Johann Heinrich Pestalozzi (Zurique, Suíça, 12 de janeiro de 1746 - Brugg, Suíça, 17 de fevereiro de 1827) foi um renomado educador suíço, considerado um pioneiro da reforma educacional, cujas ideias inspiraram os métodos modernos da Pedagogia, inspirados nos valores do amor e da liberdade. Ele é lembrado pelo movimento espírita por ter sido o mestre da formação escolar de Hippolyte Léon Denizard Rivail — mais tarde cognominado Allan Kardec, o codificador do Espiritismo — na famosa escola em Yverdon-les-Bains, na Suíça, da qual o Professor Rivail propagou a metodologia de ensino, em sua carreira pedagógica, com reflexos na estruturação da Doutrina Espírita.
Johann Heinrich Pestalozzi (1746 - 1827)
Pestalozzi conheceu desde criança as dificuldades da pobreza e da orfandade social; depois de assistir ao falecimento de seu pai ainda na infância, sacrificou-se para chegar à Faculdade de Zurique, onde descobriu a vocação para a pedagogia — especialmente influenciado pela obra Emílio, de Jean-Jacques Rousseau.
Criado num país protestante, Pestalozzi cresceu sob forte pressão teológica, com apelo a conceitos extremos de fé e religiosidade de que ele procurou se isentar, conservando a moral cristã pura e a ideia de uma religião natural, sem dogmatismos e separatismos em razão de crenças.
Na passagem do século XVIII para o século XIX, inconformado com os abusos das influências religiosas no ensino educacional e das arbitrariedades políticas em seu país, Pestalozzi se junta a amigos revolucionários em campanha por um novo projeto político para a educação. Entre estes, seu amigo dileto era Johann Kaspar Lavater, poeta e teólogo, além de um grande entusiasta do Magnetismo Animal de Mesmer, com quem se relacionava frequentemente.
Durante a Revolução Francesa, Pestalozzi percebeu que os aristocratas a quem se dirigia eram indiferentes ao seu ideal. Já o seu discurso, cada vez mais educacional, distanciava-se daquele furor revolucionário e da mobilização política por mudanças sociais através da força governamental. A morte de outro grande amigo — um ativista político chamado Bluntschil, em 1781 — fez Pestalozzi abdicar de vez da luta política e se concentrar na área pedagógica, que era a sua paixão particular; ele acreditava que as reformas sociais e políticas deveriam surgir pela educação, não a do ensino tradicional, mas a de um novo processo de desenvolvimento, que resultaria na reforma moral e intelectual do povo. Movido por esse ideal, ele não cansava de se corresponder com os nobres e burgueses ricos, na esperança de que estes viessem a financiar a educação em seus países. Produziu intensa correspondência, mas não obteve o merecido apoio.
Depois de escrever As Horas Noturnas de um Ermitão (Die Abendstunde eines Einsiedlers), uma coleção de reflexões publicado em 1780, ele vai compor a sua obra-prima e que o tiraria do anonimato: Leonardo e Gertudres, lançada em 1781. O conto narra a reforma gradual feita primeiro numa casa e depois numa aldeia, frutos dos esforços de uma mulher boa e dedicada à educação. A obra foi um sucesso na Alemanha, e Pestalozzi ganhou prestígio.
Durante a invasão francesa da Suíça em 1798, ele revelou seu caráter verdadeiramente heroico ao resgatar inúmeras crianças que vagavam às margens do Lago de Lucerna, sem pais, casa, comida ou abrigo. Pestalozzi reuniu muitos deles num convento abandonado, e gastou suas energias educando-os. Durante o inverno cuidava delas pessoalmente com extremada devoção. Contudo, em junho de 1799, o edifício foi requisitado pelo invasor francês para instalar ali um hospital, desfazendo aquele projeto pestalozziano.
Transformou suas experiências em um livro intitulado Como Gertrudes ensina suas crianças (Wie Gertrude Ihre Kinder Lehrt), publicado em 1801. Ali expõe a sua didática pedagógica, o Método Pestalozzi, de partir do mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo. Continuava daí, medindo, pintando, escrevendo, contando estórias e assim por diante.
Pestalozzi e seus pupilos
Em 1799 obteve permissão para manter uma escola em Burgdorf, onde permaneceu trabalhando até 1804. Em 1802, na posição de deputado, foi a Paris tentar convencer Napoleão Bonaparte a criar um sistema nacional de educação primária; ocupado com as intensas guerras, porém, o imperador francês alegou não ter tempo para cuidar dos alfabetos.
