Mediunidade é um meio de interação entre os mortos (Espíritos) e os vivos (Espíritos encarnados), bem como um modo de os desencarnados se manifestarem fisicamente na nossa dimensão material através do médium, que é um indivíduo encarnado devidamente dotado desta faculdade, servindo assim — consciente ou não do fenômeno mediúnico — de intermediário entre a espiritualidade e a humanidade. Seus fenômenos são divididos basicamente em dois gêneros: manifestações de efeitos físicos (telecinesia, tiptologia, materializações, curas etc.) e manifestações de influências inteligentes (psicografia, psicofonia etc.); é, portanto, uma das formas de comunicabilidade espiritual e, por conseguinte, uma das evidências da imortalidade da alma. Relatos de mediunidade remontam aos mais antigos registros da História (a Bíblia, inclusive), estando presentes nos mais diversos os povos e inspirando religiões e correntes culturais; contudo, foi principalmente a partir do Espiritualismo Moderno (em meados do século XIX) que a sua prática foi intensificada, resultando daí o advento do Espiritismo. Segundo a Doutrina Espírita, a faculdade mediúnica é um dom natural, e nada tem de sobrenatural; é ainda um mandato concedido por Deus a fim de que o médium coopere com a obra de espiritualização da humanidade, contribuindo para as revelações das leis divinas, estando o mediunato espírita condicionado ao sentimento de abnegação e caridade, em conformidade com o precito de Jesus: Dar de graça o que de graça recebeu, resultando que fora desta concepção a prática mediúnica se rebaixa ao mediunismo e implica os envolvidos em precisas consequências. Num sentido amplo a mediunidade é similar à medianimidade, enquanto num sentido mais específico essas faculdades se distinguem, quando o fenômeno medianímico fica caracterizado pelo animismo. Dentro da contexto espírita, O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, é a obra que melhor sintetiza e explica a naturalidade, a justeza e a aplicação mais segura da mediunidade; seguindo os preceitos kardecistas, respeitados médiuns têm se notabilizado, tais como: Anna Prado, Peixotinho, Zilda Gama, Zé Arigó, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco e Chico Xavier.
Chico Xavier: modelo de médium espírita
Manifestações espirituais de variadas formas são alegadas desde os mais remotos registros históricos, presente em todas as grandes expressões culturais. Civilizações diversas tiveram — algumas vezes inseridos nos grupos da elite social — indivíduos ditos dotados das artes místicas, então denominados de profetas, magos, feiticeiros, pitonisas, xamãs, adivinhos etc. São bastante comuns os relatos de aparição de mortos, guias espirituais, anjos e divindades. Com efeito, o culto da evocação dos mortos consta nas memórias mais antigas do orientais, do Antigo Egito, dos babilônicos, do judaísmo e outros. A Bíblia, aliás, é um rico repositório desta fenomenologia; nela inclusive está contida uma previsão de derramamento dos dons mediúnicos:
Passagem esta que, aliás, é reproduzida no Novo Testamento, no livro dos Atos dos Apóstolos, 2: 17, cuja promessa é ratificada pelo próprio Cristo, prenunciando que sua mensagem seria completada pela moderna mediunidade:
A História Antiga é farta de ocorrências análogas e de personagens que testemunham os fatos ditos sobrenaturais. Na Grécia, por exemplo, o filósofo Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.) declarou abertamente viver sob a companhia e diálogo esporádico com um mentor espiritual, a quem chamou Daemon. Durante o período clássico do profetismo judaico, Jeová se manifesta diversas vezes aos hebreus e, em seu nome, vários profetas operam os chamados milagres. Na Idade Média, encontramos a figura de Joana d’Arc, uma camponesa analfabeta que, guiada por vozes espirituais, conduziu o falido exército francês à vitória contra os invasores ingleses, no conflito chamado de Guerra dos Cem Anos. Mesmo nos tempos mais recentes, segundo a tradição católica, considera-se comum aparições de santos e de Maria, mãe de Jesus. Extraordinário também foi o caso das visões do polímata Emanuel Swedenborg.
Finalmente no século XIX uma série de manifestações se desenvolveu nos Estados Unidos da América — a partir do célebre caso das Irmãs Fox, em Hydesville — e se disseminou mundo afora através do moda das Mesas Girantes, instituindo um movimento histórico consistente chamado Espiritualismo Moderno. Os mais diversos exemplos de fenômenos espirituais foram documentados, mobilizando todos os grandes segmentos do conhecimento a fim de compreender aquela fenomenologia, pela qual se notabilizaram médiuns como Andrew Jackson Davis, Eusapia Palladino, Daniel Dunglas Home, Florence Cook, Elizabeth D’Espérance, dentre outros. Empenharam-se a pesquisar essas manifestações os mais eminentes homens das ciências da época, tais como: Sir William Crookes, Alfred Russel Wallace, Oliver Lodge, Alexandre Aksakof, Charles Richet e Camille Flammarion, muitos dos quais atestando a autenticidade dos fenômenos e nenhum acatando alguma prova contrária satisfatória.
