O Auto de Fé de Barcelona foi um importante episódio para a História do Espiritismo, conquanto se trate de uma ofensiva da Inquisição Católica contra a Doutrina Espírita; refere-se à execução de uma intervenção sumária movida pelo bispo de Barcelona, ordenando a queima em praça pública de uma remessa de livros espíritas que Allan Kardec havia enviado para serem comercializados na Espanha, aos cuidados do livreiro Maurice Lachâtre, a pedido de José María Fernández Colavida. A execução se deu em 9 de outubro de 1861; porém, a despeito do prejuízo material, esse ato acabou por despertar naquela região maior interesse pelo Espiritismo, além de engrossar a crescente revolta popular contra as arbitrariedades do Tribunal do Santo Ofício da Igreja Católica.
Representação de um Auto de Fé da Inquisição Católica, a exemplo do ocorrido em Barcelona
O Auto de Fé
Auto de Fé era o nome dado a uma cerimônia em que eram proclamadas e executadas as sentenças do Tribunal de Inquisição da Igreja Católica. Essa corte religiosa — também conhecida como Tribunal do Santo Ofício — foi instituída no começo do século XIII, a pretexto de caçar e julgar os réus acusados de heresia (crime contra a fé cristã).
Nas nações que proclamavam o catolicismo como a religião oficial do Estado, autoridades eclesiásticas detinham o poder de abrir processos, julgar (muitas vezes sumariamente, sem defesa nem apelação) e expedir sentenças, a serem executadas pelo Estado, contra os condenados.
O Auto em Barcelona
Da Paris, França, Allan Kardec havia enviado cerca de 300 obras espíritas, de sua autoria e de outros escritores, para serem distribuídos pela livraria de Maurice Lachâtre — escritor, editor e intelectual francês exilado em Barcelona, Espanha, depois de ser condenado na França justamente por conta de, entre outras acusações, publicar e comercializar obras literárias que denunciavam os abusos históricos dos papas e demais eclesiásticos da Igreja católica.
Maurice Lachâtre, filósofo iluminista, escritor e editor francês
O próprio Lachâtre mais tarde descreveria o cenário local onde se daria o referido atentado:
“Em 1858 não havia qualquer indício da existência do Espiritismo na
Espanha — pelo menos nenhum indício a ponto de chamar a atenção do
fanático clero da Península. Em 7 de janeiro daquele ano, o exílio trouxe um
adepto da nova doutrina para Barcelona, e com ele foram introduzidas
várias das obras que tratavam da questão espírita; esses livros ajudaram na
propaganda feita pelo adepto, e logo o Espiritismo contou novos crentes; as
revistas espíritas e os livros de doutrina foram introduzidos inicialmente
em pequenos números, depois em quantidades consideráveis.”
Maurice Lachâtre
Maurice Lachâtre: entre a publicidade e as controvérsias, Ery Lopes e Wanderlei dos Santos - ‘O Espiritismo na Espanha’
A remessa continha exemplares de diversas obras doutrinárias e afins, livros e folhetos, tais como:
- Revista Espírita, dirigida por Allan Kardec;
- Revista Espiritualista, dirigida por Piérard;
- O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec;
- O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec;
- O que é o Espiritismo, de Allan Kardec;
- Fragmento de sonata, atribuído ao Espírito de Mozart;
- Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo doutor Grand;
- A História de Joana d'Arc por Ela Mesma, do Espírito Joana d'Arc, pela médium Ermance Dufaux;
- A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo Barão de Guldenstubbé.
Quando passava pela alfândega espanhola, a remessa foi confiscada pela Igreja local, sob a ordem do bispo Antonio Palau y Térmens (1857-1862), a pretexto da autoridade que lhe era concedida pela Inquisição. Argumentando que aquelas obras eram contrárias à fé católica, o bispo de Barcelona, com o respaldo do governo local, então sentenciou que fossem queimados, sem qualquer tipo de indenização aos seus proprietários. A execução se efetivou na esplanada central daquela cidade, às 10h30.