Sem desanimar, o grande educador continuou sua obra devotada.
O ano de 1805 marca a sua mudança para Yverdon-les-Bains, cidade ao Oeste da Suiça, às margens do Lago Neuchâtel, onde ele fundou o Instituto Pestalozzi, para o qual, por vinte anos, dedicou-se ao seu trabalho continuamente. Ali era visitado por todos que se interessavam pela educação, como personalidades como Talleyrand, d'Istria de Capo, e Madame de Staël. Foi elogiado por Humboldt e por Fichte. Dentre seus discípulos incluem-se Ramsauer, Delbrück, Blochmann, Carl Ritter, Friedrich Froebel e Zeller, destacando-se principalmente o jovem Rivail — que mais tarde passaria a ser conhecido como Allan Kardec, o codificador espírita.
Além de ser considerado excelente aluno, Rivail também foi um entusiasta do método pestalozziano e, uma vez estabelecido em Paris, fundaria um instituto de ciências sob os mesmos princípios educacionais de seu mestre pedagogo, revelando-se também muito em acordo com os princípios morais da Doutrina Espírita que Rivail iria sistematizar com reconhecida didática.
Instituto Pestalozzi em Yverdon-les-Bains, Suíça
Por volta de 1815, dissensões surgiram entre os professores de sua escola e, segundo seus biógrafos, a última década de seu trabalho em Yverdon foram marcados por cansaço e tristeza, até que o Instituto viesse a encerrar suas atividades definitivamente em 1825. Aposentado, o pedagogista transferiu sua morada para Brugg, no Norte da Suíça, onde escreveu um livro de memórias e sua última publicação: O Canto do Cisne, lançada pouco antes de sua desencarnação.
Pelos seguintes trechos extraídos do livro Minhas indagações sobre a marcha da natureza no desenvolvimento da espécie humana (traduzido do original alemão Meine Nachforschungen über den Gang der Natur in der Entwicklung des Menschengeschlechts), escrito por Pestalozzi em 1797, podemos ter uma ideia dos princípios educacionais do célebre pedagogista suíço.
Sobre o Estado natural:
Sobre o Estado social:
Sobre o Estado moral:
Pestalozzi afirmava que o verdadeiro trabalho de sua vida estava em seus primeiros momentos como educador, com a sua observação e preparação do homem integral, junto aos órfãos. Dedicou seus esforços, tempo, recursos financeiros e sua própria família à vivência de suas ideias pedagógicas. Fundou orfanatos e educou meninos e meninas pobres e abandonados, procurando formar o caráter de cada um. Mais do que ensinar a ler, escrever e transmitir outros conteúdos considerados relevantes para a formação intelectual, Pestalozzi interessava-se pela formação integral, pela construção da personalidade individual da criança. Realizou pesquisas visando melhorar o sistema de educação e aprimorar suas teorias a partir das práticas, no desejo de desenvolver a educação pública, porque acreditava que a renovação da educação seria a verdadeira questão social. Ele pregou a democratização da educação, influenciando governantes e fazendo com que passassem a se interessar pela educação das crianças menos favorecidas.
Pestalozzi foi um dos pioneiros da pedagogia moderna, influenciando profundamente todas as correntes educacionais, e longe está de deixar de ser uma referência. Fundou escolas, cativava a todos para a causa de uma educação capaz de atingir o povo, num tempo em que o ensino era privilégio exclusivo.
Sua preocupação maior era que o educando atingisse sua autonomia moral, despertando uma consciência moral e cidadã, e não à importância quanto ao ensino da leitura e da escrita que seria o mais importante para uma educação popular para assim extinguir o analfabetismo; foi o primeiro do ramo do seu ramo a propor que para educar as crianças era preciso antes amá-las, compreendê-las e fazê-las se interessar pelo conhecimento e pelo aprendizado.
Este foi um dos maiores benfeitores da humanidade. Durante sua existência tão modesta, não conheceu a fortuna nem a glória, mas em compensação o resultado de seu trabalho foi reconhecido e aproveitado, e o seu nome respeitado, honrado e conservado na memória dos que vieram depois dele, pois continuaram e aperfeiçoaram os seus estudos.
No Brasil, a vida e os métodos educacionais de Johann Heinrich Pestalozzi serviram de inspiração para a criação de instituições que levam seu nome e que oferecem assistência gratuita a milhares de pessoas com deficiência, através de parcerias e doações. É o caso da ABADS - Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social - conhecida anteriormente como Sociedade Pestalozzi e da FENASP - Federação Nacional das Associações Pestalozzi.
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