Compartilhe esta página pelo Compartilhar no Twitter Compartilhar no Facebook

Índice de verbetes


espiritual



Espiritual é um qualificativo relativo àquilo que é concernente ao Espírito (os desencarnados) e ao mundo dos Espíritos, inerente a tudo o que pertence à espiritualidade; por extensão, está em oposição direta ao adjetivo material (tendo como referência a matéria mais bruta que compõe a nossa dimensão física, o mundo dos encarnados), sendo assim sinônimo de etéreo, imaterial e incorpóreo — embora o mundo espiritual não seja absolutamente desprovido de uma natureza física. Por vezes também descrito como invisível ou imaginário (mentores invisíveis, amigos imaginários etc.). O termo igualmente é aplicado aos valores morais de ordem elevada, àquilo que é sagrado, metafísico, transcendental; por conseguinte, ele se opõe aos valores materialistas, mundanos, profanos etc. Por essa concepção, espiritual também equivale a espiritualista. Num sentindo vulgar, ainda se usa o adjetivo espiritual como termo equivalente ao que é sobrenatural, místico, milagroso, fora das leis naturais. O Espiritismo é uma doutrina espiritualista, de origem espiritual, visto que os seus fundamentos vêm de revelações dos Espíritos, e sua destinação essencial é exatamente promover os valores espirituais, no que faz oposição direta ao materialismo.



Etimologia e variações

Espiritual é a adjetivação do substantivo espírito, cuja origem é o termo em latim spiritus = sopro, vento, vitalidade, equivalente ao termo grego pneuma (πνευμα). Significa, portanto, “do espírito” (força espiritual = força do espírito).

Da mesma raiz vem o termo espiritualista, que representa o que está de acordo com as ideias espirituais e faz apologia dessas ideias. O conjunto de conceitos, crenças e práticas relacionadas aos Espíritos e ao mundo espiritual é chamado de espiritualidade ou espiritualismo, e os seus praticantes são denominados espiritualistas.

O frontispício da obra original O Livro dos Espíritos de Allan Kardec traz a descrição da essência do Espiritismo: “Doutrina Espiritualista”.


Espiritualidade e Espiritismo

A crença na imortalidade alma e, consequentemente, na vida espiritual após a morte é universal e de todas as épocas; o ser sobrevivente à desencarnação é comumente chamado de espírito e tudo que é inerente a ele e ao mundo para além da nossa dimensão física é chamado de espiritual. Todavia, de modo geral, a crença nessa espiritualidade era baseada em elementos subjetivos (como o instinto e a inspiração) e dogmas religiosos provindos de revelações supostamente divinas; porém, a partir dos extraordinários fenômenos mediúnicos das Mesas Girantes e do movimento Espiritualismo Moderno, de meados do século XIX, tornou-se possível verificar concretamente a realidade espiritualista.

Como desdobramento dessa nova revelação, surgiram outras doutrinas, cada qual com conceitos e diretrizes particulares; dentre elas, destacou-se o Espiritismo, doutrina codificada por Allan Kardec mediante a inspiração e o ensinamento de Espíritos superiores, e assim denominada justamente para evidenciar a sua origem e destinação: a espiritualidade (Espírito + ismo = doutrina dos Espíritos). em sua essência, a Doutrina Espírita é necessariamente espiritualista, mas se distingue do espiritualismo comum por conter conceitos próprios que então caracterizam um sistema particular. Ou seja, o Espiritismo compartilha diversos conceitos com outras crenças espiritualistas, ao passo que determinadas correntes espiritualistas rejeitam certos conceitos fundamentais do Espiritismo.

A tabela a seguir exemplifica a diferença entre Espiritismo e outras duas escolas espiritualistas:


ESPIRITISMO E OUTRAS CRENÇAS ESPIRITUALISTAS
DoutrinasConceitos doutrinários admitidos
DeusImortalidade
da Alma
ReencarnaçãoCéu e inferno
Espiritismosimsimsimnão
Catolicismosimsimnãosim
Budismonãosimsimnão


Espiritual e espírita

Havendo uma distinção entre certos elementos fundamentais do Espiritismo em relação ao espiritualismo em geral, o codificador da nova doutrina compreendeu a necessidade de um vocábulo específico para adjetivar as coisas próprias da sua doutrina particular, tal como expressou nos seguintes termos:

“Para coisas novas é preciso palavras novas, como a clareza da linguagem assim o exige, para evitar a confusão inseparável dos múltiplos significados dos mesmos termos. As palavras: espiritual, espiritualista e espiritualismo têm uma acepção bem definida; dar a eles uma nova significação para aplicá-los à doutrina dos Espíritos seria multiplicar os casos já tão numerosos de anfibologia. De fato, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem acredita haver em si alguma coisa além da matéria é espiritualista; mas isso não quer dizer que ele creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras ESPIRITUAL e ESPIRITUALISMO, nós usamos, para designar esta crença, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido da raiz da palavra, e que por isso mesmo tem a vantagem de serem perfeitamente compreensíveis, reservando ao vocábulo espiritualismo a significação que lhe é própria. Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos, ou seres do mundo invisível. Os adeptos do espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Introdução ao estudo da Doutrina Espírita, item I

Allan Kardec, portanto, especificando aquilo que diz respeito propriamente ao Espiritismo — a nova doutrina por ele codificada — adotou os neologismos qualificativos espírita e espiritista (forma mais comum na língua espanhola). Nesse sentido, diz-se, com exatidão: “A Lei de Reencarnação é um conceito básico espírita” (do Espiritismo); referindo-se aos adeptos da mesma doutrina de Kardec, pode-se dizer: “Os espíritas têm como bandeira a caridade”.

