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Índice de verbetes


Tiptologia



Tiptologia, ou Tipologia, em Espiritismo, é um modo de comunicação espiritual, por via mediúnica, através de sinais de efeitos físicos (como pancadas, batidas e ruídos) provocados pelos Espíritos, ao mesmo tempo em que é um sistema de interpretação desses efeitos, sendo assim uma variedade da Sematologia (linguagem de sinais). A tiptologia foi o primeiro modo sistemático de fenômenos espirituais que caracterizaram a moda das Mesas Girantes e o Espiritualismo Moderno (meados do século XIX), que foi o movimento precursor da Doutrina Espírita; nesse contexto, seu sistema foi definido por Allan Kardec nas obras doutrinárias especialmente dedicada ao estudo da mediunidade: Instrução Prática das Manifestações Espíritas (1858) e O Livro dos Médiuns (1861).


Sessão espiritual com a médium Linda Gazzera



Contexto histórico

Embora as manifestações espirituais sejam de todos os tempos e de todas as culturas, foi apenas por volta da metade do século XIX que a fenomenologia ganhou proporções mais consideráveis a ponto de se tornar um movimento generalizado, tal como ficou conhecido o Espiritualismo Moderno.

Tudo começou com uma série de fenômenos de poltergeist na casa da família Fox, no vilarejo Hydesville, no interior do Estado de Nova Iorque - EUA: pancadas no acoalho, arranhões nas paredes e no forro, arrastamento de móveis e outros efeitos físicos foram testemunhados pelos membros daquela família e por vizinhos. Na noite de 31 de março de 1948, os Fox iniciaram um diálogo com o Espírito batedor através de códigos de batidas:

“Foi nessa noite que um dos grandes pontos da evolução psíquica foi alcançado, desde que foi nessa noite que a jovem Kate Fox desafiou a força invisível a repetir as batidas que ela dava com os dedos. [...] O desafio da mocinha — embora tivesse sido feito em palavras brandas — foi imediatamente respondido. Cada pedido era respondido por um golpe. Posto que humildes os operadores de ambos os lados, a telegrafia espiritual estava funcionando. [...] A Sra. Fox ficou espantada daquele resultado e da posterior descoberta de que aquela força, ao que parecia, era capaz de ver e ouvir, pois quando Kate dobrava o dedo sem barulho, o arranhão respondia. A mãe fez uma série de perguntas, cujas respostas, dadas em números, mostravam maior conhecimento de seus próprios negócios do que ela mesma o possuía, pois os arranhões insistiam em que ela tinha tido sete filhos, enquanto ela protestava que só tinha tido seis, até que veio à sua mente um que havia morrido em tenra idade. Uma vizinha, Sra. Redfield, foi chamada e sua distração se transformou em maravilha e, por fim, pavor, quando teve respostas corretas a questões íntimas.”
A História do Espiritualismo, Arthur Conan Doyle - cap. IV

Os fenômenos persistiram nos dias seguintes, bem como o diálogo com a entidade espiritual ali manifestante, que correspondia às questões levantadas pela pequena comunidade de Hydesville através de códigos propostos; inicialmente, respondendo simplesmente com um sim (uma batida) ou não (duas batidas), depois fornecendo outros dados pela associação de números e letras a um determinado número de batidas (uma batida para a letra A, duas para B, três para C e assim por diante). Desta forma, solucionou-se o drama ali vivido pelo Espírito, que “tinha sido assassinado naquela casa; indicou o nome do antigo inquilino que o matara; tinha então — há cinco anos passados — trinta e um anos de idade; fora assassinado por causa de dinheiro; tinha sido enterrado numa adega, a dez pés de profundidade.” (A História do Espiritualismo, Arthur Conan Doyle).

