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Índice de verbetes


Desencarnado



Desencarnado é a condição do indivíduo que, uma vez desprendido do corpo físico no qual estava encarnado, por ocasião da morte, retorna à vida espiritual. Esse vocábulo também se aplica ao próprio indivíduo que esteja nesta condição, sendo sinônimo de Espírito, morto, falecido, ser espiritual. É, portanto, o antônimo de encarnado.



Morfologia e sintaxe

A palavra desencarnado é formada por des (prefixo de negação) + encarnado, significando literalmente “sem carne”; ela pode ser verificada em três classes gramaticais: adjetivo, substantivo e verbo (particípio passado).

Como adjetivo, representa a qualidade de quem está morto, falecido: exemplo: “saudades dos entes desencarnados”. Na sua obra para a codificação do Espiritismo, Allan Kardec usou este termo (désincarné, no original em francês) com frequência, por exemplo, no trecho seguinte (grifo nosso):

“Neste caso, o Espírito encarnado que nos serve de médium é mais apto a exprimir o nosso pensamento para os outros encarnados, embora ele não o compreenda, do que poderia um Espírito desencarnado e pouco avançado fazer, se fôssemos forçados a recorrer à sua mediação; porque o ser terreno põe seu corpo como instrumento à nossa disposição, o que o Espírito errante não pode fazer.”
O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - 2ª parte, cap. XIX, item 225

Sendo substantivado, desencarnado significa o próprio indivíduo na condição espiritual, um Espírito. Exemplo: “o desencarnado vai se manifestar”. É nesse contexto que lemos na seguinte citação (grifo nosso):

“Com a reencarnação, finalmente há solidariedade perpétua entre os encarnados e os desencarnados; daí vem o estreitamento dos laços de afeto.”
O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec - cap. IV, item 22

Na forma verbal, é o particípio passado de desencarnar (morrer, falecer), indicando que alguém morreu; exemplo: “Tão logo tenha desencarnado, o Espírito desperta no mundo espiritual.” Da mesma origem morfológica deriva o termo desencarnação, que numa concepção literal consistem no ato de despir-se ou desligar-se da carne: morte, falecimento.

Em termos práticos, no jargão kardequiano, Espírito é o ser desencarnado e contraposto à alma, que é o ser encarnado; além disso, a vida em todos os sentidos (na dimensão física ou na espiritualidade) é chamada de existência (que é infinita), ao passo que, numa concepção mais restrita, a existência encarnada é chamada de vida, que se extingue com a morte; a partir daí, o codificador espírita chama os encarnados de vivos, e aos desencarnados ele chama de mortos, a exemplo das passagens adiante (grifos nossos):

“Assim, podemos dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e nosso paraíso. Quanto ao purgatório, nós o encontramos em nossa encarnação, em nossas vidas corporais ou físicas.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - comentário da questão 1017
“A prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra pelo pensamento em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objetivo um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por alguém, pelos vivos ou pelos mortos.”
O Evangelho segundo o Espiritismo - cap. XXVII, item 9


Desencarnação e o destino do homem

Pelo princípio da imortalidade da alma, a doutrina Espírita esclarece que, após a morte, a destinação de todo ser humano (alma encarnada) é a vida espiritual, na condição de desencarnado; quer dizer, Espírito errante (de erraticidade: intervalo entre as reencarnações).

“Deixando o corpo, a alma volta ao mundo dos Espíritos, de onde tinha saído para experimentar uma nova existência material após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espírito errante.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Introdução, item VI

Ao alcançar o estágio de perfeição espiritual, o indivíduo perde a condição de errante (aquele que vagueia, sem residência fixa) e fica desobrigado de reencarnar, passando a viver a plenitude da sua existência na condição espiritual.


Características da condição de desencarnado

Num sentido comum, e errôneo, a palavra desencarnado remete à ideia de uma existência puramente espiritual; isto é, imaterial, incorporal, completamente desprovida da “carne” — “ou carne e osso”, no sentido de um organismo físico. Porém, a Revelação Espírita demonstra que a vida espiritual (dos desencarnados) não é absolutamente desprovida de matéria, como que de uma forma abstrata; cada ser tem um corpo espiritual, que chamamos de perispírito.

