download nos formatos PDF e EPUB na Sala de Leitura do nosso Portal.
O tradutor fez uma apresentação de seu trabalho nesta nova edição em um seminário promovido pelo nosso Portal e transmitido em 24 de abril de 2022, cujo vídeo pode ser assistido pela janela abaixo:
O Jornal de Estudos Espíritas (JEE) publicou em 6 de maio de 2022 o artigo "Uma revisão na história da 5ª edição de A Gênese Parte II – Os eventos relacionados à atualização da obra e à preparação para impressão em 1868" de autoria de Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth Bastos e Luciana Farias, em continuação à primeira parte, conforme anotado no tópico 41.
O resumo do artigo, composto pelos próprios autores, é este:
A Gênese é a última obra fundamental do Espiritismo publicada por Kardec ainda encarnado. Ela descreve os conceitos em torno da gênese do universo, da vida, etc., bem como discute e explica os mecanismos de diversos fenômenos espíritas. Recentemente, estudos sugeriram que a 5ª edição da obra, atualmente considerada a definitiva, teria sido adulterada, isto é, conteria alterações com relação à edição original que não seriam de autoria de Kardec. Este artigo dá continuidade à pesquisa em torno dos fatos, documentos e história da composição da 5ª edição de A Gênese [Parte I publicada em Jornal de Estudos Espíritas 8, 010209 (2020)]. Aqui são analisados os eventos referentes à atualização da obra e sua preparação para impressão, fornecendo evidências de que: i) Kardec demonstrou intenção de atualizar sua obra e acrescentar conteúdo novo pouco tempo depois do lançamento da sua 1a edição; ii) os Espíritos concordaram e deram conselhos sobre esse conteúdo; e iii) os clichês utilizados na impressão da 7ª edição de A Gênese foram produzidos a partir de matrizes, as quais foram confeccionadas a pedido de Kardec, em 1868, e congelaram numa forma os tipos móveis com o texto definitivo atualizado por ele. Esse último item, ao nosso ver, impediria a realização de uma alteração póstuma no conteúdo da obra, a menos que o secretário de Kardec, os responsáveis pela tipografia e galvanoplastia tenham dado falso testemunho. Outros elementos que mostram a legitimidade da autoria da Kardec na preparação da 5ª edição de A Gênese são comentados e analisados.
Clique aqui para acessar o referido artigo.
Em uma live promovida pelo canal da Abrade - Associação Brasileira dos Divulgadores do Espiritismo, a pesquisadora e nossa confrade espírita Luciana Farias apresenta um panorama didático e bem fundamentado do apanhado histórico sobre os bastidores da produção da obra tratada, desde seu planejamento (por indicação espiritual), passando pela primeira publicação, até os desdobramentos da versão revisada por Allan Kardec e publicada por Amélie Boudet.
É, portanto, um excelente resumo, com desfecho concreto, sobre a polêmica em questão, apontando positivamente para a autenticidade da 5ª edição de A Gênese.
Tão logo lançamos esta página especial, criamos uma enquete exatamente para acompanhar o andamento das opiniões sobre o caso em questão. Então lançamos a seguinte pergunta, com as possíveis alternativas:
Você acha que o livro A Gênese de Allan Kardec foi adulterado a partir da 5ª edição?
1) Ainda não tenho opinião sobre isso.
2) Não tenho certeza, mas acho que NÃO.
3) Não tenho certeza, mas acho que SIM.
4) Tenho certeza de que NÃO.
5) Tenho certeza de que SIM.
Colocamos também o link para os usuários verificarem o andamento da enquente. Além disso, esporadicamente publicamos apanhados sobre a progressão dos resultados (Veja aqui o derradeiro apanhado.)
Ocorreu, porém, um fato estranho em determinado momento, de que fomos dar nota em dezembro de 2022: um ataque hacker contra o Portal Luz Espírita e uma manipulação indevida na nossa enquete, francamente intencionando alterar o resultado para a ideia à favor da tese de adulteração.
