Édouard Henri-Justin Dentu (Paris, 21 de outubro de 1830 - 13 de abril de 1884) foi um editor e livreiro francês, responsável pela Livraria E. Dentu (em francês: Librairie E. Dentu), que em 1857 editou e distribuiu oficialmente a primeira edição de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. Outras obras kardequianas também foram vendidas na sua livraria.
Édouard Dentu
Aos vinte anos, Édouard herdou o negócio da família, que vinha do seu avô paterno, o livreiro e editor Jean-Gabriel Dentu, que fundou a Livraria Dentu em 1794. Sua sede foi instalada nas galerias de madeira ao longo das arcadas do Palais-Royal — um dos mais importantes centros comerciais e culturais de Paris em seu tempo. Quando assumiu o controle da livraria, os negócios estavam à beira da falência, por conta principalmente das tantas ações judiciais contra as publicações editas por seu avô e seu pai, envolvidos em difamação e falsificação.
Palais-Royal em 1825, ainda com galerias erguidas com madeira. A Livraria E. Dentu era a primeira loja da fileira à esquerda.
Sua impressora é obrigada a fechar, mas a livraria continuou ativa; seu novo dono empreendeu uma campanha para atrair autores de sucesso, sem partidarismo ou ideologia: deu vez a conservadores, revolucionários, religiosos e anarquistas. O historiador Jean-Yves Mollier registrou em sua obra L'Argent et les lettres : Histoire du capitalisme d'édition que a casa Dentu era conhecida por “adorar barulho e publicidade”, e que Édouard era “Oportunista, mundano, festeiro e que adorava receber e organizar jantares com ‘seus queridos escritores’ à sua mesa.”
Esse ecletismo lhe rendeu muito trabalho durante o Segundo Império; dentre suas edições dessa época vai constar uma obra pedagógica de título: Plan Proposé pour l’Amélioration de l’Éducation Publique [Plano Proposto para o Melhoramento da Educação Pública], de 1828, assinada pelo jovem Hippolyte Léon Denizard Rivail — que voltaria àquela editora mais tarde quase trinta anos, então com o pseudônimo Allan Kardec.
Interior da Livraria do Sr. Dentu
Édouard apaixonou-se pelo ocultismo e apostou em publicações do gênero — bem a propósito da moda das Mesas Girantes e do Espiritualismo Moderno. Foi nesse embalo que ele editou a obra inaugural do Espiritismo: O Livro dos Espíritos, cujo lançamento foi feito no sábado que o calendário contava como 18 de abril de 1857; nesse tempo, sua livraria estava postada no número 13 da Galeria d’Orleans no Palais-Royal, então com sua estrutura completamente revigorada.
Galeria d'Orléans no Palais-Royal totalmente remodelado em 1840. A Livraria E. Dentu localizava-se na loja 13, no final da fileira à direita
Por que absolutamente desconhecido, o autor do lançamento anotou na página anterior à folha de rosto do seu livro:
Portanto, a livraria E. Dentu também serviu como uma espécie de primeiro escritório do codificador espírita.
A livraria Dentu continuou vendendo os livros da codificação espírita, mas por alguma razão deixou de ser o editor de Kardec; além disso, já desde o primeiro fascículo da Revista Espírita, de 1 de janeiro de 1858, é anunciado o escritório espírita localizado na Rua Sainte-Anne, número 59 da Passagem Santana, centro de Paris.
O nome desta loja aparece na folha de rosto de algumas publicações, como em Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, de 1858, mas na posição de livraria, ao lado da Livraria Ledoyen, cujo endereço é o número 31 da mesma Galeria d’Orleans do Palais-Royal; portanto, pertinho uma da outra. No ano seguinte, Leydoyen figura-se como o editor de O que é o Espiritismo, ao lado do escritório da Revista Espírita; a Livraria Dentu já não consta aqui. Já na 2ª edição de O Livro dos Espíritos, o editor e a livraria oficial é a Didier e Cia, dirigida por Pierre-Paul Didier, espírita sincero, amigo de Kardec e membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; mas a Livraria Ledoyen também aparece na folha de rosto como livraria.
Contudo, a loja de Édourad vai aparecer em outras obras, inclusive na 4ª edição de O Evangelho segundo o Espiritismo de 1868, um ano antes da morte de Kardec. Portanto, como editor ou não, o Sr. Dentu continuou vendendo as obras espíritas.
No meio tempo entre as publicações kardecistas, o eclético Sr. Dentu não foi exclusivista: ele também editou obras bem controversas em relação à codificação espírita.
O primeiro exemplo desse fogo amigo é os três volumes das Revelações do Mundo dos Espíritos (Révélations du monde des Esprits) de Jules Roze, datados de 1862, que o autor destaca na folha principal se tratar de uma obra produzida pelos mesmos editores de O Livro dos Espíritos. De fato, lá consta as casas “Ledoyen, Dentu e Fréd. Henri”; só que o teor da obra é de uma qualidade muito diferente da de Kardec. O Sr. Roze, que havia emprestado sua mediunidade em colaboração ao codificador espírita, depois resolveu criar seu próprio sistema espiritual, cheio de excentricidades, às quais o líder espírita francamente classificou como “Teorias cosmogônicas e psicológicas notoriamente contraditas pela ciência e pelo ensinamento geral dos Espíritos, e que a doutrina espírita não pode admitir.” (Catálogo Racional das Obras que podem servir para formar uma Biblioteca Espírita, Allan Kardec - parte II).
Doutra feita, Dentu estampou seu selo na obra declaradamente antiespírita: Discurso contra o Espiritismo (Discours contre le Spiritisme) publicada em 1865 sem o nome do autor, mas apenas assinalada como “por um médium incrédulo”, e que mais tarde seria revelado: Camille Debans, um jornalista e romancista ocultado pelo curso da História e a quem Kardec sequer se ocupou de responder.
No quesito de qualidade editorial e responsabilidade — social e espiritual — não encontramos Kardec elogiando nenhum dos editores e livreiros com os quais trabalhou senão a Pierre-Paul Didier, assim definido:
Édouard faleceu em 1884, aos 53 anos, vitimado por uma doença hepática. Laure Dentu, sua viúva, assumiu a sucessão e confiou a gestão a um gerente, até que a falência do negócio foi decretada em 1895.
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