William Crookes (Londres, Inglaterra, 17 de junho de 1832 - Londres, 4 de abril de 1919) foi um notável físico e químico britânico que, por suas grandes contribuições científicas foi condecorado com o título da Ordem do Mérito (Order of Merit) e honorificado Sir, Cavaleiro Real do Império Britânico, tendo sido membro da Sociedade Real de Ciências (Royal Society) e dela foi presidente entre os anos 1913 e 1915. Ele foi uma espécie de representante da comunidade científica que, diante dos extraordinários fenômenos mediúnicos que deram origem ao Espiritualismo Moderno, viu-se na necessidade de averiguar as supostas manifestações espirituais e dar um posicionamento acadêmico a respeito. Crookes investigou pessoalmente os mais célebres médiuns de seu tempo, sob as condições de pesquisa por ele estabelecidas — conforme os mais rigorosos métodos da ciência — e, por conclusão, ele constatou a “existência de uma nova força, conectada com o organismo humano de alguma maneira desconhecida”. O relatório final de sua pesquisa acerca da mediunidade foi rechaçado na Sociedade Real e acabou arquivado; cogitou-se inclusive a desfiliação de Crookes. Contudo, seu testemunho permaneceu inabalado até o fim de sua encarnação, pelo que seu nome é lembrado como um emérito contribuinte da causa espiritualista e, ainda que indiretamente, do Espiritismo.
Sir William Crookes (1832-1919)
William Crookes nasceu numa filha de condições medianas, sem luxo, mas também sem miséria. Seu pai, Joseph Crookes, era alfaiate e sua mãe, Mary Scott, do lar. Eles não tinham grande instrução, mas não desprezaram a notória inteligência que o garoto denotava precocemente e investiram em seus estudos. Aos quinze anos já estava ingresso no Royal College of Chemestry, a conceituada faculdade real de química de Londres, sob a orientação do já consagrado químico alemão August von Hofmann.
Seu talento chamou a atenção dos seus orientadores e logo mais ele seria admitido professor assistente daquela faculdade, assim permanecendo entre 1850 e 1854. Durante esse período, ele realizou uma reconhecida pesquisa sobre novos compostos do elemento selênio, cuja publicação foi feita em 1851. Saindo do Royal College em 1854, Crookes assumiu a superintendência do departamento de meteorologia do Observatório Radcliffe de Oxford e a partir do ano seguinte, seria nomeado conferencista em Química da faculdade de Chester.
Com a carreira já bem encaminhada, em 1856 Crookes estabelece família com Ellen Humphrey, com quem teve três filhos e uma filha.
Além das pesquisas em laboratórios acadêmicos, o jovem químico investe em projetos próprios, visando uma maior popularização da ciência química. Em 1859, fundou a revista Chemical News, que seria editada por vários anos seguidos. Suas publicações contemplavam uma linguagem mais acessível aos leigos e iniciantes — em contraste com as tradicionais revistas científicas — sem, no entanto, fazer uso de artifícios apelativos com os quais muitos químicos, ou pseudoquímicos, de seu tempo costumavam dar espetáculos. Crookes era conhecido por fazer “ciência pura”.
Foi nomeado cavaleiro em 1897 e, em 1910, recebeu a Ordem do Mérito do Rei Eduardo VII, passando então a ser chamado de Sir William Crookes. Por várias vezes foi presidente da Chemical Society (Sociedade de Química), da Institution of Electrical Engineers (Instituição dos Engenheiros Eletricistas), da Society of Chemical Industry (Sociedade da Indústria Química), da British Association (Associação Britânica) e, entre 1913 e 1915, da Royal Society — a renomada Sociedade Real de Ciências de Londres.
O primeiro grande feito científico de Crookes foi a descoberta do tálio (elemento químico incluso no grupo 13 da Tabela Periódica) em 1863. Além do achado em si, os métodos por ele empregados para análise desse novo elemento acabaram por desencadear novos experimentos científicos que seriam adotados por químicos e físicos modernos, como a espectroscopia (técnica de análise químico-física através de transmissão, absorção ou reflexão de energia radiante).
Nos anos 1900, atuou como consultor do governo britânico para a produção de um vidro fundido capaz de eliminar raios nocivos aos olhos e que fosse então usado para a confecção de equipamento de trabalho, especialmente visando os mineradores de diamantes (quando os ingleses exploravam as minas sul-africanas).
Inestimável contributo seu à Física foi o seu trabalho de pesquisa acerca de descargas elétricas através de gases rarefeitos, culminando na sua invenção do tubo de raios catódicos (CRT - Cathode Ray Tube), que mais tarde serviria como a base de montagem dos monitores analógicos de televisão.
Os experimentos de Crookes no campo da eletricidade e radioatividade, além de seu caráter e séria dedicação à Ciência fizeram com que gozasse de grande prestígio. Sua genialidade lhe rendeu um honroso aforismo: “Ubi Crookes ibi lux” — “Onde há Crookes, há luz”.