Observe adiante as discrepâncias dos números:
Felizmente, temos todos os recursos de defesa contra ataques desse tipo e os acionamos para o devido reestabelecimento dos percentuais reais. Desta forma, os votos indevidos foram removidos e o resultado verdadeiro pôde se figurar novamente.
A ocorrência do ataque hacker contra nosso sistema (ver tópico anterior) nos suscitou a ideia de que é hora de encerrarmos a enquete que lançamos sobre o caso aqui tratado, ficando estabelecido o seguinte resultado dentre os 538 votos dos usuários:
Você acha que o livro A Gênese de Allan Kardec foi adulterado a partir da 5ª edição?
1) Ainda não tenho opinião sobre isso = 10%
2) Não tenho certeza, mas acho que NÃO = 31%
3) Não tenho certeza, mas acho que SIM = 8%
4) Tenho certeza de que NÃO = 46%
5) Tenho certeza de que SIM = 5%
Bem, somando os resultados similares, a projeção do público que acompanha nossa pesquisa faz para o caso é a seguinte:
77% estão inclinados a rejeitar a tese de adulteração.
13% estão inclinados a defender a tese de adulteração.
10% estão indecisos.
Portanto, a grande maioria acompanham o nosso parecer, qual seja, a de que não houve adulteração no livro A Gênese, conforme as abundantes evidências apresentadas até então.
Faz bem anotarmos que esse cenário não ficou estático desde o começo da enquete; desenvolveu-se ao longo da pesquisa revertendo a tendência: antes, a propensão à tese de adulteração era majoritária e foi sendo revista no decorrer do tempo até concretizar o quadro final. Veja aqui o quadro progressivo dos resultados.
Apesar de todos os documentos e contextos demonstrarem claramente que a "5ª edição: revisada, corrigida e aumentada" trata-se de mais um trabalho de Allan Kardec na atualização de suas obras, ainda é de certo modo considerável o percentual de 13% daqueles que acreditam na tese de adulteração. O que talvez explique isso seja o fato de que há gente e determinados canais de informação articulando e promovendo essa teoria. Desta maneira, pelo bem da verdade e preservação da integridade da obra kardequiana, é preciso que os bons espíritas se inteirem melhor sobre a questão e levantem voz contra tais promoções, que deturpam a Doutrina Espírita, a exemplo do que fizeram José Herculano Pires e Chico Xavier diante de um caso que nos parece muito menos grave. Saiba mais aqui.
Tenhamos todos nós consciência de que, como disse o grande filósofo espírita Léon Denis: o futuro do Espiritismo depende do que os espíritas dele fizerem.
Façamos nossa parte!
Publicada a terceira parte do artigo especial sobre este caso, editado por Adair Ribeiro (AKOL - Allan Kardec Online), Carlos Seth Bastos (CSI do Espiritismo) e Luciana Farias (Obras de Kardec), em continuação ao que foi apresentado no tópico 47 desta página de pesquisa.
Confira o resumo deste trabalho:
Este é o terceiro e último artigo que visa descrever a história da 5ª edição de A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, utilizando-se das fontes documentais localizadas entre 2020 e 2021. Nos anteriores [JEE 8, 010209 (2020) e JEE 10, 010202 (2022)], descrevemos os eventos ocorridos com Kardec em vida, de fevereiro de 1868 a março de 1869, para preparar a nova edição para venda. Aqui, retomamos a história a partir da publicação da 1ª impressão da 5ª edição, entre abril e maio de 1869, até a publicação da 2ª impressão, em 1872. Neste período, relatamos a responsabilidade e envolvimento de Amélie Boudet, tendo como pano de fundo a transição do pós-Kardec (de 1° de abril a 13 de agosto de 1869) e os primeiros anos da Sociedade Anônima (até 1873). Em seguida, avançamos cerca de 10 anos na história, para a denúncia feita por Henri Sausse, em 1884, de que A Gênese teria sido adulterada no pós-Kardec, contraditada pelas respostas dos envolvidos na publicação da obra, que esclareceram ter sido um trabalho do autor. Analisamos a repercussão dessa denúncia na França nas décadas seguintes até que, em 1925, o próprio Sausse encerrou o assunto, ao declarar que foi Kardec quem revisou e corrigiu a obra. Transladamos para o Brasil e traçamos um panorama sobre o tema, desde a tentativa frustrada de adulterar a primeira tradução de A Gênese para o português, em 1882, até a denúncia mais recente, em 2017, que repetiu a visão inicial de Sausse de que a 5ª edição francesa havia sido adulterada após a morte de Kardec. Por fim, apresentamos as razões para a proposta da adulteração de A Gênese nunca ter sido de fato comprovada e demonstramos que as fontes identificadas na nossa pesquisa, juntamente com as previamente conhecidas, corroboram o testemunho dos envolvidos: Kardec é o autor da edição atualizada da obra.
