Irmãs Fox é como normalmente são citadas as três irmãs: Catherine, ou Kate (27/3/1837 - 2/7/1892); Margaretta, ou Maggie (7/10/1833 - 8/3/1893); e Ann Leah (8/4/1813-1/11/1890), filhas do casal Margaret e John Fox, que também teve outros filhos; elas são conhecidas pelo célebre episódio de poltergeist de Hydesville - EUA, no ano de 1848, e que é considerado o marco do Espiritualismo Moderno — movimento que precedeu e preparou o advento da Doutrina Espírita. A repercussão desse caso tornou-as famosas, inclusive internacionalmente, e desde então as três irmãs passaram a se apresentar em eventos públicos como médiuns, no intuito de oferecer fenômenos espirituais, do que fomentou a moda das Mesas Girantes na América, na Europa e em outros centros urbanos ao redor do mundo. Infelizmente, a carreira das Irmãs Fox foi marcada por alguns escândalos, de modo que, da mesma forma que elas contribuíram para o movimento espiritualista, corroboraram para banalizá-lo; contudo, é inegável que as três irmãs protagonizaram um papel histórico fundamental para o desenvolvimento do conhecimento humano acerca da natureza espiritual, favorecendo assim — mesmo que indiretamente — a codificação espírita, fazendo com que o nome delas figure-se entre os precursores do Espiritismo.
Irmãs Fox: Margaretta, Catherine e Leah
O casal Fox era de origem canadense e migrou para os Estados Unidos da América, percorrendo diversas localidades no interior do Estado de Nova Iorque até se instalarem no vilarejo de Hydesville, onde se ocupariam da agricultura e serviços gerais. A perambulação se devia pela busca por melhores condições de vida, além de ocasionais problemas com o grave problema de alcoolismo do chefe da família.
John e Margaret Fox chegaram naquele vilarejo em 11 de dezembro de 1847, trazendo consigo as filhas Margaretta (Maggie) e Catherine (Kate), estando elas com 14 e 10 anos respectivamente; os demais filhos estavam arranjados alhures. Acomodaram-se por aluguel numa modesta cabana de madeira que, aliás, já tinha uma má reputação de “mal-assombrada”; contudo, tudo parecia transcorrer bem, e a família estava a recomeçar a vida, trabalhando e frequentando a igreja metodista do vilarejo.
Quadro com parte da família Fox: as três irmãs e os pais
A partir do ano seguinte, 1848, a família Fox começou a ser perturbada com estranhos ruídos: espécie de arranhões e batidas no piso, nas paredes e no teto da casa; mas eram esporádicos e de leve intensidade, de modo a não incomodar tanto senão pela curiosidade quanto à causa e pela suspeita de que algum brincalhão pudesse estar lhes atentando. Entretanto, as ocorrências ficaram cada vez mais frequentes e mais intensas, sem que ninguém conseguisse explicar a origem dos barulhos, malgrado rigorosa vistoria — por dentro e por fora da residência. Restava a suspeita da vizinhança de que o lugar era mesmo assombrando com fenômenos sobrenaturais.
Na histórica noite de 31 de março de 1848, uma sexta-feira, os insólitos eventos assumiram proporções de uma ordem bem mais grave: arranhões e batidas em diversas partes da casa, além de tremidos e arrastões de móveis. Foi quando, como que um golpe do destino, deu-se ali um passo capital para a descoberta de um princípio natural: a comunicabilidade espiritual.
Desde o exemplo da garotinha, todos constatam a força inteligente a agir por trás daqueles inusitados ruídos: Kate começou tudo com uma “brincadeira”, desafiando a “assombração”: — Senhor pé-rachado, faça o que eu faço. E o resultado foi que batidas logo mais foram ouvidas, imitando o número e ritmo de palmas que ela bateu. A senhora Fox então resolveu submeter o invasor a um teste mais sofisticado, perguntando-lhe a idade dos filhos, ao que a entidade respondeu corretamente, uma pancada para cada ano e fazendo uma pausa entre um filho e outro, numa sequência regular para os seis filhos vivos do casal e, de modo mais forte, batendo três vezes para indicar a idade com a qual o sétimo filho dos Fox havia falecido.
O restante daquela noite continuou agitado; quase toda a vizinhança do vilarejo correu para conferir o que se passava na casa dos Fox. Daí a entrevista continuou, convencionando-se uma batida para “não” e duas para “sim”, e por vezes — quando se inqueria um nome específico — associando um determinado número de batidas a uma letra (uma batida para a letra “a”, duas para “b”, três para “c” etc.). Ali, portanto, se estabelecia o princípio de um sistema de intercâmbio interdimensional que mais tarde Allan Kardec iria designar por Tiptologia.