Dom Antonio Palau y Térmens, bispo do Auto de Fé de Barcelona de 9 de outubro de 1861
Assim narra Lachâtre:
“O governo, que se mostrou muito indiferente no início da introdução de obras espíritas, então sob pressão de um clero todo-poderoso, ordenou o confisco de um lote contendo várias centenas de livros, revistas, jornais da escola filosófica moderna, e, após um julgamento eclesiástico, ordenou sua destruição pelas chamas, o que ocorreu em 9 de outubro de 1861, com todo o aparelho em uso para este tipo de auto-de-fé, sob a proteção da autoridade secular...”
Maurice Lachâtre
Maurice Lachâtre: entre a publicidade e as controvérsias - ‘O Espiritismo na Espanha’
Allan Kardec tomou conhecimento do Auto pessoalmente. Seu informante descreveu:
"Assistiram ao Auto de Fé: um sacerdote com os hábitos sacerdotais, empunhando a cruz numa mão e uma tocha na outra; um escrivão encarregado de redigir a ata do Auto de Fé; um ajudante do escrivão; um empregado superior da administração das alfândegas; três serventes da alfândega, encarregados de alimentar o fogo; um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo.
"Uma multidão incalculável enchia as calçadas e cobria a imensa esplanada onde se erguia a fogueira. Quando o fogo consumiu os trezentos volumes ou brochuras espíritas, o sacerdote e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e maldições de numerosos assistentes, que gritavam: Abaixo a Inquisição! Em seguida, várias pessoas se aproximaram da fogueira e recolheram as suas cinzas."
Revista Espírita- nov. de 1861: ‘Resquícios da Idade Média’
Repercussão
Os principais jornais internacionais noticiaram o Auto com um tom majoritariamente de reprovação à sentença, que atiçou ainda mais a opinião pública contra a intolerância ideológica da Igreja Católica e o autoritarismo das autoridades que se imputaram competentes para o Auto. Além disso, o fato acabou propagando ainda mais o Espiritismo e despertando o interesse popular pelas obras espíritas. O jornal Las Novedades de Madrid noticiou: “Eis o repugnante espetáculo, autorizado pelos homens da união liberal, em pleno século dezenove: uma fogueira em La Coruña, outra em Barcelona, e ainda muitas outras, que não faltarão, em outros lugares. É o que deve acontecer, pois é uma consequência imediata do caráter geral que domina o atual estado de coisas e que em tudo se reflete. Reação no interior, relativa aos projetos de lei apresentados; reação no exterior, apoiando todos os governos reacionários da Itália, antes e depois de sua queda, combatendo as ideias liberais em todas as ocasiões, buscando por todos os lados o apoio da reação, obtido ao preço das mais desastradas concessões.”
Tão logo soube da apreensão dos livros, mas antes da execução da sentença, Kardec consulta seu guia espiritual — Espírito Verdade — se seria favorável reclamar a restituição das obras e se deveria publicar os fatos relacionados na Revista Espírita. Eis a resposta:
“Por direito, pode reclamá-las e conseguiria que te fossem restituídas, se te dirigisse ao Ministro de Estrangeiros da França. Mas, ao meu parecer, resultará desse auto-de-fé maior bem do que o que viria da leitura de alguns volumes. A perda material não é nada em comparação da repercussão que semelhante fato produzirá em favor da Doutrina. Deve compreender quanto uma perseguição tão ridícula e atrasada poderá fazer a bem do progresso do Espiritismo na Espanha. A queima dos livros determinará uma grande expansão das ideias espíritas e uma procura febricitante das obras dessa doutrina. As ideias se disseminarão lá com maior rapidez e as obras serão procuradas com maior avidez, desde que as tenham queimado. Tudo vai bem.
“Sobre publicar ou não na Revista Espírita:
“Espera o auto-de-fé.”
Obras Póstumas, Allan Kardec - 2ª Parte, ‘Auto-de-fé em Barcelona’
Na Revista Espírita do mês seguinte ao ato, Kardec publicou duas comunicações espirituais, dentre tantas, recebidas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; a primeira foi assinada pelo Espírito Dollet, que havia sido um livreiro do século XVI:
“O amor da verdade deve sempre fazer-se ouvir: ela rompe o véu e brilha ao mesmo tempo por toda parte. O Espiritismo tornou-se conhecido de todos; logo será julgado e posto em prática. Quanto mais perseguições houver, tanto mais depressa esta sublime doutrina alcançará o apogeu. Seus mais cruéis inimigos, os inimigos do Cristo e do progresso, atuam de maneira que ninguém possa ignorar a permissão de Deus, dada àqueles que deixaram esta Terra de exílio, de voltarem aos que amaram. Ficai certos: as fogueiras apagar-se-ão por si mesmas; e se os livros são lançados ao fogo, o pensamento imortal lhes sobrevive.”
