Léon Denis (Foug, França, 1 de janeiro de 1846 - Tours, França, 12 de abril de 1927), foi um notável filósofo, escritor e um dos principais expoentes espíritas desde após a morte do codificador do Espiritismo, Allan Kardec. A fidelidade que dedicou aos conceitos kardequianos e o seu valoroso empenho em divulgar a Doutrina dos Espíritos fizeram com que passasse a ser conhecido como o “apóstolo do Espiritismo”. Também excelente orador, palestrou na França e no exterior, semeando as luzes da Terceira Revelação, sendo um dos principais destaques de diversos congressos espíritas e espiritualistas da Europa. Entre suas obras literárias, destaca-se O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
Léon Denis, o Apóstolo do Espiritismo
Léon Denis nasceu numa humilde família da aldeia de Foug, situada nos arredores de Tours, França; foi o primeiro filho do casal Joseph Denis e Anne-Lucie. Seu pai era trabalhador do ramo de construção, sem instrução escolar e de uma certa rudeza, contrastando completamente com a sua mãe — com quem, aliás, tinha uma forte ligação afetiva.
Em crise financeira, sua família vai tentar melhor sorte em Estrasburgo, onde seu pai vai trabalhar na Casa da Moeda. Já iniciado na leitura e na tabuada pela mãe, o pequeno Léon ingressa numa escola particular; porém, os estudos foram interrompidos quando o chefe da sua família foi transferido para a Casa da Moeda de Bourdeaux, onde o menino cheio de sonhos foi obrigado a juntar-se ao pai no polimento de metais para ajudar no sustento do lar, dado as necessidades materiais. Destes dias terríveis, Denis lembrará mais tarde:
Nas horas vagas, ao invés de participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível; lia obras sérias, conseguindo assim, com esforço próprio desenvolver a sua inteligência, tornando-se um autodidata sério e competente.
As condições de vida melhoraram um pouco quando Joseph Denis trocou de ofício indo trabalhar numa companhia ferroviária; a família se estabeleceu em Landes e Denis matriculou-se num novo educandário, onde o garoto prodígio logo recuperava o andamento escolar, até que novamente muda de endereço, acompanhando seu pai em nova empreitada profissional, seguindo para Moux e depois Tours, onde finalmente fixaram morada mais duradoura. Ele mesmo nos conta dos dramas vividos naqueles tempos:
Sem rancor, mas com tristeza profunda, Denis guardou a lembrança de uma grande decepção de sua juventude, quando seu pai descobriu e deu um fim imediatista a uma reserva em dinheiro que o sonhador filho juntava para comprar um tão desejado livro geográfico. Não obstante, o ardor pelo conhecimento só ganhava mais força em seu espírito.
Era seu hábito conferir os lançamentos expostos nas livrarias, dos quais lia as legendas. Um dia, ainda com dezoito anos, a sua atenção se despertou para uma obra de título inusitado e à primeira vista perturbador: O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. Dispondo do dinheiro necessário, comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar entregou-se com avidez à leitura: “Nele encontrei a solução clara, completa e lógica, acerca do problema universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria espírita dissipou a minha indiferença e as minhas dúvidas.” — comentou ele sobre esse providencial encontro, aditando que também sua mãe ficou tocada pela “beleza e grandeza dessa revelação”.
Havia em Tours um grupo espírita bem organizado, ao qual, porém, Denis não podia frequentar regularmente devido seus compromissos de trabalho. Mas, em meio aos primeiros estudos doutrinários, junto com alguns amigos espíritas, o rapaz ficou sabendo de um evento especial que se daria na sua cidade: a visita do autor de O Livro dos Espíritos.
O ano era o de 1867 e Denis tinha apenas 21 anos de idade. A reunião estava prevista para se realizar num salão, mas a prefeitura não providenciou a autorização do evento; então uma das personalidades espíritas da cidade ofereceu sua residência para sediar a palestra. Denis encarregou-se de ficar à porta do endereço anterior para prevenir os convidados da mudança de local; depois, ele foi se juntar os trezentos ouvintes que disputavam um lugar nos jardins da casa do Sr. Rebondin, para ouvir o codificador espírita. Ele registrou esse momento jubilar nos Anais do Congresso de 1925:
No dia seguinte, o rapaz foi cedinho na casa que hospedava o Mestre espírita, só para dar uma espiadinha, do que vai contar: “[...] encontrei-o sobre um pequeno banco, junto a uma grande cerejeira, colhendo frutos que atirava para a Sra. Allan Kardec — cena bucólica que contrastava com aquelas graves preocupações.”
