Escala Espírita é um quadro resumido das diferentes ordens de Espíritos de acordo com o grau de evolução dos indivíduos; foi elaborada por Allan Kardec, seguindo as orientações dos mentores da codificação do Espiritismo, sendo originalmente publicada na primeira edição de O Livro dos Espíritos (1857) e depois, numa versão ampliada, na Revista Espírita de fevereiro de 1858, replicada com alguns ajustes em outras obras e finalmente estabelecida na grande atualização de O Livro dos Espíritos a partir da sua segunda edição (1860). Essa tabela ilustra os principais estágios do progresso intelectual e moral dos Espíritos, separando-os em três ordens primordiais: Espíritos Imperfeitos (3ª ordem), Bons Espíritos (2ª ordem) e Espíritos Puros (1ª ordem); com exceção desta última, cada ordem têm suas subdivisões e admitem infinitas nuances que distinguem as mais variadas condições que podem caracterizar o nível dos encarnados e desencarnados em um determinado ponto de sua jornada evolutiva, posto que, como o progresso é uma lei inexorável, a posição de cada indivíduo não é absoluta — salvo a da primeira ordem, que figura a posição daqueles que já alcançaram a perfeição. O objetivo dessa escala é apresentar didaticamente o curso evolutivo dos Espíritos e estimular cada qual a promover o seu próprio aperfeiçoamento espiritual.
A Escala Espírita parte da necessidade de evidenciar as diferentes ordens de Espíritos, diante do curso evolutivo ao qual todos são submetidos a fim de alcançar a perfeição intelectual e moral; disso resulta que os indivíduos não sejam iguais, nem em sabedoria nem em caráter moral: “Eles são de diferentes ordens, conforme o grau de perfeição ao qual eles tenham alcançado.” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 96).
Todos os Espíritos, portanto, são criados por Deus e partem de um mesmo estágio de simplicidade (inocência e ignorância de conhecimentos), mas igualmente providos de todas as potencialidades para alcançar a perfeição espiritual, à qual todos estão fatalmente destinados e que se realiza mais ou menos rapidamente conforme os esforços que cada um emprega para promover suas potencialidades. No decorrer desse curso evolutivo, então, os Espíritos podem ocupar as mais diversas posições e galgar — sempre progressivamente (porque não há retrogradação espiritual) — novos níveis, até que tenham chegado ao estágio máximo: o de Espírito puro (1ª classe).
Dentro da infinita variedade das posições dos Espíritos em seu curso evolutivo, podemos imaginar facilmente essa graduação progressiva:
A evidenciação dos diversos estágios espirituais atende também ao apelo que a obra kardequiana faz sobre a necessidade de se examinar com todo o cuidado possível a qualidade das mensagens mediúnicas:
A partir disso, a elaboração desse quadro ilustrativo veio satisfazer igualmente ao desejo dos Espíritos devotados em colaborar com a Revelação Espírita; diz Allan Kardec que foram estes missionários invisíveis quem traçaram as características principais que serviram para especificar as diversas classes que compõem essa escala:
A tabela com as variadas ordens e classes dos Espíritos serve, portanto, para que, dentre outras coisas, cada pessoa possa compreender a linha progressiva que parte do estágio espiritual inicial até o seu estágio final, quando então ela terá alcançado a perfeição e não mais estará sujeita às suscetibilidades das imperfeições; cada qual poderá então reconhecer sua posição atual e, inspirando-se nas graduações superiores, animar-se para promover ainda mais a sua evolução:
Dentro desse processo de progressão, a Lei de Reencarnação é fundamental: é se submetendo às mais diversas situações das vivências carnais que os Espíritos adquirem conhecimento, põem à prova suas virtudes morais, sofrem as expiações e cumprem missões que lhes elevam na hierarquia espiritual, tudo isso fazendo parte da admirável harmonia do plano de Deus para o equilíbrio da criação.
