Pneumatografia (do grego pneuma: sopro, Espírito + graphein: escrito, descrição, estudo), também chamada de Escrita Direta, é uma variedade de fenômeno mediúnico, da classe de manifestação de efeitos físicos, em que um Espírito se expressa diretamente através de uma representação gráfica (texto ou imagem) sem o auxílio efetivo do médium tal como no caso da psicografia. Pela pneumatografia, a mensagem escrita (num papel, na parede, numa superfície qualquer) surge extraordinariamente, pelo mecanismo fluídico. Essa categoria de manifestação foi estudada e descrita por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, capítulo XII, que observa ainda tratar-se de um fenômeno raro e facilmente explorado por charlatões, que simulam capacidades mediúnicas; porém, os autênticos fenômenos de pneumatografia constituem uma extraordinária evidência da Revelação Espírita.
Mecanismo do pneumatografia
O tipo de manifestação espiritual por escrito mais comum é o da psicografia, pelo qual os Espíritos comunicantes utilizam-se fisicamente da mão do médium que — consciente, parcialmente consciente ou totalmente sem consciência desta influência espiritual — materializa graficamente as mensagens do além. Neste caso, o médium é um instrumento efetivo na produção desta manifestação. Contudo, a pesquisa espírita tem constatado a ocorrência de uma escrita direta, pela ação direta de Espíritos, sem a necessidade de se servir do médium como instrumento desta escrita, tal como no caso de pneumatografia.
“A escrita direta, ou pneumatografia, é aquela que se produz espontaneamente, sem a ajuda nem da mão do médium nem do lápis. Basta pegar uma folha de papel em branco — o que se pode fazer com todas as precauções necessárias para se certificar de não ser enganado por nenhuma fraude —, dobrá-la e depositá-la em algum lugar, numa gaveta ou simplesmente sobre um móvel, e se tudo estiver nas devidas condições, ao fim de um período mais ou menos longo se encontrarão traçados no papel: letras, sinais diversos, palavras, frases e até dissertações, muitas vezes com uma substância acinzentada igual a grafite, e doutras vezes com lápis vermelho, tinta comum e até tinta de imprimir.”
O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - 2ª parte, cap. VIII, item 127
No fenômeno de pneumatografia, portanto, os Espíritos agem diretamente sobre a matéria, manipulando-a conforme suas necessidades a fim de produzir a escrita direta.
"Nessa escrita, o Espírito não se serve das nossas substâncias, nem dos nossos instrumentos; ele mesmo fabrica a matéria e os instrumentos de que precisa, pegando esses materiais no elemento primitivo universal que, pela sua vontade, ele faz passar pelas modificações necessárias para produzir o efeito que deseja. Portanto, ele pode muito bem fabricar tanto o lápis vermelho, a tinta de imprimir ou a tinta comum, assim como o lápis preto, ou até caracteres tipográficos bastante resistentes para dar um relevo à impressão, conforme temos visto alguns exemplos."
O Livro dos Médiuns- 2ª parte, cap. XII, item 148
Utilidade da Escrita Direta
Allan Kardec anota que, até pela própria dificuldade do mecanismo de produção deste fenômeno, as ocorrências de pneumatografia limitam-se geralmente a comunicações bastante curtas, mesmo restritas a algumas palavras, inclusive algumas ininteligíveis.
Essa expressão extraordinária, porém, tem sua razão de ser, a exemplo de todas as variedades de manifestações físicas: evidenciar a espiritualidade. Diz o codificador espírita que: “Considerando a escrita direta do ponto de vista das vantagens que possa oferecer, diremos que, até o presente, sua principal utilidade foi a comprovação material de um fato sério: a intervenção de um poder oculto que, nesse fenômeno, tem mais um meio de se manifestar.” (O Livro dos Médiuns - 2ª parte, cap. XII, item 149)
Todavia, como ocorre com tudo que é desconhecido e causa uma forte impressão, a excentricidade dessa manifestação muitas vezes mais assusta e provoca desconfiança do que mesmo convencimento. Pelo seu efeito espetacular, a imitação da pneumatografia não tardou para ser ensejo de embustes mediante ardilosos artifícios, como Kardec denunciou:
“Na primeira revelação desse fenômeno, a impressão dominante foi a da dúvida; a ideia de uma mistificação veio logo ao pensamento. De fato, todo mundo conhece a ação das tintas chamadas simpáticas, cujos traços, a princípio completamente invisíveis, aparecem ao fim de algum tempo. Podia ser então que alguém tivesse abusado da credulidade, e nós não afirmaríamos que isso nunca tenha acontecido; estamos até convencidos de que algumas pessoas — seja com um objetivo mercenário, seja apenas por orgulho e para fazer acreditar nas suas capacidades — têm empregado trapaças.”