A passagem de Kardec em Tours rendeu a fundação de um novo centro espírita, do qual Denis foi escolhido secretário. A propósito de mais instruções, o apóstolo iria se encontrar o mestre mais duas vezes ainda em 1867; uma vez em Paris, no escritório de Kardec; outra vez num evento espírita em Bonneval. Dois anos depois, à distância, Léon lamentaria a morte do professor.
Quando estourou a Guerra Franco-Prussiana, em 1870, o jovem espírita foi dispensado da convocação militar devido seu problema visual, que se agravava gradativamente; mesmo assim, seu amor à pátria o impeliu ao alistamento voluntário, indo se apresentar em La Rochelle. Conta ele: “Em 15 dias, aprendi o manejo das armas e as instruções do pelotão, de modo a servir de instrutor para os quadros de meu batalhão. Dentro de 6 meses passei a sargento, tornei-me, sucessivamente, suboficial, subtenente e continuaria sendo promovido, se a paz não tivesse sobrevindo.” Seu amigo e biógrafo Gaston Luce descreve a personalidade do tenente Denis:
Em meio ao drama bélico, junto de um soldado também espírita, Denis recebe uma mensagem profética do Espírito Lamennais: “Meus amigos, um acontecimento solene se realiza agora, segundo o desejo dos homens. É a paz, que acaba de ser assinada, e dentro de poucos dias vossas famílias vos abraçarão. Dentro de poucos anos a Prússia, por seu turno, será derrotada e humilhada. Orai, orai.”
Finda a fatídica guerra, Léon retorna ao lar para cuidar dos pais idosos. Para o sustento material da casa, o ex-tenente assume o emprego do velho Joseph Denis, agora inapto para continuar nas suas funções na indústria de couros Casa Pillet. Trabalho duro e estudo redobrado — eis a rotina do bom filho.
De volta ao centro espírita da Rua du Cygne, desenvolve sua mediunidade de vidência, revisitando as cenas históricas da Antiguidade e da Era Medieval. Coisa curiosa: abria-se os olhos espirituais, enquanto os olhos físicos mergulhavam num embaçamento irreversível. Seu consolo era os amigos espirituais, tais o de Sorella e o da heroína francesa Joana d’Arc, que certa vez o exortou nestes termos: “Coragem amigo! Agora que o destino se apresenta mais claro, agora que as horas da luta se aproximam, que provas mais fortes vão te assaltar, estarei ainda mais perto de ti, sustentando cada um de teus passos. Não esqueças, amigo, que o alvo já está aí, o alvo que é preciso atingir, alvo que te abrirá as portas de um mundo melhor.”
Sua iniciação na maçonaria pela Loja dos Demófilos (rito do Grande Oriente), ensejou ao jovem espírita o desabrochar da oratória; além disso, como representante comercial, faz longas viagens (Bélgica, Suíça, Itália, Argélia, Tunísia...) que lhe permite semear a doutrina consoladora e colher outros aprendizados com os confrades espíritas. Quando em Tours e suas cercanias, reforçava a obra local da Liga do Ensino (associação filantrópica que compartilhava livros e alfabetizava adultos) da qual era secretário, com reconhecimento direto do pedagogo Jean Macé (um dos idealizadores da Liga). O L’Union Libérale, jornal regional, elogiou o discurso de Denis proferido em 15 de setembro de 1878 para a inauguração da biblioteca comunitária do Círculo de Touraine: “O Sr. Denis possui as qualidades que o tornam um orador: erudição profunda, memória prodigiosa, elegância de forma, harmonia de períodos, sobriedade de gestos e, acima de tudo, a presença, que torna sua eloquência particularmente comunicativa e conquista logo a simpatia do auditório.” Dr. Belle (líder da Liga em Tours) apontou um único defeito em Léon: “Ele é muito modesto.”
Essa mobilização social o arrastava para a política; foi-lhe ofertado uma vaga para concorrer ao parlamento, mas o espírita recusou, por ser desprovido de ambição e por estar espiritualmente comprometido com a doutrina da sua vida:
O ano de 1882 marca o início do seu apostolado, durante o qual teve que enfrentar sucessivos obstáculos: o materialismo e o positivismo que olhavam para o Espiritismo com ironia e risadas, enquanto os crentes das demais correntes religiosas não hesitavam em aliar-se aos ateus para ridicularizá-lo e o tentar enfraquecer.
No dia 2 de novembro de 1882, Dia de Finados, um evento de capital importância produziu-se na sua vida a manifestação, pela primeira vez, daquele Espírito que, durante meio século, haveria de ser o seu guia, o seu melhor amigo, o seu pai espiritual — Jerônimo de Praga — que lhe disse: “Vai meu filho, pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te sustentar.”
