Adolphe Laurent de Faget (8 de outubro de 1846, Montpellier, França - 15 de dezembro de 1912, Paris) foi um publicista, poeta e um dos mais influentes baluartes do Espiritismo pós-Kardec na França. Foi membro de várias entidades, algumas das quais foi presidente, dentre as quais: Sociedade do Espiritismo Científico, Sociedade Fraternal de Estudo Científico e Moral do Espiritismo e a Federação Espírita Universal. Por dois anos foi redator-chefe do jornal Le Spiritisme, também fundador do periódico Le Progrès Spirite [O Progresso Espírita], que administrador por mais de uma década e meia. Denunciou e combateu desvios doutrinários no meio espírita e gozou da amizade e apoio das grandes personalidades espíritas de sua geração, dentre os quais Gabriel Delanne, Berthe Fropo, Léon Denis, Henri Sausse e o casal Sophie e Michel Rosen.
Adolphe Laurent de Faget
Faget era filho de um comerciante, que igualmente era poeta nas horas vagas — quem certamente lhe serviu de inspiração para suas futuras obras literárias. Curiosamente, em sua certidão de nascimento não consta o sobrenome “de Faget”, como aparece na sua certidão de óbito.
Efetuou estudos nos liceus de Nîmes e Avignon. Trabalhou nos negócios de seu pai e se iniciou na literatura publicando versos e textos nos jornais de Avignon, cidade onde, ainda nos seus dezessete anos de idade, conheceu e abraçou a Doutrina Espírita. Ali publicou seu primeiro livro em 1877 Aspirations poéthiques [Aspirações poéticas].
De Avignon, em 1878, partiu para trabalhar em Lyon, lá residindo até 1885, quando então se estabeleceu definitivamente em Paris. Ali lançou seu segundo livro, La Muse irritée [A Musa Irritada], de 1885, que teve uma boa aceitação e gerou certa polêmica na imprensa por ser uma resposta ao materialismo e niilismo que o poeta Jean Richepin imprimiu em Les Blasphèmes [As Blasfêmias] (1884).
Em [Les Pensées de Carita et les Réflexions de Marie (Os Pensamentos de Cáritas e as Reflexões de Maria, lançado em 1888, Faget informa no prefácio se tratar de uma obra mediúnica, sob o ditado de dois Espíritos, que ele recebeu em algumas noites de inverno. No ano seguinte, viria a lume De l'Atome au Firmament [Do Átomo ao Firmamento], uma coleção de poemas patrióticos e filosóficos, contendo cartas lisonjeiras de ninguém menos que Victor Hugo. Log mais em 1897 ele publica L'Art d'être heureux [A Arte de ser feliz], com poemas íntimos e familiares.
Ma chère morte (1913), livro de Laurent de Faget
Traços autobiográficos e reflexões sobre a vida e o pós-morte compunham sua obra derradeira: Ma chère Morte [Minha cara Morte]), concluída pouco antes de sua morte e só publicada postumamente, em 1913.
Desde jovem Faget esteve engajado no movimento espírita, mantendo-se fiel aos preceitos kardecistas em face de uma onda de dissidências e correntes espiritualistas estranhas se infiltrando no Espiritismo. Ele permaneceu aliado aos confrades reconhecidamente seguidores dos ideais de Allan Kardec, tais como Gabriel Delanne, Berthe Fropo, Léon Denis, Henri Sausse e o casal Sophie e Michel Rosen, signatários da União Espírita Francesa (UEF), que faziam frente à Sociedade Anônima Espírita liderada por Pierre-Gaëtan Leymarie, que era acusado de estar consorciado com o roustainguismo promovido por Jean Guérin e com a teosofia de Helena Blavatsky.
O nome de Laurent de Faget apareceu em várias edições do O Espiritismo [Le Spiritisme] — jornal oficial da UEF — fazendo referências às suas obras, suas participações no movimento espírita francês, seus discursos e apresentando vários artigos de sua autoria. Observa-se pelas citações que ele teve um papel atuante em diversas sociedades e participou em vários eventos doutrinários.
