O Livro dos Médiuns, cujo subtítulo é Guia dos médiuns e dos evocadores, do original em francês: Le Livre des Médiums ou guide des médiums et des évocateurs, escrito por Allan Kardec e originalmente publicado em Paris, em 15 de janeiro de 1861, é a segunda obra básica da chamada codificação do Espiritismo, constituindo-se o manual prático da mediunidade conforme os ensinamentos da Doutrina Espírita, definido como a sequência de O Livro dos Espíritos. Seu conteúdo foi revisado e sancionado pelos Espíritos mentores da Revelação Espírita, que também contribuíram com a composição desta obra em diversos diálogos e dissertações, como complemento do desenvolvimento dos conceitos acerca dos vários temas nele estudados. Além de visar o esclarecimento individual, no sentido de fornecer instruções sobre como desenvolver, aperfeiçoar e aplicar as próprias faculdades mediúnicas, este livro objetiva ainda estimular o exercício prático e disciplinado do Espiritismo experimental mediante orientações sobre a formação de grupos espíritas, partindo do modelo das atividades da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, da qual o livro reproduz o estatuto. O sucesso da publicação levou seu autor a empreender nove reimpressões, multiplicando-se através de seus sucessores, inclusive nas versões traduzidas para vários idiomas, refletindo sua aceitação e importância para o movimento espírita.
O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores traz na sua folha de rosto a designação do gênero do seu conteúdo: “Espiritismo experimental”, como sequência natural da obra inaugura do Espiritismo: O Livro dos Espíritos, que é classificado como “Filosofia Espiritualista”. Enquanto o primeiro livro cuida da teoria doutrinária, explicando os conceitos fundamentais da nova doutrina, o livro seguinte cuida do lado prático, ou seja, da mediunidade aplicada conforme as instruções dos Espíritos superiores.
À visto disso é que a folha de rosto também traz a seguinte epígrafe:
CONTENDO O ENSINAMENTO ESPECIAL DOS ESPÍRITOS SOBRE A TEORIA DE TODOS OS GÊNEROS DE MANIFESTAÇÕES, OS MEIOS DE SE COMUNICAR COM O MUNDO INVISÍVEL, O DESENVOLVIMENTO DA MEDIUNIDADE, AS DIFICULDADES E OS PERIGOS QUE SE PODE ENCONTRAR NA PRÁTICA DO ESPIRITISMO
A primeira razão de ser de O Livro dos Médiuns está no fundamento da comunicabilidade espiritual; por haver Espíritos e por eles poderem interagir no nosso ambiente físico, justifica-se o estudo sério e sistematizado desse intercâmbio. Com efeito, o surto de mediunidade que acometeu os grandes centros urbanos do século XIX — uma verdadeira “invasão organizada de Espíritos”, na interpretação de Arthur Conan Doyle — resultou na febre das Mesas Girantes e no movimento conhecido como Espiritualismo Moderno, que foram os precursores da Doutrina Espírita, inaugurada com o lançamento de O Livro dos Espíritos em 18 de abril de 1857. Com o crescente interesse popular em relação aos fenômenos espirituais e com a boa aceitação da obra kardequiana, surgiu uma grande demanda para uma obra que fornecesse orientações práticas e seguras sobre como o exercício mediúnico.
Embora na primeira edição de O Livro dos Espíritos já constasse um capítulo com uma breve apresentação dos fenômenos mediúnicos — ‘Manifestações dos Espíritos’, capítulo X do Livro Primeiro — a importância e complexidade do tema requeria novos e mais profundos desenvolvimentos, tanto é que seu autor já anunciava no Epílogo daquela primeira obra que um suplemento a respeito desse tema seria publicado em breve. Esta futura obra viria também para acompanhar as pesquisas subsequentes efetuadas pelo pioneiro espírita, que, para tanto, acabou fundando um centro apropriado e regularmente instituído sob o título de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, então formalizada em 1 de janeiro de abril de 1858. Além das experiências pessoais na SPEE, Kardec também se valeria da correspondência com outros tantos estudiosos espíritas e grupos mediúnicos, no interior da França e no exterior, que logo reconheceram nele a liderança do movimento espírita, especialmente depois do lançamento da Revista Espírita, em 1 de janeiro daquele mesmo ano de 1858.