Na obra que inaugurou a codificação espírita, O Livro dos Espíritos publicado em 1857, a ideia foi apresentada no item ‘Diferentes ordens de Espíritos’, Livro Primeiro, capítulo IV, entre as questões 54 e 57. Apresentou-se então o conceito de que os Espíritos não são todos iguais, no sentido de que eles ocupam os mais diversos graus evolutivos, e que uma infinidade desses graus, embora se pudesse dizer que há três ordens principais: 1ª) Espíritos puros, aqueles que já chegaram à perfeição; 2ª) aqueles que estão no meio da escalada evolutiva, já inspirados pelo desejo do bem, mas ainda carentes de elevação; e 3ª) aqueles que estão no começo da sua jornada, caracterizados pela ignorância e más paixões.
A tabela adiante resume a ideia original da Escala Espírita:
ESCALA ESPÍRITA 1ª edição de O Livro dos Espíritos (1857) | |
1ª ordem: Espíritos puros: Aqueles que chegaram à perfeição, que não precisam mais se submeter a provações, e que estão por toda a eternidade na glória de Deus; são como aqueles a quem normalmente se denomina de anjos, arcanjos ou serafins. | |
2ª ordem: Espíritos que chegaram ao meio da escala, cuja preocupação é o desejo de fazer o bem, mas a quem ainda falta a soberana ciência e ainda precisam passar por provações para se elevarem à primeira ordem. São mais ou menos bons conforme mais se aproximem aos Espíritos puros e mais ou menos imperfeitos conforme se aproximem mais aos Espíritos da terceira ordem. | |
3ª ordem: Espíritos imperfeitos Aqueles que estão no começo da sua jornada evolutiva, caracterizados pela ignorância, orgulho, egoísmo e todas as outras más paixões, que retardam seu progresso. Dividem-se em três classes, conforme as linhas à direita: | 1ª classe - Espíritos impuros: são inclinados ao mal e só se preocupam com isso; |
2ª classe - Espíritos neutros: nem tão bons para fazer o bem e nem tão maus para fazer o mal; | |
3ª classe - Espíritos tolos: são levianos, maliciosos, inconsequentes, mais gaiatos do que malvados, que se intrometem em tudo, divertem-se com brincadeiras de malgasto, induzindo outros ao erro e a mistificações. |
Em ano seguinte à primeira publicação, a Escala Espírita aparece em destaque na Revista Espírita, então ampliada e devidamente apresentada. Sobre como foi feita sua composição, Kardec acentua que “Qualquer classificação exige método, análise e conhecimento aprofundado do assunto”; daí, ele completará explicando que as divisões de classes não têm nada de absoluta:
Permaneceu a divisão de três ordens principais de Espíritos, mas com novas classes na subdivisão da terceira (4 classes) e da segunda ordem (4 classes); a primeira ordem continuou contendo uma única classe. É interessante anotar também que nesta versão a disposição das ordens aparece com a numeração decrescente: da terceira para a primeira ordem, seguindo o padrão do curso evolutivo, do estágio espiritual inicial até a perfeição.
Tabela simplificada da segunda versão da Escala Espírita:
ESCALA ESPÍRITA Revista Espírita, fev. de 1858 | |
3ª ordem: Espíritos imperfeitos | 9ª classe: Espíritos impuros |
8ª classe: Espíritos levianos | |
7ª classe: Espíritos pseudossábios | |
6ª classe: Espíritos neutros | |
2ª ordem: Espíritos bons | 5ª classe: Espíritos benévolos |
4ª classe: Espíritos de ciência | |
3ª classe: Espíritos de sabedoria | |
2ª classe: Espíritos superiores | |
1ª ordem: Espíritos puros | 1ª classe única (classe única) |
O mesmo quadro da escala espírita atualizada foi reproduzido logo no primeiro capítulo do opúsculo Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, também datado do mesmo ano de 1858; nesta publicação, ao apresentar a tabela, Allan Kardec justifica a inversão das ordens adotada nessa nova versão:
A excelente aceitação do pública ao opúsculo Instrução Prática fez com que o autor, ao invés de republicar uma segunda edição, se dedicasse a trabalhar numa obra mais robusta a respeito do tema central daquela publicação, que era estudar em detalhes as manifestações espirituais, seus objetivos e consequências, bem como orientar os interessados em praticar a mediunidade; assim foi que surgiu O Livro dos Médiuns, o “Guia dos médiuns e evocadores”, originalmente publicado em janeiro de 1861, também contendo um capítulo exclusivo para a Escala Espírita (1ª Parte, Cap. VI), neste caso já replicando a versão final que já havia sido publicada, no ano anterior, na 2ª versão de O Livro dos Espíritos. Sobre esta repetição, o autor colocou uma nota de rodapé correspondente ao título referido capítulo, informando: “Embora este capítulo se encontre no Livro dos Espíritos, acreditamos dever reproduzi-lo aqui, porque ele é útil de se ter sob os olhos nas manifestações.” Entretanto, a partir da segunda edição — que, aliás, foi sensivelmente reformulada — este capítulo foi suprimido, por razões justificáveis, como Kardec anotou na ‘Introdução’:
Como sabemos, o quadro final da Escala Espírita foi estabelecido na edição revisada de O Livro dos Espíritos>, em 1860, apresentada como um dos tópicos dentro do 1° capítulo do Livro Segundo, logo após — e como complemento — do tópico ‘Diferentes ordens dos Espíritos’, cujo quadro é precedido por uma introdução, denominada ‘Observações preliminares’, de onde recortamos o trecho seguinte:
Continuou a divisão principal em três ordens, mas foi acrescentada uma classe ao grupo da terceira ordem, além de pequenos ajustes serem feitos na sequência e na descrição das características dos Espíritos pertencentes às respectivas subdivisões de classes.
A tabela a seguir traz as divisões do quadro definitivo da Escala Espírita, contendo uma breve descrição das determinadas posições:
ESCALA ESPÍRITA (Versão definitiva) A partir da 2ª edição de O Livro dos Espíritos (1860) | |
Terceira Ordem: ESPÍRITOS IMPERFEITOS Características gerais: Predominância da matéria sobre o Espírito, propensão ao mal, ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões. Eles têm a intuição de Deus, mas não o compreendem. Não são todos essencialmente maus, mas são inferiores já por não fazerem o bem, enquanto outros se satisfazem fazendo maldades e usam sua inteligência para tais fins. Como conhecem pouco ou nada dos valores espirituais, muitos creem que são maus por natureza e serão assim para sempre e por isso se entregam mais ainda ao mal. Esta ordem é subdividida em 5 classes: | 10ª classe: ESPÍRITOS IMPUROS - Só se preocupam em fazer mal: dão conselhos traiçoeiros, sopram a discórdia e a desconfiança, e se mascaram de todas as maneiras para melhor enganar; enquanto encarnados, são propensos a todos os vícios e paixões degradantes (sensualidade, crueldade, falsidade, hipocrisia, ganância, avareza desprezível) e representam um flagelo para a humanidade |
9ª classe: ESPÍRITOS LEVIANOS - são ignorantes, maliciosos, inconsequentes, gaiatos e intrometidos, que não se importam com a verdade. Em suas comunicações com os homens, a linguagem deles é muitas vezes espirituosa e jocosa, mas quase sempre sem profundidade. | |
8ª classe: ESPÍRITOS PSEUDOSSÁBIOS - Aqueles com conhecimentos bastante amplos, mas que creem saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos sob diversos pontos de vista, a linguagem deles aparenta um caráter sério que pode iludir quanto às suas capacidades, numa mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos, no meio dos quais penetram a presunção, o orgulho, o ciúme e a obstinação de que ainda não puderam se livrar. | |
7ª classe: ESPÍRITOS NEUTROS - Nem tão bons para fazerem o bem, nem tão maus para fazerem o mal, pendendo tanto para um como para o outro e não ultrapassando a condição comum da humanidade em moral e em inteligência. Ainda estão apegados às coisas deste mundo. | |
6ª classe: ESPÍRITOS BATEDORES E PERTURBADORES - Estes não formam uma classe separada, mas podem pertencer a todas aquelas da terceira ordem. Caracterizam-se especialmente por se manifestarem provocando efeitos físicos (pancadas, movimento e deslocamento anormal de objetos, agitação do ar etc.). Mais do que outros, eles parecem apegados à matéria. | |
