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Índice de verbetes


Henri Sausse



Henri Sausse (Étoile-sur-Rhône, França, 6 de maio de 1852 - Étoile-sur-Rhône, 26 de fevereiro de 1928) foi um comerciante francês, espírita convicto, fiel aos ideais doutrinários kardecistas, pesquisador do Magnetismo, integrante e dirigente de diversas sociedades espíritas de Lyon, inclusive da Federação Espírita Lionesa, além de membro honorário de outras tantas de diversas localidades, figurando-se entre um dos maiores divulgadores do Espiritismo em seu tempo. É especialmente lembrado pelo movimento espírita como o primeiro biógrafo de Allan Kardec.


Henri Sausse (1852-1928)



Origem familiar e iniciação espírita

Pouco sabemos da vida familiar de Henri Sausse. Seu registro de nascimento indica que ele nasceu no dia 6 de maio de 1852 na pequena comuna Étoile-sur-Rhône, no departamento de Drôme, ao Sul da França, filho de Alphonse Sausse (1827-1899) e Françoise Louise Collet (1829-1919). Seu pai foi prefeito de sua cidade natal por três mandatos consecutivos, entre 1886 e 1895, o que sugere que muito provavelmente Sausse teve uma boa formação educacional.

Quanto à sua iniciação ao Espiritismo, ele mesmo conta que, vivenciando a experiência dos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos ocorridos em seu próprio ambiente familiar, ainda na juventude, ele foi buscar explicações para essas manifestações, encontrando as respostas na Doutrina Espírita, através das obras da codificação kardequiana. Em 1869, então com 18 anos de idade e residente em Lyon, Henri passou a frequentar o grupo espírita do Sr. Finet, que se reunia semanalmente. Sobre estas sessões, ele escreveu:

“A sala de reuniões, que mal podia acomodar de 30 a 35 pessoas, quase sempre continha muito mais gente. Os médiuns, bem numerosos, ficavam sentados em cadeiras ao redor de uma grande mesa; os ouvintes, empilhados em bancos como espetos de pardais, o mais apertados possível. A sessão começava em um horário fixo; e uma vez que a oração fosse feita, ninguém mais era admitido. Devo dizer que as sessões daquela época tinham um caráter de seriedade religiosa que não se têm mais hoje. Não era feita qualquer sessão de evocação sem que uma breve oração unisse todos os corações dos presentes numa mesma onda de amor ao próximo.”
Henri Sausse: Biographie d'Allan Kardec - CSLAK

Ocorreu que em 1873 o prefeito local introduziu medidas proibitivas contra grupos espíritas, mas o seu grupo continuou suas atividades ocultamente, tendo o cuidado de extraviar todas as comunicações após o término de cada sessão, a fim de não deixar vestígios, para a segurança dos participantes. Uma vez afrouxada a perseguição os confrades de Finet retomaram normalizaram seus encontros, agora três vezes por semana, com o registro das manifestações e a divulgação da doutrina na sua região. Essas reuniões duraram até o falecimento do patrono do grupo, quando então Sausse vai estar entre os fundadores da Sociedade Espírita Lionesa (Société Spirite Lyonnaise) junto a qual assumirá expressivo protagonismo.

Segundo o relato do Sr. Peythieux, secretário da Federação Espírita Lionesa em 1934, pudemos saber que a ocupação profissional de Sausse era a de representante comercial e que, por conta disso, frequentemente estava em viagem, fora de sua residência em Lyon.

Em sua mesma cidade natal, Étoile-sur-Rhône, casou-se em 20 de abril de 1880 com Clotilde Sylvestre (1859-1899), com quem teve uma filha e dois filhos: Marie Madeleine (1881-1974), Marius (1885-1974) e Maurice (1887-1972).


Dos grupos familiares à Federação Espírita de Lyon

Lyon — a cidade de nascimento de Allan Kardec — havia se tornado um foco de grande atividade espírita e Sausse, que ali se instalara, destacava-se dentre os seus mais atuantes, tanto pela oratória quanto pelos escritos.