Em meados do século XIX, quando chegaram à Inglaterra a febre dos espantosos fenômenos espirituais, as sessões de mesas girantes que compunham o movimento do Espiritualismo Moderno, a comunidade científica inicialmente os tratou com desdém, mas eram crescentes os apelos para que as academias apresentassem um tratado oficial averiguando a tese espiritualista e solucionando, à luz das leis físicas conhecidas pela ciência, os mistérios daquelas insólitas manifestações. William Crookes foi um dos cientistas que defenderam a necessidade de se analisar tais fenômenos para — se fosse o caso — contestar sua veracidade e apontar supostas fraudes, tal como inicialmente muitos supunham. E não apenas isso: ele próprio deliberou-se efetivar uma pesquisa séria a respeito.
Entre 1870 e 1874, o professor Crookes debruçou-se com afinco sobre suas pesquisas psíquicas, investigando os mais diversos tipos de fenômenos espirituais e se valendo da contribuição voluntária dos mais aclamados médiuns de seu tempo, dentre os quais Kate Fox (uma das famosas irmãs Fox, do histórico caso de Hydesville, Florence Cook e Daniel Dunglas Home.
O tão aguardado relatório de Crookes sobre as supostas manifestações mediúnicas foi apresentado em 1874, num artigo intitulado ‘Notes of an Enquiry into the Phenomena called Spiritual during the Years 1870-1873. [Notas de uma Investigação sobre os Fenômenos Denominados Espirituais durante os Anos de 1870 a 1872)’ publicado na revista Quarterly Journal of Science e — para espanto da maioria dos seus colegas acadêmicos — ao invés de “desmascarar” a tese espiritualista, ele asseverou que tais fenômenos estavam fora de cogitação de Prestidigitação e que, diante de claras evidencias da existência de uma força extrassensorial, necessário se fazia aprofundar o estudo acerca da hipótese de intervenções dos Espíritos na nossa dimensão física.
Ainda que nenhuma teoria formal fosse apresentada como antítese ao espiritualismo, o relatório de Crookes foi rechaçado pela Sociedade Real de Ciências, que claramente temia a hipótese de todo o establishment científico caísse sob o julgo de crenças místicas e esotéricas. Crookes sentiu-se intimidado pelos colegas (cogitou-se até a sua desfiliação da Sociedade Real) e manteve-se reservado sobre essa temática até 1898, apoiado por uma posição também favorável à hipótese espiritual vinda de outros respeitados cientistas, dentre os quais Alfred Russel Wallace, Sir Olive Lodge e William James.
Empoçado presidente da Associação Britânica para o Avanço da Ciência (British Association for the Advancement of Science) em 1898, Crookes reafirmou o seu posicionamento acerca de suas pesquisas psíquicas, ratificando que acreditava perfeitamente que “uma verdadeira conexão havia sido estabelecida entre este mundo e o outro”, discursando ainda naquela cerimônia de posse:
Dentre as mais significantes anotações de William Crookes acerca de suas investigações psíquicas estão as descrições de suas experiências com o Espírito de Katie King, materializado pela médium inglesa Florence Cook, nas sessões experimentais de Crookes entre 1871 e 1874.
Quando se submeteu às averiguações científicas de William Crookes, Florence Cook era uma jovem de apenas 15 anos, mas já era bem famosa por materializar formas espirituais. A convicção de suas capacidades mediúnicas a fez aceitar sem problemas as rigorosas condições do pesquisador, que, por sua vez, exigia: “as manifestações devem ser na minha casa, em frente do grupo de pessoas que eu selecionarei, sob minhas condições.” As sessões eram feitas no escuro, para facilitar o chamado fenômeno de ectoplasmia, mas ocasionalmente se dava sob uma luz vermelha, quando para obtenção de fotografias.
Crookes e o Espírito Katie King materializado por Florence Cook
Crookes, alguns familiares e outros pesquisadores de sua confiança asseveraram detalhes dessas experimentações: viram se materializar o perispírito daquela entidade, que caminhou pela casa, conversou, permitiu ser medida e pesada, e ainda segurou em seus braços um dos filhos de Crookes. Katie King aparecia sempre mais alta que Florence Cook, com um rosto mais largo e diferentes tipos de cabelo e pele. Além disso, ambas eram visíveis ao mesmo momento, o que descarta a desconfiança de que a médium pudesse assumir o papel da forma espiritual materializada. Esta foi uma das mais sensacionais experimentações psíquicas feitas na época e teve grande repercussão no meio espiritualista e científico.
Sir William Crookes manteve suas convicções acerca da veracidade dos fenômenos espirituais até o fim da sua vida, conforme suas publicações — por exemplo, Recherches sur les Phénomènes du Spiritualisme [Pesquisas sobre os Fenômenos do Espiritualismo] de 1902 —, bem como as cartas que endereçou a amigos e familiares. O seu testemunho é considerado uma memorável contribuição à causa da espiritualidade e, por conseguinte, ao Espiritismo, pois, dado o seu prestígio acadêmico, outros estudiosos sérios, de diversas partes do mundo, animaram-se em pesquisar a fenomenologia espiritual e também corroborar com a autenticidade das manifestações mediúnicas.
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