Dollet
A outra mensagem foi ditada pelo Espírito daquele que havia encarnado como frade de origem espanhola e inquisidor do Santo Ofício: São Domingos de Gusmão:
“Era necessário que algo ferisse violentamente certos Espíritos encarnados, a fim de que se decidissem a ocupar-se desta grande doutrina que vai regenerar o mundo. Nada é feito inutilmente em vossa Terra. Nós, que inspiramos o auto-de-fé de Barcelona, sabíamos perfeitamente que assim agindo daríamos um grande passo à frente. Esse fato brutal, inacreditável nos tempos atuais, foi consumado com vistas a chamar a atenção dos jornalistas que se mantinham indiferentes diante da profunda agitação que tomava conta das cidades e dos centros espíritas. Eles deixavam dizer e fazer, mas, obstinados, faziam ouvidos de mercador, respondendo pelo mutismo ao desejo de propaganda dos adeptos do Espiritismo. Queiram ou não, é preciso que hoje falem; uns, constatando o histórico do caso de Barcelona, outros o desmentindo, ensejaram uma polêmica que fará a volta ao mundo e da qual só o Espiritismo aproveitará. Eis por que hoje a retaguarda da Inquisição praticou o seu último auto-de-fé, porque assim o quisemos.”
São Domingos
Revista Espírita - nov. de 1861: ‘Resquícios da Idade Média’
De fato, o que era para ser um marco na repressão contra o Espiritismo, tornou-se um evento extraordinário de propaganda doutrinária do kardecismo, conforme assinalou o livreiro francês exilado em Barcelona:
“Mas das cinzas da fogueira surgia radiante a ideia espírita; os agentes do governo haviam desviado vários desses livros condenados às chamas, e, possuídos pela curiosidade, quiseram conhecer a doutrina que havia excitado o fanatismo dos padres; a doutrina lhes agradou, e eles mesmos se tornaram adeptos fervorosos do Espiritismo. Todos os jornais de Barcelona e de Madri se manifestaram contra esse ato de intolerância do clero; as Cortes e o Senado ressoaram com discursos enérgicos contra as tendências católicas dos ministros, e colocaram em destaque o auto de fé dos livros espíritas em Barcelona; por vários anos, os artigos dos jornais, os discursos dos deputados democráticos ou dos senadores progressistas ajudaram poderosamente na propaganda do Espiritismo. Então aconteceu que a doutrina condenada à fogueira ganhara numerosos seguidores em todas as cidades da Espanha; Madri, Sevilha, Cádiz, Granada, Valladolid, Burgos, Málaga, enfim, por toda parte onde os jornais da capital penetravam. Todas as obras espíritas foram logo traduzidas para o espanhol e divulgadas clandestinamente entre as classes elevadas da sociedade; e na própria Madri, na sala de estar de um ministro da Rainha Isabella, Pastor Diaz, foram realizadas sessões espíritas, às quais assistiram padres, altas personalidades e vários dignitários da igreja!”
Maurice Lachâtre
Maurice Lachâtre: entre a publicidade e as controvérsias - ‘O Espiritismo na Espanha’
Aquarela do Auto de Fé de Barcelona de 9 de outubro de 1861
Cobertura da Revista Espírita
Depois de publicar o ocorrido na edição de novembro de 1861, a Revista Espírita continuou cobrindo os seus desdobramentos. Na edição de agosto do ano seguinte, o periódico deu nota do falecimento do bispo de Barcelona e da sugestão que a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas recebeu de um correspondente espanhol para evocar o Espírito de Dom Antonio Palau, que, porém, antecipou-se, manifestando-se numa sessão ali, ditando uma mensagem em tom de contrição, da qual se lê o seguinte trecho:
“Auxiliado por vosso chefe espiritual pude vir ensinar-vos com o meu exemplo e vos dizer: Não repilais nenhuma das ideias anunciadas, porque um dia, um dia que durará e pesará como um século, essas ideias amontoadas clamarão como a voz do Anjo: Caim, que fizestes de teu irmão? Que fizestes de nosso poder, que devia consolar e elevar a Humanidade? O homem que voluntariamente vive cego e surdo de espírito, como outros o são do corpo, sofrerá, expiará e renascerá para recomeçar o labor intelectual, que a sua preguiça e o seu orgulho o levaram a evitar; e essa voz terrível me disse: Queimaste as ideias e as ideias te queimarão! Orai por mim. Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe é dirigida pelo perseguido em benefício do perseguidor. Aquele que foi bispo e que não passa de um penitente.”