Numa abordagem direta, vê-se algo de exclusividade no termo espírita, conforme sugerido também no ‘Vocabulário Espírita’ contido na obra Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, também de Kardec, que assim define: “Espírita: o que tem relação com o espiritismo.” Não obstante a intencional distinção que o adjetivo espírita traz em si com relação ao qualificativo espiritual, o próprio Allan Kardec muitas vezes usou um como perfeito sinônimo do outro, por exemplo, aliás, no título da obra que acabamos de mencionar: “manifestações espíritas” está no contexto exato de “manifestações espirituais”, e não de “manifestações dos espíritas”. Outra demonstração se encontra na mesma referida obra:

Escala espírita: quadro das diversas ordens de Espíritos, indicando os graus que eles percorreram para chegar à perfeição. Ela contém três ordens principais: Espíritos imperfeitos, bons Espíritos e Espíritos puros, subdivididas em nove classes características para a progressão dos sentimentos morais e as ideias intelectuais.”
Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas - ‘Vocabulário espírita’

Neste caso, está claramente entendido que o quadro da Escala Espírita diz respeito à classificação de todos os Espíritos, e não somente os “Espíritos espíritas”, no sentido de Espíritos kardecistas; portanto, tem a mesma significada que “Escala espiritual”.


Materialidade da espiritualidade

Conquanto o conceito de espiritual seja geralmente aplicado como antônimo de material, a Revelação Espírita demonstra que nem os Espíritos nem o mundo espiritual sejam completamente abstratos e imateriais. O próprio Espírito em si (o ser íntimo) é descrito como uma “centelha etérea” cujo brilho colorido “varia do escuro a uma cor brilhante do rubi, conforme o Espírito é mais ou menos puro.” (O Livro dos Espíritos - questões 88 e 88-a) Se tem uma chama, e até cor, obviamente que consiste em algo material. Além disso, esse ser íntimo (Espírito) tem um corpo espiritual, que o Espiritismo chama de perispírito; eis, pois, um exemplo ainda mais concreto da materialidade dos indivíduos mesmo após a morte, ou desencarnação, como Kardec explana:

“Temos dito que, embora fluídico, o perispírito não deixa de ser uma espécie de matéria, e isso decorre do fato das aparições tangíveis, [...] A natureza íntima do Espírito propriamente dito, isto é, do ser pensante, nos é completamente desconhecida; ela só se revela para nós por seus atos, e seus atos não podem afetar nossos sentidos a não ser por um intermediário material. Portanto, o Espírito precisa de matéria para atuar sobre a matéria. Ele tem por instrumento direto o seu perispírito, assim como o homem tem o seu corpo; ora, seu perispírito é uma matéria, conforme acabamos de ver.”
O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - 2ª parte, cap. I, itens 57 e 58

Algumas vezes os Espíritos são descritos como “imateriais”, de outras vezes “semimateriais”, assim como “invisíveis” ou “incorpóreos”; todas essas descrições são imprecisas e só são utilizadas em termos de comparação entre a sua natureza muitíssimo sutil e a estrutura física que conhecemos em nosso mundo, ainda bastante grosseira.

Sendo os Espíritos de alguma ordem física, por mais fluídica que seja, nada há de absurdo supor que eles ocupem uma posição no tempo e no espaço; isso implica que o mundo espiritual — em todas as suas dimensões — igualmente seja materializado; isso dá plausibilidade às descrições feitas por tantas obras mediúnicas que descrevem construções arquitetônicas, ferramentas e as mais diversas instrumentações “físicas” nos planos espirituais. O próprio Kardec publicou na sua Revista Espírita exemplos de tais construções; na edição de agosto de 1858, no artigo intitulado ‘Habitações em Júpiter’, ele considerou que “como nós, os Espíritos tenham as suas habitações e as suas cidades”, e ainda reproduziu um desenho mediúnico da casa espiritual de Mozart no planeta mencionado.

Consoante com esses preceitos, sabe-se que há uma relação direta entre o estado material (grosseiro ou sutil) e o progresso dos seres e dos mundos: quanto mais imperfeito, mais materializado; quanto mais evoluído, mais espiritualizado. À vista disso, Kardec diz:

“Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal o afasta de sua natureza espiritual.”
O Livro dos Espíritos - comentário da questão 908


Veja também


Referências

  • O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - Ebook.
  • Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas, Allan Kardec - Ebook.
  • O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - Ebook.
  • Revista Espírita, Allan Kardec: coleção 1858 - Ebook.