Sessão de Mesa Girantes com a médium Linda Gazzera
Dentre os incontáveis grupos de pesquisas e estudos acerca do Espiritualismo Moderno ao redor do globo terreno, a melhor síntese daquela fenomenologia foi sistematizada pela Doutrina Espírita (Espiritismo), codificada por Allan Kardec e que se caracteriza também como a ciência própria para a apreciação desse gênero de fenômeno, seguindo uma metodologia racional.
Kardec partiu de uma rigorosa e imparcial investigação sobre a realidade dos fenômenos; uma vez comprovada a autenticidade da manifestação espiritual, ele passou a analisar as consequências filosóficas naturais dessa realidade, a começar pela imortalidade da alma e sua nova condição pós-morte como Espírito, o próprio mecanismo de interação mediúnica, as implicações dos atos humanos em face da vida futura, a justeza das doutrinas religiosas e filosóficas acerca da espiritualidade, de Deus e tudo mais o mais que diz respeito às questões metafísicas que nunca antes as religiões e as filosofias puderam explicar satisfatoriamente.
A dedução primordial subsequente foi a de que a mediunidade é o meio que consagra a promessa do Cristo sobre a vinda do Consolador, o Paráclito, o Espírito da Verdade, para formatar a Terceira Revelação da lei divina, com vistas ao programa didático de espiritualização da humanidade, para o qual o intercâmbio mediúnico é imprescindível, pois de outra forma qualquer ideia acerca da natureza espiritual não passaria de especulação humana.
Para levar a efeito esse movimento regenerador de forma mais rápida, eficaz e dinâmica, as revelações se espalham por todos os povos, sem exclusivismo qualquer de gênero, crença ou condição social:
Na sua aplicação individual, o mediunato é uma missão, “uma coisa santa que deve ser praticada santamente, religiosamente” (O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec - cap. XXVI, item 10). Ao mesmo tempo, é uma provação, dado os desafios e perigos inerentes ao ofício mediúnico (Ver a seguir o tópico Obsessão e outros desafios da mediunidade).
Segundo a revelação espírita, certos Espíritos têm a capacidade de influenciar os encarnados através de sugestões mentais e até de ação física, agindo sobre o organismo humano; aquele que sente essa influência é chamado de médium:
A faculdade mediúnica requer, portanto, um organismo físico devidamente capacitado para tal finalidade, assim como a visão humana requer o órgão ocular e a audição requer o aparelho auditivo. Já desde as mais antigas escolas espiritualistas, especula-se que a glândula pineal seja esse sensor da mediunidade, isto é, o dispositivo orgânico capaz de captar, interpretar e interagir com os influxos dos Espíritos.
Glândula pineal
O Espírito André Luiz se desdobra profundamente sobre a glândula pineal — que ele prefere chamar de epífise — especialmente na obra Missionários da Luz, psicografada por Chico Xavier. A síntese de suas considerações pode ser tomada pelos apontamentos colhidos de um de seus instrutores espirituais:
Além desse condicionamento orgânico, o contato mediúnico se subordina à disposição dos Espíritos em se comunicar e, sobretudo, à permissão divina, que objetiva sempre uma utilidade prática. Desta maneira, embora o médium possa potencializar a realização dos fenômenos por força de sua vontade, da sua preparação e das evocação que ele possa fazer, o ato mediúnico parte e é dirigido pela espiritualidade — muitas vezes até a contragosto do médium.
A disposição orgânica do médium, dentre outros fatores, também pode designar a especialidade de suas potencias mediúnicas; nesse sentido, Kardec esclarece que:
A Doutrina Espírita evidencia que a mediunidade é um recurso natural e, dessa forma, não tem nada de místico, milagroso ou sobrenatural:
Sendo os Espíritos forças vivas e inteligentes, eles atuam sobre as formas materiais assim como a mente (alma, Espírito encarnado) atual sobre o seu corpo humano através de uma combinação de forças naturais; para tanto, deve-se compreender que o mundo espiritual não é absolutamente imaterial, mas sim composto de matéria, ou fluidos materiais, em níveis muito mais sutis do que a forma então conhecida em nossa dimensão atual; a propósito, nem mesmo o Espírito é totalmente abstrato, mas sim dotado de um organismo fluídico, um corpo espiritual chamado perispírito, que lhe permite agir sobre as coisas materiais.