Adair Ribeiro Jr, Carlos Seth Bastos e Luciana Farias
Esta terceira e derradeira parte do artigo "Uma revisão na história da 5ª edição" está livremente disponível no site Jornal de Estudos Espíritas.
Em 9 de janeiro de 2024, a editora da Sociedade Espírita Primavera acabou de publicar A Gênese de Allan Kardec - da polêmica aos fatos, obra ricamente ilustrado com documentos originais encontrados em diversos acervos espalhados pelo mundo, encontrado pelos três autores: Adair Ribeiro Júnior, Carlos Seth Bastos e Luciana Farias, finalmente estruturando num livro o caso em questão - Saiba mais.
Considerando a autenticidade da edição revisada, corrigida e aumentada de A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, desde a 5ª edição de 1869, o que melhor nos cabe nessa ocasião é estudar criteriosamente as alterações especialmente para dois fins providenciais de momento:
Em face disto, estamos preparando um comparativo entre as duas versões da obra, analisando especialmente a sua coerência doutrinária ou possíveis incoerências com os princípios da codificação do Espiritismo, conforme o sumário adiante:
Editando...
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A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo - Ou simplesmente A Gênese, é um livro de Allan Kardec, lançado em Paris - França, a 6 de janeiro de 1868, com título original em francês La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, uma das obras básicas da Codificação do Espiritismo e considerada por certos estudiosos como o livre-chave para a compreensão da Doutrina Espírita; é o objeto central desta pesquisa em razão da polêmica histórica sobre o seu conteúdo final, posto que uma versão sua "revisada, corrigida e aumentada", como a 5ª edição, foi publicada após a desencarnação do seu autor; essa versão atualizada tem sido questionada e foi expressamente acusada de adulteração por alguns estudiosos espíritas, dentre os quais: Henri Sausse [tópico 15] e Simoni Privato Goidanich [22].
Allan Kardec - (1804-1869) Autor do livro A Gênese (obra que é a questão central desta pesquisa), uma das obras básicas da codificação do Espiritismo, pelo que se diz que ele é o "codificador" da Doutrina Espírita, reverenciado pelos seus confrades com o título de "Mestre"; esposo de Amélie-Gabrielle Boudet (também conhecida como Madame Kardec e, posteriormente, Viúva Kardec). Pelo que sabemos, publicou em vida quatro edições da obra em questão, todas idênticas (portanto, a edição original e mais três reimpressões), e estava prestes a lançar a 5ª edição, que viria "revisada, corrigida e aumentada"; em razão de seu passamento ocorrer antes desta publicação, a edição revisada, lançada pelos seus sucessores passou a ser alvo de suspeita e denúncia de fraude de adulteração - Saiba mais.
Amélie-Gabrielle Boudet - (1795-1883) Escritora, poetisa e esposa de Allan Kardec, pelo que também é mencionada no meio espírita como Madame Kardec; foi uma dedicada colaboradora do projeto de codificação do Espiritismo; na condição de Viúva Kardec, comprometeu-se a trabalhar para a continuação das obras do Espiritismo conforme os desígnios kardecistas [tópico 14], mas certas fontes apontam que pessoas encarregadas de administrar as atividades espíritas acabaram por deixá-la de lado em suas decisões [12] - Saiba mais.
