Alexandre Aksakof (Ripievka, Rússia, 27 de maio de 1832 - São Petersburgo, Rússia, 4 de janeiro de 1903) foi um filósofo, jornalista, editor, tradutor, diplomata russo e conselheiro do imperador Alexandre III. É lembrado pelo Movimento Espírita como um dos mais respeitados pesquisadores dos fenômenos espirituais que caracterizaram o Espiritualismo Moderno no século XIX, tendo compartilhado estudos acerca das manifestações de Mesas Girantes e, especialmente, as de materialização de Espíritos, ao lado de outros eminentes cientistas e junto aos mais reconhecidos médiuns de seu tempo. Defendeu suas convicções em relação à veracidade dos fenômenos espíritas em obras como Animismo e Espiritismo — um clássico da literatura espírita internacional. Deve-se a ele as primeiras traduções das obras de Allan Kardec para o idioma russo.
Aksakof nasceu em uma família de importante destaque na nobreza russa, com parentesco próximo de célebres membros da literatura e das ciências na Rússia. Estudioso, formou-se em várias disciplinas e foi professor na famosa academia de Leipzig, na Alemanha. Logo mais seria nomeado diplomata e se tornaria um dos mais próximos conselheiros do Czar Alexandre III.
Desde sua mocidade, Aksakof já demonstrava acentuado interesse em Filosofia e investigações a respeito das coisas relacionadas com a alma e o mundo espiritual, porém, sempre norteado por um caráter científico. Preocupado em melhor fundamentar suas convicções, debruça-se sobre o estudo histórico das religiões, pelo que vai aprender hebraico, grego e latim.
Dedicou-se por longo tempo a esmiuçar a obra do polímata sueco Emanuel Swedenborg e suas revelações espirituais — conquanto fortemente carregada de descrições místicas. Em 1852, com apenas vinte anos de idade, faz um apanhado dessa investida e, em francês (o idioma preferido dos pensadores de seu tempo), publica Uma exposição metódica do sentido espiritual do Apocalipse, segundo o Apocalipse revelado.
Sua iniciação ao Espiritualismo Moderno se deu em 1854, quando caiu em suas mãos a obra de Andrew Jackson Davis: Revelações da Natureza Divina, levando a Aksakof novas aspirações e tendências intelectuais, reconhecendo um mundo espiritual de cuja realidade não mais duvidava.
Em 1855, para fazer um estudo completo, fisiológico e psicológico do homem, Aksakof matriculou-se como estudante livre na Faculdade de Medicina de Moscou, ao mesmo tempo em que ampliava seus conhecimentos sobre Física, Química e Matemática. Nesse período, recebeu uma obra de Beecher: Revista de Manifestações Espíritas — a primeira que sobre esse assunto chegou às suas mãos e, procurando colocar-se ao corrente das publicações sobre tal assunto, e seguir, passo a passo, o movimento espiritista na América e na Europa, fortalecendo os seus conhecimentos com todos os livros sobre Magnetismo e Espiritismo. Neste mesmo ano, Aksakof dá início ao trabalho de tradução das obras básicas de Allan Kardec para a sua língua nativa, o que lhe serviu como um legítimo curso espírita.
Ainda na Alemanha, enquanto professor da Academia de Leipzig, ele funda e dirige o jornal Psychische Studien [Estudos Psíquicos], ao passo que intensifica suas pesquisas práticas, inclusive participando de comissões de investigações científicas sobre os fenômenos espirituais, ao lado de outros notáveis cientistas, como William Crookes, Charles Richet, Cesare Lombroso, Ernesto Bozzano, Gabriel Delanne, dentre outros, junto a experimentações mediúnicas através de reputados médiuns, tais como Daniel Dunglas Home, Eusapia Palladino, Elizabeth d'Espérance e
Em 1881, Aksakof patrocinou a fundação e foi diretor do semanário Rebus — primeira publicação de uma revista de assuntos psíquicos na Rússia.