Em 6 de maio de 1883, por ocasião da visita de Pierre-Gaëtan Leymarie, o diretor da histórica Revista Espírita, os kardecistas lioneses promoveram um evento que reuniu mais de mil correligionários e ali se semeou a ideia de uma federação espírita que congregasse os grupos familiares locais para determinados esforços coletivos em prol da propagação doutrinária. No dia 15 de julho seguinte, a federação já havia registrado mais de 250 membros, incluindo Sausse. Mas, ao invés de organizar uma federação, mantendo os grupos existentes, eles deliberaram criar uma sociedade única com os todos adeptos, sociedade essa que recebeu o nome de Sociedade Fraterna para o Estudo Científico e Moral do Espiritismo (Société Fraternelle d'étude scientifique et morale du Spiritisme). A nova entidade seria presidida por Laurent de Faget, outro notável seareiro da mesma causa. Henri Sausse, já reconhecido por sua devoção à causa espírita, foi eleito vice-presidente por unanimidade em 30 de setembro de 1883. Tornou-se o presidente em 8 de junho de 1884, após a mudança de Faget para a capital francesa.

Concomitantemente a esse cargo, o incansável Sausse continua participando do Grupo Amizade (Group Amitié), fundado em agosto de 1883, na intimidade de mais dez amigos, todos igualmente membros da Sociedade Fraternal. Este outro grupo prima por experimentações mediúnicas e práticas de Magnetismo, valendo-se dos notáveis recursos de sonambulismo da senhorita Louise. Essas experimentações duraram por sete anos, despedindo-se na sessão de 28 de outubro de 1890, devido ao casamento da sonâmbula.

Em paralelo, empreende também diligentes esforços para finalmente formalizar a criação da Federação Espírita Lionesa (Fédération Spirite Lyonnaise) reconstituída após uma conferência proferida por Gabriel Delanne em 12 de outubro de 1885. Este, aliás, outro grande apóstolo da Doutrina Espírita, mais adiante vai reconhecer os préstimos de Sausse:

“Nosso amigo H. Sausse é conhecido de longa data e incluído entre os espíritas apóstolos de primeira ordem, tanto pelas suas notáveis pesquisas experimentais sobre os fenômenos mediúnicos quanto pelo ardor infatigável pela propaganda e pela defesa das ideias que nos são tão caras.”
Biografia de Allan Kardec, Henri Sausse - 'Prefácio'

Graças ao trabalho de Henri Sausse, a Federação divulga amplamente o Espiritismo. Imprimiu e distribuiu gratuitamente 10 mil panfletos Esperança e Coragem (Espérance et courage), de sua autoria, e em 1888 a Federação também criou uma sociedade caritativa composta pelos espíritas de Lyon, pois, nos seus dizeres “o Espiritismo é uma obra de caridade moral e material”. Esta sociedade distribui pensões todos os anos aos idosos e aos necessitados antes da chegada do inverno.


Polêmica com Leymarie e criação da UEF

Nos anos 1880, parte do movimento espírita estava descontente com a condução de Pierre-Gaëtan Leymarie à frente da Sociedade Anônima Espírita, a instituição criada por Amélie Boudet (a viúva Kardec) para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec. Entre as queixas principais, acusava-se Leymarie de abrir espaço na Revista Espírita para ideias estranhas à Doutrina Espírita, tais como os místicos conceitos da Teosofia e o religiosismo do Roustainguismo. Sausse ficou ao lado destes confrades descontentes e, junto de Gabriel Delanne, Berthe Fropo e Léon Denis, ele apoiou a criação de uma nova sociedade, a União Espírita Francesa (Union Spirite Française), instituída em dezembro de 1882, e uma nova revista quinzenal, O Espiritismo (Le Spiritisme), que entrou em circulação no mês seguinte.

Sausse contribuirá com este periódico da UEF escrevendo vários manifestos, bravamente sempre em defesa da doutrina kardecista. O primeiro deles, na segunda quinzena de março de 1884, ele protesta, em nome dos grupos espíritas lioneses, contra a ideia de um congresso espiritualista em Roma que se propunha para definir as diretrizes do movimento espírita, temendo que ali se deliberasse conceitos contrários à codificação original de Allan Kardec. Explana ele:

“Nós pensamos então que este Congresso tendo e não podendo ter qualquer sanção para impor suas decisões, serão letras mortas; que, portanto, se ele não tem autoridade, será pelo menos inútil, se não for (como nossos pressentimentos nos fazem temer) fatal para nossa causa. Assim sendo, unamo-nos nossas vozes para nos erguermos bem alto contra a reunião desse novo concílio e afirmar que somos e continuaremos sendo os discípulos fiéis de nosso Mestre, querido e saudoso ALLAN KARDEC, e que não precisamos de outro código além dos seus livros pelos quais aprendemos a conhecer e a amar o espiritismo, e que temos a satisfação de estarmos livres de qualquer correção.”
Le Spiritisme- 2ª quinzena de março de 1884