O Livro dos Médiuns - 2ª parte, cap. XII, item 146
E complementa que, pelo fato de haver flagrantes fraudes, não se pode ignorar os autênticos fenômenos, especialmente quando já se tem condições de compreender seu mecanismo, que é absolutamente natural e nada tem de místico ou sobrenatural:
“O fenômeno da escrita direta é sem contradição um dos mais extraordinários do espiritismo; mas, por mais anormal que pareça à primeira vista, ele hoje é um fato averiguado e incontestável. Se a teoria é necessária para nos inteirarmos da possibilidade dos fenômenos espíritas em geral, ela talvez seja ainda mais necessária neste caso — que é, incontestavelmente, um dos mais estranhos que se possam apresentar, mas que deixa de parecer sobrenatural desde que se compreenda o seu princípio.”
Idem - 2ª parte, cap. XII, item 146
Interessante observar que, quanto à classificação desse tipo de fenômeno, Allan Kardec a princípio resistia em considerá-lo puramente como uma variedade da classe das manifestações de efeitos físicos, uma vez que esta é uma via para a transmissão de uma mensagem inteligente, pois, ainda que fosse raro, a escrita direta poderia compor uma comunicação tão edificante quanto a mediunidade de psicografia, como vemos na seguinte nota escrita pelo codificador:
“Os Espíritos insistiram, contra nossa opinião, em classificar a escrita direta entre os fenômenos de ordem física, pela razão de que, disseram eles: ‘Os efeitos inteligentes são aqueles pelos quais o Espírito se serve dos materiais cerebrais do médium, o que não é o caso da escrita direta; a ação do médium aqui é toda material, enquanto no médium escrevente, ainda que completamente mecânico, o cérebro desempenha sempre um papel ativo’.”
Idem - 2ª parte, cap. XVI, item 189
Disto se pode deduzir que os Espíritos que se utilizam de médiuns pneumatógrafos ao invés de psicógrafos o fazem quando a intenção da manifestação é mais do que simplesmente transmitir um texto: é igualmente para causar forte impressão.
Mediunidade de pneumatografia
Compreende-se que o papel do médium na produção da pneumatografia, bem como nos demais fenômenos espirituais de efeitos físicos, é de fornecer os fluidos necessários para que os Espíritos possam utilizá-los na manipulação da matéria e assim obter as inscrições diretas, podendo essa concessão fluídica ser ou não consciente e intencional.
Dentro da classificação dos médiuns, Kardec assim descreveu o pneumatógrafo:
“Dá-se este nome aos médiuns aptos a obter a escrita direta, o que não é dado a todos os médiuns escreventes. Até o presente momento, essa faculdade é bastante rara; ela se desenvolve provavelmente pelo exercício, mas, como dissemos, sua utilidade prática se limita a uma constatação patente da intervenção de uma força oculta nas manifestações. Só a experiência pode mostrar se pessoa a possui; pode-se então experimentar, como também, a respeito disso, perguntar a um Espírito protetor, por outros meios de comunicação. Conforme seja maior ou menor o poder do médium, obtêm-se simples traços, sinais, letras, palavras, frases e até páginas inteiras. Basta normalmente colocar uma folha de papel dobrada num lugar qualquer ou indicado pelo Espírito, durante dez ou quinze minutos, às vezes mais. A prece e o recolhimento são condições essenciais; é por isso que podemos considerar impossível se obter alguma coisa numa reunião de pessoas pouco sérias ou não animadas de sentimentos simpáticos e benevolentes.”