O caso de Hydesville ganhou notoriedade na imprensa nacional americana, que também acompanhou o que se passou posteriormente com as irmãs Fox: novos fenômenos mediúnicos as seguiram, o que as levou a se submeterem a uma série de sessões experimentais de evocação espiritual, desencadeando a formação de vários grupos mediúnicos até essa moda tomar as proporções de um grande movimento, das Mesas Girantes e do Espiritualismo Moderno. A fenomenologia foi exportada para a Europa e daí para os grandes centros urbanos em todo o mundo.

Em sua pesquisa doutrinária, Allan Kardec (o codificador do Espiritismo) considerou os modos típicos de comunicação espiritual: escrita direta (pneumatografia) ou instrumental humana (psicografia), fala direta (pneumatofonia) ou instrumental humana (psicofonia), transmissão mental (telegrafia humana, ou telepatia) e a comunicação por pancadas e batidas — que, aliás, é colocado na primeira ordem de estudo kardequiano sobre as manifestações espirituais, por conta de ter sido o modo inicial amplamente utilizado no desenvolvimento do Espiritualismo Moderno, como Kardec assim registrou:

“As primeiras manifestações inteligentes ocorreram por meio de mesas que se levantavam e davam com um pé um determinado número de batidas, e desse modo respondendo com sim ou não, segundo a convenção, a uma pergunta feita. Até aí, nada de convincente para os céticos, pois bem podiam crer que tudo fosse um efeito do acaso. Obteve-se depois respostas mais desenvolvidas pelas letras do alfabeto: o objeto móvel dava certo número de pancadas correspondendo ao número da ordem de cada letra, chegando assim a formar palavras e frases, respondendo às questões propostas. A exatidão das respostas e a sua correlação com as questões causaram espanto.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - ‘Introdução’, item IV

Pela necessidade de se interpretar o que os Espíritos queriam transmitir através desses sinais físicos — inicialmente, a maneira pela qual eles encontraram para se comunicar com a humanidade terrena —, os fenômenos desse gênero foram então classificados na codificação espírita como pertences aos grupos da Sematologia e da Tiptologia.


Definição de Tiptologia

A etimologia da palavra tiptologia ou tipologia [Typtologie, em francês] foi descrita por Allan Kardec da seguinte forma:

Tiptologia (do grego typto, golpe; e logos, discurso): comunicação inteligente dos Espíritos por meio de batidas.”
Instrução Prática das Manifestações Espíritas, Allan Kardec - ‘Vocabulário Espírita’

O termo se inspira no sistema de caracteres tipográficos (tipos, de letras, numerais, pontuação etc.), espécie de carimbo metálico que as antigas gráficas (tipografias) usavam para montar as placas de impressão de livros, revistas, jornais etc. No ramo das artes gráficas ou da computação, tipologia significa tanto a coleção dos caracteres que forma a fonte (tipo gráfico da letra) como o estudo acerca dos tipos e fontes.


Modos tiptológicos

O codificador espírita classificou os modos de comunicação tiptológica:

  • Tiptologia alfabética: quando os golpes designam as letras do alfabeto cuja união forma as palavras e as frases. Ela pode ser produzida pelos dois processos descritos logo a seguir;
  • Tiptologia por movimento: quando os golpes são desferidos por um objeto qualquer que se move, por exemplo, uma mesa que bate com seus pés por um movimento bascular (espécie de alavanca, cujo ponto de apoio é um pé, enquanto outro pé se levanta e desce produzindo a batida);
  • Tiptologia interna ou passiva: quando os golpes são ouvidos na própria substância do objeto completamente imóvel.

Ao longo do tempo, incrementos foram criados para auxiliar no processo de comunicação tiptológica. Um deles foi a Mesa-Girardin (em homenagem a Sra. Delphine de Girardin), uma pequena mesinha com tampo tipicamente arredondado e sobre o qual é instalado um disco contendo a tabela de caracteres e um ponteiro para selecionar — por influência espiritual — as letras e números desejados para formar frases e palavras, semelhante a uma roleta comum dos jogos de cassino.