“Primeiramente, imaginemos o Espírito em união com o corpo; o Espírito é o ser principal, porque é o ser pensante e sobrevivente; o corpo não passa de um acessório do Espírito, um invólucro, uma veste que ele larga quando está gasta. Além desse envoltório material, o Espírito possui um segundo, semimaterial, que o prende ao primeiro; na morte, ele se desprende daquele envoltório, mas não do segundo, ao qual nós damos o nome de perispírito. Esse envelope semimaterial, que tem a forma humana, constitui para ele um corpo fluídico, vaporoso, mas que, por ser invisível para nós, no seu estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria.”
O Livro dos Médiuns - 1ª parte, cap. I, item 3

Portanto, segundo o Espiritismo, “existem dois mundos: o corporal, composto de Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados” (O Céu e o Inferno, Allan Kardec - 1ª parte, cap. III, item 5). O estado de desencarnado é o natural, no qual o Espírito pode viver em sua plenitude, enquanto a condição de encarnado é circunstancial e temporária.

Importa salientar que o processo de desencarnação é mais ou menos rápido, fácil e suave ou demorado, difícil e doloroso, de acordo com a elevação moral do indivíduo:

“A observação prova que o desprendimento do perispírito no instante da morte não é completo subitamente; opera-se gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos; para alguns, é bastante rápido, e podemos dizer que o momento da morte é o da libertação, em poucas horas; mas para outros, principalmente naqueles cuja vida tenha sido toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido e algumas vezes demora dias, semanas e até meses, o que não implica ter no corpo a menor vitalidade, nem a possibilidade de voltar à vida, mas uma simples afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que sempre está em proporção com a preponderância que o Espírito — durante a vida — tenha dado à matéria. Com efeito, é racional conceber que, quanto mais o Espírito se identificou com a matéria, tanto mais penoso lhe seja se separar dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, assim como a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, e quando chega a morte, esse desprendimento é quase instantâneo.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - comentário da questão 155-a

Ainda conforme o Espiritismo, os desencarnados têm suas ocupações e também progridem, de acordo com os esforços que empregam — embora seja nas experiências corporais (reencarnações) que se pode pôr em prática as ideias adquiridas (O Livro dos Espíritos - questão 230).

O desencarnado conserva a sua individualidade e é, por assim dizer, a continuidade daquele mesmo outrora encarnado, no sentido de que guarda as suas qualidades próprias, adquiridas ao longo de todos os estágios reencarnatórios (O Livro dos Espíritos - questão 150). Então, ele é mais ou menos feliz conforme seus méritos: sofre por efeito das paixões que conserva e regozija-se pelas virtudes alcançadas (O Céu e o Inferno - 1ª parte, cap. VII: ‘Código penal da vida futura’). Sua posição na escala espírita determina seu destino na vida espiritual, haja vista as diversas dimensões — inferiores e superiores — na espiritualidade.

Os Espíritos superiores percorrem o espaço livremente, porém os desencarnados ainda moralmente atrasados ficam limitados à dimensão física correspondente ao seu nível de progresso moral:

“[...] quando o Espírito deixa o corpo, nem por isso ele fica completamente desprendido da matéria, e continua pertencendo ao mundo onde acabou de viver, ou a outro do mesmo grau, a menos que, durante a sua vida ele tenha se elevado. Aliás, esse é o objetivo para o qual ele deve tender, pois do contrário ele jamais se aperfeiçoaria. No entanto, ele pode ir a alguns mundos superiores, mas desde que lá esteja como estrangeiro; por assim dizer, ele não faz mais do que vislumbrá-los, e isso lhe dá o desejo de melhorar-se para ser digno da felicidade que ali se desfruta, e de poder habitá-los mais tarde.””
O Livro dos Espíritos - questão 232


Veja também


Referências

  • O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Ebook.
  • O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - Ebook.
  • O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec - Ebook.
  • O Céu e o Inferno, Allan Kardec - Ebook.


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Kardecista
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