Alguns dos vizinhos arriscaram indagações diversas; a Sra. Redfield, por exemplo, foi uma das pessoas que ficaram fortemente impressionadas, em razão de ela ter obtido respostas para questões bem íntimas. Depois de outras tantas especulações particulares, finalmente todos convieram que era necessário “resolver” a questão do pobre fantasma que ali se manifestava; então foi formada uma comissão investigadora, pelo que se conseguiu saber que aquele agente invisível era um Espírito, Charles B. Rosma, um vendedor itinerante, que havia sido assassinado naquela casa cinco anos atrás e cujo crime teve por motivação o roubo de sua mercadoria mais quinhentos dólares que ele portava; o Espírito também indicou o local onde foi sepultado: no porão da casa, a dez pés do piso, onde antigamente havia uma adega. No dia seguinte (sábado, 1 de abril), alguns homens começaram a escavar o local até dar n’água, onde pararam sem encontrar o corpo. Os fenômenos cessaram por dois dias e retornaram na segunda-feira seguinte, antes do meio-dia e prosseguiram por mais alguns dias.
A casa dos Fox em Hydesville
Oficiais da polícia convocaram o casal Fox e mais alguns vizinhos para prestar depoimento sobre o caso, o que se efetivou em 11 de abril de 1848, todos corroborando semelhante narrativa.
O famoso escritor Arthur Conan Doyle, também historiador espiritualista, registrou que, embora outros fenômenos mediúnicos bem mais interessantes já tivessem ocorrido antes do caso de Hydesville, aquele episódio de 31 de março de 1848 tinha a marca especial de ter desenvolvido um sistema de diálogo de forma simples e prática, que mudaria o curso da História humana:
Interessante anotar que na noite daquela mesma data histórica, Andrew Jackson Daves — outro importante médium que precedeu o moderno movimento espiritualista — registrava em seu diário uma mensagem então enigmática, ao mesmo tempo que profética:
A notícia sobre os fenômenos de Hydesville se espalharam rapidamente. Em seu depoimento, a Sra. Fox mostrou-se por demais cansada com a repercussão: “Lamento que tenha havido tanta curiosidade neste caso. Isto nos causou muitos aborrecimentos. Foi uma infelicidade morarmos aqui neste momento. Mas estou ansiosa para que a verdade seja conhecida e uma verificação correta seja procedida.” Na sua vez, John Fox depôs: “Centenas de pessoas visitaram a casa, de modo que nos era impossível atender às nossas ocupações diárias. Espero que, quer causados por meios naturais, quer sobrenaturais, em breve seja esclarecida a matéria. A escavação na adega será continuada, assim que as águas secarem; então serão constatados os vestígios de um cadáver aí enterrado. Então, se os houver, não terei dúvida de que a origem é sobrenatural.” (A História do Espiritualismo, Arthur Conan Doyle - cap. IV)
O deputado congressista Robert Dale Owen (1801 - 1870) foi uma das autoridades que se interessou pelo caso, reconhecendo a gravidade das consequências daquelas manifestações; ele interrogou pessoalmente o casal Fox e as duas filhas, publicando seus comentários favoráveis à versão espiritualista num livro de 1860, no qual também registrou:
Todavia, cinquenta anos depois, uma nova ossada foi descoberta no local, escondida numa parede falsa que então havia desabado. Segundo o Boston Journal de 23 de novembro de 1904, o esqueleto estava acompanhado de uma maleta metálica típica dos mascates da época, sugerindo fortemente se tratar da identidade fornecida pelo Espírito.
Ora, pela data do assassinato, informada pelo falecido, chegou-se aos antigos moradores daquela casa, o casal Bell, que de fato havia ali hospedado o mascate na última noite em que ele foi visto, conforme o depoimento da criada dos Bell: Lucretia Pulver, que disse ter sido dispensada para ir para casa mais cedo naquele dia. Apesar destas evidências, não há nenhum registro de que o Sr. e a Sra. Bell tenham sido responsabilizados pelo dito crime.
A repercussão do episódio de Hydesville acabou fomentando a investigação e a divulgação de outros casos sugestivos de manifestação espiritual. Com efeito, não se limitando às irmãs Fox, os Espíritos vinham — no dizer de Conan Doyle — promover uma verdadeira invasão: “Era como uma nuvem psíquica, descendo do alto e se mostrando nas pessoas susceptíveis” — escreveu o célebre cavaleiro britânico. Em pouco tempo, os periódicos americanos estavam repletos de relatos sobre casos análogos ao dos Fox.