Le Spiritisme (O Espiritismo), jornal da União Espírita Francesa
Uma dessas aparições consta na edição da 2ª quinzena de março de 1884, na página 12, na publicação de um protesto oficial da UEF contra a realização do Congresso Espírita Universal de Roma, que estava sendo proposto por Jean Guérin, para se realizar em 1885; o artigo declara solenemente a solidariedade ao Espiritismo e repudia o trabalho de Jean-Baptiste Roustaing, dito caluniador de Allan Kardec; o artigo foi publicado conjuntamente com os protestos dos líderes dos grupos espíritas lioneses, dentre os quais constava: A. de Faget, residente na Place des Pénitents-de-la-Croix n° 8, Lyon.
Na edição da 2ª quinzena de maio de 1888 de O Espiritismo, páginas 110 e 111, temos a publicação de uma correspondência datada de 20 de abril daquele ano, de Henri Sausse à Gabriel Delanne, enaltecendo as qualidades de Laurent de Farget, que tinha sido o primeiro presidente da Sociedade Fraternal de Estudo Científico e Moral do Espiritismo (Société Fraternelle d’Étude Scientifique et Morale du Spiritisme), enquanto teve Sausse como seu vice.
Conforme informado em O Espiritismo de outubro de 1889, página 146, o senhor Laurent de Faget apareceu como um dos secretários do Congresso Espírita e Espiritualista Internacional ocorrido naquele ano. No referido Congresso foi formada uma comissão de propaganda para divulgação dos assuntos ali abordados, onde o Sr. Faget foi eleito para um dos cargos da comissão; seu papel aparece no prefácio da ata desse Congresso: “O Sr. Laurent de Faget irá ler todos os documentos enviados ao Congresso, irá classificá-los para impressão completa, ou efetuará os resumos, trabalho delicado que requer flexibilização e muita sensibilidade. O Sr. Laurent de Faget fará esta contagem conscienciosamente”. A ata também inclui a transcrição do discurso de Laurent de Faget, em 16 de setembro de 1889, do qual extraímos o trecho a seguir, em que exalta a união dos confrades:
De Faget também foi eleito em 1890 presidente da Sociedade do Espiritismo Científico (Société du Spiritisme Scientifique), sediado na Rua Saint-Denis n° 183, em Paris — mesmo endereço que ocupou a União Espírita Francesa em 1887 e 1888.
No mesmo jornal da UEF, agora na edição de novembro de 1890, foi publicado o estatuto da Sociedade do Espiritismo Científico e ainda o discurso de posse do Sr. Faget, como presidente da referida sociedade, na sessão que ocorreu em 7 de outubro daquele ano.
Em junho de 1891 ele e Gabriel Delanne foram admitidos como membros honorários da Sociedade Fraternal para o Estudo e Moral do Espiritismo (Société Fraternelle pour l’Étude et Morale du Spiritisme) da qual o presidente era Henri Sausse e Léon Denis seu presidente de honra.
Em O Espiritismo de maio de 1892, nas páginas 67 a 69, aparece o discurso de Faget — na cerimônia de comemoração do aniversário de morte de Allan Kardec — entre outros discursos, inclusive os de Gabriel Delanne e Henri Sausse.
Na assembleia realizada em Paris a 20 de novembro de 1892, estando reunidos os membros do Comitê de Propaganda, dos Comitês da Sociedade Fraternal Espírita e da Sociedade do Espiritismo Científico, bem como os chefes ou delegados de trinta grupos parisienses, além de um grande número de espíritas conhecidos pela dedicação à doutrina estabelece-se a criação da Federação Espírita Universal (Fédération Spirite Universelle) sendo Laurent Faget eleito seu presidente, com o apoio de Gabriel Delanne e Léon Denis. No Brasil, a revista Reformador, edição de 15 de fevereiro de 1894, também noticia a fundação dessa Federação.
Ele esteve ao lado de Delanne compondo o Comitê de Propaganda da Federação Espírita Universal na sessão extraordinária de 16 de fevereiro daquele ano, quando ali foi tratado de um assunto perturbador: Pierre-Gaëtan Leymarie havia acusado Laurent de Faget — através de uma pessoa conhecida — de haver praticado fraudes na Livraria Espírita, onde havia trabalhado em 1888; confrontado, Faget acusa Leymarie de imputações caluniosas. Por fim, nada foi comprovado contra Faget, que apresentou uma série de documentos que contradiziam as acusações de Leymarie; este, por sua vez, renunciou ao cargo de membro do Comitê de Propaganda, enquanto Laurent de Faget recebe o voto de confiança de todos os membros da assembleia.
