Léon Denis (Foug, França, 1 de janeiro de 1846 - Tours, França, 12 de abril de 1927), foi um filósofo, escritor e um dos principais ativistas espíritas nas primeiras décadas após a desencarnação do codificador do Espiritismo, Allan Kardec. A fidelidade com a qual prestou aos conceitos kardecistas e o seu ímpeto em divulgar a Doutrina dos Espíritos fizeram com que passasse a ser conhecido como o "apóstolo do Espiritismo". Entre suas obras literárias, destaca-se O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
Resumo biográfico
Nascido numa humilde família da aldeia de Foug, situada nos arredores de Tours, França, desde cedo exerceu trabalhos manuais e os pesados encargos do lar. Desde os seus primeiros passos neste mundo, sentiu que os amigos invisíveis o auxiliavam. Ao invés de participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais possível. Lia obras sérias, conseguindo assim, com esforço próprio desenvolver a sua inteligência. Tornou-se um autodidata sério e competente.
Aos dezoito anos tornou-se representante comercial da empresa onde trabalhava, fato que o obrigava a viagens constantes, situação que se manteve até a sua reforma e manteve ainda depois por mais algum tempo. Era apreciador de boa música e, sempre que podia, assistia a óperas e concertos. Ao piano, gostava de dedilhar árias conhecidas e de tirar acordes para seu próprio devaneio. Não fumava, era quase exclusivamente vegetariano e não fazia uso de bebidas fermentadas. Encontrava na água a sua bebida ideal.
Era seu hábito olhar com interesse para os livros expostos nas livrarias. Um dia, ainda com dezoito anos, o chamado acaso fez com que a sua atenção fosse despertada para uma obra de título inusitado. Era O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. Dispondo do dinheiro necessário, comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar entregou-se com avidez à leitura. O próprio Denis disse:
"Nele encontrei a solução clara, completa e lógica, acerca do problema universal. A minha convicção tornou-se firme. A teoria espírita dissipou a minha indiferença e as minhas dúvidas."
Léon Denis
Apostolado espírita
O ano de 1882 marca, em realidade, o início do seu apostolado, durante o qual teve que enfrentar sucessivos obstáculos: o materialismo e o positivismo que olhavam para o Espiritismo com ironia e risadas e os crentes das demais correntes religiosas, que não hesitavam em aliar-se aos ateus, para ridicularizá-lo e o enfraquecer. Léon Denis, porém, como bom paladino, enfrenta a tempestade. Os companheiros invisíveis colocam-se ao seu lado para encorajá-lo e exortá-lo à luta.
A 2 de novembro de 1882, dia de Finados, um evento de capital importância produziu-se na sua vida a manifestação, pela primeira vez, daquele Espírito que, durante meio século, haveria de ser o seu guia, o seu melhor amigo, o seu pai espiritual — Jerônimo de Praga — que lhe disse: "Vai meu filho, pela estrada aberta diante de ti. Caminharei atrás de ti para te sustentar".
A partir de 1910, a visão de Léon Denis foi, dia a dia, enfraquecendo. A operação a que se submetera, dois anos antes, não lhe proporcionara nenhuma melhora, mas suportava, com calma e resignação, a marcha implacável desse mal que o castigava desde a juventude. Aceitava tudo com estoicismo e resignação. Jamais o viram queixar-se. Todavia, bem podemos avaliar quão grande devia ser o seu sofrimento. Apesar disso, mantinha volumosa correspondência. Jamais se aborrecia; amava a juventude e possuía a alegria da alma. Era inimigo da tristeza. O mal físico, para ele, devia ser bem menor do que a angústia que experimentava pelo fato de não mais poder manejar a pena. Secretárias ocasionais substituíam-no nesse ofício. No entanto, a grande dificuldade para Denis, consistia em rever e corrigir as novas edições dos seus livros e dos seus escritos. Graças, porém, ao seu espírito de ordem e à sua incomparável memória, superava todos esses contratempos, sem molestar ou importunar os amigos.