Preocupados com a saúde mental das meninas, os Fox decidiram tirá-las do vilarejo; Maggie foi morar com seu irmão David e Kate foi para Rochester, onde residia sua irmã mais velha, Leah, então casada com o Sr. Fish. Todavia, em ambas as residências os fenômenos prosseguiam acontecendo, despertando a curiosidade geral. Pouco tempo depois, também Maggie se juntaria às irmãs em Rochester, onde iniciariam uma carreira como médiuns famosas.
Um primeiro contato dos mais importantes lhes ocorreu foi com Isaac Post (1798 - 1889), um conhecido membro da fraternidade espiritualista Quaker; ele as recebeu em sua casa para a realização de sessões periódicas e ordenadas no sentido de procurar compreender a mensagem que os Espíritos queriam transmitir através daquelas meninas. O Sr. Post havia criado um método de soletração pelas batidas, através do qual aquele círculo de estudos começou a receber mensagens assinadas por veneráveis nomes, dentre os quais Benjamin Franklin e George Fox (um dos fundadores da irmandade Quaker); a mensagem mais recorrente era a de que aquelas garotas mostrassem ao mundo o seu “dom” e com isso evidenciasse a existência dos Espíritos, porque estava fadado que “as comunicações mediúnicas não se limitariam a elas; espalhar-se-iam pelo mundo”.
Finalmente, em 14 de novembro de 1849, o grupo realizou um evento ao público, lotando o Corinthian Hall (na época, o maior auditório da cidade) aos cuidados de uma comissão investigadora formada por cinco distintos representantes da sociedade local, que ficaram encarregados também de apresentar um relatório. E o resultado foi positivo:
Algumas pessoas descontentes com o relatório exigiram uma sessão particular controlada por eles, o que se deu dias depois no escritório de um deles, o Dr. Langworthy, onde compareceram apenas Maggie e Leah; este segundo relatório anotou que “os sons tinham sido ouvidos e uma investigação completa tinha mostrado que nem eram produzidos por máquina, nem pela ventriloquia, embora não tivessem podido determinar qual o agente que os teria produzido”. Uma terceira audiência foi marcada, durante a qual os fenômenos tornaram a se manifestar, desta vez respondendo inclusive a perguntas mentais e absolutamente desconhecidas das médiuns.
Na primavera de 1850, as três irmãs e sua mãe participaram de um espetáculo público no Hotel Barnum da cidade de Nova Iorque, atraindo grande atenção da imprensa geral; seguiram depois por uma temporada de exibições pelos estados do Oeste americano, divulgando a mensagem da imortalidade da alma e o intercâmbio mediúnico. Mas ao mesmo tempo em que despertavam curiosidade e interesse nas questões espirituais, as médiuns suscitavam desafetos e protestos; numa de suas apresentações em Rochester, um grupo de fanáticos religiosos partiram para linchar as três irmãs, que foram salvas pelas portas dos fundos. Em meio às críticas ferozes dos céticos e da condenação das igrejas, foi preciso uma intervenção protetora especial para dar as mínimas garantias de vida às meninas — elas mesmas tão alheias à gravidade de tudo o que se passava com elas — seja pela falta de cultura, seja pela condição social tão desfavorável; um dos que prestaram a esse auxílio foi o congressista Horace Greeley (1811-1872), que também era um convicto espiritualista.
Em meio à influência de uns e de outros, somada à própria fragilidade, as irmãs Fox acabam enveredando na senda que as levou a fazer da mediunidade um recurso de subsistência, prestando-se aos mais diversos — e às vezes muito banais — serviços espirituais e eventos sensacionalistas.
A essa época (primeiros anos da década de 1850) a moda das Mesas Girantes já era o assunto principal dos grandes centros urbanos da América e da Europa; inúmeros círculos mediúnicos já tinham se formado, caracterizando o novo movimento espiritualista e já começando a discutir as questões filosóficas daquela “invasão espiritual”. Já havia, portanto, um bom número de ativistas neoespiritualistas; muitos destes viam com maus olhos a exploração financeira que se fazia usando a espiritualidade, e as irmãs Fox não escaparam de semelhantes ataques, especialmente a mais velha, Leah, com frequência descrita como uma interesseira agente comercial das demais.