Representação gráfica de uma manipulação espiritual de fluidos
Dentro do mecanismo mediúnico há, pois, dois tipos de gêneros básicos:
No ato mediúnico, necessário se faz que haja uma sintonia fluídica — e algumas vezes mental — entre o Espírito manifestante e o médium; este último, de maneira comum, entra em estado de transe mais ou menos profundo, que vai de um leve torpor até a total inconsciência durante a operação do fenômeno. Portanto, nessa situação, o médium encontra-se em um dos estados de emancipação da alma, quer dizer, parcialmente desprendido das limitações dos condicionamentos físicos, estado esse então induzido e dirigido pelo desencarnado que se manifesta por intermédio do encarnado.
Exatamente essa intervenção espiritual é o que caracteriza a mediunidade e que a diferencia do conceito estrito de medianimidade, que por sua vez abrange os fenômenos próprios da alma emancipada (não diretamente conduzidos por outro ser espiritual) — também conhecidos como fenômenos anímicos, de animismo. Um exemplo clássico de animismo é o sonambulismo.
Mediante as disposições orgânicas do médium e as intenções do Espírito comunicante, as manifestações mediúnicas podem ocorrer de vários tipos, podendo ser ocultas ou patentes, fluídicas ou tangíveis; em certos casos, quando o manifestante deseja e tem a oportunidade de se fazer bastante evidente, ele pode produzir fenômenos claramente perceptíveis, tal como no caso das materializações espirituais, em que as formas produzidas podem ser observadas e até tocadas.
Até mesmo as manifestações destinadas a transmitir diretamente uma comunicação inteligível têm uma diversidade de fenômenos possíveis:
Dentre os principais tipos de fenômenos mediúnicos, podemos destacar:
De acordo com a codificação kardequiana, a divindade permite que Espíritos todas as classes possam se manifestar, e justamente a posição dos manifestantes na escala espírita estabelece a qualidade das comunicações: quanto mais elevados os seres, mais conhecimento e bondade estarão expressos em suas mensagens; quanto mais atrasados, mais equívoco, banalidade, malícia e crueldade se farão presentes em suas comunicações. Além disso, o médium pode experimentar no ato mediúnico sensações análogas à qualidade dos seres manifestantes:
Quanto à qualidade das mensagens espirituais, o Espiritismo sugere quatro categorias básicas para agrupar as mais diversas nuances dessas comunicações:
Ao revelar a variedade de caráter dos Espíritos, conforme o grau de progresso moral de cada um, a Doutrina Espírita desmistifica a ideia de que as intervenções espirituais via mediunidade sejam todas demoníacas, como alguns pensam (baseando-se no conceito de que só os demônios podem se manifestar aos homens) ou absolutamente divinas, como idealizam outros (pelo conceito de que somente Deus e os seus anjos se manifestam). Portanto, entre os Espíritos inferiores e os Espíritos superiores, há uma infinidade de tipos de comunicações possíveis, razão pela qual a recomendação espírita é sempre submetê-las ao crivo da lógica e da razão — que, aliás, é um procedimento positivo para se prevenir dos falsos ensinamentos espirituais:
A possibilidade de também os Espíritos moralmente atrasados se manifestarem acarreta num dos maiores escolhos da mediunidade: a obsessão, que é a influência negativa que um Espírito exerce persistentemente sobre uma pessoa encarnada, de variados modos de atuação, desde uma simples perturbação até um domínio completo das faculdades mentais e do organismo físico do sujeito obsidiado, cujos efeitos podem alcançar diversos graus do constrangimento e até enfermidades físicas. Os fenômenos de poltergeist estão nessa mesma ordem de manifestações nocivas.
O obsessor — o agente dessa má influência — é sempre de uma natureza inferior, própria dos Espíritos ainda bastante imperfeitos, movidos por interesses variados, por exemplo: sentimento de vingança (movida por uma mágoa resultante da vida presente ou de outra reencarnação), inveja, mero desejo de fazer o mal (aleatoriamente ou contra uma pessoa ou uma causa comum, como contra o Espiritismo), por divertimento ou ainda para usufruir de gozos materiais (fumo, bebida, droga, sexo etc.) que, neste caso, é comumente especificado como vampirismo. O obsediado (ou obsidiado, obsedado) é a presa do processo obsessivo, também evidenciando um tanto de inferioridade moral — seja pela suscetibilidade de ser perturbado ou mal influenciado, seja pela sua predisposição em gozar dos prazeres inferiores a que é arrastado.