Após a Primeira Grande Guerra, aprendeu braille, o que lhe permitiu fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham ao espírito, pois, nessa época da sua vida, estava, por assim dizer, quase cego. Em março de 1927, com oitenta e um anos de idade, terminara o manuscrito que intitulou de O Gênio Céltico e o Mundo Invisível. Nesse mesmo mês, a Revista Espírita publicava o seu derradeiro artigo.
Terça-feira, 12 de abril de 1927, pelas treze horas, respirava Denis com grande dificuldade. A pneumonia atacava-o novamente. A vida parecia abandoná-lo, mas o seu estado de lucidez era perfeito. As suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma, apesar da muita dificuldade, foram dirigidas à sua empregada Georgette: É preciso terminar, resumir e... concluir. Fazia alusão ao prefácio da nova edição biográfica de Kardec. Nesse preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças, para que pudesse articular outras palavras. Às 21h horas o seu Espírito alou-se. O seu semblante parecia ainda em êxtase. As cerimônias fúnebres realizaram-se a 16 de abril. A seu pedido, o enterro foi modesto e sem o ofício de qualquer Igreja confessional. Seu corpo está sepultado no cemitério de La Salle, em Tours.
Reconhecimento e legado
Dentre os grandes apóstolos do Espiritismo, a figura exponencial de Léon Denis merece referência toda especial, principalmente em vista de ter sido o continuador lógico da obra de Allan Kardec e o consolidador da Doutrina Espírita. Cabia-lhe desenvolver os estudos doutrinários, continuar as pesquisas mediúnicas, impulsionar o movimento espírita na França e no Mundo, aprofundar o aspecto moral da Doutrina e, sobretudo, consolidá-la nas primeiras décadas do Século. Léon Denis foi cognominado o "Apóstolo do Espiritismo", pela magnífica atuação desenvolvida, pela palavra escrita e falada, em favor da nova Doutrina, por vezes também intitulado o "filósofo do Espiritismo", em razão de sua apurada racionalidade.
Dedicou toda uma longa vida à defesa dos postulados que Kardec transmitira nos livros do Pentateuco Espírita, O aspecto moral da Doutrina, os princípios superiores da Vida, a instrução, a família, mereceram dele cuidados extremos e, por isso mesmo, sua vida de provações, exemplo de trabalho, perseverança e fé, é um roteiro de luz para os espíritas, diremos mais, para os homens de bem de todos os tempos. Em palavras de confiança e fé, ele mesmo resumiu assim a missão que viera desempenhar em favor de uma nobre causa: "Consagrei esta existência ao serviço de uma grande causa, o Espiritismo ou Espiritualismo moderno, que será certamente a crença universal, a religião do futuro".
Léon Denis imortalizou-se na gigantesca tarefa de dissecar problemas atinentes às aflições que acometem os seres encarnados, fornecendo valiosos subsídios no sentido de lançar novas luzes sobre a problemática das tribulações terrenas, deixando de lado os conceitos até então prevalecentes para apresentá-la aureolada de ensinamentos altamente consoladores, hauridos nas fontes inesgotáveis da Doutrina dos Espíritos.
Dedicando-se ao estudo aprofundado do Espiritismo, em seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião, demorou-se com maior persistência na abordagem do seu aspecto filosófico. Concomitantemente com os seus profundos estudos nesse campo, também deu a sua contribuição, valiosa, na abordagem e estudo de assuntos históricos, fornecendo importantes subsídios no sentido de esclarecer as origens celtas da França e no tocante ao dramático episódio do martírio de Joana D'Arc, a grande médium francesa. Seus estudos não pararam aí; ele preocupou-se sobremaneira com as origens do Cristianismo e o seu processo evolutivo através dos tempos.
Dentre as suas múltiplas ocupações, foi presidente de honra da União Espírita Francesa, membro honorário da Federação Espírita Internacional, presidente do Congresso Espírita Internacional, realizado em Paris, no ano de 1925. Teve também a oportunidade de dirigir durante longos anos, um grupo experimental de Espiritismo, na cidade francesa de Tours. Ao longo de sua vida manteve estreita ligação com a Federação Espírita Brasileira, tendo sido aprovada por unanimidade a sua indicação para sócio distinto e Presidente honorário da instituição, em 1901.
Principais obras literárias
Referências
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