Zilda Gama, (Juiz de Fora, interior de Minas Gerais, 11 de março de 1878 - Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 1969) foi uma pedagoga, escritora, ativista pelos direitos da mulher e notável médium espírita; foi uma pioneira na psicografia de romances mediúnicos no Brasil; em sua bibliografia, destacam-se as obras ditadas pelo Espírito do consagrado escritor francês Victor Hugo. Foi também autora de notáveis publicações didático-pedagógicas.
Zilda Gama (1878-1969)
Zilda nasceu no distrito São José das Três Ilhas, distrito então pertencente ao município de Juiz de Fora, mas que foi emancipado em 1962 com o nome de Belmiro Braga. Foi o segundo rebento dos onze filhos do casal Augusto Cristina da Gama, escrivão de paz, e Elisa Emílio Klörs, professora de uma escola estadual, por quem foi alfabetizada.
Com a transferência dos pais para a cidade de São João Del Rei, ela estuda e conclui na escola local o curso de professora primária, para daí iniciar no magistério público no município Além Paraíba, também no Estado de Minas Gerais.
Em 1901, a morte bate à porta da sua casa levando a irmã mais velha, Maria Antonietta Gama. Três anos depois, foram seus pais, num espaço de apenas cinco meses da desencarnação de um para o outro. Aos 24 anos, Zilda herda a responsabilidade da guarda de cinco irmãos menores. Anos mais tardes, 1920, seria também encarregada de cuidar de cinco sobrinhos, então órfãos de sua irmã Adélia. Pelo restante de sua vida, consagrar-se-ia ao cuidado familiar, ao ofício pedagógico e ao vocacionado mediúnico espírita.
Contudo, o peso de tais obrigações e as sobrecarregadas custas financeiras não a impediram de graduar-se no ofício que amava: a pedagogia. Em 1929, venceu um concurso estadual promovido pela Secretaria de Educação sobre “Aulas modelo”, tornando-se em seguida diretora do Grupo Escolar Afonso Pena, em Belo Horizonte, cidade onde fixou residência, exercendo o cargo até sua aposentadoria em 1938.
Seu amor à educação, sua preocupação com os menos favorecidos e suas capacidades intelectuais tornaram Zilda Gama conhecida e influente: transferindo morada para o Rio de Janeiro em 1940, passou a escrever artigos para importantes periódicos, dentre os quais: Jornal do Brasil, Gazeta de Notícias e Revista da Semana, destacando-se também pelos seus contos e poesias.
A jovem Zilda Gama
Para a área didática-pedagógica, publicou as aclamadas obras: O Livro das Crianças, Os Garotinhos, O Manual das Professoras e O Pensamento.
Atuou com igual afinco em favor dos direitos da mulher. Em 1931, ela participou de um congresso feminino que acabou adotando sua tese de clamor pelo direito ao voto para as mulheres e a levou ao Congresso Nacional. O movimento foi bem-sucedido e doravante as eleições seguintes o voto — antes restrito aos homens — passou a ser o chamado voto universal.
Zilda Gama nasceu dotada de reconhecidos recursos mediúnicos e desde cedo sentia a presença de entidades espirituais lhe auxiliando na árdua batalha da vida. Seus próprios pais lhe apareceram, já pouco depois da desencarnação deles, confortando-a e animando aquela alma comprometida para as tarefas às quais ela havia programado em seu plano reencarnatório — ainda não bem compreendido por ela, cuja educação religiosa recebida até então era o catecismo católico.
Suas potências psíquicas a levaram a buscar algum conhecimento sobre Espiritismo, do qual iria ler algumas páginas, mas ainda sem uma adesão definitiva.
Certa vez, ainda mocinha, acompanhou seu pai a um sarau musical de uma personalidade da região, o Dr. Cunha Salles, que também estudava o espiritualismo; este, mesmo ignorando o nome da menina, então lhe profetizou que ela seria uma propagandista espírita e futuramente publicaria livros que justificarão aquele vaticínio. Zilda não lhe deu muito crédito na hora, embora tivesse ficado fortemente impressionada. Pouco depois, passou a receber mensagens do Espírito de Mercedes, sua mentora espiritual, que lhe reiterou aquela profecia do médico musicista e psiquista — profecia já quase esvaecida de sua memória —, revelando a importante missão que o Alto lhe reservava na seara do Espiritismo.
