Espiritual é um qualificativo relativo àquilo que é concernente ao Espírito (os desencarnados) e ao mundo dos Espíritos, inerente a tudo o que pertence à espiritualidade; por extensão, está em oposição direta ao adjetivo material (tendo como referência a matéria mais bruta que compõe a nossa dimensão física, o mundo dos encarnados), sendo assim sinônimo de etéreo, imaterial e incorpóreo — embora o mundo espiritual não seja absolutamente desprovido de uma natureza física. Por vezes também descrito como invisível ou imaginário (mentores invisíveis, amigos imaginários etc.). O termo igualmente é aplicado aos valores morais de ordem elevada, àquilo que é sagrado, metafísico, transcendental; por conseguinte, ele se opõe aos valores materialistas, mundanos, profanos etc. Por essa concepção, espiritual também equivale a espiritualista. Num sentindo vulgar, ainda se usa o adjetivo espiritual como termo equivalente ao que é sobrenatural, místico, milagroso, fora das leis naturais. O Espiritismo é uma doutrina espiritualista, de origem espiritual, visto que os seus fundamentos vêm de revelações dos Espíritos, e sua destinação essencial é exatamente promover os valores espirituais, no que faz oposição direta ao materialismo.
Espiritual é a adjetivação do substantivo espírito, cuja origem é o termo em latim spiritus = sopro, vento, vitalidade, equivalente ao termo grego pneuma (πνευμα). Significa, portanto, “do espírito” (força espiritual = força do espírito).
Da mesma raiz vem o termo espiritualista, que representa o que está de acordo com as ideias espirituais e faz apologia dessas ideias. O conjunto de conceitos, crenças e práticas relacionadas aos Espíritos e ao mundo espiritual é chamado de espiritualidade ou espiritualismo, e os seus praticantes são denominados espiritualistas.
O frontispício da obra original O Livro dos Espíritos de Allan Kardec traz a descrição da essência do Espiritismo: “Doutrina Espiritualista”.
A crença na imortalidade alma e, consequentemente, na vida espiritual após a morte é universal e de todas as épocas; o ser sobrevivente à desencarnação é comumente chamado de espírito e tudo que é inerente a ele e ao mundo para além da nossa dimensão física é chamado de espiritual. Todavia, de modo geral, a crença nessa espiritualidade era baseada em elementos subjetivos (como o instinto e a inspiração) e dogmas religiosos provindos de revelações supostamente divinas; porém, a partir dos extraordinários fenômenos mediúnicos das Mesas Girantes e do movimento Espiritualismo Moderno, de meados do século XIX, tornou-se possível verificar concretamente a realidade espiritualista.
Como desdobramento dessa nova revelação, surgiram outras doutrinas, cada qual com conceitos e diretrizes particulares; dentre elas, destacou-se o Espiritismo, doutrina codificada por Allan Kardec mediante a inspiração e o ensinamento de Espíritos superiores, e assim denominada justamente para evidenciar a sua origem e destinação: a espiritualidade (Espírito + ismo = doutrina dos Espíritos). em sua essência, a Doutrina Espírita é necessariamente espiritualista, mas se distingue do espiritualismo comum por conter conceitos próprios que então caracterizam um sistema particular. Ou seja, o Espiritismo compartilha diversos conceitos com outras crenças espiritualistas, ao passo que determinadas correntes espiritualistas rejeitam certos conceitos fundamentais do Espiritismo.