Portanto, o manual prático da mediunidade já estava amadurecendo.
A partir daquele resumo temático contido no capítulo X de O Livro dos Espíritos, o codificador espírita elaborou uma exposição mais detalhada sobre o assunto e a publicou em forma de opúsculo, já no ano de 1858, sob o título Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas (no original, em francês: Instruction Pratique sur les Manifestations Spirites). Em sua Introdução, o autor explica o porquê daquela composição:
Exemplar original de Instrução Prática, Allan Kardec
O opúsculo foi um sucesso, esgotando-se rapidamente. Consequentemente, vieram os apelos por uma nova reimpressão; contudo, ao invés de reeditar o opúsculo, o mestre espírita anuncia na Revista Espírita sua deliberação a respeito:
Ou seja, estava por vir algo ainda mais bem elaborado, mais completo e atualizado sobre as experiencias mediúnicas.
Como parte da estratégia de elaboração da codificação espírita, visando tratar dos assuntos principais em obras específicas, Allan Kardec já estava trabalhando na edição atualizada de O Livro dos Espíritos quando ele então suprimiu aquele capítulo ‘Manifestações dos Espíritos’, justamente para melhor destinar o estudo da mediunidade para uma obra especial. Com efeito, ao publicar a edição revisada do primeiro livro espírita, em 1860, ele inseriu nela numa nota justificando esta providência:
Exemplar original de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec
Finalmente, a referida obra complementar — que Kardec pensou inicialmente nomear como “Espiritismo Experimental” e que estava programada para ser lançada no finalzinho daquele ano de 1860 — acabou ficando para o ano seguinte, recebendo o nome que conhecemos: O Livro dos Médiuns, subintitulada Guia dos Médiuns e dos Evocadores; seu anúncio foi feito no fascículo de janeiro de 1861 da Revista Espírita, que a previu disponível à venda ao público entre os dias 5 e 10 daquele mês, mas que foi oficialmente veio à lume no dia 15, simultaneamente na livraria do seu editor, Pierre-Paul Didier, e no escritório do autor, na famosa Passagem 59 da Rua Sainte-Anne. Descrevendo o processo de composição daquele novo trabalho, expressou-se assim:
A tiragem foi de 2 mil exemplares — o que era muito para os padrões da época, devido aos altos custos de produção.
O primeiro efeito deste lançamento foi, obviamente, a multiplicação de grupos interessados em pesquisas espíritas, como Kardec assinalou na sua revista, edição do mês seguinte ao daquele lançamento (artigo ‘Escassez de médiuns’). Foi um sucesso, claro! Tanto que em março seguinte já se pensava numa reimpressão, uma vez que vinham pedidos de toda parte, como Kardec anotou: “da Rússia, da Alemanha, da Itália, da Inglaterra, da Espanha, dos Estados Unidos, do México, do Brasil etc.” (artigo ‘O homenzinho ainda vive’). A reedição viria em novembro daquele mesmo 1861.
Uma boa métrica para a repercussão do livro é a correspondência recebida pelo autor, da qual podemos destacar a carta de um conde italiano, datada de 2 de março de 1861, donde extraímos o seguinte:
Com a rápida vendagem da primeira tiragem e os pedidos fervilhando, uma reimpressão fazia-se urgente. Todavia, como os estudos e pesquisas não paravam, o autor julgou por bem reeditar o conteúdo original para acrescentar novos desenvolvimentos, formatando assim uma edição substancialmente aumentada, conforme ele mesmo anuncia na sua revista referente ao mês de novembro de 1861:
No mesmo artigo, Kardec aditou que sua obra foi submetida à apreciação dos amigos espirituais, que a revisaram inteiramente e ajudaram com “numerosas observações do mais alto interesse”, de maneira que se poderia dizer que a autoria do livro era tanto de Kardec quanto dos Espíritos. E ele completa dizendo:
A edição revisada foi anunciada já no mesmo periódico kardecista de dezembro de 1861, mas é bem provável que tenha sido lançada só em janeiro do ano seguinte, já que a folha de rosto da nova edição assinala o ano de 1862.