O Livro dos Médiuns - 2ª parte, cap. XIV, item 177
Eventos clássicos de pneumatografia e o barão de Guldenstubbé
A História registra vários exemplos clássicos de escrita direta. O Decálogo (Dez Mandamentos), conforme descrito nas escrituras bíblicas, foi inscrito em duas tábuas de pedras e entregue a Moisés. A Bíblia, no capítulo 5 do livro de Daniel, também narra outro episódio fantástico, em que dedos de uma mão de homem materializaram-se diante de Baltazar (rei dos caldeus) e dos seus súditos, com quem partilhava um festim, e estes dedos grafaram uma mensagem numa das paredes do seu palácio, mensagem esse que apenas o profeta judeu Daniel pôde decifrar.
Kardec assinalou que tais fenômenos eram conhecidos na Idade Média, não obstante sua divulgação fosse reprimida pelas fogueiras da Inquisição. Ressaltou ainda o apanhado sobre os fenômenos dessa natureza feito pelo Barão de Guldenstubbé e publicados no livro La realité des Esprits et de leurs manifestations, démontrée par le phénomène de l'écriture directe [A realidade dos Espíritos e de suas manifestações demonstradas pelo fenômeno de escrita direta] de 1857.
Escrita Direta obtida pelo Barão de Guldenstubbé
Gabriel Delanne, em sua obra O Fenômeno Espírita, capítulo III, destaca que, além do barão de Guldenstubbé (1820-1873), célebres pesquisadores da fenomenologia espiritualista atestaram várias incidências na Era Moderna de manifestações de escrita direta, dentre os quais o biólogo inglês Alfred Russel Wallace (1823-1866) e o astrônomo e físico alemão Friedrich Zöllner (1834-1882). No seu referido livro, Delanne assim transcreve os relatos do barão de Guldenstubbé:
“Em um belo dia (1 de agosto de 1856), veio-lhe o pensamento de experimentar se os Espíritos podiam escrever diretamente, sem o auxílio de um médium. Conhecendo a escrita direta misteriosa do Decálogo, segundo Moisés, a escrita igualmente direta e misteriosa na sala do festim do Rei Baltasar, segundo Daniel, e tendo também ouvido falar dos mistérios modernos de Strattford, na América, onde se acharam certos caracteres ilegíveis e estranhos traçados num pedaço de papel e que não pareciam provir dos médiuns; o autor quis certificar-se da realidade de um fenômeno cujo alcance seria imenso, se fosse verdadeiro.
“Colocou, portanto, uma folha de papel em branco e um lápis aparado dentro de uma caixinha fechada a chave, guardando sempre essa chave consigo e a ninguém dando parte da sua experiência. Durante doze dias esperou inutilmente, sem observar o menor traço de lápis no papel; mas, a 13 de agosto de 1856, o seu espanto foi grande quando notou certos caracteres misteriosos no papel; apenas sucedeu tal fato, ele repetiu por dez vezes a experiência no mesmo dia, para sempre memorável, colocando, no fim de cada meia hora, uma nova folha de papel em branco na caixinha. A experiência foi coroada de êxito completo.
“No dia imediato, 14 de agosto, fez de novo umas vinte experiências, deixando a caixinha aberta e não a perdendo de vista; viu, então, que caracteres e palavras na língua Estônia formavam-se ou eram gravados no papel, sem que o lápis se movesse. Desde então, vendo a inutilidade do lápis, cessou de pô-lo sobre o papel; e, colocando simplesmente uma folha de papel dentro de uma gaveta, em sua casa, obteve também comunicações.”
O Fenômeno Espírita, Gabriel Delanne - Cap. III
De fato, a pesquisa de Guldenstubbé — publicada em La réalité dês Esprits et de leurs manifestations, démontrée par le phénomène de l’écriture directe, inclusive, enriquecida com muitas imagens — tornou-se referência para o fenômeno de escrita direta.
Barão de Guldenstubbé (1820-1873)
Veja também
Referências
- O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - Ebook.
- O Fenômeno Espírita, Gabriel Delanne - Ebook.
- La réalité dês Esprits et de leurs manifestations, démontrée par le phénomène de l'écriture directe, Barão de Guldenstubbé - Gallica.