Le Spiritisme, jornal da UEF


Noutras ocasiões, fora das polêmicas, Sausse também vai relatar os aprendizados colhidos nas sessões experimentais de mediunidade e Magnetismo junto a seus grupos de estudo, como na segunda edição de julho de 1884, em que ressaltava as capacidades da sua amiga sonâmbula do Grupo Amizade:

“O desenvolvimento da mediunidade da Srta. Louise não parou por aí. Há algum tempo ela ouvia, disse-nos, concertos belíssimos. Eu lhe havia pedido várias vezes que tentasse nos mostrar, ao piano, as melodias que nos contara serem tão bonitas.”
Le Spiritisme - 2ª quinzena de julho, 1884: 'Le Spiritisme expérimental'


O caso A Gênese

Na passagem de 1884 para o ano seguinte, Sausse foi o pivô de uma nova controvérsia com Leymarie, a qual perduraria por várias gerações posteriores a eles: a suposta adulteração do livro A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. Através do artigo ‘Uma infâmia’, publicado no jornal O Espiritismo, ele denuncia que Leymarie havia modificado indevidamente aquela obra de Allan Kardec a partir da 5ª edição reimpressa em 1872 pela Sociedade Anônima Espírita, portanto, 3 anos após a morte do legítimo autor.

“Descobri, comparando os textos da primeira e da quinta edição, que 126 trechos tinham sido modificados, acrescentados ou suprimidos. Desse número, onze forma objetos de uma revisão parcial. Cinquenta foram acrescidos e sessenta e cinco foram suprimidos, e não conto os números dos parágrafos trocados de lugar nem os títulos que foram adicionados. Todas as partes desse livro sofreram mutilações mais ou menos graves, mas o capítulo XVIII: Os tempos são chegados, é o que foi mais maltratado; as modificações feitas nele o tornam quase irreconhecível. Agora, digam-me, quem são os culpados? Qual o motivo dessas manobras?”
Le Spiritisme – 1ª quinzena, dez. de 1884: ‘Une infamie’

Leymarie refutou a acusação na Revista Espírita daquele mesmo mês pelo artigo ‘Continuação de Ficções e insinuações’, colocando esta no mesmo bojo das tantas acusações que vinha recebendo da UEF; ele explicou que a nova versão de A Gênese, dita “revisada, corrigida e aumentada” tinha sido editada pelo próprio Allan Kardec e já publicada em outras duas edições — 5ª e 6ª edições datadas de 1869 — então anteriores àquela edição de 1872 da Sociedade Anônima Espírita e, portanto, antes de ele (Leymarie) assumir a direção daquela entidade espírita.

Em acréscimo, Leymarie acusou Sausse de “viajante caluniador que semeava toda espécie de invenções”, ao que Henri Sausse vai rebater, alegando ter sido informado daquela suposta adulteração por um dito amigo de Leymarie:

“Não é como vós pretendeis, um viajante caluniador, o que me motivou a empreender pesquisas das quais publiquei o resultado, mas sim uma conversa obtida numa noite do último inverno, diante de testemunhas, com um lionês que se diz amigo do Sr. Leymarie, e que ao mesmo tempo é um fervoroso adepto de J.-B. Roustaing. Conversávamos a respeito de Allan Kardec e sua obra: ‘É preciso acreditar, disse-me subitamente meu interlocutor, que as obras de Allan Kardec não eram tão perfeitas assim, já que o Sr. Leymarie foi obrigado a fazer correções em A Gênese.’ Mas, compreendendo bem o quanto era imprudente ao falar dessa maneira, ele acrescentou: ‘É verdade, entretanto, que as modificações ali feitas são absolutamente insignificantes; elas incidem sobre a forma e não à essência.’ Surpreso com essa audácia, pus-me imediatamente ao trabalho de reconhecer as modificações introduzidas no texto original.”
Le Spiritisme - 1ª quinzena de fev. de 1885: ‘Correspondance’

Em sua defesa, Leymarie apresentou o testemunho dos tipógrafos que trataram com Kardec sobre as alterações desta nova edição do livro em questão e de sua publicação em 1869. Por fim, Sausse reconhece a legitimidade da obra revisada e passa a fazer uso desta:

“Assim, ao dizer, em 1925, que A Gênese foi ‘revista e corrigida por Allan Kardec’, Sausse reconhece a legítima autoria do mestre e, portanto, volta atrás em sua denúncia. Sausse já havia usado a 5ª edição como referência do pensamento de Kardec em outro artigo da Revue Spirite de 1914 (A Doutrina Espírita - Os ensinamentos de Allan Kardec), no qual constam citações ao texto completo do Capítulo XI - 'Gênese Espiritual' e do Capítulo XIV - 'Os Fluidos', ambos com diversas alterações entre as edições.”
‘Henri Sausse fez as pazes com a 5ª edição de A Gênese em Espiritismo em Movimento - 17/6/2021


Para saber mais, ver a página especial O caso A Gênese.


Congresso Espírita e Espiritualista Internacional de 1889 em Paris

Em 1889, Henri Sausse participou muito ativamente do Congresso Espírita e Espiritualista Internacional que aconteceu em Paris entre os dias 9 e 16 de setembro. Como mostram as atas do congresso, era Sausse o secretário do Comitê de Propaganda, do qual Léon Denis era presidente, e atuava como representante dos grupos de Lyon. Sobre este Congresso, Henri Sausse revela o seguinte:

“O Congresso de 1889, o primeiro congresso espírita francês, aconteceria em Paris, na Grande Oriente, na 16 rua Cadet. Delegado da Federação Espírita de Lyon, vim participar. Eu estava tentando me orientar para encontrar a seção de propaganda, quando vi Léon Denis vindo em minha direção, dizendo: ‘Fui nomeado presidente do Comitê de Propaganda. Já que você está aqui, estou inscrevendo você nas funções de secretário. Venha comigo, vamos trabalhar’.”
‘Henri Sausse: Biographie d'Allan Kardec’ - CSLAK

Foram inúmeros os votos apresentados ao Comitê de Propaganda e muitos projetos, mas o que obteve o maior número de votos foi o desejo de ver as obras de Allan Kardec publicadas em edições populares ou de ver publicada uma obra que resumisse todos os princípios da doutrina.


Primeiro biógrafo de Allan Kardec

Henri Sausse não conheceu Allan Kardec pessoalmente, mas era profundo estudioso da obra kardequiana, pela qual tinha especial devoção, além de admiração pessoal pelo codificador do Espiritismo. Em face disso, Sausse vai se dar conta do que ele considerou ser uma grave lacuna no movimento espírita: pouco se sabia sobre a vida particular do Mestre, sendo grande o interesse dos confrades em saber mais sobre a vida e a obra do pioneiro espírita. A partir desta percepção, Sausse dedica-se a elaborar uma pequena obra biográfica kardequiana, tendo em vista um discurso seu a ser proferido em 1896, por ocasião das já tradicionais solenidades promovidas no aniversário de desencarnação do memorável líder doutrinário, falecido em 31 de março de 1869.

Proferido o discurso diante dos confrades lioneses, Sausse foi ao mesmo tempo parabenizado pelo seu trabalho e encorajado a publicá-lo, a fim de que suprir o anseio dos demais correligionários que desejam conhecer melhor a biografia de Kardec. Inclinado a preencher esta lacuna, ele se lança a pesquisa por mais fontes e informações para a realização da obra. Seu discurso original foi publicado pelo jornal La Paix Universelle (A Paz Universal), acrescido de um apelo seu:

“A fim de dar a esta obra, muito rudimentar, todo o valor de ela que é suscetível, fazemos apelo às memórias das pessoas que conheceram o Sr. e a Sra. Allan Kardec e viveram na sua intimidade, seja para corrigir os erros que este trabalho possa conter, seja para preencher as lacunas infelizmente muito numerosas.”
La Paix Universelle - 16 de maio, 1869

No Preâmbulo da obra Biografia de Allan Kardec, publicada naquele mesmo ano de 1896, Sausse lamenta não ter encontrado a cooperação que pleiteava para robustecer seu trabalho:

“Para chegar a esse resultado, enderecei-me aos raros sobreviventes que tinham estado na intimidade do Mestre; porém, seja que as memórias deles fossem imprecisas, ou que eles não quisessem desenterrar as memórias antigas de quarenta anos, todos os meus esforços nesse sentido ficaram sem efeito. Eu tive então que pedir a uma outra fonte os elementos dos quais eu precisava para estabelecer uma biografia menos superficial do que no primeiro ensaio.”
Biografia de Allan Kardec, Henri Sausse - 'Preâmbulo'