1ª edição do jornal Le Progrès Spirite (jan/1895)
Depois da dissolvência da União Espírita Francesa em 1891, os direitos do jornal O Espiritismo foram legados ao seu editor-chefe, Gabriel Delanne, que, por motivos pessoais e por estar impossibilitado de continuar dando ao periódico o devido cuidado, transfere a propriedade do jornal para Arthur d'Anglemont. A partir de outubro de 1893, Faget passa a ser o novo redator chefe da parte espírita e literária daquele jornal, permanecendo assim até dezembro de 1894, quando, por divergências com Sr. d'Anglemont, deixa aquele cargo e um mês depois já lança um jornal próprio: Le Progrès Spirite [O Progresso Espírita]. Os seus esclarecimentos sobre as questões com o proprietário de O Espiritismo foram oferecidos na primeira edição daquele novo jornal, através do artigo denominado ‘Calúnia’:
Durante o seu período de circulação do Le Progrès Spirite — de janeiro de 1895 a 1912 — teve como administrador e redator-chefe Adolphe Laurent de Faget. O periódico foi assumido como o órgão de imprensa oficial da Federação Espírita Universal, como consta até a edição número 8, 2º ano, referente a agosto de 1896; desde então aquela Federação passaria a produzir o seu próprio Boletim (Bulletin de la Fédération Spirite Universelle); tudo isso sem prejuízo para as relações entre as maiores personalidades espíritas, tanto que em 1897 é publicado uma matéria sobre a reorganização do Comitê de Propaganda da mesma Federação Espírita Universal, em que Faget continua como presidente e Gabriel Delanne é o Secretário Geral.
No Le Progrês Spirite número 2 - 4º ano, de 20 de janeiro de 1898 (página 16), é publicado um artigo denominado ‘Processo dos herdeiros da Sra. Allan Kardec – Declaração do Comitê de Propaganda da Federação Espírita Universal’. O texto afirma que o senhor Leymarie era só um comerciante e não fazia parte de nenhuma sociedade espírita. O artigo faz críticas ao uso dos recursos pela antiga Sociedade Anônima Espírita, que não teriam sido utilizados para a propagação da Doutrina Espírita e que o patrimônio recebido pela sociedade oriundos da Senhora Kardec (Amélie Gabrielle Boudet) poderiam retornar aos herdeiros.
O prestígio de Laurent de Faget entre os confrades permanece inabalado; em 1900 ele é instituído presidente do Comitê de Propaganda para a organização do Congresso Espírita e Espiritualista Internacional, em Paris. Seu posicionamento firme e autêntico de fiel kardecista também ficou registrado no Le Progrès Spirite de número 4, de abril de 1909, em que se encontra o artigo ‘O Cristo e a Igreja (‘Le Christ et l’Église)’ pelo qual podemos conhecer sua opinião sobre as teorias de J.-B. Roustaing (veja também seu livro Ma chère Morte - capítulo XXXIII) referente ao corpo fluídico de Jesus, do qual retiramos apenas um pequeno trecho:
Faget também acompanhou e registrou diversas vezes em seu periódico o desenvolvimento do Movimento Espírita no Brasil. Na primeira edição de 1900, por exemplo, ele fica exultado com a publicação intitulada Revista Espírita de Porto-Alegre celebrando o aniversário de nascimento de Allan Kardec, pelo que vai dizer:
Já na edição de n° 10, 18° ano, publicada em outubro de 1912, ele vai destacar o relato de Leopoldo Cirne, então presidente da Federação Espírita Brasileira, sobre a situação do Espiritismo em terras brasileiras, segundo o qual ainda estava na sua infância, justificando assim: “(...) a extensão territorial e a lentidão das comunicações marítimas e terrestres ainda representam obstáculos, e não menos importante, ao desenvolvimento e intensidade desta obra, em especial à realização de grandes congressos nacionais nesta capital, devendo os delegados fazer longas e caras viagens para aí se chegar.”
Anunciando a morte de Laurent de Faget (13 de dezembro de 1912), então com seus 66 anos de idade, seu confrade e amigo Gabriel Delanne publicou um artigo na Revista Científica e Moral do Espiritismo (Revue scientifique et morale du spiritisme), em que diz:
A amizade de que gozava dos grandes personagens espíritas de seu tempo é uma prova que se soma aos registros de suas obras — livros que escreveu, revistas que dirigiu, artigos que publicou — para figurar seu nome na galeria dos mais fiéis seguidores de Allan Kardec, em defesa e na propagação dos postulados da Doutrina Espírita.
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