A tabela a seguir exemplifica a diferença entre Espiritismo e outras duas escolas espiritualistas:
ESPIRITISMO E OUTRAS CRENÇAS ESPIRITUALISTAS | ||||
Doutrinas | Conceitos doutrinários admitidos | |||
Deus | Imortalidade da Alma | Reencarnação | Céu e inferno | |
Espiritismo | sim | sim | sim | não |
Catolicismo | sim | sim | não | sim |
Budismo | não | sim | sim | não |
Havendo uma distinção entre certos elementos fundamentais do Espiritismo em relação ao espiritualismo em geral, o codificador da nova doutrina compreendeu a necessidade de um vocábulo específico para adjetivar as coisas próprias da sua doutrina particular, tal como expressou nos seguintes termos:
Allan Kardec, portanto, especificando aquilo que diz respeito propriamente ao Espiritismo — a nova doutrina por ele codificada — adotou os neologismos qualificativos espírita e espiritista (forma mais comum na língua espanhola). Nesse sentido, diz-se, com exatidão: “A Lei de Reencarnação é um conceito básico espírita” (do Espiritismo); referindo-se aos adeptos da mesma doutrina de Kardec, pode-se dizer: “Os espíritas têm como bandeira a caridade”.
Numa abordagem direta, vê-se algo de exclusividade no termo espírita, conforme sugerido também no ‘Vocabulário Espírita’ contido na obra Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, também de Kardec, que assim define: “Espírita: o que tem relação com o espiritismo.” Não obstante a intencional distinção que o adjetivo espírita traz em si com relação ao qualificativo espiritual, o próprio Allan Kardec muitas vezes usou um como perfeito sinônimo do outro, por exemplo, aliás, no título da obra que acabamos de mencionar: “manifestações espíritas” está no contexto exato de “manifestações espirituais”, e não de “manifestações dos espíritas”. Outra demonstração se encontra na mesma referida obra:
Neste caso, está claramente entendido que o quadro da Escala Espírita diz respeito à classificação de todos os Espíritos, e não somente os “Espíritos espíritas”, no sentido de Espíritos kardecistas; portanto, tem a mesma significada que “Escala espiritual”.
Conquanto o conceito de espiritual seja geralmente aplicado como antônimo de material, a Revelação Espírita demonstra que nem os Espíritos nem o mundo espiritual sejam completamente abstratos e imateriais. O próprio Espírito em si (o ser íntimo) é descrito como uma “centelha etérea” cujo brilho colorido “varia do escuro a uma cor brilhante do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos puro.” (O Livro dos Espíritos - questões 88 e 88-a) Se tem uma chama, e até cor, obviamente que consiste em algo material. Além disso, esse ser íntimo (Espírito) tem um corpo espiritual, que o Espiritismo chama de perispírito; eis, pois, um exemplo ainda mais concreto da materialidade dos indivíduos mesmo após a morte, ou desencarnação, como Kardec explana:
Algumas vezes os Espíritos são descritos como “imateriais”, de outras vezes “semimateriais”, assim como “invisíveis” ou “incorpóreos”; todas essas descrições são imprecisas e só são utilizadas em termos de comparação entre a sua natureza muitíssimo sutil e a estrutura física que conhecemos em nosso mundo, ainda bastante grosseira.
Sendo os Espíritos de alguma ordem física, por mais fluídica que seja, nada há de absurdo supor que eles ocupem uma posição no tempo e no espaço; isso implica que o mundo espiritual — em todas as suas dimensões — igualmente seja materializado; isso dá plausibilidade às descrições feitas por tantas obras mediúnicas que descrevem construções arquitetônicas, ferramentas e as mais diversas instrumentações “físicas” nos planos espirituais. O próprio Kardec publicou na sua Revista Espírita exemplos de tais construções; na edição de agosto de 1858, no artigo intitulado ‘Habitações em Júpiter’, ele considerou que “como nós, os Espíritos tenham as suas habitações e as suas cidades”, e ainda reproduziu um desenho mediúnico da casa espiritual de Mozart no planeta mencionado.
Consoante com esses preceitos, sabe-se que há uma relação direta entre o estado material (grosseiro ou sutil) e o progresso dos seres e dos mundos: quanto mais imperfeito, mais materializado; quanto mais evoluído, mais espiritualizado. À vista disso, Kardec diz:
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