Dom Antonio Palau (Espírito)
Revista Espírita - agosto, 1862: ‘Necrológio: morte do bispo de Barcelona’
Comentando a mensagem do bispo, Kardec escreve: “Não podemos censurá-lo, pelo triplo motivo de que o verdadeiro espírita a ninguém condena, não guarda rancor, esquece as ofensas e, a exemplo do Cristo, perdoa aos seus inimigos; em segundo lugar, longe de nos prejudicar, ele nos foi útil; enfim, porque reclama de nós a prece do perseguido para o perseguidor, como a mais agradável a Deus, pensamento todo caridade, digno da humildade cristã, revelada pelas últimas palavras: ‘Aquele que foi bispo e que não passa de um penitente’. Bela imagem das dignidades terrenas deixadas à beira do túmulo, para se apresentar a Deus tal que se é, sem os aparatos impostos aos homens.”
Logo mais, faz uma exortação aos confrades espíritas: “Espíritas, perdoemos-lhe o mal que nos quis fazer, como quereríamos que as nossas ofensas nos fossem perdoadas e oremos por ele no aniversário do auto-de-fé de 9 de outubro de 1861.”
Em setembro de 1864, a mesma revista kardecista notificava que o novo bispo de Barcelona, Dom Pantaleão Monserra y Navarro, trilhava pelos mesmos costumes medievais de Dom Antonio Palau, numa cruzada contra o Espiritismo, conforme a transcrição de uma pastoral do eclesiástico, da qual extraímos o seguinte trecho:
“A geração atual se vê obrigada a assistir a esse triste espetáculo que hoje nos dão os povos mais adiantados em ciência e em civilização. Os Estados Norte-Americanos, essa nação chamada modelo, e algumas partes da França, aí compreendida a colônia da Argélia, esforçam-se, desde algum tempo, ao estudo ridículo e à aplicação do Espiritismo, que, sob esse nome, vem ressuscitar as antigas práticas da necromancia, pela evocação dos Espíritos invisíveis, que repousam no lugar de seu destino, além do sepulcro, e os consultam para descobrir os segredos ocultos sob o véu que Deus estendeu entre o tempo e a eternidade.”
Dom Pantaleão Monserra y Navarro, bispo de Barcelona
Revista Espírita - set. de 1864: ‘O novo bispo de Barcelona’
Allan Kardec, o codificador espírita
Refutando as acusações dessa pastoral, o codificador espírita finaliza com um recado direto ao bispo: “E vos admirais, monsenhor, dos progressos da incredulidade! Antes vos deveríeis admirar de que, em pleno século dezenove, a religião do Cristo seja tão mal compreendida pelos que são encarregados de ensiná-la. Não fiqueis, pois, surpreso se Deus envia seus Espíritos bons para lembrarem o sentido verdadeiro de sua lei. Eles não vêm para destruir o Cristianismo, mas para libertá-lo das falsas interpretações e dos abusos que nele introduziram os homens.”
Outros personagens e testemunhas
Entre as testemunhas oculares deste episódio histórico, encontramos Ramón Bernardo Ferrer, então com quinze anos de idade; após tal espetáculo de horror, ele interessou-se pelo Espiritismo, conheceu e abraçou a doutrina kardecista e dela se tornou um grande ativista. Sobre ele, o estudioso e escritor espírita Florentino Barrera disse:
“Ferrer, que tinha pesquisado a doutrina dos Espíritos, chegou em sua longa vida a conhecer Fernández-Colavida, Amália Domingo Soler, o Visconde de Torres-Solanot, entre outras muitas personalidades espanholas. O livro do Primeiro Congresso Internacional Espírita, em sua pág. 89 repara em sua presença entre os delegados do Centro de S. Quintin. Posteriormente emigra para o Brasil, estabelecendo-se no Piauí, a nordeste de São Paulo, onde intervém como médium passista no Centro Amor e Caridade.”