Em 31 de março de 1881, pediram-lhe para proferir a tradicional homenagem no túmulo de Allan Kardec, no Cemitério Père-Lachaise. Prontamente, Pierre-Gaëtan Leymarie (então principal dirigente do movimento espírita) o convida para ações conjuntas no interessa da doutrina, inclusive com subsídio financeiro, ao que o orador respondeu: “Compromissos para com a firma de comércio, na qual tenho importantes interesses, não me permitem, no momento, aceitar uma obrigação permanente, trazendo certas responsabilidades. Todavia, como no passado, estou disposto a consagrar minhas folgas à propaganda espírita. Assim que chegar a época das conferências, isto é, de setembro a abril, estarei à disposição das Sociedades e me dirigirei para as localidades onde minha presença possa ser útil”; e, recusando a ajuda de custo, acentuou que faria com total abnegação, contando, além disso: “meus recursos pessoais me dispensam de recorrer a qualquer ajuda material.” Desde então, despontou como o mais solicitado palestrante kardecista.
Em dezembro do ano seguinte, tomava parte preponderante nos trabalhos da assembleia da qual iria resultar a fundação da União Espírita Francesa, encabeçada por Berthe Fropo e Gabriel Delanne, com a anuência da viúva Kardec (Amélie Boudet). Esta nova entidade vinha representar uma grande parte dos confrades insatisfeitos com o modo como Leymarie dirigia a Revista Espírita e a Sociedade Anônima Espírita (entidade que herdou todo o patrimônio do casal Kardec, criada especialmente para conduzir e promover o movimento espírita); seu órgão oficial de imprensa foi o jornal Le Spiritisme [O Espiritismo], para o qual Léon Denis contribuiu com diversos artigos.
Da excelência da oratória para a escrita exuberante foi um salto; os ensaios vieram naturalmente dos rascunhos para as palestras, até que finalmente ele vislumbrou a ideia de publicações robustas. Experimentalmente, ele compôs um opúsculo de cinquenta páginas: Túnis e a Ilha da Sardenha, de 1880, eram recordações de uma viagem pelo Mediterrâneo e países barbarescos. Do mesmo ano vieram dois romances moralizadores: O Médico de Catânia e Giovanna; e o livreto O Progresso, um ensaio social sob os auspícios da Liga do Ensino.
Em 1885, ele publica O Porquê da Vida, um bálsamo iluminador para os que a vida castigava duramente e a quem a religião não pudera consolar, ofertando então uma razão plausível de crença e de esperança.
A sua primeira obra mais robusta veio à lume em 1890: Depois da Morte, da qual ninguém se queixou o volume: 300 páginas de pura luz que levou o crítico literário Alexandre Hepp declarar no Le Journal: “Existe um homem que escreveu o mais belo, mais nobre e mais precioso livro que eu jamais li. Seu nome é Léon Denis e seu livro: Depois da Morte.”
Dos embates com os teólogos que o sabatinavam, ele teve a ideia de elaborar Cristianismo e Espiritismo, lançado em 1898, pela qual Denis desafiava a igreja:
No Invisível ficou pronta em 1903, constituindo-se uma obra de exuberante resposta aos cépticos da fenomenologia espiritual por documentar inúmeros casos exemplares de manifestações mediúnicas, devidamente explicadas pela lógica.
O próximo tesouro da literatura espírita seria O Problema do Ser e do Destino — para muitos, sua obra-prima; simplesmente o melhor tratado filosófico contra a doutrina materialista daquele século.
Capa da obra original O Problema do Ser e do Destino
A visão enfraquecida era um sério desafio para a continuação de seus trabalhos; mesmo uma cirurgia médica realizada em 1908 não lhe proporcionara nenhuma melhora. Mas não podia parar; a joia seguinte foi às bancas em 1910: a arrebatadora narração de A Verdade sobre Joana d’Arc (reeditada em 1912 com o título definitivo: Joana d’Arc Médium), finalmente explicando o mistério das vozes proféticas da heroína francesa, que era causa de inquietação tanto dos religiosos quanto dos científicos — involuntariamente unidos para colocar mais lenha na fogueira que queimava a verdadeira imagem da virgem de Orleans.
O ano seguinte traria a público O Grande Enigma, livro que Gaston Luce definirá como “um hino de adoração ao Eterno”. Três anos depois, 1914, estoura a Grande Guerra e as atividades espíritas esmorecem; Léon fica deprimido e temente do futuro de seu país novamente alvo dos ataques bélicos germânicos, mas seus guias espirituais — especialmente Jerônimo de Praga e Joana d’Arc lhe tranquilizam quanto a isso: a profecia da revanche francesa estava a caminho.