De fato, o único dos sobreviventes que conviveu com Kardec citado por Sausse, em agradecimento a sua contribuição, foi Pierre-Gaëtan Leymarie, que lhe forneceu documentos e outros subsídios para aquela edição, que foi prefaciada por Gabriel Delanne, que assim dirá:

“Sentimo-nos felizes pela brilhante ideia que ele teve de retratar, em algumas páginas, a vida de devotamento e labor do grande Espírito filosófico que soube demonstrar a existência do mundo dos Espíritos e traçar magistralmente as grandes linhas da evolução espiritual de todos os seres.”
Idem - 'Prefácio'

O sucesso desta publicação resulta numa edição traduzida para o espanhol e lançada em 1901 por uma tipografia de Barcelona. Em 1912 a obra foi reeditada com a informação “aumentada de numerosos documentos inéditos”, também contendo o prefácio de Delanne e a sessão extra com conselhos, reflexões e máximas de Allan Kardec, extraídos da primeira dúzia de anos da Revista Espírita, além das notas complementares.

A 4ª edição e definitiva versão vai ser publicada em 1927 pela editora de Jean Meyer, o grande mecenas espírita, desta vez prefaciada por Léon Denis, que então conta quando e como ele conheceu o personagem biografado, abrilhantando ainda mais a o trabalho de Sausse, que traz em si o mérito de ter sido a primeira obra literária diretamente dedicada a biografar Kardec.

No final dessa composição biográfica, Sausse expressa com justeza sua intenção maior com essa obra: “Para honrar sua memória, como ela merece, esforcemo-nos por seguir seus conselhos e sobretudo para praticar suas virtudes.”

No Brasil, esta obra foi inicialmente inserida como conteúdo adicional a outros livros de Kardec, por exemplo, em O Que é o Espiritismo, pela Federação Espírita Brasileira, e depois ganhando sua publicação própria.


Biografia de Allan Kardec por Henri Sausse


Intensas atividades doutrinárias

A Federação Espírita de Lyon, que tinha apenas um caráter informal, tornou-se uma associação em 2 de agosto de 1903. Henri Sausse foi eleito secretário geral da nova associação, permanecendo membro da Sociedade Fraternal até 21 de março de 1910, quando ingressou numa nova associação, o Grupo Esperança (Groupe Espérance), que manteve suas atividades até 1914, sendo interrompidas devido ao início da Primeira Guerra Mundial.

Pouco antes do fim do grande conflito, Henri Sausse começou a editar Le Spiritisme kardéciste (Espiritismo Kardecista), com o subtítulo: “Jornal de propaganda da doutrina dos espíritos segundo os ensinamentos de Allan Kardec e Léon Denis”, cuja primeira edição veio a lume em 1º de janeiro de 1918. Por meio dele, o editor apresenta os princípios do Espiritismo e as atividades da Federação, mas também seu protesto contra os altos preços das obras de Allan Kardec. A revista durará apenas três anos, devido ao aumento do preço do papel. Em 1923 Henri Sausse, aos 72 anos, deixou o cargo de Secretário Geral da Federação, depois de ocupá-la por quase 40 anos. Foi então também presidente de outro grupo espírita de Lyon: a Sociedade Espírita Joana d'Arc.


Biografando Léon Denis

Após a biografia de Allan Kardec, Henri Sausse deu início a outro projeto: reunir algumas notas para construir uma biografia do filósofo e amigo Léon Denis, já que havia preservado numerosos documentos de primeira mão, dentre os quais 250 correspondências entre eles, acumuladas ao longo de anos de intensa troca de experiências, além das visitas de Sausse a Tours, onde morava Denis. A biografia de Léon Denis foi empreendida como testemunho de simpatia e fidelidade, sendo publicada no seu periódico Le Spiritisme Kardéciste.