Até a sua desencarnação em 31 de março de 1869, Kardec reeditou O Livro dos Médiuns até a 10ª edição, somando um total de 16 mil impressões dessa obra. Convém observarmos que, embora cada reimpressão fosse registrada como uma nova edição e que cada nova edição fosse renumerada, o conteúdo do livro permaneceu o mesmo daquela revisão feita na 2ª edição, constituindo assim o texto definitivo da obra.
A base do Guia dos Médiuns e dos Evocadores vem das obras precedentes: do já mencionado capítulo X: ‘Manifestações dos Espíritos’ da edição original de O Livro dos Espíritos, do opúsculo Instrução Prática e de vários artigos da Revista Espírita (de 1858 a 1860); estima-se que aí temos um terço de O Livro dos Médiuns; o restante é oriundo de desenvolvimentos novos do seu autor.
Allan Kardec
O laboratório de Kardec para a sua pesquisa mediúnica foi principalmente a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), fundada e presidida por ele; depois, as sessões particulares com inúmeros médiuns, além da correspondência com grupos espíritas de todas as partes do mundo, que muitas vezes acabavam sendo publicadas na Revista Espírita, ocasião em frequentemente Kardec citava o médium (ou pelo menos as iniciais do seu nome) dando-nos a conhecê-los, já que seus nomes são omitidos nos livros.
Com isso, sabemos de alguns médiuns que emprestaram suas faculdades psíquicas para a composição do livro em questão: Alis d’Ambel, Sra. Costel, Sr. Darcol, Sr. Roze), Sra. Schmidt e a Sra. Schutz; possivelmente a Srta. Huet e a Srta. Japhet também tiveram alguma participação nas comunicações aproveitadas na obra.
Dos Espíritos colaboradores, os mais atuantes foram são Luís (patrono da SPEE), Erasto (discípulo de são Paulo), Sócrates e O Espírito de Verdade. Além disso, são reproduzidas comunicações assinadas por: Timóteo, santo Agostinho, são Bento, santo Afonso, Jeannet, Lamennais, são Vicente de Paulo, Joana d'Arc, Fénelon, Pascal, Jean-Jacques Rousseau, Chateaubriand (François-René, Visconde de Chateaubriand), Delfina de Girardin, Pierre Jouty, Pierre François Mathieu, William Ellery Channing, Jorge (Louis Henri Georgè) (Espírito familiar) e Massillon (Jean-Baptiste Massillon). Ademais, é dada como certa a autoria do Cristo numa determinada comunicação, pelo teor e pela linguagem aplicada na dissertação, mas cuja assinatura foi omitida por Kardec, pelas razões seguintes:
Interessante observar que em O Evangelho segundo o Espiritismo, também de Allan Kardec, encontramos no capítulo VI, item 5, uma comunicação intitulada “Advento do Espírito de Verdade” semelhante a esta referida dissertação, salvo algumas pequenas modificações, e desta vez assinada por O Espírito de Verdade, então recebida em Paris e datada de 1860. Essa reprodução endossa a ideia de que Kardec continuou acreditando na autenticidade desta mensagem atribuída a Jesus de Nazaré, e ainda reforça a tese de que o próprio Cristo seja a entidade que normalmente assina como Espírito de Verdade (ou simplesmente Espírito Verdade), já que a referida mensagem reproduzida neste outro livro recebeu tal assinatura.