Maggie e Kate Fox
A fama das irmãs Fox e o interesse geral pelos seus espetáculos pouco a pouco foram sendo ofuscados pelo surgimento de outros notáveis médiuns — inclusive com capacidades psíquicas mais extraordinárias. Mas elas foram se arranjando individualmente.
Em 1856, Leah (que estava viúva do primeiro casamento) contraiu núpcias com um magnata de Wall Street e passou a assinar como Sra. Underhill. No mesmo ano, a irmã do meio finalmente cedeu aos apelos do Dr. Elisha Kane, médico, explorador e escritor, que desde 1852 cortejava Maggie ao mesmo tempo em que tentava lhe converter ao catolicismo, o que implicava em ela abandonar de vez a mediunidade — que seu pretendente sempre considerava uma fraude orquestrada pela irmã mais velha, quem ele tinha na conta de uma pessoa muito ambiciosa. Enfim, assinando como Sra. Margaretta Kane, ela recolheu-se ao lar e às missas da igreja romana.
Na sobra, Kate Fox, que já demonstrava séria tendência ao alcoolismo, tentou dar continuidade à carreira mediúnica sob o amparo financeiro do Sr. Livermore, um eminente banqueiro novaiorquino que lhe era sempre grato pelos muitos bons conselhos que havia recebido em consultas mediúnicas com a moça. Em 1871, ele bancou uma excursão de Kate Fox à Inglaterra, a fim de ela exibir por lá seus dotes psíquicos ao Velho Mundo.
Em terras britânicas, Kate foi recebida pelo Sr. Benjamin Coleman, um renomado trabalhador da causa espiritualista e amigo do Sr. Livermore. Quase que imediatamente ela foi encaminhada para os rigorosos estudos do nobre cientista William Crookes. Na sessão de 24 de novembro daquele mesmo 1871, a jovem americana ficou lado a lado com o famoso médium escocês Daniel Dunglas Home. O relato de um enviado especial do jornal The Times de Londres atestou o sucesso dos experimentos, contando que a médium convidou o jornalista a ficar de pé próxima a ela e a segurar suas mãos, quando então “foram ouvidos fortes golpes, que pareciam vir das paredes e como se fossem dados com os punhos. Os golpes eram repetidos, a pedido nosso, qualquer número de vezes”.
Nesses tempos, a força mediúnica da moça americana desenvolveu outra impressionante faculdade: a produção de pontos luminosos suspensos no ar. Um exemplo de tais manifestações consta nos relatos de Wiliam Crookes, por ocasião de uma sessão particular em sua casa, na presença de sua esposa e de uma parente, além da própria Kate: “Uma luminosa mão desceu do alto da sala e, depois de oscilar perto de mim durante alguns segundos, tomou o lápis de minha mão e escreveu rapidamente numa folha de papel, largou o lápis e se ergueu sobre as nossas cabeças, dissolvendo-se gradativamente na escuridão.”
A caçula dos Fox também seria submetida ao exame de outros grandes pesquisadores psíquicos, tais como Alexandre Aksakof e os cavalheiros da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, da qual faziam parte William Crookes, Frederick Myers, Sir Oliver |Lodge, William James, Charles Richet e outros notáveis nomes da ciência.
Kate arranjou um casamento com um advogado londrino, o Sr. Henry D. Jencken, e, em 14 de dezembro de 1872, durante o almoço festivo, em dado momento “fortes batidas foram ouvidas em várias paredes da sala e a mesa, sobre a qual se achava o bolo nupcial, foi repetidamente levantada do solo”, segundo um artigo do jornal The Spiritualist. O casal teve dois filhos.
O marido de Kate faleceu em 1881 e sua viuvez a recolocou na tentadora rota do alcoolismo, as mesmíssimas condições de sua irmã Maggie, que havia algum tempo estava desentendida com Leah; esta andava implicando exaustivamente com a irmã do meio justamente por conta desta estar abusando da bebida. Para fugir dessa “perseguição”, Maggie viajou para a Inglaterra para se juntar a Kate. O resultado não foi nada bom para nenhuma delas: cada qual influenciando negativamente a outra, as duas Fox mais novas caíram num rancor contra a mais velha e então se afundaram na embriaguez, a ponto de haver quem tivesse sugerido tirar de Kate a guarda dos dois filhos que ela tinha gerado com o Dr. Jencken; tal ameaça inclusive era reforçada por uma declaração de Leah Fox admitindo a tendência alcóolica da viúva Sra. Fox-Jencken. Junte-se a isso um desencanto — ou outro sentimento semelhante — das duas com o espiritualismo: Maggie, sobretudo, por influência das pregações religiosas a que se acostumara a ouvir, fazendo-a crer que as manifestações provinham de forças diabólicas. Vê-se, portanto, quão desequilibradas estavam elas.