Armand Théodore Desliens - Ver "Desliens, Armand Théodore".
Carlos Imbassahy - foi um estudioso espírita, filho do notável advogado, jornalista e escritor Carlos de Brito Imbassahy (1883-1969), também pesquisador do Espiritismo e da Parapsicologia; em 1998, Carlos Imbassahy deu-se conta, "por acaso", das duas versões de A Gênese e, disposto a recuperar o conteúdo original da obra, fez uma tradução para o português a partir de um exemplar que dispunha da 3ª edição em francês [tópico 21].
Cartas de Kardec - Projeto coordenado pela FEAL, cujo objetivo central é reunir, catalogar e divulgar materiais originais de obras e documentos em geral que compõem o acervo histórico do Espiritismo, contextualizando o valor desses documentos para uma melhor compreensão da codificação espírita. Seu ponto de partido foi especialmente o acervo herdado da família do pesquisador espírita Canuto Abreu [tópico 27]. No entanto, com o lançamento do Projeto Allan Kardec, estamos por saber se a FEAL vai montar um portal em paralelo ou vai destinar a publicação diretamente para o projeto da UFJF (ver o item "Projeto Allan Kardec" neste Glossário) - Saiba mais.
Colavida, José Maria Fernández - (1819-1888), pioneiro divulgador espírita na Espanha, onde era chamado "O Kardec espanhol". Foi o primeiro a traduzir para o idioma de seu país A Gênese, que se tornou referência para outros países falantes do espanhol [tópico 21].
Cosme Massi - Reconhecido estudioso do Espiritismo, a primeira personalidade do movimento espírita a contestar publicamente a tese de adulteração da A Gênese levantada por Simoni Privato [tópico 24].
Confederación Espiritista Argentina (CEA) - Sob a presidência de Gustavo Martínez, publicou, em 3 de outubro de 2017, o livro El Legado de Allan Kardec de Simoni Privato Goidanich, cujo tema central é a tese de adulteração da obra A Gênese de Allan Kardec [tópico 22] - Saiba mais.
Demeure, Dr. - Ver "Dr. Demeure".
Desliens, Armand Théodore - Foi secretário-geral de Allan Kardec, membro e médium da SPEE (da qual era um dos diretores) e um dos principais articuladores das atividades espíritas logo após a desencarnação do seu Mestre (membro e um dos administradores da Sociedade Anônima, redator-chefe da Revista Espírita); declarou publicamente ter sido Kardec o autor da versão atualizada do livro A Gênese, negando, portanto, a acusação de adulteração levantada por Henri Sausse - [tópico 18]
DI - Declaração de Impressão (Déclaration d'Impression, em francês), documento pelo qual se solicitava às autoridades francesas a permissão para produzir a impressão de uma obra literária. Somente após a aprovação dessa declaração se poderia produzir livros, brochuras, panfletos, etc. Nesses registros constam, além do título da obra, o nome do autor, a gráfica, o formato de impressão e a quantidade de cópias a serem produzidas - [tópico 8].
Didier - (1800-1865) Pierre-Paul Didier foi um respeitado livreiro e editor de obras científicas importantes; espírita convicto e membro da SPEE, foi também editor de livros de Allan Kardec. Desencarnado, é citado numa psicografia particular dirigida a Kardec exortando-o a empreender a revisão de A Gênese [tópico 19].
DL - Depósito Legal (Dépôt Legal, em francês), declaração de entrega das cópias das obras publicadas. Toda vez que fosse publicado um novo livro ou uma edição atualizada (com conteúdo modificado) de uma obra já existente, era obrigatório que cópias dessa publicação fossem entregues às autoridades francesa — seja para garantir a autenticidade da obra, seja para consulta interna dessas autoridades - [tópico 8].