Embora se dedique principalmente aos temas ligados à prática mediúnica, O Livro dos Médiuns é, em suma, uma obra doutrinária do Espiritismo, em complemento a O Livro dos Espíritos; portanto, também envolve questões doutrinárias em geral, especialmente conceitos morais (por exemplo, a forma correta de usar os recursos medianímicos). Com relação aos temas mais específicos, basicamente ele objetiva:
A obra é estruturada da seguinte forma: Introdução, 1ª parte: Noções preliminares e 2ª parte: Manifestações espíritas. Vejamos a síntese de cada uma dessas três seções:
Introdução: faz a apresentação da obra, descrevendo a motivação de sua publicação: “Um desejo muito natural, entre os que se ocupam com o espiritismo, é o de poder entrar em comunicação com os Espíritos; é para lhes aplainar o caminho que esta obra está destinada, fazendo-os tirar proveito do fruto dos nossos longos e laboriosos estudos, pois disso faria uma ideia muito falsa se alguém pensasse que, para ser especialista nessa matéria, bastasse saber colocar os dedos sobre uma mesa para fazê-la se mover, ou pegar um lápis para escrever.” Aqui também o autor explica outras deliberações tomadas para sua publicação, por exemplo, a descontinuação do livreto Instrução Prática, a supressão do capítulo sobre a Escala Espírita e a redução dos termos do Vocabulário Espírita, a partir da edição revisada (2ª edição, 1862);
1ª parte: NOÇÕES PRELIMINARES: antes de cuidar das questões práticas da mediunidade, Kardec desenvolve em quatro capítulos algumas questões filosóficas referentes ao tema, por exemplo: a realidade existencial dos Espíritos (cap. I) e a naturalidade de suas manifestações no nosso mundo, rompendo em absoluto com qualquer ideia de sobrenatural e misticismo (cap. II), além de explicar a metodologia utilizada no trato com os fenômenos, valendo-se dos princípios comuns das ciências e valorizando o estudo teórico antes do exercício das faculdades psíquicas, donde dirá: “O estudo prévio da teoria tem outra vantagem: mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e o alcance dessa ciência. Aquele que começa vendo uma mesa girar ou bater fica mais inclinado ao divertimento, pois dificilmente imaginará que de uma mesa possa sair uma doutrina regeneradora da humanidade” (cap. III). E então refuta as teorias de seu tempo que teimavam em negar ou subverter o entendimento sobre as manifestações mediúnicas (cap. IV);
2ª parte: MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS: finalmente o autor se debruça sobre os fatos, explicando o processo dos mais variados tipos de fenômenos (cap. I), dividindo-os didaticamente entre manifestações de efeitos físicos (cap. II) e de efeitos inteligentes (cap. III), destacando os seus principais gêneros, por exemplo: manifestações visuais (cap. VI), de tiptologia (cap. XI), de pneumatologia (cap. XII) e — as mais requeridas — de psicografia (XIII). Também estuda detalhadamente o papel dos médiuns, suas variadas faculdades mediúnicas (cap. XIV), suas responsabilidades no exercício do seu mediunato (cap. XIX e XX) e inclusive orienta como desenvolver e disciplinar os dons mediúnicos (cap. XVII). Kardec não deixa de falar dos inconvenientes possíveis da mediunidade, enfatizando o problema das obsessões a que os médiuns descuidados estão fortemente sujeitos (cap. XXIII). Depois instrui sobre como identificar os Espíritos (cap. XXIV), como efetuar as evocações (cap. XXV) e como dialogar com os Espíritos (cap. XXVI), alertando ainda sobre o grave problema das mistificações, fraudes e charlatanismo (cap. XXVII e XXVIII). Fornece valiosas instruções sobre como organizar os grupos mediúnicos (cap. XXIX), tomando como base a SPEE, da qual reproduz o regulamento, a título de exemplo para as demais (cap. XXX). Nos capítulos finais, ele transcreve importantes dissertações que ratificam os conceitos contidos na obra e, finalmente, oferece um pequeno dicionário explicando a terminologia ali utilizada.
Na dissertação ‘O Livro dos Médiuns: origem dos textos e evolução da obra’, os estudiosos espíritas Luciana Farias e Luís Jorge Lira Neto apresentam uma interessante ideia sobre estruturação do livro em destaque, dividindo-o em cinco segmentos básicos:
Esta obra foi traduzida para diversos idiomas, com destaque para a versão espanhola de 1872, lançada pela Sociedad Barcelonesa Propagadora del Espiritismo (El Libro de los Médiums), e a versão inglesa de 1876, traduzida por Anna Blackwell (The Medium’s Book). A sua primeira edição no vernáculo português é datada de 1875 e foi traduzida a partir da 12ª edição francesa por Joaquim Carlos Travassos, que adotou o pseudônimo de Fortúnio, e foi publicada por intermédio da Editora B. L. Garnier.
Outras importantes traduções brasileiras foram empreendidas por Guillon Ribeiro (por muito tempo adotada a tradução oficial da Federação Espírita Brasileira), Salvador Gentile (IDE - Instituto de Difusão Espírita), José Herculano Pires (LAKE- Livraria Allan Kardec Editora), Evandro Noleto Bezerra (FEB). A adaptação subintitulada Numa Linguagem Simplificada, de Louis Neilmoris, propôs uma versão para um contexto linguístico mais moderno e de maior alcance popular.
