Espírito Santo é uma expressão bíblica que a tradição teológica cristã em geral associa ao próprio Espírito de Deus e à terceira pessoa da Santíssima Trindade, conforme determinada vertente do Cristianismo; por vezes, também é entendido como sendo a forma com a qual Jesus deve voltar à Terra para cumprir a sua predição do Consolador (Paráclito), tendo neste contexto a mesma conotação da denominação Espírito da Verdade. Segundo o Espiritismo, o significado lato de Espírito Santo refere-se à Providência Divina, isto é, a solicitude de Deus para com o Universo e suas criaturas, não aceitando, portanto, o dogma da divisão da Divindade (santíssima trindade) nem a personificação do Espírito Santo (nem no Cristo nem em qualquer outra entidade); num sentido específico — mais como um exemplo, como metáfora — ele pode representar a mediunidade propriamente dita, ou a inspiração recebida mediunicamente. A própria Doutrina Espírita, bem como as demais revelações espirituais e todas as ações da espiritualidade em favor do progresso da humanidade, consiste num dos exemplos dessa providência, ou seja, da ação do Espírito Santo.
A Bíblia está repleta de citações contendo a expressão Espírito Santo, geralmente, no contexto de inspiração espiritual — cuja fonte a teologia tradicional atribui diretamente a Deus; é neste sentido que interpretamos o Salmo 51: “Não me lances fora da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito.” Noutra passagem, lemos a expressão em questão pelo exemplo mais específico da mediunidade: “Também Deus testemunhou juntamente com eles, por meio de sinais, prodígios, vários milagres e a distribuição do Espírito Santo, segundo a sua vontade.” (Hebreus, 2:4)
As passagens dos Evangelhos também associam o Espírito Santo ao Paráclito, isto é, o Consolador, no mesmo sentido de Espírito da Verdade (ou Espírito de Verdade):
Dessa forma, temos cinco conotações básicas aplicadas ao Espírito Santo: 1) como sendo o próprio Deus; 2) o zelo de Deus pela sua obra (Providência Divina); 3) a inspiração benigna que a humanidade recebe, seja diretamente de Deus, seja dos seus ministros espirituais; 4) a própria mediunidade (canal de inspiração espiritual) ou os dons mediúnicos (de curar, de ver o mundo espiritual, de pregar, de aconselhar etc.); e 5) a ação específica da vinda do Paráclito, conforme a promessa do Cristo. Vejamos a seguir mais detalhes sobre essas concepções — embora, de alguma forma, possa-se considerar haver uma interseção natural entre elas.
Diz a Revelação Espírita que Deus não é somente o Criador, mas também é a fonte mantenedora de tudo e de todos; o Universo não é uma máquina autônoma e autossuficiente, mas uma obra que requer sustentação contínua e perfeita, pelo que Allan Kardec vai definir:
Essa ação providencial é descrita em várias passagens bíblicas pela locução Espírito Santo, que se traduz por cuidado, atenção, carinho, proteção etc. É como tal lemos o versículo seguinte: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês.” (II Coríntios, 13:13)
Uma forma de Deus zelar pela sua obra é pela inspiração. Nesse sentido, várias citações bíblicas descrevem a ação do Espírito Santo como sendo a própria Divindade inspirando os homens sobre o que dizer e o que fazer. É como podemos interpretar o versículo: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto.” (Lucas 4:1), da mesma forma que neste outro: “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com ousadia, anunciavam a palavra de Deus.” (Atos dos Apóstolos, 4:31)
A cultura religiosa convencional costuma pregar as inspirações do Espírito Santo vêm diretamente de Deus, sem intermediários. Já a codificação kardequiana, sem negar essa possibilidade, coloca como mais certo que a Providência faça uso dos Espíritos para promover essa inspiração positiva. Falando especialmente das grandes revelações, diz Kardec:
É neste sentido que devemos entender a inspiração que o Espírito Lacordaire invoca para escrever sobre o orgulho e a humildade em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII, item 11 — “Que o Espírito Santo me ilumine e ajude a tornar compreensível a minha palavra, concedendo-me o favor de pô-la ao alcance de todos!”
No tocante a essa concepção, é igualmente lícito colocarmos na conta dessa ação providencial divina o instinto, que é basicamente “é a força oculta que solicita aos seres orgânicos atos espontâneos e involuntários, em favor da sua conservação” (A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo - cap. III, item 11).