Dr. Demeure - (-1865) Dr. Antoine Demeure foi um caridoso médico homeopata de Albi (departamento de Tarn, no sul da França), que também abraçou a Doutrina Espírita. Enquanto encarnado, nunca teve presencialmente com Kardec, embora se comunicassem via carta; uma vez desencarnado, tornara-se devotado cuidador da saúde de Kardec; é citado numa psicografia particular dirigida ao codificador espírita aconselhando-o a revisar o livro A Gênese [tópico 19].
El Legado de Allan Kardec - Livro de Simoni Privato Goidanich, publicado em 3 de outubro de 2017, Buenos Aires, pela Confederación Espiritista Argentina, cujo tema central é a tese de adulteração da obra A Gênese de Allan Kardec [tópico 22] - Saiba mais.. No ano seguinte ao seu lançamento em espanhol, este livro foi traduzido para o português e lançado pelas Edições USE/CCDPM-ECM com o título O Legado de Allan Kardec - Saiba mais.
FEAL - Ver "Fundação Espírita André Luiz".
Fundação Espírita André Luiz (FEAL) - Renomada entidade que engloba diversos projetos de filantropia e divulgação espírita (por exemplo as emissoras Rádio Boa Nova e TV Mundo Maior), com sede em Guarulhos-SP. Anunciou apoio à tese de adulteração do livro A Gênese, levantada por Simoni Privato [tópico 23], publicou uma edição especial da obra com base na tradução de Carlos Imbassahy e lançou o projeto Cartas de Kardec [27] - Saiba mais.
Goidanich, Simoni Privato - Ver "Simoni Privato Goidanich".
Guillon Ribeiro - (1875-1943) natural de São Luís do Maranhão, foi um engenheiro civil, jornalista, poliglota e presidente da FEB em 1920, 1921 e 1930; tradutor das principais obras de Allan Kardec, dentre as quais (aliás, ele foi o autor da primeira tradução de) A Gênese [tópico 21].
Gustavo Martínez - Presidente da Confederação Espírita Argentina e tradutor das obras de Allan Kardec para espanhol; compartilhou com Simoni Privato Goidanich o interesse em desvendar a polêmica histórica sobre a A Gênese, motivando-a a empreender sua pesquisa - [tópico 22].
Henri Sausse - Escritor e estudioso espírita, membro da União Espírita Francesa e articulista do jornal Le Spiritisme, pelo qual, através do artigo "Uma infâmia", foi o primeiro a acusar a Sociedade Anônima de adulterar A Gênese, a partir da 5ª edição - [tópico 15]
Herculano Pires, José - Ver "José Herculano Pires".
Imbassahy, Carlos - Ver "Carlos Imbassahy".
Jean-Baptiste Roustaing - Ver "Roustainguismo".
José Herculano Pires - (1914-1979) foi um jornalista e respeitado filósofo espírita, reputado pelo Espírito Emmanuel (mentor espiritual de Chico Xavier) como "a melhor régua que mediu Kardec"; também foi coautor de uma das traduções de A Gênese para o português [tópico 21], edição da LAKE Editora cuja tradução foi assinada por João Teixeira de Paula - Saiba mais.
José Maria Fernández Colavida - Ver "Colavida, José Maria Fernández".
Kardec, Allan - Ver "Allan Kardec".
La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme - Ver A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo.
Le Spiritisme (O Espiritismo) - Jornal quinzenal e órgão oficial de publicidade da União Espírita Francesa [tópico 14]. Por esse periódico, na edição da 1ª quinzena de dezembro de 1884, Henri Sausse insere o artigo "Uma infâmia", pelo qual acusa a Sociedade Anônima de adulterar a A Gênese com sua edição "revisada, corrigida e aumentada" - [15].
Leymarie, Pierre-Gaëtan - Ver "Pierre-Gaëtan leymarie".
Madame Kardec - Ver "Amélie-Gabrielle Boudet".
Martínez, Gustavo - Ver "Gustavo Martínez".
Massi, Cosme - Ver "Cosme Massi".