O Auto de Fé de Barcelona, Florentino Barrera - ‘Protagonistas e testemunhas'
Diz ainda Barrera que Ferrer dava conta de que teria sido a pedido de José María Fernández Colavida que Maurice Lachâtre encomendara os itens alvos do Auto de Fé aqui tratado. Colavida, aliás, outro espectador da referida queima das obras, foi um dos maiores apóstolos de Kardec na Espanha. Dele, diz Florentino Barrera diz: "(...) fundador da Sociedade Barcelonesa Propagadora do Espiritismo (1860) e da Revista Espiritista, Diário de Estudos Psicológicos, Barcelona 1869, considerada como uma das mais importantes da época, que ele dirige por espaço de vinte anos.” Pouco antes de desencarnar, Colavida editou um suplemente especial para a sua Revista, edição de maio de 1888, intitulado ‘Um Auto de Fé e a Exposição Universal de Barcelona’, no qual compartilha suas impressões sobre o ocorrido ora exposto.
Também destacamos entre os observadores daquela execução inquisitorial Ramón Lagier Y Pomares, capitão dos navios Le Monarch e Buenaventura, que faziam a rota Barcelona-Marselha: por ocasião de seu navio estar atracado no porto de Barcelona naquele dia, o Capitão Lagier pôde acompanhar o ato, que ele descreveu como o “batismo do Espiritismo na Espanha”:
“Na Espanha o Espiritismo foi batizado pelo bispo de Barcelona, o padrinho foi Fernández Colavida, e eu também desempenhei certo papel em tudo isso.”
De fato, o capitão fez parte do desenvolvimento da doutrina em terras espanholas, como ficou biografado em Anotações para Ilustrar a biografia do bravo Capitão do Buenaventura (1901) de Pedro Ibarra y Ruiz, que relata:
“O valoroso capitão Lagier, comandante do navio a vapor El Monarca e também do Buenaventura, teve ocasião de presenciar o tristemente famoso Auto de Fé de Barcelona, e conta ele que, vendo muitas pessoas se aproximarem da extinta fogueira e pegarem cinzas e algumas páginas que não estavam totalmente destruídas (com a finalidade de conservá-las como testemunha da violência clerical), não pode se conter, e exclamou bem alto: ‘Na minha próxima viagem a Marselha eu vou trazer para vocês todos os livros que vocês quiserem’. E desse modo, através dos navios que arribavam ao porto de Marselha (França), muitos exemplares das obras de Allan Kardec entraram na Espanha, vendidos ou distribuídos gratuitamente pelos comandantes ou subordinados, e principalmente pelo bravo e inesquecível capitão Lagier. O crédito da foto é mérito da Federação Espírita Espanhola."
O Auto de Fé de Barcelona, Florentino Barrera - ‘Protagonistas e testemunhas'
Pela semelhança dos relatos, é, provavelmente, o Capitão Lagier de quem Allan Kardec fala no já mencionado artigo ‘Resquícios da Idade Média’ da Revista Espírita, sobre ter tido pessoalmente ciência dos acontecimentos na Espanha, através de uma das suas testemunhas; em corroboração a essa possibilidade, seu biógrafo acrescenta: “Nas suas frequentes viagens à França, ele costumava frequentar a casa de Kardec.”
Veja também
Referências
- Revista Espírita, Allan Kardec: coleção 1861 - Ebook; coleção 1862 - Ebook; coleção 1864 - Ebook
- Obras Póstumas, Allan Kardec - Ebook
- O que é o Espiritismo, Allan Kardec - Ebook
- Maurice Lachâtre: entre a publicidade e as controvérsias, Ery Lopes e Wanderlei dos Santos - Ebook
- O Auto de Fé de Barcelona, Florentino Barrera - Ebook
- Pesquisa ‘Onde ocorreu o Auto-de-fé de Barcelona?’ - USEECE
- Artigo ‘Auto de Fé de Barcelona: Há 160 anos a Inquisição tentou conter a marcha do Espiritismo’ por Rogério Miguez - Espiritismo em Movimento (acesso em out. 2021).