Talismã é um objeto que, segundo as crenças místicas, é dotado de propriedades mágicas que concedem ao seu portador algum tipo de poder, proteção pessoal, sorte, capacidade especial etc. O uso de talismãs popularizou-se na Era Medieval e se incorporou a algumas práticas espiritualistas modernas, especialmente a partir da ficção literária em torno de elementos clássicos da magia e feitiçaria, também oriundos de tradições religiosas que cultuam uma liturgia ritualística. A Doutrina Espírita, por sua vez, refuta francamente a validade prática de tais ideias primitivas, classificando a crença nos talismãs como um elemento típico de um misticismo arcaico e irracional da fé cega, em contrapartida aos valores que realmente influenciam na nossa vida efetiva, que são as virtudes morais.
A palavra talismã vem do francês talisman, do árabe tilism (طلسم, plural طلاسم talassim), que vem do grego antigo telesma (τέλεσμα), significando “consagração, rito religioso, oferenda”, e do verbo teleō (τελέω), “concluo, faço um ritual”. Nesse sentido, o talismã representa a concretização de um ato litúrgico, uma espécie de comprovante de que um determinado sacramento foi devidamente cumprido e que, por isso, aquele que o porta de alguma forma exibe que cumpriu tal ritual e então fica à espera de algum benefício místico justamente por consequência do rito concluído.
Sua origem remonta aos primórdios da civilização; elementos desse gênero são fartos em achados dos povos antigos, como na Mesopotâmia e o Egito Antigo. Na Idade Média, inclusive no seio das tradições cristãs, a crença nos talismãs tornou-se bastante popular sob a ideia de que sua confecção pudesse ser associada a um pedido particular, por exemplo: sucesso numa empreitada militar, sabedoria para tomar uma determinada decisão, arranjar um bom casamento, imunidade contra doenças, sorte num jogo etc.
Os talismãs também representavam uma forma de demonstrar uma devoção especial a algo (uma erva ou um fruto medicinal; um símbolo, tal qual a cruz cristã etc.) ou alguém (Jesus, Maria, um santo protetor etc.).
Uma variação muita difundida de um talismã é o amuleto, cujo significado mais específico é o de oferecer uma anulação de um feitiço; portanto, os amuletos são elementos tradicionalmente mais passivos, como um sistema de defesa, bloqueio contra um ataque de magia.
Na Era Moderna, algumas crenças espiritualistas incorporaram o uso de talismãs para fins diversos, dentre os quais, principalmente, para a proteção contra obsessões espirituais. Nesse contexto, certas crenças atribuem um poder especial a alguns elementos materiais (por exemplo, determinadas pedras) supostamente em virtude de algum tipo de magnetismo físico que pudesse influir contra a presença de Espírito impregnados de fluidos com uma vibração negativa.
Um exemplo clássico de talismãs é a cruz-medalha de São Bento (480 - 547), redescoberta em 1647 na Baviera, por ocasião de uma campanha de caça às bruxas na Alemanha; desde então, a peça foi amplamente comercializada como artigo de proteção especial contra a obsessão espiritual.
A Revelação Espírita contesta muito claramente a ideia mística da crença nos talismãs, demonstrando com racionalidade a falta de lógica de tais elementos através do princípio básico da separação entre a natureza material e a natureza espiritual e moral das coisas.
Essa questão foi tratada de frente por Allan Kardec no seu trabalho de codificação do Espiritismo, cuja resposta da espiritualidade é a negação absoluta da validade desse tipo de misticismo:
A relação entre as substâncias materiais e as disposições comportamentais ficam bem definidas e, assim, separadas pelo que concerne a cada uma dessas naturezas:
A relação entre as substâncias materiais e as disposições comportamentais ficam bem definidas e, assim, separadas pelo que concerne a cada uma dessas naturezas. A prescrição de tais crenças, feita por Espíritos que guiam determinadas correntes espiritualistas, só dão provas de que estes não passam de entidades espirituais ignorantes quanto aos assuntos da natureza ou Espíritos mistificadores e brincalhões que pretendem ser identificados como grandes sábios:
A crença nos talismãs, amuletos e coisas afins denota um desejo vulgar ainda marcante na cultura terrena, que é o de querer realizar por meio de rituais externos e materiais aquilo que compete exclusivamente à natureza espiritual e moral do ser, na ideia de satisfazer aos compromissos do Espírito através de práticas físicas, pretendendo ficar quite com Deus e com a própria consciência apenas cumprindo determinadas obrigações litúrgicas, conforme sua religião ou sua seita.
Enquanto isso, a Doutrina Espírita nos ensina expressamente que o verdadeiro poder espiritual de cada um consiste no seu grau de elevação moral:
É através dessa força fluídica natural, alcançada pelo desenvolvimento das virtudes morais, que o indivíduo atrai para si a presença dos bons Espíritos, que podem então lhe inspirar boas resoluções e coragem para superar as provações e expiações da vida, além de afastar a presença de Espíritos obsessores, até que o próprio indivíduo adquira uma ascendência espiritual tal que por si mesmo lhe garanta essa proteção contra aqueles mal-intencionados.
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