Mestre - Ver "Allan Kardec".
O Legado de Allan Kardec - Livro de Simoni Privato Goidanich, originalmente publicado em espanhol (El Legado de Allan Kardec), cujo tema central é a tese de adulteração da obra A Gênese de Allan Kardec [tópico 22]; foi lançado em São Paulo - Brasil, a 4 de março de 2018, pelas Edições USE/CCDPM-ECM [23] - Saiba mais.
Pierre-Gaëtan Leymarie - (1827-1901) Foi um espírita, médium, membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e, depois do falecimento de Allan Kardec, protagonista na condução do movimento espírita, estando na direção dos órgãos e bens do Espiritismo legados pelo casal Kardec - [tópico 12]. Sua gestão, no entanto, foi francamente questionada por muitos confrades, dentre os quais Berthe Fropo, que em sua obra Muita Luz (Beaucoup de Lumière) o acusou de desvirtuar a Doutrina Espírita original a troco de interesses financeiros particulares - [14]. Leymarie também foi o personagem principal responsabilizado por Henri Sausse do que este considerou como "adulteração" do livro A Gênese a partir da edição dita "revisada, corrigida e aumentada" - [15]. O acusado negou qualquer ideia de adulteração e apresentou suas justificativas - [16] - e o caso caiu no esquecimento, até ser revivido, às vésperas da celebração dos 150 anos de lançamento da obra, pela pesquisadora Simoni Privato Goidanich, que em seu livro O Legado de Allan Kardec resgata a tese feita por Henri Sausse e reapresenta Leymarie como o mentor intelectual de dita adulteração, mediante documentos que sugerem que a edição modificada (5ª edição) datava de 1872, publicada pela Sociedade Anônima, então sob a direção de Leymarie e, com isso, colocando-o à frente das responsabilidades de uma "edição indevida", lançada três anos depois da morte do autor genuíno e sem qualquer indício sério de que este estivesse trabalhando numa atualização deste livro. A tese ganhou força e virou campanha em prol de um "resgate da obra original de Kardec", mas o achado de uma 5ª edição de A Gênese datada de 1869 provocou uma reviravolta geral no caso - [30]; além disso, a descoberta e análise de novos documentos — dentre os quais, manuscritos de Kardec — vinham evidenciar que a obra estava mesmo sendo revisada pelo seu legítimo autor, como de fato se efetivaria na edição revisada, colocando em xeque a tese de adulteração - - [35]. E, independentemente disso, a nova data de publicação da edição atualizada (apenas alguns dias depois do passamento de Kardec - [30]) isentaria Leymarie da responsabilidade direta de uma possível modificação indevida no livro, uma vez que esta prerrogativa era privilégio da Viúva Kardec, sendo, além, que somente em 1871, dois anos depois da publicação da 5ª edição revisada, é que Leymarie viria legalmente a ocupar espaço na gestão dos organismos espíritas (Sociedade Anônima, Livraria Espírita, etc.).
Pires, José Herculano - Ver "José Herculano Pires".
Privato Goidanich, Simoni - Ver "Simoni Privato Goidanich".
Projeto Allan Kardec - Oficialmente lançado em 1 de setembro de 2020 pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), através de seu Núcleo de Pesquisas sobre Espiritualidade (NUPES), objetiva receber e divulgar abertamente ao público, através do seu site (www.projetokardec.ufjf.br), acervos históricos relacionados ao personagem que dá nome à iniciativa, acervos esses verificados criteriosamente por acadêmicos especialistas em diversas àreas, a fim de garantir a autenticidade dos documentos, fotocopiados, transcritos e traduzidos para o nosso português - [36]. O projeto faz parceria com a FEAL para concretizar o que estava previsto para o projeto Cartas de Kardec no sentido de disponibilizar livre e virtualmente os manuscritos originais de Kardec provindos da coleção particular do Dr. Canuto Abreu, bem como outros docuemntos afins de outras coleções - Saiba mais.
Ribeiro, Guillon - Ver "Guillon Ribeiro".
