Bem, ou bondade, é uma virtude que, no realizado no seu sentido mais puro, também pode se equipara à caridade — a excelsa qualidade e o princípio de tudo que propicia harmonia e bem-estar universal. Nesse contexto, é sinônimo de perfeição, sendo que a soberana bondade é um atributo exclusivo de Deus. A prática do bem estabelece um padrão moral que, ao lado do desenvolvimento intelectual, caracteriza o adiantamento dos indivíduos na escala espírita. Certas doutrinas filosóficas e religiosas propõem que o bem seja uma das potências do Universo, formando com o mal — tido como a potência adversa ao bem — o que se diz por dualidade universal; em algumas crenças, tais potências são personificadas (na tradição das igrejas cristãs, por exemplo, o bem é personificado na Divindade e Satanás representa o mal). A Doutrina Espírita desmistifica a ideia dessa dicotomia, embasando-se no princípio doutrinário da onipotência de Deus e, em consequência disso, da absoluta validade do bem, sendo então o mal justamente a condição em que esse bem está ausente ou incompleto. A moral espírita segue a máxima do Cristo: “Fazer o bem aos outros, assim como gostaríamos que eles nos fizessem.”
Bem vem do termo em latim bene, do qual também se origina benevolência, que é a prática da bondade, isto é, caridade. Excluindo-a de todas as ideias supersticiosas e dogmáticas, o bem, ou a bondade, sintoniza-se com o conceito de moral:
Segundo a definição dos Espíritos colaboradores da codificação espírita, o bem é tudo que está de acordo com a lei de Deus (porque esta lei é perfeita), enquanto a ausência da perfeição ocasiona o mal (imperfeição) — que é contrário ao bem. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus, o que equivale a fazer aquilo que é o mais justo, o mais inteligente e o mais belo; em suma, é fazer o melhor a ser feito. A infração das leis divinas gera consequências mais ou menos graves, de acordo com a imperfeição praticada, pois tudo que é imperfeito carece de ser refeito até ser aperfeiçoado.
A benevolência — quer dizer, a prática do bem — é um ato voluntário, portanto, tem relação direta com o livre-arbítrio, que por sua vez se subordina às experiências adquiridas: quanto mais ciência das coisas, mais o indivíduo tem liberdade de ação, o que caracteriza o grau evolutivo da consciência. À medida que desenvolve seu intelecto, o Espírito melhor distingue o bem (perfeição) e o mal (imperfeição), o que implica em progressiva responsabilidade de seus atos, refletindo nas consequências naturais de suas ações: recompensa pelo bem praticado (que conduz à felicidade) ou a expiação pelos atos imperfeitos (que enseja o sofrimento).
Além da consciência do bem e da vontade de praticá-lo, o mérito da benevolência é proporcional à dificuldade em realizá-lo, noutras palavras, no investimento empreendido para a sua realização:
A maior expressão do bem que podemos tomar como exemplo para todas as ocasiões encontra-se no mandamento cristão, que assim Jesus prescreveu: “Amem a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, tendo como método para se distinguir o bem do mal o princípio descrito pelo próprio Cristo: “Façam aos outros aquilo que gostariam que os outros lhes fizessem.” (ver em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XI: ‘Amar o próximo como a si mesmo’).
Algumas doutrinas propõem que o bem seja uma força impessoal, espécie de “mãe Natureza”, ou “alma do mundo”, geralmente posta em pé de igualdade com a dita força oposta (o Mal), através de um intenso embate, estabelecendo assim o equilíbrio do Universo. Tais são os elementos básicos para concepções como o dualismo do Zoroastrismo e do Maniqueísmo; da existência dessas duas forças, teriam surgido as respectivas personificações, por exemplo: Deus e Satanás, na tradição judaico-cristã; Alá e Iblis, no Islamismo; Aúra-Masda e Arimane, no Zoroastrismo e na Mitologia Persa etc.
O Espiritismo, por sua vez, desmistifica tais concepções primitivas fundamentando-se na razão e nos desdobramentos dos fatos. Pelo princípio de que todo efeito tem uma causa, Deus é naturalmente a nascente primária de todas as coisas; sendo eterno, ele não teve início e, portanto, não poderia ter procedido de qualquer fonte; o bem é um atributo da Divindade, ou seja, um efeito da vontade divina (a causa do bem). Desta maneira, o bem não poderia ser a fonte da Divindade — o que seria tomar o efeito pela causa.
Sendo Deus esta causa primária de todas as coisas e possuindo em si a virtude suprema da onipotência, não pode haver então qualquer força equivalente a contrapô-lo, tampouco para estabelecer um “equilíbrio universal” por imposição de dualidade; se houvesse essa versão maligna a fazer frente ao Todo-Poderoso, seria preciso admitir que o próprio Deus tivesse criado esse “deus do mal” dividisse com esta sua criação todos os seus poderes — o que é um absurdo, pois aí já não haveria um ser supremo: o próprio Deus deixaria de ser a Divindade. Em vez disso, a Doutrina Espírita enfatiza a excelsitude de Deus, como Allan Kardec expressa acertadamente:
Por consequência, o mal não é exatamente o oposto do bem, mas sim a não-plenitude do bem:
O bem é a base da moral espírita, que nada mais é do que a mesma moral de Jesus. Como exemplo da prática da benevolência ensinada pelo Cristo, a codificação kardequiana assinala as qualidades que distinguem o verdadeiro “homem de bem”, servindo de preceitos para a prática espírita:
© 2014 - Todos os Direitos Reservados à Fraternidade Luz Espírita