Em razão dos médiuns estarem naturalmente mais expostos ao contato dos Espíritos, a obsessão é então colocada como um perigo de primeira ordem para a prática mediúnica, que, por outro lado, apresenta-se como poderoso auxílio no tratamento contra a obsessão (desobsessão), sobretudo por revelar a ação oculta de obsessores e por propiciar um diálogo regenerador entre os envolvidos e possíveis intermediários, motivados pela boa vontade.
A contingência do processo obsessivo obedece aos desígnios da Providência Divina como parte do programa de evolução espiritual dos seres inteligentes, seja por provação ou por expiação.
Em face da capacidade mediúnica, uma das táticas comuns usadas pelos obsessores é a de sugestionar o médium a se perder em seu vocacionado, consistindo assim noutro dos maiores desafios do mediunato; nesse sentido, o médium é tentado a se fascinar com suas capacidades psíquicas, aguçando seu orgulho, vaidade e egoísmo, para daí buscar reconhecimento e até interesses materiais, ambicionando faculdades mediúnicas além das que já possui e não raro simulando fenômenos, tal qual um charlatão.
Instrumentos usados para mistificar fenômenos mediúnicos
A propósito, ao lado da ignorância e da desinformação, o charlatanismo e o embuste têm se figurado entre os maiores inimigos da credibilidade popular em relação à mediunidade; episódios flagrantes de fraude, mistificação e exploração da mediunidade têm sido registrados ao longo dos tempos, prejudicando assim o próprio desenvolvimento da Doutrina Espírita. Contra tais inimigos, a melhor solução é o espírito de abnegação do médium:
O total desinteresse pessoal do médium e o seu desejo de servir à espiritualidade na causa da evangelização da humanidade representa o propósito fundamental da conduta espírita para o mediunato; esse modelo de atuação é comumente conhecido pela expressão Mediunidade com Jesus, seguindo o preceito cristão, que estabeleceu a máxima “Deem gratuitamente o que receberam gratuitamente” (Mateus, 10: 8), assim interpretada pela codificação kardequiana:
Em síntese, a prática mediúnica espírita se fundamente sobre estes critérios:
Seguindo os fundamentos espíritas, temos notáveis exemplos de devotados médiuns, dos quais reluzem nomes como os de: Anna Prado e Peixotinho, para o campo das materializações espirituais; Zé Arigó, para curas; Zilda Gama e Yvonne A. Pereira, as damas da psicografia; Divaldo Franco, para a psicografia e a psicofonia; e Chico Xavier, o mais extraordinário médium do século XX, de múltiplas faculdades psíquicas e exemplo de humildade e caridade.
Grandes médiuns espíritas: Anna Prado, Peixotinho, Zé Arigó, Zilda Gama, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco e Chico Xavier
O contato mediúnico é objeto de controvérsias para muitas doutrinas religiosas, embora ela esteja presente de algum modo em todas as grandes religiões. Desde o culto aos mortos dos iniciados egípcios, o transcendentalismo hindu e búdico, as revelação de Javé ou Jeová no judaísmo e de Alá a Maomé no Islamismo. Contudo, o Espiritualismo Moderno não foi sistematicamente adotado por nenhuma teologia tradicional; ao contrário, em geral a fenomenologia foi rechaçada, primeiro a pretexto de fraude e depois de feitiçaria, satanismo ou coisa similar — apesar da simpatia de muitos religiosos adeptos de todos os credos.
No meio acadêmico, a recepção inicial é tipicamente fria, carregada de forte ceticismo e às vezes ironia e preconceito. No auge das Mesas Girantes, a primeira medida foi de desdém e prejulgamento de fanatismo, superstição ou fraude; mas com a eclosão das mais evidentes manifestações e uma cobrança generalizada para que a ciência explicasse os insólitos fenômenos, muitos círculos acadêmicos trataram de investigá-los, por exemplo, a Sociedade Dialética de Londres, a Sociedade de Pesquisas Psíquicas e a respeitada Sociedade Real de Ciências, para a qual o nobre físico britânico William Crookes dirigiu uma série de experimentações, valendo-se dos mais requisitados médiuns da época, cujo relatório atestou a existência de uma força sobre-humana, pormenorizando a realidade de variados tipos de fenômenos, dentre os quais o de materialização espiritual. Malgrado todas as evidências, porém, o parecer da Sociedade foi o de arquivar o relatório e um apelo para que Crookes revisse suas convicções; passados três décadas, ele ratificou:
William Crookes e a materialização do Espírito Katie King produzida pela médium Florence Cook
Na sequência, outros baluartes das ciências se debruçaram sobre os estudos psíquicos e deram parecer favorável às manifestações; reluzem entre eles nomes ilustres como os de Alfred Russel Wallace, Oliver Lodge, Alexandre Aksakof, Charles Richet e Camille Flammarion.
