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Índice de verbetes


Bem



Bem, ou bondade, é uma virtude que, no realizado no seu sentido mais puro, também pode se equipara à caridade — a excelsa qualidade e o princípio de tudo que propicia harmonia e bem-estar universal. Nesse contexto, é sinônimo de perfeição, sendo que a soberana bondade é um atributo exclusivo de Deus. A prática do bem estabelece um padrão moral que, ao lado do desenvolvimento intelectual, caracteriza o adiantamento dos indivíduos na escala espírita. Certas doutrinas filosóficas e religiosas propõem que o bem seja uma das potências do Universo, formando com o mal — tido como a potência adversa ao bem — o que se diz por dualidade universal; em algumas crenças, tais potências são personificadas (na tradição das igrejas cristãs, por exemplo, o bem é personificado na Divindade e Satanás representa o mal). A Doutrina Espírita desmistifica a ideia dessa dicotomia, embasando-se no princípio doutrinário da onipotência de Deus e, em consequência disso, da absoluta validade do bem, sendo então o mal justamente a condição em que esse bem está ausente ou incompleto. A moral espírita segue a máxima do Cristo: “Fazer o bem aos outros, assim como gostaríamos que eles nos fizessem.”



Conceituação do bem

Bem vem do termo em latim bene, do qual também se origina benevolência, que é a prática da bondade, isto é, caridade. Excluindo-a de todas as ideias supersticiosas e dogmáticas, o bem, ou a bondade, sintoniza-se com o conceito de moral:

Que definição podemos dar da moral?
“A moral é a regra para se conduzir bem, quer dizer, a distinção entre o bem e o mal. Ela está fundamentada na observância da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo pelo bem de todos, porque assim ele cumpre a lei de Deus.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 629

Segundo a definição dos Espíritos colaboradores da codificação espírita, o bem é tudo que está de acordo com a lei de Deus (porque esta lei é perfeita), enquanto a ausência da perfeição ocasiona o mal (imperfeição) — que é contrário ao bem. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus, o que equivale a fazer aquilo que é o mais justo, o mais inteligente e o mais belo; em suma, é fazer o melhor a ser feito. A infração das leis divinas gera consequências mais ou menos graves, de acordo com a imperfeição praticada, pois tudo que é imperfeito carece de ser refeito até ser aperfeiçoado.


Bem e livre-arbítrio

A benevolência — quer dizer, a prática do bem — é um ato voluntário, portanto, tem relação direta com o livre-arbítrio, que por sua vez se subordina às experiências adquiridas: quanto mais ciência das coisas, mais o indivíduo tem liberdade de ação, o que caracteriza o grau evolutivo da consciência. À medida que desenvolve seu intelecto, o Espírito melhor distingue o bem (perfeição) e o mal (imperfeição), o que implica em progressiva responsabilidade de seus atos, refletindo nas consequências naturais de suas ações: recompensa pelo bem praticado (que conduz à felicidade) ou a expiação pelos atos imperfeitos (que enseja o sofrimento).

Além da consciência do bem e da vontade de praticá-lo, o mérito da benevolência é proporcional à dificuldade em realizá-lo, noutras palavras, no investimento empreendido para a sua realização:

O mérito do bem que fazemos está subordinado a determinadas condições? Dito de outro modo, existem diferentes graus no mérito do bem?
“O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum merecimento em fazer o bem sem sacrifício e quando não custa nada. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão do que o rico que apenas dá do seu supérfluo. Jesus assim o disse a propósito do óbolo da viúva.”
O Livro dos Espíritos - questão 646


O mandamento cristão

A maior expressão do bem que podemos tomar como exemplo para todas as ocasiões encontra-se no mandamento cristão, que assim Jesus prescreveu: “Amem a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, tendo como método para se distinguir o bem do mal o princípio descrito pelo próprio Cristo: “Façam aos outros aquilo que gostariam que os outros lhes fizessem.” (ver em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XI: ‘Amar o próximo como a si mesmo’).