Segunda Ordem: ESPÍRITOS BONS Caracteristicas gerais: Predominância do espírito sobre a matéria e desejo do bem, sendo que uns têm a ciência, outros têm sabedoria e bondade, enquanto os mais avançados reúnem o saber às qualidades morais. Não estão completamente desmaterializados, por isso ainda conservam mais ou menos os traços da existência corporal, na forma da linguagem e nos hábitos. Eles compreendem Deus e já gozam da felicidade dos bons. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem. O amor que os une é fonte de grande felicidade, sem inveja nem remorsos, nem por nenhuma das más paixões que são o tormento dos Espíritos imperfeitos. Mas todos ainda têm que passar por provas, até que atinjam a perfeição absoluta. Sempre inspiram bons pensamentos, protegem os que se mostram dignos dessa proteção e afastam os Espíritos maus. Não têm orgulho, nem egoísmo, nem ambição; nem ódio, e fazem o bem pelo bem. Pelas crenças comuns eles são chamados de bons gênios, anjos protetores e Espíritos do bem. Em épocas remotas eles eram tomados como divindades benfeitoras. | 5ª classe: ESPÍRITOS BENEVOLENTES - aqueles cuja qualidade dominante é a bondade; eles se alegram em prestar serviço aos homens e lhes proteger, porém seu saber é limitado: seu progresso é mais desenvolvido no sentido moral do que no sentido intelectual. |
4ª classe: ESPÍRITOS INSTRUÍDOS - Espíritos distintos pela amplitude de seus conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as questões científicas, para as quais eles têm maior aptidão; entretanto, só encaram a ciência do ponto de vista da sua utilidade e jamais dominados por quaisquer paixões que são próprias dos Espíritos imperfeitos. | |
3ª classe: ESPÍRITOS SÁBIOS - São caracterizados pelas qualidades morais da ordem mais elevada. Sem possuírem conhecimentos ilimitados, eles são dotados de uma capacidade intelectual que lhes permite um julgamento correto a respeito dos homens e das coisas. | |
2ª classe: ESPÍRITOS SUPERIORES - Os que reúnem ciência, sabedoria e bondade, de linguagem benevolente e constantemente elevada, por vezes até sublime, por isso, estão mais aptos a nos dar noções mais justas sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se voluntariamente com aqueles que procuram a verdade de boa-fé e se afastam daqueles que são animados apenas pela curiosidade ou que, por influência da matéria, transviam-se da prática do bem. Quando excepcionalmente se encarnam na Terra, é para nela cumprir uma missão de progresso e então nos oferecem o tipo da perfeição a qual a humanidade pode aspirar neste mundo. | |
Primeira Ordem: ESPÍRITOS PUROS Características gerais: Nenhuma influência da matéria. Absoluta superioridade intelectual e moral em relação aos Espíritos das outras ordens. Estão todos reunidos numa única classe. | 1ª classe única (classe única): ESPÍRITOS PUROS - Os que já percorreram todos os graus da escala e se depuraram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que a criatura é capaz, estes não têm mais que sofrer nem provas nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus. Desfrutam de felicidade inalterável, mas essa felicidade não é aquela de uma ociosidade monótona passada em uma perpétua contemplação: eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens eles executam para manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudam-lhes a se aperfeiçoarem e lhes designam suas missões. Auxiliar os homens nas suas aflições, incentivá-los ao bem ou à expiação das faltas que os distanciam da suprema felicidade: eis para eles uma grata ocupação. São chamados às vezes pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins. |
A imagem a seguir ilustra o esquema da linha progressiva do Espírito percorrendo as diversas classes da Escala Espírita rumo à perfeição espiritual:
A relevância da Escala Espírita está explícita nos seus objetivos, aqui já citados. Allan Kardec também frisou a importância de os espíritas observarem com atenção essa tabela, bem como o quadro resumido das variedades de médiuns, conforme uma comunicação mediúnica assinada pelo Espírito de Sócrates:
À vista disto, o codificador espírita vai ressaltar a utilidade prática desta tabela, reforçando assim a sua relevância:
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