Doravante, Zilda aprofundou seus conhecimentos acerca da doutrina Kardecista, da qual torna-se adepta declarada, potencializando assim suas qualidades de médium natural que era.
Em 1912, tomada de emoção, ela psicografa uma mensagem assinada pelo Espírito de Allan Kardec, inaugurando uma série de ensinamentos morais, ditados por quinze anos e que tempos depois iriam compor a obra Diário dos Invisíveis, só publicada em 1929, pela Editora O Pensamento. Sobre o surpreendente episódio do primeiro contato com o mestre espiritista, ela própria relata:
Quanto à comunicação do codificador espírita, esta revela as elevadas qualidades daquela medianeira comprometida com a espiritualidade, a quem, somente dentre as quais, seriam confiadas relevantes missões: “Sobre tua fronte está suspenso um raio luminoso, que te guiará através de todas as dificuldades, de todos os obstáculos, e será a tua glória ou tua condenação — conforme o desempenho que deres aos teus encargos psíquicos. Cinge-te de coragem, fé, benevolência, cumpre sem desfalecimento, e sem deslizes, todos os teus deveras sociais e divinos, e conseguirás ser triunfante.” — diz um trecho da mensagem.
Sendo uma pessoa culta, conquanto jovem, e absolutamente consciente das suas responsabilidades, a médium exprime lucidamente seu comprometimento com o apostolado mediúnico:
Zilda Gama foi a médium pioneira no Brasil a receber uma vasta literatura do mundo espiritual — ofício pelo qual só alguns anos mais tarde iriam se destacar outras personalidades, como Chico Xavier, Yvonne A. Pereira e Divaldo Franco.
No ano de 1916, os Espíritos amigos lhe informaram que ela iria psicografar uma novela — fato que a deixou perplexa e meio descrente. Mas, no dia e hora aprazados, Zilda, sentindo-se como que impelida, passou a transportar para o papel, com impressionante fluidez, tudo quanto constituía o início de um romance. Não menos foi sua surpresa quando o Espírito comunicante se assinou como Victor Hugo — o grande gênio da literatura francesa. A este primeiro trabalho, foi dado o título Na sombra e na luz, novela verídica que retrata a existência triste de um companheiro, na Europa do século XIX, em que, por vezes, o próprio autor de Os miseráveis é personagem. Ela remete a composição à apreciação de alguns confrades e o resultado — pela excelente qualidade do texto, evidentemente — foi a sua publicação, pela editora da Federação Espírita Brasileira.
Adiante, veio a lume Do calvário ao infinito, romance ambientado na Rússia do século XIX, narrando a história de almas ligadas entre si que sofrem, expiando crimes cometidos, até a conquista da felicidade. Seguiram-se Redenção, Dor Suprema e Almas Crucificadas, todas igualmente publicadas pela FEB.
Outras publicações ditadas por Victor Hugo produzidas pela sua mediunidade foram: Solar de Apolo (Editora LAKE), Na Seara Bendita (Edicel), Na Cruzada do Mestre e Elegias Douradas.
Segundo o testemunho do médium Divaldo Franco, a aproximação do Espírito Victor Hugo à psicógrafa brasileira não foi um fato fortuito: ela, na precedente reencarnação, havia sido Léopoldine, filha daquele memorável espírita francês e cuja morte foi uma tragédia: aos dezenove anos, em plena lua de mel, ela caiu no Rio Sena e ali naufragou; seu esposo igualmente teve o mesmo fim, na tentativa de salvá-la. A tragédia, entretanto, foi providencial para que o nobre escritor descobrisse a seriedade do Revelação Espírita; foram as manifestações de Léopoldine, nas célebres sessões mediúnicas na ilha de Jersey, que o sensibilizaram para as realidades espirituais.
Depois de uma digna e consagrada jornada, Zilda Gama sofreu um derrame cerebral em 1959, já nonagenária, passando a viver numa cadeira de rodas, sob os cuidados de um sobrinho, até seu falecimento, aos 91 anos.
Seu caráter, sua devoção à educação e dedicação pelos direitos humanos, com especial atenção às pessoas mais carentes, credenciam sua biografia ao patamar de uma grande agente humanitária. Além disso, como médium e espírita, deixou um legado que honra a Doutrina Espírita e faz com que seja lembrada e homenageada pelo movimento espírita em todo o Brasil, inclusive emprestando seu nome para instituições.
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