Em trabalhos mais recentes, destacam-se pesquisas da área da psiquiatria e da neurociência, então munidas de avançado aparato tecnológico, capazes de medir os estímulos cerebrais durante experiências de transes, apurando a captação de informações sem os recursos dos órgãos sensitivos comuns, de maneira que cada vez mais fica clara a atuação independe da natureza espiritual em nossa dimensão material.
Já que a ficção é uma imitação da realidade, não poderia deixar de haver mediunidade nas artes; dos contos mais antigos às produções mais atuais o imaginário cultural tem bebido dessa fonte com criatividade e às vezes um incrível realismo em comparação com as revelações espíritas.
Fora os livros propriamente religiosos, a ideia da comunicação espiritual está presente em clássicos da literatura mundial, como: Contos de Natal de Charles Dickens (1843), Jane Eyre de Charlotte Brontë (1847), Séraphîta (1834) e Úrsula Morouet (1842) de Honoré Balzac, Histórias Extraordinárias de Edgar Allan Poe (1845) etc. Das publicações mais recentes, vale muito mencionar O Baile das Loucas de Victoria Mas (2019), que ganhou uma excelente adaptação cinematográfica, com título homônimo, estreada no mesmo ano da publicação do livro; o enredo gira em torno de uma moça da época do surgimento do Espiritismo (segunda metade do século XIX) que se descobre médium e por isso é internada no terrível sanatório Salpêtrière do Dr. Charcot, onde as mulheres são tratadas brutalmente — um fiel e triste retrato da realidade de muitos médiuns daquele tempo.
Pôster do filme O Baile das Loucas
Na história do cinema, aliás, um romance revolucionário foi Ghost: do outro lado da vida (1990), vencedor de 2 Oscars, exemplificando o mecanismo mediúnico e por dar um caráter bem humano ao desencarnado (de um tipo fantasmagórico para Espírito). Desde então, inúmeros outros filmes seguiram a mesma linha, igualmente apresentando o médium como uma pessoa comum, conquanto dotada de capacidades psíquicas; é o caso do bem-sucedido filme Além da Vida (Hereafter) de 2010. Com um pouco mais de fantasia, mas não deixando de dar um recado humanizado, vem a animação Paranorman (2012) direcionado ao público infanto-juvenil.
Estrelas do filme Ghost: Demi Moore, Patrick Swayze e Whoopi Goldberg
Das produções televisivas, aparece com destaque para as séries americanas Médium: a paranormal (CBS e NBC), e The Gifted Man (CBS).
No Brasil, novelas como A Viagem (1975) e O Profeta (1977) da extinta TV Tupi — relançadas pela TV Globo respectivamente em e 1994 e 2006 — deram grande visibilidade ao tema mediunidade e à Doutrina Espírita; para as produções originais, o próprio Chico Xavier prestou assessoria aos roteiristas, a pedido da emissora, a fim de manter a encenação mais próxima da realidade mediúnica.
Outra produção brasileira memorável com relação direta ao tema em pauta é o filme Nosso Lar (2010), adaptado do romance homônimo ditado pelo Espírito André Luiz à psicografia do supracitado médium espírita: a obra apresenta o cotidiano dos desencarnados instanciados na colônia espiritual Nosso Lar.
Pôster do filme Nosso Lar
Além de ser tema para as produções ditas puramente humanas — mas que em muitas das quais certamente há inspiração espirituais —, existe a própria arte mediúnica, em que os Espíritos se expressam artisticamente através de médiuns. Um exemplo notável disso foi a inglesa Rosemary Brown, que escrevia e executava peças musicais sofisticadíssimas sob a influência de gênios da música clássica, tais como Liszt, Chopin, Schubert, Beethoven, Bach, Brahms, Schumann e Mozart.
Outra modalidade bastante comum de arte espiritual é a chamada psicopictografia, ou pintura mediúnica, pela qual os Espíritos desenham e pintam usando as mãos dos médiuns.
Como já foi dito, a mediunidade é indispensável para a evolução espiritual da humanidade, visto que somente através de uma interação direta com os seres do mundo espiritual e as revelações das leis naturais divinas é que, de fato, as próprias crenças espiritualistas fazem sentido; do contrário, tudo não passaria de teorias sem verificação.
O valor da contribuição mediúnica pode começar a ser apreciado justamente a partir do valor da Doutrina Espírita, posto que ela é essencialmente um fruto das revelações espirituais e sem as quais ela não existiria:
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