Mesa-Girardin


Mais tarde, foi bem popularizado o tabuleiro Ouija, que consiste numa tabela de caracteres sobre a qual percorre — segundo a influenciação dos Espíritos — um indicador com um orifício próprio para selecionar a letra ou número desejo na formação da mensagem.


Tabuleiro Ouija


Dentro dessa modalidade de comunicação, pode-se colocar ainda a brincadeira do copo (ou da garrafa) e outros sistemas de interpretação instrumentalizada a partir de manifestações espirituais de efeitos físicos.


Brincadeira do copo


Especificação espírita de Tiptologia e Sematologia

De maneira geral, toda as formas de comunicações baseadas em sinais físicos (batidas, ruídos, movimentos) através de instrumentações (mesas girantes, tabuleiros, jogo da garrafa, brincadeira do copo etc.) pertencem a um modo de linguagem sematológica (comunicação através de sinais diversos); porém, a codificação kardequiana vai fazer uma ligeira distinção entre Sematologia e Tipologia, especificando cada uma de suas atribuições no contexto espírita:

“É notável que para o emprego desse meio o Espírito também use de um tipo de mímica, isto é, que ele exprime a energia da afirmação ou da negação pela força das pancadas. Ele igualmente expressa a natureza dos sentimentos que o animam: a violência, pela brutalidade dos movimentos; a cólera e a impaciência, batendo com força repetidos golpes, como uma pessoa que bate o pé com raiva, às vezes atirando a mesa ao chão. Quando o Espírito é amável e educado, no começo e no fim da sessão ele inclina a mesa em forma de saudação; quando quer se dirigir diretamente a uma pessoa da reunião, encaminha a mesa para ele com doçura ou violência, conforme queira lhe testemunhar sua afeição ou antipatia. Essa é, propriamente falando, a sematologia, ou linguagem dos sinais, como a tiptologia é a linguagem das batidas.”
O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - 2ª parte, cap. XI, item 140

Segundo essa especialização, portanto, a interpretação das batidas espirituais — mediante uma associação de determinado número de batidas a um tipo de resposta (por exemplo, “sim” ou “não”) ou uma letra ou número — fica no campo propriamente dito da Tiptologia, enquanto a Sematologia se dedica estritamente a interpretar a sutileza do efeito das pancadas (por exemplo, a intensidade das batidas como expressão das emoções) e dos movimentos dos objetos (por exemplo, a inclinação de uma mesa imitando um cumprimento tipicamente humano).


Formas modernas de comunicação espiritual

A tiptologia é descrita por Kardec como um meio primitivo que, embora tenha sido aperfeiçoado pelo incremento de instrumentos (como a Mesa-Girardin e variados tabuleiros, por exemplo, o Ouija); quanto a isso, Kardec expressa:

“A tiptologia é um processo de comunicação muito imperfeito em razão de sua lentidão, que não permite desenvolvimentos tão extensos quanto aqueles que podem ser obtidos pela psicografia ou pela psicofonia.”
Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas - ‘Vocabulário espírita’

De fato, no decorrer das experimentações mediúnicas do Espiritualismo Moderno e principalmente na Era Espírita, os comunicantes do Além-Túmulo primaram pela psicografia ou psicofonia.


Veja também


Referências

  • O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Ebook.
  • O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - Ebook.
  • Instrução Prática das Manifestações Espíritas, Allan Kardec - Ebook.
  • A História do Espiritualismo, Arthur Conan Doyle - Ebook.


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Charlatão
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Espiritismo à Francesa: a derrocada do movimento espírita francês pós-Kardec
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Espírito Verdade
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Fascinação
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Fox, Irmãs
Francisco Cândido Xavier
Franco, Anália
Franco, Divaldo Pereira
Fropo, Berthe
Galeria d’Orleans
Gama, Zilda
Glândula Pineal
Henri Sausse
Herculano Pires, José
Herege
Heresia
Hippolyte-Léon Denizard Rivail
Home, Daniel Dunglas
Humberto de Campos
Imortalidade da Alma
Inquisição
Irmão X
Irmãs Baudin
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José Herculano Pires
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