Roustainguismo - Movimento dissidente do Espiritismo baseado na obra de Jean-Baptiste Roustaing (1805-1879), que propunha com o seu livro Os Quatro Evangelhos ser a "revelação da revelação", sucessora da Doutrina Espírita especialmente no que tange aos valores religiosos. Segundo certos estudiosos defensores da tese de adulteração de A Gênese, as modificações feitas a partir da 5ª edição, revisada, corrigida e aumentada, teriam como propósito elementar acomodar ideias roustainguistas - tópicos [15] e [22] - Saiba mais.
Sausse, Henri - Ver "Henri Sausse".
Simoni Privato Goidanich - Diplomata e estudiosa espírita brasileira radicada em Montevidéu, Uruguai; empreendeu uma histórica pesquisa a partir de documentos inéditos dos Arquivos Nacionais da França, resultando o livro O Legado de Allan Kardec, pelo qual defendeu a tese de que A Gênese foi adulterada desde a 5ª edição publicada pela Sociedade Anônima - [tópico 22].
Sociedade Anônima ou Sociedade Anônima sem fins lucrativos e de capital variável da Caixa Geral e Central do Espiritismo - No original em francês: Société Anonyme à Parts d'Intérêt et à Capital Variable de la Caisse Générale et Centrale du Spiritisme, foi a entidade criada para representar legalmente os direitos autorais das obras de Allan Kardec e, de maneira geral, dar continuidade às obras espíritas inspiradas nas determinações do codificador do Espiritismo, inclusive a entidade responsável pela editoração da Revista Espírita - [tópico 14]; sua idealização partiu da Viúva Kardec e sua concretização se deu a partir de 3 de julho de 1869, sendo Madame Kardec a sua sócia majoritória e cnselheira superior; desde que passou a ser dirigida por Pierre-Gaëtan Leymarie (meados de 1871) a entidade passou a ser acusada de desvios doutrinários e de interesses puramente comerciais, além de coluiu com ideologias desalinhadas com a Doutrina Espírita, por exemplo, a Teosofia e o Roustainguismo; contra esses desvios, fez-lhe franca oposição a União Espírita Francesa que, dentre outras acusações, atribuiu à Socieade Anônima a adulteração do livro A Gênese a patir da 5ª edição - [15].
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE) - No original em francês: Société Parisienne des Études Spirites, foi uma entidade fundada em 1 de abril de 1858 por Allan Kardec, que a presidiu até a sua desencarnação (março, 1869) [tópico ]; era o principal laboratório de pesquisas mediúnicas e estudos doutrinários espíritas; dentre outras personalidades, foram membros da SPEE: Madame Kardec, Berthe Fropo, Leymarie, Desliens, Alexandre Delanne e Didier - Saiba mais.
SPEE - [tópico ] - Ver Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
União Espírita Francesa (Union Spirite Française) - foi um grupo de estudos e divulgação do Espiritismo fundado em 24 de dezembro de 1882, em Paris, França, com o objetivo de servir de entidade federativa para os espíritas locais e intercâmbio com outros centros espíritas do exterior, em continuidade às obras doutrinárias de Allan Kardec e total observância aos princípios da codificação do Espiritismo. Sua fundação também teve como pano de fundo a necessidade de fazer frente aos diretores da Sociedade Anônima, que herdaram os órgãos deixados por Kardec (Revista Espírita, Livraria Espírita e direitos autorais dos livros doutrinários) e que, no entender da União, estavam transviando os valores da doutrina - [tópico 14]. Seus principais articuladores foram Berthe Fropo, Gabriel Delanne e Léon Denis, com a anuência da viúva Kardec (Amélie-Gabrielle Boudet). Seu órgão oficial foi o jornal O Espiritismo (Le Spiritisme), que circulou quinzenalmente entre março de 1883 e janeiro de 1895. - Saiba mais.
UEF - Ver União Espírita Francesa.
Viúva Kardec - Ver "Amélie-Gabrielle Boudet".
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