Aksakof estuda a mediunidade de Eusapia Palladino
Em 1890, publica Animismo e Espiritismo — que se tornaria um clássico da literatura espiritualista mundial, tendo sido traduzido para várias línguas, inclusive para o português (pela Federação Espírita Brasileira). Esse livro é um apanhado das suas pesquisas e uma resposta à tese proposta pelo filósofo alemão Eduard Von Hartmann, em Der Spiritismus (O Espiritismo), de 1885, segundo a qual, os chamados fenômenos espirituais seriam apenas “expressões do inconsciente”.
Karl Robert Eduard Von Hartmann (1842-1906) era um célebre discípulo de Schopenhauer (lembrado pela sua filosofia ateia e pessimista) cujas ideias serviram de base para a psicanálise de Sigmund Freud. A negação de Von Hartmann quanto às ideias espíritas continuou na sua dita obra-prima Filosofia do Inconsciente, de 1865.
A refutação de Aksakof da ideia, de que apenas o inconsciente criaria os fenômenos espirituais, foi tão fundamentada que a Revista Espírita, edição de outubro de 1895, não hesitou em dizer que Animismo e Espiritismo era “incontestavelmente a obra mais importante e mais completa que jamais foi escrita sobre o Espiritismo, no ponto de vista científico e filosófico.”.
Prefaciando essa sua obra, Aksakof escreveu:
Os princípios doutrinários espíritas da imortalidade da alma e da comunicabilidade dos Espíritos se acomodaram bem com as ideias do sábio russo; porém, o mesmo não se deu com a Lei de Reencarnação. Aksakof inclusive chegou a afirmar que tal princípio teria sido criado por Kardec e por ele imposto como um dogma, influenciando os médiuns que se prestaram à cooperação da obra espírita; a esse respeito, ele assinou o artigo ‘Pesquisas sobre a origem histórica das especulações reencarnacionistas dos espiritualistas franceses’, publicado em 1875 no jornal inglês The Spiritualist, no qual escreveu:
A acusação do conselheiro do Czar se apoiou basicamente em um depoimento que lhe foi feito pessoalmente por Célina Japhet, uma das principais médiuns que colaboraram com o codificador do Espiritismo, mas que depois se afastara de Kardec — de quem guardava mágoa, porque ela esperava ter seu nome grafado em O Livro dos Espíritos, como reconhecimento por sua cooperação mediúnica. Com efeito, o ressentimento da francesa comoveu Aksakof, que disparou: “Agora, não é surpreendente que esta pessoa notável, que tanto fez para o Espiritismo francês, esteja vivendo inteiramente desconhecida por vinte anos, e nenhuma notícia ou observação tenha sido feita sobre ela? Ao invés de ser o centro das atenções do público, ela é totalmente ignorada; na verdade, eles a enterraram viva! Esperemos que uma devida reparação seja feita um dia. O ‘Espiritualismo’ pode, neste caso, oferecer um nobre exemplo para o ‘Espiritismo’.”
Fazendo a defesa de Kardec (desencarnado havia seis anos) quanto ao “dogma da reencarnação”, Anna Blackwell — a primeira tradutora oficial das obras básicas do Espiritismo para o inglês — escreve um texto intitulado ‘A origem de O livro dos Espíritos de Allan Kardec’ para o mesmo jornal The Spiritualist, pelo qual destacou:
Já as queixas pessoais da Srta. Japhet, estas foram prontamente respondidas por Pierre-Gaëtan Leymarie (então dirigente da Sociedade Anônima Espírita), igualmente pelo The Spiritualist, através do artigo ‘Reincarnation’, de 8 de outubro daquele mesmo ano.
Ver: Célina Japhet.
Polêmica à parte, o nobre intelectual russo deixou sua contribuição para as pesquisas psíquicas e, indiretamente, para o Espiritismo, pela sustentação teórica bem embasada acerca da fenomenologia espiritual e pelos vários exemplos documentados e ricamente detalhados.
De sua bibliografia, destacamos:
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