Desencarnado é a condição do indivíduo que, uma vez desprendido do corpo físico no qual estava encarnado, por ocasião da morte, retorna à vida espiritual. Esse vocábulo também se aplica ao próprio indivíduo que esteja nesta condição, sendo sinônimo de Espírito, morto, falecido, ser espiritual. É, portanto, o antônimo de encarnado.
A palavra desencarnado é formada por des (prefixo de negação) + encarnado, significando literalmente “sem carne”; ela pode ser verificada em três classes gramaticais: adjetivo, substantivo e verbo (particípio passado).
Como adjetivo, representa a qualidade de quem está morto, falecido: exemplo: “saudades dos entes desencarnados”. Na sua obra para a codificação do Espiritismo, Allan Kardec usou este termo (désincarné, no original em francês) com frequência, por exemplo, no trecho seguinte (grifo nosso):
Sendo substantivado, desencarnado significa o próprio indivíduo na condição espiritual, um Espírito. Exemplo: “o desencarnado vai se manifestar”. É nesse contexto que lemos na seguinte citação (grifo nosso):
Na forma verbal, é o particípio passado de desencarnar (morrer, falecer), indicando que alguém morreu; exemplo: “Tão logo tenha desencarnado, o Espírito desperta no mundo espiritual.” Da mesma origem morfológica deriva o termo desencarnação, que numa concepção literal consistem no ato de despir-se ou desligar-se da carne: morte, falecimento.
Em termos práticos, no jargão kardequiano, Espírito é o ser desencarnado e contraposto à alma, que é o ser encarnado; além disso, a vida em todos os sentidos (na dimensão física ou na espiritualidade) é chamada de existência (que é infinita), ao passo que, numa concepção mais restrita, a existência encarnada é chamada de vida, que se extingue com a morte; a partir daí, o codificador espírita chama os encarnados de vivos, e aos desencarnados ele chama de mortos, a exemplo das passagens adiante (grifos nossos):
Pelo princípio da imortalidade da alma, a doutrina Espírita esclarece que, após a morte, a destinação de todo ser humano (alma encarnada) é a vida espiritual, na condição de desencarnado; quer dizer, Espírito errante (de erraticidade: intervalo entre as reencarnações).
Ao alcançar o estágio de perfeição espiritual, o indivíduo perde a condição de errante (aquele que vagueia, sem residência fixa) e fica desobrigado de reencarnar, passando a viver a plenitude da sua existência na condição espiritual.
Num sentido comum, e errôneo, a palavra desencarnado remete à ideia de uma existência puramente espiritual; isto é, imaterial, incorporal, completamente desprovida da “carne” — “ou carne e osso”, no sentido de um organismo físico. Porém, a Revelação Espírita demonstra que a vida espiritual (dos desencarnados) não é absolutamente desprovida de matéria, como que de uma forma abstrata; cada ser tem um corpo espiritual, que chamamos de perispírito.
Portanto, segundo o Espiritismo, “existem dois mundos: o corporal, composto de Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados” (O Céu e o Inferno, Allan Kardec - 1ª parte, cap. III, item 5). O estado de desencarnado é o natural, no qual o Espírito pode viver em sua plenitude, enquanto a condição de encarnado é circunstancial e temporária.
Importa salientar que o processo de desencarnação é mais ou menos rápido, fácil e suave ou demorado, difícil e doloroso, de acordo com a elevação moral do indivíduo:
Ainda conforme o Espiritismo, os desencarnados têm suas ocupações e também progridem, de acordo com os esforços que empregam — embora seja nas experiências corporais (reencarnações) que se pode pôr em prática as ideias adquiridas (O Livro dos Espíritos - questão 230).
O desencarnado conserva a sua individualidade e é, por assim dizer, a continuidade daquele mesmo outrora encarnado, no sentido de que guarda as suas qualidades próprias, adquiridas ao longo de todos os estágios reencarnatórios (O Livro dos Espíritos - questão 150). Então, ele é mais ou menos feliz conforme seus méritos: sofre por efeito das paixões que conserva e regozija-se pelas virtudes alcançadas (O Céu e o Inferno - 1ª parte, cap. VII: ‘Código penal da vida futura’). Sua posição na escala espírita determina seu destino na vida espiritual, haja vista as diversas dimensões — inferiores e superiores — na espiritualidade.
Os Espíritos superiores percorrem o espaço livremente, porém os desencarnados ainda moralmente atrasados ficam limitados à dimensão física correspondente ao seu nível de progresso moral:
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