Essa soma de fatores mais uma oferta em dinheiro, fez com que Margaretta aceitasse escrever ao jornal New York Herald uma confissão de fraude a respeito de todos os fenômenos que tornaram as irmãs Fox famosas mundialmente. O acordo foi selado e executado em agosto de 1888: Maggie escreveu a matéria bombástica e viajou de volta para os Estados Unidos, onde receberia em seguida o pagamento acertado. Depois que o escândalo estourou, arrependida, ela desmentiu a confissão feita aos ingleses e garantiu que daria provas de suas potencialidades psíquicas; para tanto, conseguiu arranjar um espetáculo de manifestações mediúnicas na Sala de Música de Nova Iorque, o que se deu em 21 de outubro daquele 1888.
Um ano depois, Maggie também daria uma entrevista à imprensa novaiorquina, retratando-se publicamente da falsa confissão que havia feito:
Em meio ao escândalo, Kate viajou para Nova Iorque e confessou — através de uma carta a uma amiga londrina — ter ficado estarrecida com a leviana declaração da irmã, mas reforça sua postura em defesa dos fenômenos, dizendo: “Eles insistem em desmascarar a coisa, se puderem; mas certamente não o conseguirão.”
Quanto a Leah, pode-se imaginar perfeitamente que tenha ficado tão surpresa quanto decepcionada com tudo isso. Conan Doyle assim considerou a respeito: “De Leah pode dizer-se que realmente reconheceu a significação religiosa do movimento muito mais claramente do que as suas irmãs e que se opôs ao seu emprego com objetivos puramente materiais, por ser uma degradação do que era divino”.
Independentemente disso, aquele escândalo arruinou a reputação das irmãs Fox e iniciou a contagem final da sua carreira mediúnica. As três, inclusive, morreriam na obscuridade no começo da década seguinte: Leah em 1890, Kate em 1892 e Maggie no ano seguinte.
Apesar das manifestações mediúnicas serem de todos os tempos e de todos os lugares, e mesmo tendo havido grandes eventos e importantes expoentes então recentes ao episódio de Hydesville (por exemplo, com Emanuel Swedenborg, Edward Irving e Andrew Jackson Davis), pelo tanto que o caso das irmãs Fox influenciaram, fica-lhe bem justificado como o marco do Espiritualismo Moderno — na certeza de um grande legado: a partir das suas sessões experimentais, com o emprego de um diálogo franco e sistemático com os Espíritos, desenvolveu-se a onda de sessões das Mesas Girantes, formatando assim todo um movimento cultural cujas crescentes consequências vão resultar no estabelecimento da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, que temos como a terceira grande revelação da Lei Divina, cumprindo desta forma mais uma etapa fundamental para a espiritualização da humanidade. Mesmo que as condutas pessoais sejam questionáveis (especialmente no tocante à comercialização e espetacularização da mediunidade), nada tira o mérito da contribuição que Margaretta, Catherine e Leah deram para a divulgação do mundo espiritual.
O próprio codificador espírita faz várias menções honrosas ao movimento espiritualista americano e às irmãs Fox. Na Revista Espírita de agosto de 1864, por exemplo, ele reconhece o pioneirismo daquelas meninas:
Os ativistas do espiritualismo americano reconheceram a importância histórica das três irmãs e lhes têm dedicado a honra de serem chamadas as pioneiras deste movimento. Em 1915, a casa de madeira onde a família morava em Hydesville foi transportada para Lily Dale — uma aldeia, também no interior do Estado de Nova Iorque (EUA) a 197 km de Hydesville, fundada por espiritualistas, em 1879, com a intenção de ali estabelecer uma sede do Espiritualismo Moderno — sendo exposta como um memorial em homenagem às irmãs Fox; porém, um incêndio em 1955 destruiu toda a construção.
A cabana da família Fox relocada em Lily Dale
Em 1998, o local exato onde ficava a casa dos Fox em Hydesville foi transformado em um memorial e pequeno museu chamado de Hydesville Memorial Park e administrado pela Associação Nacional das Igrejas Espiritualistas (NSAC’s - National Spiritualist Association of Churches). Link do Google Maps.
Hydesville Memorial Park na atualidade
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