Desmistificando ideias primitivas

Algumas doutrinas propõem que o bem seja uma força impessoal, espécie de “mãe Natureza”, ou “alma do mundo”, geralmente posta em pé de igualdade com a dita força oposta (o Mal), através de um intenso embate, estabelecendo assim o equilíbrio do Universo. Tais são os elementos básicos para concepções como o dualismo do Zoroastrismo e do Maniqueísmo; da existência dessas duas forças, teriam surgido as respectivas personificações, por exemplo: Deus e Satanás, na tradição judaico-cristã; Alá e Iblis, no Islamismo; Aúra-Masda e Arimane, no Zoroastrismo e na Mitologia Persa etc.

O Espiritismo, por sua vez, desmistifica tais concepções primitivas fundamentando-se na razão e nos desdobramentos dos fatos. Pelo princípio de que todo efeito tem uma causa, Deus é naturalmente a nascente primária de todas as coisas; sendo eterno, ele não teve início e, portanto, não poderia ter procedido de qualquer fonte; o bem é um atributo da Divindade, ou seja, um efeito da vontade divina (a causa do bem). Desta maneira, o bem não poderia ser a fonte da Divindade — o que seria tomar o efeito pela causa.

“Deus, sendo a causa primária de todas as coisas, o ponto de partida de tudo e o eixo sobre a qual repousa o edifício da criação, também é o ponto que devemos considerar antes de tudo.”
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, Allan Kardec - cap. II, item 1

Sendo Deus esta causa primária de todas as coisas e possuindo em si a virtude suprema da onipotência, não pode haver então qualquer força equivalente a contrapô-lo, tampouco para estabelecer um “equilíbrio universal” por imposição de dualidade; se houvesse essa versão maligna a fazer frente ao Todo-Poderoso, seria preciso admitir que o próprio Deus tivesse criado esse “deus do mal” dividisse com esta sua criação todos os seus poderes — o que é um absurdo, pois aí já não haveria um ser supremo: o próprio Deus deixaria de ser a Divindade. Em vez disso, a Doutrina Espírita enfatiza a excelsitude de Deus, como Allan Kardec expressa acertadamente:

“[Deus] É único; se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de pensamento nem unidade de poder na ordenação do Universo. É onipotente; porque é único. Se não tivesse a força soberana, haveria algo mais poderoso ou tão poderoso quanto ele; não teria feito todas as coisas e aquilo que ele não tivesse feito seria a obra de outro Deus.”
O Livro dos Espíritos - comentário da questão 13

Por consequência, o mal não é exatamente o oposto do bem, mas sim a não-plenitude do bem:

“Podemos dizer que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. O mal também não é um atributo específico assim como o frio não é um fluido especial; um é o negativo do outro. Onde não exista o bem, forçosamente existe o mal; não fazer o mal já é o começo do bem”
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo - cap. II, item 8


Base da moral espírita

O bem é a base da moral espírita, que nada mais é do que a mesma moral de Jesus. Como exemplo da prática da benevolência ensinada pelo Cristo, a codificação kardequiana assinala as qualidades que distinguem o verdadeiro “homem de bem”, servindo de preceitos para a prática espírita:

“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a alguém tudo o que desejaria que lhe fizessem.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec - cap. XVII, item 3


Veja também


Referências

  • O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Ebook.
  • O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec - Ebook.
  • A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiristimo, Allan Kardec - Ebook.


Tem alguma sugestão para correção ou melhoria deste verbete? Favor encaminhar para Atendimento.


