Pressentimento é uma sensação antecipada de uma ocorrência futura, geralmente obtida de forma involuntária e repentina, em que a pessoa pode “sentir antes” (pré - sentir) os efeitos desse acontecimento e daí ficar mais ou menos impressionada (por exemplo: contente ou triste, conforme o que anteviu). O grau da emoção pressentida normalmente faz com que essa pessoa leve mais ou menos a sério tal experiência. O Espiritismo reconhece a possibilidade deste fenômeno e assinala as duas fontes primordiais para um encarnado experimentar um pressentimento: 1) via animismo, quer dizer, através dos recursos da própria alma, que por vezes fica em estado de emancipação e adquire parte de suas capacidades espirituais; 2) via mediunidade, isto é, por influência de um Espírito, por exemplo, o anjo guardião. Esse fenômeno também é conhecido por nomes como presságio, premonição, intuição e precognição.
Segundo um experimento do neurocientista americano David Eagleman, relatado em seu livro Incognito: The Secret Lives of the Brain (Incógnito: As Vidas Secretas do Cérebro), de 2011, o pressentimento é um tipo de percepção que o subconsciente cerebral adquire bem antes que a consciência comum e então transmite as informações percebidas através de reações elétricas, como um reflexo da atividade do sistema nervoso autônomo.
Essa teoria se baseia na ideia de que o cérebro humano é capaz de compreender os efeitos de experiências repetidas, como que fazendo uma leitura bem mais apurada das estatísticas das ocorrências, de uma forma mais eficiente e mais rápida do que a consciência consegue processar. Assim, tão logo o subconsciente decifre as probabilidades (coisa que a mente consciente demora mais a fazer), ele habilita o sistema nervoso a reagir positiva ou negativamente diante de uma situação que, conforme as estatísticas, tende a ser boa ou má, sendo isto o que a pessoa entende como pressentimento. Desta maneira, como os dados das probabilidades são bons indicativos do que pode acontecer, mediante circunstâncias examinadas repetidamente, as chances de acerto são grandes, porque o sistema nervoso da pessoa reflete a sensação antecipadamente de uma determinada escolha. Ou seja, a tensão neural da pessoa reage mais rápida e acertadamente do que a sua racionalidade.
A teoria de Eagleman é interessante e tem sua lógica no tocante a situações específicas, em que haja repetições sistemáticas nas quais se possa aplicar as regras de estatísticas — por exemplo, no jogo de cartas de baralho, que ele descreve como método de experimento para demonstrar sua tese. Todavia, há outros tantos fenômenos concretos de premonição, registrados desde os primórdios da História da Humanidade, fora dessa circunstância de repetição e repletos de singularidade, que escapam das condições normais do experimento científico descrito.
De alguma forma, o pressentimento é o conhecimento do que está por acontecer. Segundo a Doutrina Espírita, o conhecimento do futuro é uma possibilidade, como vastamente exemplificado pela História. A tradição bíblica é riquíssima de profecias que se efetivaram, numa precisão de detalhes que desafiam até mesmo os mais céticos. O próprio advento do Espiritismo, prenunciado por Jesus no Novo Testamento, é um exemplo clássico. Desta forma, a Codificação do Espiritismo vai assinalar as formas possíveis de um encarnado ter pressentimentos, tudo dentro das leis normais da natureza.
Com efeito, a informação antecipada de um determinado evento, a que em Espiritismo se denomina pressentimento, pode ter duas origens básicas, conforme revela a espiritualidade:
“O pressentimento é o conselho íntimo e oculto de um Espírito que lhes quer bem. Também está na intuição da escolha que se tenha feito; é a voz do instinto. Antes de encarnar, o Espírito tem conhecimento das fases principais de sua existência, isto é, do gênero das provas nas quais se envolve; quando estas têm um caráter saliente, ele conserva no seu foro íntimo uma espécie de impressão de tais provas e esta impressão, que é a voz do instinto, revelando-se quando o momento se aproxima, torna-se um pressentimento.”
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 522
Portanto, este fenômeno pode ter origem:
Intuir bons pensamentos e resoluções mais acertadas são exatamente as tarefas elementares dos Espíritos protetores de cada um, sempre objetivando o progresso espiritual do seu protegido. Para tanto, eles normalmente agem ocultamente, embora às vezes possam ser mais incisivos e até se servirem de terceiros para fazer chegar sua mensagem ao seu tutelado:
“Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos mediante a voz da consciência que eles fazem ressoar em nós, mas como nem sempre lhes damos a devida importância, eles nos dão outros conselhos mais diretos, servindo-se de pessoas que nos cercam. Que cada um examine as diversas circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá que em tantas ocasiões tem recebido conselhos de que se não aproveitou e que lhe teriam poupado muitos desgostos se os tivessem escutado.”
Idem - comentário à questão 524
O pressentimento pode surgir repentinamente em estado de vigília, como também pode ocorrer em estado de sono, cuja lembrança desse sonho é a impressão resultante da experimentação espiritual durante o período onírico, estando o corpo adormecido e favorecendo o desprendimento temporário da alma nele encarnada.
Ver: Sonho.
Entretanto, assim como os sonhos, nem sempre o pressentimento é explícito, podendo causar dúvidas e receios. Em condições como estas, a doutrina tem uma recomendação expressa:
Os pressentimentos e a voz do instinto sempre têm alguma coisa de vago; o que devemos fazer na incerteza?
Idem - comentário à questão 523
“Quando estiver na dúvida, invoque teu bom Espírito, ou ore ao nosso mestre supremo, Deus, que ele te enviará um de seus mensageiros, um de nós.”
Fica claro então que quanto mais próximos dos nossos amigos espirituais — ou seja, quanto mais nos inclinamos aos bons conselhos, sobretudo do nosso anjo guardião —, mais nós aguçamos nossas percepções espirituais e mais nos tornamos aptos a receber e melhor interpretar os pressentimentos, sendo este, portanto, um dom que cada qual tem como potencializar em si mesmo:
“Não temam por nos incomodar com suas questões. Ao contrário, procurem estar sempre em relação conosco: vocês ficarão mais fortes e mais venturosos. São essas comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem com que todos os homens sejam médiuns, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e que se disseminarão igual um oceano sem margens, para recolher a incredulidade e a ignorância.”
Idem - questão 495
© 2014 - Todos os Direitos Reservados à Fraternidade Luz Espírita