Daquelas visitas, a propósito, o biógrafo vai anotar:

“Voltei muitas vezes a esta casa, na rua de l'Alma, onde fui recebido como uma criança e onde a Sra. Denis [mãe de Léon] foi muito atenciosa comigo. Ela, cada vez que eu saía, não deixava de me beijar e me dizer: Esta vez é a última, você não vai me encontrar novamente quando voltar para ver Léon. — eu protestava, ao contrário, que a veria de novo e com melhor saúde, e durante quase quinze anos, eu é que tinha razão.”
Le Spiritisme Kardéciste

Henri Sausse


Desfecho de uma rica trajetória

Henri Sausse desencarnou aos 75 anos de idade, em 26 de fevereiro de 1928, na sua cidade natal, Étoile-sur-Rhône, para onde havia transferido sua residência nos dias finais de sua rica trajetória. A Revista Espírita publicou seu obituário, fazendo justiça e revendo os principais marcos de sua vida dedicados à divulgação do Espiritismo e do movimento espírita, entre outras palavras enobrecedoras, exprimindo:

“Saudamos a partida deste homem valente, deste honesto servidor da Ideia, que durante sua vida teve apenas uma preocupação ardente, a de contribuir com todas as forças de seu coração e inteligência, com todos os meios à sua disposição, a propaganda da doutrina de Allan Kardec. Agora que o Mestre e o discípulo se reencontraram, a emoção do reencontro deve ter sido doce para essas grandes e atuantes almas, que sua alegria nos dê coragem na luta, esperança no esforço!”
Revue Spirite - abril, 1928: ‘Nécrologue’

Seu funeral ocorreu em 29 de fevereiro. A União Fraternal de Valença (Union Fraternelle de Valence), da qual foi presidente honorário, colocou em seu túmulo uma coroa de immortelles, símbolo da eternidade.


Obras de Henri Sausse

São de sua autoria os seguintes livros:

  • Fenômenos espíritas observados no grupo Amizade de Lyon, de 1884 a 1890 (Phénomènes spirites observés au groupe Amitié de Lyon, de 1884 a 1890) - 1895;
  • Biografia de Allan Kardec (Biographie d’Allan Kardec) - 1896;
  • Provas? Ei-las! (Des Preuves ? En voilà !) - 1922;
  • A Reencarnação segundo o Espiritismo (La Réincarnation selon le spiritisme) - 1924.

Além destas obras, Sausse foi autor de notáveis brochuras e panfletos doutrinários, dentre os quais saber: Esperança e coragem (Espérance et courage), O Espiritismo em Lyon (Le Spiritisme à Lyon), Memória dirigida ao Congresso Espírita de 1925 (Mémoire adressé au Congrès Spirite de 1925), Espiritismo transcendental (Spiritisme transcendantal) e Em busca das origens da alma humana (À la recherche des origines de l’âme humaine).

Vale destacar ainda o já mencionado jornal mensal Le Spiritisme Kardéciste, que ele criou e sustentou com recursos próprios, e que por quatro anos foi o órgão de imprensa oficial da Federação Espírita Lionesa.


Veja também


Referências

  • Biografia de Allan Kardec, Henri Sausse - Ebook.
  • Revue Spirite, coleção Ano 1928 - Encyclopédie Spirite.
  • J.-B. Roustaing diante do Espiritismo: resposta a seus alunos, União Espírita Francesa - Ebook.
  • Étoile-sur-Rhône: Lista de prefeitos - Wikipédia.
  • Henri Sausse: Biographie d'Allan Kardec, Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec - CSLAK.
  • Ficções e Insinuações: Resposta à brochura Muita Luz (Beaucoup de Lumière), Sociedade Científica do Espiritismo - Ebook.
  • "Henri Sausse fez as pazes com a 5ª edição de A Gênese" em Espiritismo em Movimento.
  • "Henri Sausse utilizando a nova edição de A Gênese é nova evidência contra tese de adulteração" - Espiritismo em Movimento.
  • Página especial de pesquisa "O caso A Gênese" - Luz Espírita.
  • Le Spiritisme, coleção Ano 1884-1885 - Encyclopédie Spirite.
  • La Paix Universelle, 16 de maio, 1869, p. 267 - IAPSOP.