Em 1916 surgiu no cenário espírita francês a figura providencial de Jean Meyer para reativar o movimento kardecista; o ricaço filantropo suíço estava em via de comprar os direitos da histórica Revista Espírita, momentaneamente fora de publicação, além de reativar a União Espírita Francesa. Léon Denis deu seu aval e prometeu engajamento; tudo então se realizou com o filósofo de Tours nomeado Presidente de Honra. Enfim, os grandes baluartes do Espiritismo da época se reencontrariam na sede das atividades doutrinárias, a famosa Maison des Spirites [Casa dos Espíritas] financiada por Meyer.
Termina o conflito mundial e Léon Denis ficou feliz ao ver, em 1919, Jean Meyer promover a publicação de O Mundo Invisível e a Guerra, uma coletânea de textos que o Apóstolo espírita havia publicado — justamente tratando daqueles anos de terror — na então revigorada revista criada por Kardec. Dois anos depois é a vez do opúsculo Espíritos e Médiuns, ratificando a realidade dos fenômenos mediúnicos. E enquanto praticamente só se falava em ciência, lá vem o filósofo colorindo o ambiente com Espiritismo na Arte, de 1921.
Em 1924 ele voltou a publicar uma obra mais robusta: Socialismo e Espiritismo, pelo qual ele firmemente desvincula o pensamento espírita das utopias revolucionárias dos marxistas e socialistas, que ele põe na conta de odiosas ideias materialistas disfarçadas de assistência social: “Eu reprovo o socialismo materialista que semeia o ódio entre os homens e, por consequência, permanece infrutífero e destrutivo, como o vimos na Rússia. Eu sou um evolucionista e não um revolucionário.” — expressou o autor no capítulo VII da 1ª parte da obra.
Versão brasileira de Socialismo e Espiritismo
Nova alegria contagiou o coração do nosso filósofo destacado: Arthur Conan Doyle, o célebre escritor e autor de Sherlock Holmes, traduz para o inglês a obra sobre Joana d’Arc, sob o título The Mystery of Jean of Arc. Os laços de amizade entre eles se estabeleceram instantaneamente. O prefácio do tradutor rasga elogios ao amigo francês:
Seu gran finale foi a realização de um velho sonho: resgatar suas raízes junto aos druidas nas antigas Gálias — mesmas raízes do seu Mestre, Allan Kardec —, resgate que Denis registrou numa série de artigos publicados na Revista Espírita, cujo último capítulo apareceu na edição de março de 1927, e que posteriormente seriam reunidos e publicados em formato de livro com o título O Gênio Céltico e o Mundo Invisível.
Paralelamente à carreira de escritor, é preciso acompanhar a do palestrante.
A fama de orador e a não menos prestigiada bagagem de escritor levou Léon Denis a ser destaques nos grandes congressos espíritas e espiritualistas de seu tempo — fora as excursões em várias cidades europeias, no entremeio de sua produção literária.
O primeiro dos grandes eventos foi o Congresso Espiritualista Internacional, em setembro de 1889, reunindo em Paris os kardecistas, os adeptos de Swedenborg, os teosofistas, os cabalistas e os rosa-cruzes; na ocasião, o apóstolo de Tours presidiu a Comissão de Propaganda. Apesar dos desacertos das diversas correntes ali representadas, todos se renderam à vez da oratória de Denis, frequentemente entrecortada de aplausos. Relata sua biografia por Gaston Luce: “Sem dúvida, havia homens de um grande saber e alto mérito no Congresso, mas nenhum deles falava uma linguagem tão ardorosa, demonstrando tanta convicção. Léon Denis já se revelava o magnífico condutor de almas que iria ser durante toda a vida.”
Por que bem-sucedido naquele congresso, sua visita era ainda mais ansiosamente aguardada em todos os lugares onde houvesse um grupo espiritualista minimamente organizado; de todas as localidades aonde fosse, sempre escrevia afetuosamente para sua mãe, detalhando os ocorridos. Numa dessas cartas, lemos a satisfação do apóstolo kardecista:
No meio dessa escalada de palestras, estando em Lyon para atender os anseios de seus confrades, no derradeiro mês do ano de 1890, ele recebe um telegrama informando o falecimento de sua progenitora; comovido, mas ao mesmo tempo reconfortado, ele viaja às pressas para cuidar das exéquias daquela que foi o seu anjo na Terra. Dias depois, estava de volta ao vocacionado espírita, que aliás era um pleno consolo.