Índice de verbetes
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo
Abreu, Canuto
Adolphe Laurent de Faget
Agênere
Alexandre Aksakof
Allan Kardec
Alma
Alma gêmea
Amélie Gabrielle Boudet
Anália Franco
Anastasio García López
Andrew Jackson Davis
Anna Blackwell
Arigó, Zé
Arthur Conan Doyle
Auto de Fé de Barcelona
Auto-obsessão.
Banner of Light
Baudin, Irmãs
Bem
Berthe Fropo
Blackwell, Anna
Boudet, Amélie Gabrielle
Cairbar Schutel
Canuto Abreu
Caridade
Carma
Caroline Baudin
Célina Japhet
Cepa Espírita
Charlatanismo
Charlatão
Chevreuil, Léon
Chico Xavier
Cirne, Leopoldo
Codificador Espírita
Comunicabilidade Espiritual
Conan Doyle, Arthur
Consolador
Crookes, William
Daniel Dunglas Home
Davis, Andrew Jackson
Denis, Léon
Dentu, Editora
Dentu, Édouard
Desencarnado
Deus
Didier, Pierre-Paul
Divaldo Pereira Franco
Dogma
Dogmatismo
Doutrina Espírita
Doyle, Arthur Conan
Dufaux, Ermance
Ectoplasma
Ectoplasmia
Ecumenismo
Editora Dentu
Édouard Dentu
Elementos Gerais do Universo
Emancipação da Alma
Epífise
Erasto
Ermance Dufaux
Errante
Erraticidade
Errático
Escala Espírita
Escrita Direta
Espiritismo
Espiritismo à Francesa: a derrocada do movimento espírita francês pós-Kardec
Espírito da Verdade
Espírito de Verdade
Espírito Errante
Espírito Santo
Espírito Verdade
Espiritual
Espiritualismo
Espiritualismo Moderno
Evangelho
Expiação
Faget, Laurent de
Fascinação
Fluido
Fora da Caridade não há salvação
Fox, Irmãs
Francisco Cândido Xavier
Franco, Anália
Franco, Divaldo Pereira
Fropo, Berthe
Galeria d'Orléans
Gama, Zilda
Glândula Pineal
Henri Sausse
Herculano Pires, José
Herege
Heresia
Hippolyte-Léon Denizard Rivail
Home, Daniel Dunglas
Humberto de Campos
Imortalidade da Alma
Inquisição
Irmão X
Irmãs Baudin
Irmãs Fox
Jackson Davis, Andrew
Japhet, Célina
Jean Meyer
Jean-Baptiste Roustaing
Joanna de Ângelis
Johann Heinrich Pestalozzi
José Arigó
José Herculano Pires
José Pedro de Freitas (Zé Arigó)
Julie Baudin
Kardec, Allan
Kardecismo
Kardecista
Karma
Lachâtre, Maurice
Lamennais
Laurent de Faget
Léon Chevreuil
Léon Denis
Leopoldo Cirne
Leymarie, Pierre-Gaëtan
Linda Gazzera
Livraria Dentu
London Dialectical Society
Madame Kardec
Mal
Maurice Lachâtre
Mediatriz
Médium
Mediunidade
Mesas Girantes
Metempsicose
Meyer, Jean
Misticismo
Místico
Moderno Espiritualismo
Necromancia
O Livro dos Espíritos
O Livro dos Médiuns
Obras Básicas do Espiritismo
Obsediado
Obsessão
Obsessor
Onipresença
Oração
Palais-Royal
Panteísmo
Paráclito
Parasitismo psíquico
Pélagie Baudin
Percepção extrassensorial
Pereira, Yvonne A.
Perispírito
Pestalozzi
Pierre-Gaëtan Leymarie
Pierre-Paul Didier
Pineal
Pires, José Herculano
Pneumatografia
Possessão
Prece
Pressentimento
Projeto Allan Kardec
Quiromancia
Religião
Revelação Espírita
Rivail, Hypolite-Léon Denizard
Roustaing, Jean-Baptiste
Santíssima Trindade
Santo Ofício
Sausse, Henri
Schutel, Cairbar
Sentido Espiritual
Sexto Sentido
Silvino Canuto Abreu
Sociedade Dialética de Londres
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
SPEE
Subjugação
Superstição
Terceira Revelação
Tribunal do Santo Ofício
Trindade Universal
Ubiquidade
UEF
União Espírita Francesa
Vampirismo
Verdade, Espírito
Videira Espírita
William Crookes
X, Irmão
Xavier, Chico
Xenoglossia
Yvonne do Amaral Pereira
Zé Arigó
Zilda Gama

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