Por padrão, mas não por exclusivismo, o Portal Luz Espírita adota e distribui livremente uma edição própria, traduzida por Ery Lopes, edição essa que dispensa os direitos autorais.
Esta obra trata principalmente de duas potências naturais que, embora muitas vezes sejam colocadas como sinônimos, apresentam uma distinção básica necessariamente aplicável em determinadas circunstâncias: medianimidade e mediunidade. No capítulo XXXII: Vocabulário Espírita, Kardec descreve “Medianimidade” da seguinte forma: “Faculdade dos médiuns. Sinônimo de mediunidade. Estas duas palavras muitas vezes são empregadas indiferentemente; se quiséssemos fazer uma distinção, poderíamos dizer que mediunidade tem um sentido mais amplo e medianimidade um sentido mais restrito.” E quando vem a vez do vocábulo “Mediunidade”, ele remete o leitor à “Medianimidade”, porque a definição seria a mesma, sendo aplicada ao vocábulo que aparece primeiro, seguindo a ordem alfabética.
Uma circunstância necessária em que se faz distinção dessas duas potências é quando se define medianimidade como sendo uma capacidade própria da alma (animus, em latim) do encarnado em estado de emancipação da alma e, por outro lado, mediunidade é definida como uma capacidade de interação da alma emancipada (do médium) com um Espírito, que então utiliza este médium como seu instrumento de manifestação. Nesse sentido, Kardec vai pegar o sonâmbulo com exemplo de medianimidade, ao dizer que: “O sonambulismo pode ser considerado uma variedade da faculdade medianímica [...] O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que nos momentos de emancipação vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos; o que ele expressa ele tira de si mesmo [...] O médium, ao contrário, é o instrumento de uma inteligência exterior; é passivo, e o que diz não vem de si. Em resumo, o sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento e o médium exprime o pensamento de outrem.” (2ª parte, cap. XIV, item 172). Esta definição kardequiana para medianimidade é a que posteriormente estudiosos como Alexandre Aksakof vão adotar para o termo Animismo.
Em Instrução Prática, em vez do termo medianimidade o autor usou mediatriz, correspondente ao original mediatrice em francês.
O Livro dos Médiuns apresenta um quadro didático classificando os diversos tipos de médiuns, de acordo com as suas capacidades mediúnicas; a propósito disso, o Espírito de Sócrates vai dizer que, ao lado da tabela da Escala Espírita, temos aí um resumo ilustrativo da doutrina kardecista:
Aliás, constava na primeira versão do livro um capítulo sobre a Escala Espírita (cap. VI da 1ª parte), sendo suprimido na edição revisada porque — conforme explica Kardec na Introdução da 2ª edição — esta escala podia ser encontrada em O Livros dos Espíritos, do qual o Guia dos Médiuns é o complemento.
Na edição revisada, o Vocabulário Espírita foi substancialmente enxugado: de 90 páginas com 162 verbetes para 3 páginas e 25 verbetes, sendo 3 novos; além disso, ele foi transportado para o final da 2ª parte da obra. Quanto a isso, o autor justifica na Introdução: “Suprimimos ainda do vocabulário o que não se refere propriamente a esta obra (...). Esse vocabulário, aliás, não está completo (...). Conservamos nesta obra, tão somente, as palavras novas ou específicas, relativas ao assunto de que nos ocupamos.”
Sendo a medianimidade o principal instrumento de estudo e pesquisa da Doutrina Espírita, e sendo o médium uma parte crucial do que poderíamos chamar de mão de obra do Espiritismo experimental, então O Livro dos Médiuns assume um papel essencial para o desenvolvimento da doutrina kardecista e para uma melhor experiencia para o diálogo com os Espíritos, visando o progresso espiritual de todos. Não obstante essa objetivação primordial muito específica — tratar da mediunidade — é preciso enxergar essa obra também como um desenvolvimento doutrinário mais generalizado, que por vezes abrange diversos outros conceitos do Espiritismo, justificando a definição kardequiana de que este trabalho constitui a continuação de O Livro dos Espíritos.
O grande filósofo espírita José Herculano Pires, na explicação para a sua tradução deste livro editada pela LAKE, exprime suas impressões quanto à importância de O Livro dos Médiuns para humanidade:
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