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Índice de verbetes
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo
Abreu, Canuto
Adolphe Laurent de Faget
Agênere
Alexandre Aksakof
Allan Kardec
Alma
Alma gêmea
Amélie Gabrielle Boudet
Amuleto
Anália Franco
Anastasio García López
Andrew Jackson Davis
Anna Blackwell
Arigó, Zé
Arthur Conan Doyle
Auto de Fé de Barcelona
Auto-obsessão.
Banner of Light
Baudin, Irmãs
Bem
Berthe Fropo
Blackwell, Anna
Boudet, Amélie Gabrielle
Cairbar Schutel
Canuto Abreu
Caridade
Carma
Caroline Baudin
Célina Japhet
Cepa Espírita
Charlatanismo
Charlatão
Chevreuil, Léon
Chico Xavier
Cirne, Leopoldo
Codificador Espírita
Comunicabilidade Espiritual
Conan Doyle, Arthur
Consolador
Cordão de Prata
Cordão Fluídico
Crookes, William
Daniel Dunglas Home
Davis, Andrew Jackson
Denis, Léon
Dentu, Editora
Dentu, Édouard
Desencarnado
Deus
Didier, Pierre-Paul
Divaldo Pereira Franco
Dogma
Dogmatismo
Doutrina Espírita
Doyle, Arthur Conan
Dufaux, Ermance
Ectoplasma
Ectoplasmia
Ecumenismo
Editora Dentu
Édouard Dentu
Elementos Gerais do Universo
Emancipação da Alma
Encarnado
Epífise
Erasto
Ermance Dufaux
Errante
Erraticidade
Errático
Escala Espírita
Escrita Direta
Espiritismo
Espiritismo à Francesa: a derrocada do movimento espírita francês pós-Kardec
Espírito da Verdade
Espírito de Verdade
Espírito Santo
Espírito Verdade
Espiritual
Espiritualidade
Espiritualismo
Espiritualismo Moderno
Evangelho
Expiação
Faget, Laurent de
Fascinação
Fio de Prata
Fluido
Fora da Caridade não há salvação
Fox, Irmãs
Francisco Cândido Xavier
Franco, Anália
Franco, Divaldo
Fropo, Berthe
Galeria d’Orleans
Gama, Zilda
Glândula Pineal
Henri Sausse
Herculano Pires, José
Herege
Heresia
Hippolyte-Léon Denizard Rivail
Home, Daniel Dunglas
Humberto de Campos
Imortalidade da Alma
Inquisição
Irmão X
Irmãs Baudin
Irmãs Fox
Jackson Davis, Andrew
Japhet, Célina
Jean Meyer
Jean-Baptiste Roustaing
Joanna de Ângelis
Johann Heinrich Pestalozzi
José Arigó
José Herculano Pires
José Pedro de Freitas (Zé Arigó)
Julie Baudin
Kardec, Allan
Kardecismo
Kardecista
Kardequiano
Karma
Lachâtre, Maurice
Lacordaire
Lamennais
Laurent de Faget
Léon Chevreuil
Léon Denis
Leopoldo Cirne
Leymarie, Pierre-Gaëtan
Linda Gazzera
Livraria Dentu
London Dialectical Society
Madame Kardec
Mal
Maurice Lachâtre
Mediatriz
Médium
Mediunidade
Mediunismo
Mesas Girantes
Metempsicose
Meyer, Jean
Misticismo
Místico
Moderno Espiritualismo
Necromancia
O Livro dos Espíritos
O Livro dos Médiuns
Obras Básicas do Espiritismo
Obsediado
Obsessão
Obsessor
Onipresença
Oração
Palais-Royal
Panteísmo
Paráclito
Parasitismo psíquico
Pélagie Baudin
Percepção extrassensorial
Pereira, Yvonne A.
Perispírito
Pestalozzi, Johann Heinrich
Pierre-Gaëtan Leymarie
Pierre-Paul Didier
Pineal
Pires, José Herculano
Pneumatografia
Possessão
Prece
Pressentimento
Projeto Allan Kardec
Quiromancia
Religião
Revelação Espírita
Rivail, Hypolite-Léon Denizard
Roustaing, Jean-Baptiste
Santíssima Trindade
Santo Ofício
Sausse, Henri
Schutel, Cairbar
Sematologia
Sentido Espiritual
Sexto Sentido
Silvino Canuto Abreu
Sociedade Dialética de Londres
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
SPEE
Subjugação
Superstição
Talismã
Terceira Revelação
Tiptologia
Tribunal do Santo Ofício
Trindade Universal
Ubiquidade
UEF
União Espírita Francesa
Vampirismo
Verdade, Espírito
Videira Espírita
William Crookes
X, Irmão
Xavier, Chico
Xenoglossia
Yvonne A. Pereira
Zé Arigó
Zilda Gama

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