Instinto e inspiração são, portanto, exemplos da Providência Divina que bem caracteriza a ação do Espírito Santo — sobretudo nos seres menos desenvolvidos
Certas citações bíblicas sugerem que o Espírito Santo tenha uma relação íntima com a mediunidade, que é o exercício da comunicabilidade espiritual; noutras palavras, a interação entre desencarnados e encarnados, ou mesmo entre a Divindade e os homens. Na passagem de Lucas, 1:67, por exemplo, lemos que Zacarias (pai de João Batista) “ficou cheio do Espírito Santo e profetizou"; em Lucas, 2:25-33, temos a história do ancião Simeão, justo e temente a Deus, a quem foi revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias — como de fato ocorreu.
É pelas suas capacidades mediúnicas que o apóstolo Paulo alegar ser guiado pelo Espírito Santo, que lhe havia prevenido das prisões e sofrimentos que o esperavam, segundo o livro Atos dos Apóstolos, 20:22-23. Esse mesmo Paulo, na sua carta aos Hebreus, 6:5-6, narra que aqueles que foram batizados em nome do Senhor Jesus, sobre os quais o apóstolo impôs as mãos, encheram-se do Espírito Santo e então falavam línguas (Xenoglossia) e profetizavam.
Assim, “encher-se” do Espírito Santo, ou “estar com” ele, equivale a entrar em transe mediúnico e se deixar guiar por ele, quer dizer, pelos anjos, pelos guias espirituais, os Espíritos protetores etc. Nessa mesma direção, uma exemplificação de psicofonia está exposta em Lucas, 12:11-12 — “Quando levarem vocês às sinagogas ou à presença de governadores e autoridades, não se preocupem quanto à maneira como irão responder, nem quanto às coisas que tiverem de falar. Porque o Espírito Santo lhes ensinará, naquela mesma hora, as coisas que vocês devem dizer.” Essa mesma fala de Jesus é transcrita em Marcos, 13:11, e em Mateus, 10:19-20, embora nesta última passagem, ao invés de “Espírito Santo”, o termo usado é “Espírito do Pai”. A propósito da diversidade de fenômenos mediúnicos, Paulo lista alguns exemplos, denominando-os “dons do Espírito Santo” (I Coríntios, capítulo 12).
Em consequência disso, o Espírito Santo encontra-se também referenciado na profecia do derramamento do Espírito Santo (manifestações espirituais, mediunidade) no Antigo Testamento (Joel, 2:28-30) e replicada no Novo Testamento:
Desta feita, o Espírito Santo é, de maneira abrangente, o conjunto de toda a fenomenologia mediúnica que visa inspirar o bem comum — dentro e fora do círculo religioso. Essa concepção nos remete à seguinte, como veremos.
Já o Espírito Santo associado ao Consolador prometido por Jesus, no mesmo sentido de Paráclito e Espírito da Verdade, é evidente que se trata do movimento regenerador cuja aurora se realiza pelo advento do Espiritismo, constituindo a Terceira Revelação:
Exatamente como predito, a Doutrina Espírita veio, enviado por Deus, para ensinar em nome do Cristo, revivescer o verdadeiro ensinamento do Evangelhos e revelar muitas coisas novas da natureza espiritual (João, 14:26).
A tradição religiosa comumente interpreta o Espírito Santo como sendo a terceira pessoa da chamada Santíssima Trindade — concepção claramente refutada pelo Espiritismo com o recurso da lógica e da razão que atesta a indivisibilidade de Deus, em perfeita harmonia com a coerência dos anúncios evangélicos, conforme as próprias falas do Cristo, que preserva separada a sua individualidade em relação ao “Pai”, por exemplo, nas expressões atribuídas a Jesus, em que ele:
Novamente desmistificando o conceito da trindade divina, Jesus também diferenciou a pessoa dele e o Espírito Santo, dizendo:
A concepção que o Espiritismo dá para o Espírito Santo, somada ao princípio do valor da prece, nos conduz naturalmente ao reconhecimento da validade de evocarmos o Espírito Santo (como fez o Espírito Lacordaire, aqui já mencionado) a fim de obtermos boas inspirações — venham elas diretamente de Deus (pouco provável), venham elas dos bons Espíritos; esta última circunstância, é sim muito plausível, desde que a oração atenda aos requisitos da sinceridade de coração, da justeza do pedido, além do fervor e da confiança em Deus (O Livro dos Espíritos - questão 658). Nestas condições, as preces remetidas a Deus, ao Espírito Santo e aos bons Espíritos nunca deixam de ser ouvidas:
Assim como fez Jesus, o Espiritismo encoraja a prece; o Espírito Santo está ao alcance de todos.
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