Tem alguma sugestão para correção ou melhoria deste verbete? Favor encaminhar para Atendimento.


Índice de verbetes
A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo
Abreu, Canuto
Adolphe Laurent de Faget
Agênere
Alexandre Aksakof
Allan Kardec
Alma
Alma gêmea
Amélie Gabrielle Boudet
Amuleto
Anália Franco
Anastasio García López
Andrew Jackson Davis
Anna Blackwell
Arigó, Zé
Arthur Conan Doyle
Auto de Fé de Barcelona
Auto-obsessão.
Banner of Light
Baudin, Irmãs
Bem
Berthe Fropo
Blackwell, Anna
Boudet, Amélie Gabrielle
Cairbar Schutel
Canuto Abreu
Caridade
Carma
Caroline Baudin
Célina Japhet
Cepa Espírita
Charlatanismo
Charlatão
Chevreuil, Léon
Chico Xavier
Cirne, Leopoldo
Codificador Espírita
Comunicabilidade Espiritual
Conan Doyle, Arthur
Consolador
Cordão de Prata
Cordão Fluídico
Crookes, William
Daniel Dunglas Home
Davis, Andrew Jackson
Denis, Léon
Dentu, Editora
Dentu, Édouard
Desencarnado
Deus
Didier, Pierre-Paul
Divaldo Pereira Franco
Dogma
Dogmatismo
Doutrina Espírita
Doyle, Arthur Conan
Dufaux, Ermance
Ectoplasma
Ectoplasmia
Ecumenismo
Editora Dentu
Édouard Dentu
Elementos Gerais do Universo
Emancipação da Alma
Encarnado
Epífise
Erasto
Ermance Dufaux
Errante
Erraticidade
Errático
Escala Espírita
Escrita Direta
Espiritismo
Espiritismo à Francesa: a derrocada do movimento espírita francês pós-Kardec
Espírito da Verdade
Espírito de Verdade
Espírito Santo
Espírito Verdade
Espiritual
Espiritualidade
Espiritualismo
Espiritualismo Moderno
Evangelho
Expiação
Faget, Laurent de
Fascinação
Fio de Prata
Fluido
Fora da Caridade não há salvação
Fox, Irmãs
Francisco Cândido Xavier
Franco, Anália
Franco, Divaldo
Fropo, Berthe
Galeria d’Orleans
Gama, Zilda
Glândula Pineal
Henri Sausse
Herculano Pires, José
Herege
Heresia
Hippolyte-Léon Denizard Rivail
Home, Daniel Dunglas
Humberto de Campos
Imortalidade da Alma
Inquisição
Irmão X
Irmãs Baudin
Irmãs Fox
Jackson Davis, Andrew
Japhet, Célina
Jean Meyer
Jean-Baptiste Roustaing
Joanna de Ângelis
Johann Heinrich Pestalozzi
José Arigó
José Herculano Pires
José Pedro de Freitas (Zé Arigó)
Julie Baudin
Kardec, Allan
Kardecismo
Kardecista
Kardequiano
Karma
Lachâtre, Maurice
Lacordaire
Lamennais
Laurent de Faget
Léon Chevreuil
Léon Denis
Leopoldo Cirne
Leymarie, Pierre-Gaëtan
Linda Gazzera
Livraria Dentu
London Dialectical Society
Madame Kardec
Mal
Maurice Lachâtre
Mediatriz
Médium
Mediunidade
Mediunismo
Mesas Girantes
Metempsicose
Meyer, Jean
Misticismo
Místico
Moderno Espiritualismo
Necromancia
O Livro dos Espíritos
O Livro dos Médiuns
Obras Básicas do Espiritismo
Obsediado
Obsessão
Obsessor
Onipresença
Oração
Palais-Royal
Panteísmo
Paráclito
Parasitismo psíquico
Pélagie Baudin
Percepção extrassensorial
Pereira, Yvonne A.
Perispírito
Pestalozzi, Johann Heinrich
Pierre-Gaëtan Leymarie
Pierre-Paul Didier
Pineal
Pires, José Herculano
Pneumatografia
Possessão
Prece
Pressentimento
Projeto Allan Kardec
Quiromancia
Religião
Revelação Espírita
Rivail, Hypolite-Léon Denizard
Roustaing, Jean-Baptiste
Santíssima Trindade
Santo Ofício
Sausse, Henri
Schutel, Cairbar
Sematologia
Sentido Espiritual
Sexto Sentido
Silvino Canuto Abreu
Sociedade Dialética de Londres
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
SPEE
Subjugação
Superstição
Talismã
Terceira Revelação
Tiptologia
Tribunal do Santo Ofício
Trindade Universal
Ubiquidade
UEF
União Espírita Francesa
Vampirismo
Verdade, Espírito
Videira Espírita
William Crookes
X, Irmão
Xavier, Chico
Xenoglossia
Yvonne A. Pereira
Zé Arigó
Zilda Gama

© 2014 - Todos os Direitos Reservados à Fraternidade Luz Espírita

▲ Topo