Uma nova edição do Congresso Espiritualista Internacional se realizou em setembro de 1900, novamente na Cidade Luz, para o qual Denis foi aclamado presidente efetivo, figurando-se como um dos grandes destaques, ao lado de outros notáveis, quais Russel Wallace, Alexandre Aksakof e Laurent de Faget. Em face das disputas teóricas, ele discursou firme, mas com sua peculiar meiguice: “Deixai-me dizer-vos que estou bem à vontade para falar em nome de nossas escolas reunidas, porque sempre considerei essas escolas como se formassem um conjunto, um todo... O objetivo que temos em vista, para o qual devemos coordenar nossas vontades, nossos esforços e para onde devemos marchar, apoiando-nos uns nos outros, é a conquista de melhores destinos para a alma humana, e a conquista de um melhor futuro espiritual para a humanidade.”
Foi agraciado com o título de Presidente de Honra do Congresso Espiritualista de Liége, Bélgica, em 1905, retornando na segunda edição do evento, em 1910, como representante da delegação da França e do Brasil (Veja o tópico Curiosidades).
Sua última participação em congressos se deu na edição parisiense de 1925, promovido por Jean Meyer, que o escolheu para presidir o evento; a debilidade física natural de um octogenário lhe mandava recusar tal compromisso, mas acabou cedendo às insistências dos amigos e do patrono do congresso, realizado entre 6 e 13 de setembro, com representantes de 24 nações e coberto por cerca de 60 jornais; o evento contou com personalidades das ciências, artes e movimentos em geral, por exemplo: Conan Doyle, Sir Oliver Lodge, Léon Chevreuil, Gabriel Delanne, Henri Sausse, Jean Meyer — além do próprio Léon Denis.
Congresso Espírita Internacional de Paris, 1925
É preciso dizer, pois, que em todas as ocasiões, embora respeitando as crenças alheias e participando de eventos das mais diversas escolas espiritualistas, o Apóstolo do Espiritismo jamais perdeu a oportunidade de ratificar suas convicções na doutrina kardequiana.
Não com poucos esforços, Léon Denis havia trabalhado febrilmente para concluir sua última obra: O Gênio Céltico e o Mundo Invisível; dias depois de entregar os seus últimos manuscritos para que Jean Meyer providenciasse a confecção do livro, seu corpo se rendia ao tempo: numa terça-feira, 12 de abril de 1927, respirava Denis já com grande dificuldade; a pneumonia o atacava novamente e a vida o abandonava, embora sua lucidez fosse perfeita. As suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar da muita dificuldade, foram dirigidas à sua empregada Georgette: “É preciso terminar, resumir e... concluir...”, fazendo alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec. Nesse preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças, par a que pudesse articular outras palavras; às 21 horas o seu Espírito alou-se, enquanto seu semblante parecia ainda em êxtase.
Seu amigo e biógrafo Gaston Luce descreve a seu funeral:
Dentre os grandes apóstolos do Espiritismo, a figura exponencial de Léon Denis merece referência toda especial; principalmente em vista de ter sido o continuador lógico da obra de Allan Kardec e o consolidador da Doutrina Espírita. Cabia-lhe desenvolver os estudos doutrinários, continuar as pesquisas mediúnicas, impulsionar o movimento espírita na França e no Mundo, aprofundar o aspecto moral da Terceira Revelação e, sobretudo, dar um exemplo pessoal de abnegação e espírito de caridade, no seu sentido mais puro possível.
Léon Denis foi tudo, por isso é cognominado o “Apóstolo do Espiritismo”, pela magnífica atuação desenvolvida através da palavra, escrita e falada, em favor do Consolador Prometido por Jesus; não à toa ele é por vezes também reputado o “filósofo do Espiritismo”.
Dedicou toda uma longa vida à defesa dos postulados que Kardec transmitira na codificação Espírita, consagrando especialmente o aspecto moral da doutrina e valorizando os princípios superiores da vida: a devoção a Deus, à instrução e à família.
Sua produção literária percorre as gerações ratificando a doutrina que abraçara, ajudando aos estudiosos a melhor compreender as luzes da nova revelação, fazendo jus ao que ele declarou sem falsa modéstia:
Léon Denis no Congresso Espírita de Paris em 1925
Léon Denis era tão admirador de Allan Kardec que, em tom gracioso — do tipo gaulês que ele descrevia —, ele se gabava:
De fato, considerando a versão acima do nome de Kardec, encontraremos: “Hippolyte Léon Denisard Rivail”.
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